quinta-feira, dezembro 28, 2006

Negócios de Trapaça

Este é o título do livro de Paulo Cavalcante, publicado pela HUCITEC/FAPESP, neste ano de 2006. Ema linguagem simples e concisa, Paulo Cavalcante nos conta dos Caminhos descaminhos na América Portuguesa na primeira metade do século XVIII. Ele nos conta como a trapaça, a capacidade de enganar o erário só é possível com a aceitação dessas ações pelos responsáveis pela coleta e pela administração da fazenda real.
Acabei de ler o livro neste dia 28 de dezembro, o mesmo dia em que o Supremo Tribunal concedeu o retorno à liberdade ao dono do Banco de Santos, recentemente condenado a duas décadas de prisão. É como se estivessemos fazendo parte do livro de Paulo.
O livro é extremamente documentado, e serve como um pequeno curso sobre o cotidiano das relações entre o fisco e os cidadãos, especialmente aqueles mais próximos das chaves das burras do Estado, alí, nos caminhos e descaminhos entre a região das Gerais, o Rio deJaneiro e a Metrópole. Creio que este livro, a tese de doutorado de Paulo Cavalcante, será uma leitura obrigatória àqueles que pretendam conhecer os meandros formadores do Estado brasileiro e de certos hábitos ainda cultivados por certa ¨elite¨ que desde então tem vivido próxima à rua da moeda.

quarta-feira, dezembro 27, 2006

Feliz Natal

A festividade do natal já passou. Tomamos vinho, fomos à missa, rezamos ou oramos, seja qual for Deus escuta. Algumas pessoas nos mandaram cartões de Natal, agora vamos retribuir.
Todos os anos nascemos de novo nesse período porque comemoramos o nascimento de uma criança, de alguém que marca a sua vida na vida nossa, dos que nEle acreditam. Mesmo os que não acreditam são tocados pelo natal, nesse mundo globalizado, de crenças, objetos, misérias, desejos, alegrias. As festas de natal não impedem a guerra, as mortes, não param a vida.
Neste natal, na Região Metroplitana do Recife ocorreram 33 assassinatos. Foi um fim de semana bastante ativo. Parece uma guerra? Estamos no Iraque? Na Somália mais de mil pessoas foram mortas em uma guerra que não é noti iada nos jornais locais., Guerras entre países pobres não vendem jornais, não chamam atenção.
O interessante de tudo isso é que neste e em todos os natais cantamos e desejamos e queremos Paz a todos os homens de Boa Vontade.
Espero que todos sejamos homens e mulheres de boa vontade; da boa vontade de superar as tristezas. É isso que esta festa nos diz: ela quer o nosso compromisso para construir um mundo de paz. O que não significa sem problemas.
Feliz Natal

sexta-feira, dezembro 22, 2006

A Cambinda do Cumbe

Aos poucos a Zona da Mata Norte do Estado de Pernambuco tem ocupado espaços culturais e sociais que não se comparam com os da Mata Sul. A Mata Sul foi mais explorada inicialmente no processo de dominação portuguesa e durante os períodos imperial e republicano. Na galeria dos presidentes e governadores de Pernambuco pode ser percebida uma grande parte de pessoas originárias daquela região. A Mata Norte só muito recentemente concedeu governantes ao Estado. São indicações para pesquisa daqueles que se dedicam a entender a civilização do açúcar.
O massapê da Mata Sul forneceu um bom número de intelectuais e poetas lidos e relidos com os sabores dos doces e bolos dos Souza Leão e outras famílias. Na segunda metade do século XX, parece, é que tem aumentado o número de poetas e escritores da Mata Norte. Mas o que chama atenção é que hoje, na Mata Norte, a arte não escrita, não burilada, a arte que está sendo renovada e consumida é a que vem das camadas populares.
Nessa corrente é que foi publicado A CAMBINDA DO CUMBE, em torno do Maracatu Cambinda Brasileira. Vou dizer, que Cumbe é um engenho de cana de açúcar de Nazaré da Mata, onde na segunda década do século XX, foi fundado o Maracatu Cambinda do Cumbe.
Este é um livro visual e de leitura, melhor dizendo, as letras acompanham as imagens, as fotografias de Aline Feitosa, Beto Figuerôa, Elenilson Soares, Luca Barreto e Mateus Sá. As imagens apresentam um pedaço da magia do maracatu e de seus criadores, os cortadores de cana, cambiteiros, mestres do açúcar e mestres na relação com a natureza e com os espíritos da Natureza Maracatu é brinquedo sagrado, como lembram os textos falados pelos folgazões e fogazães e organizados por Sumaia Vieira e Maria Aparecida Nogueira. O Canal 03 fez a realização com apoio da GráficaJB e incentivo do Governo do Estado.
Tudo isso para dizer que o livro é mágico nas imagens e na captação dos sentimentos dos artistas que vivem da cana, não como proprietários e exploradores - pois um bom número de intelectuais pernambucanos deve o doce de suas vidas ao amargor do trabalho diário dos cortadores de cana - mas como os que sentem na pele o peso do canavial. E o livro indica como eles se tornam sacerdotes dos espíritos da Jurema, das matas que esconderam os índios; conta como eles se tornam artistas que viajam nas estrelas e nas águas buscando inspiração enquanto costuram e bordam as suas roupas. Com suavidade, nos é mostrado o percurso desde o tempo das cacetadas até o fulgor que os governos desejam para atrair turistas.
Estou feliz com mais um livro que conta mais uma parte da vida do povo brasileiro.

quarta-feira, dezembro 20, 2006

Porque ter uma ideologia

Li esta coluna de Pedro Porfírio na Tribuna da Imprensa,RJ, neste dia, e não resisti à idéia de colá-la aqui.

Porque é pecado falar em ideologia
Pedro Porfírio - 20/12/2006 Tribuna da Imprensa

"Ideologia, eu quero uma para viver." Cazuza
A população dos Estados Unidos é hoje de 300 milhões de habitantes, equivalente a 5% da população do mundo. Seu PIB - Produto Interno Bruto - é de 12 trilhões, 360 bilhões de dólares. Sua renda per capita anual é de 41 mil, 399 dólares. Para você ter uma idéia, com 188 milhões de habitantes, o Brasil tem um PIB de 1 trilhão 577 bilhões e uma renda per capita de 8 mil e 49 dólares.
Com esses 5% de habitantes da Terra e com essa pujança econômica, os Estados Unidos consomem 25% das drogas refinadas no mundo, conforme admitiu o então presidente Bill Clinton. E têm 25% da população carcerária mundial, com um total de 7 milhões de presos: um em cada 32 adultos estava atrás das grades ou em liberdade condicional ao final de 2005, segundo relatório do Departamento de Justiça, divulgado no último dia 30 de novembro.
Como explicar isso? Nos Estados Unidos, há um completo desprezo por ideologias, valores éticos, morais e até religiosos. A igreja católica é campeã de manchetes sobre pedofilia. Praticamente todo o patrimônio do arcebispado de Boston está empenhado para pagar indenizações às vítimas dos abusos sexuais dos seus prelados.
Onde o dinheiro é tudo
Nos Estados Unidos só se pensa em dinheiro. Lá cada um vale pelo que tem. E tudo o que cada norte-americano deseja é ter mais, ser mais, galgar novos degraus. Porque essa é a condição frenética de uma civilização fundada no princípio do sucesso pessoal: a civilização capitalista ocidental. Não estou usando o exemplo norte-americano por pirraça.
Estou falando do país mais rico do universo, que perdeu totalmente o sentido da vida. Porque desde sua independência, em 1776, viveu a eterna corrida do ouro, com a qual se apoderou da metade do México, comprou a Louisiana, o Alasca, e transformou Porto Rico em "estado associado".
Com esse desiderato, o país de Abraão Lincoln sempre esteve vacinado contra ideologias ou até mesmo movimentos operários consistentes. Os sindicatos são verdadeiras empresas e parte deles, como o maior de todos - o de transportes -, tem o sangue da máfia em seu DNA.
Lá, os grandes fundos de pensões são geridos pelas milionárias máquinas sindicais. Esse, aliás, foi o elo que aproximou Lula da AFL-CIO (a confederação operária) através de Stanley Gacek, um íntimo da corte petista.
Não há elementos internos de drásticos conflitos sociais. Tudo se resolve com as fascinantes novidades de uma sociedade de consumo a caminho da robotização. As megametrópoles impuseram o "american way of life" como sonho de todas as gerações e em todos os rincões.
A norte-americana é uma sociedade engessada politicamente. Embora existam dezenas de partidos, há uma deliberada polarização entre Republicanos e Democratas, surgidos da mesma cepa. O Partido Democrata foi fundado por Andrew Jackson em 1836, como dissidência do Republicano, fundado por Thomas Jefferson, em 1793.
Não há lideranças juvenis ou universitárias. Até mesmo o racismo, que pontificou até os anos 60, encontrou um calmante, a partir do momento em que a sociedade afluente descobriu um novo filão: o emigrante da América Latina. O racismo é uma ferramenta para manter trabalhadores de segunda classe, com remuneração bem mais baixa.
Exploração dos imigrantes
Com os latino-americanos o jogo é mais fácil. Há hoje oficialmente 40 milhões só de hispânicos, isso sem falar nos clandestinos. Em qualquer situação, estes passaram a suportar os trabalhos mais pesados com remuneração correspondente a um terço do que se paga a um norte-americano.
Apesar dessa situação escrava, há milhares de latinos arriscando a vida para ir matar a fome por lá. Segundo o Hispanic Inmigration Trends 2005, publicado pelo Pew Hispanic Center, os retirantes do México encabeçam essa fuga. Aos Estados Unidos chegam cada ano 400.000 mexicanos e um milhão vê frustrado sua tentativa de passar pelos controles fronteiriços.
Nessa sociedade não existem valores humanos, éticos, morais ou religiosos. O patriotismo se confunde com sanha imperialista. Ser patriota lá é seguir o lema "Deus salve a América e a ninguém mais", tão bem ironizado pelo diretor e ator negro Chris Rock em seu filme "Um pobretão na Casa Branca" ("Head of state").
Não há ideologia. Nem mesmo se pode falar de uma ideologia norte-americana. E essa rejeição de uma ideologia é a rejeição de valores, de compromissos essenciais. E essa idéia de que ideologia é coisa de comunista, que cheira a mofo, é que torna a nação norte-americana um grande vulcão. De tanto cada um cuidar de si, de tanto o país depender da soma de sucessos pontuais muitas vezes conflitantes, e como nem lá todos podem subir, surgem os traumas existenciais, a busca da droga e de outras compensações.
A invasão do Iraque é a conseqüência dessa civilização argentária. Mentiram para o povo, dizendo que Sadam Hussein desenvolvia armas bacteriológicas. E facilitaram o 11 de setembro de 2001, como provou Michael Moore, para avançar sobre o petróleo alheio e beneficiar descaradamente os complexos empresariais que financiaram a campanha de Bush.
É verdade que hoje só 17% dos norte-americanos aprovam o genocídio promovido por seu governo no Iraque. Mas, como já disse, essa reação se deve muito mais aos 3.300 soldados mortos lá do que à matança de meio milhão de iraquianos. Porque a sociedade americana foi até 11 de setembro a sociedade da vitória. E jamais poderia imaginar detritos de guerra em seu território. Tanto que para muitos analistas e estudiosos, como Jessie Miligan, do "Fort Worth Star-Telegram", aquele foi o "último dia comum na vida do povo norte-americano".
Eu bem que poderia estar falando da pauta de que a nossa imprensa se farta. Provavelmente, é isso que você gostaria que eu falasse. Mas prefiro ir onde ninguém vai. Penso no futuro dos meus filhos e de todos esses adolescentes sem futuro.
Penso mais: vejo a podridão transformada num grande pântano, manchando quem menos se espera, em todos os ramos da vida, tudo porque é pecado falar em ideologia.


Assino com prazer essas palavras.

Uma mudança no natal de 1967

Com a aproximação do Natal de Jesus muitas lembranças nos acodem. Os católicos preparam-se para o natal com quatro domingos de expectativa com o que vem: é o tempo do advento. Reflete-se sobre a alegria que se aproxima, que se espera e que se cultiva.
Nos tempos coloniais, como ainda hoje em certos espaços, se rezava a novena de Nossa Senhora do Ó, série de noites de reflexão sobre as dores daquela que irá parir a Salvação. Como as preces inciavam-se sempre com um Ó, não de exclamação, mas de pedido, deu-se mais um nome à Senhora, que já era a protetora do Parto.
O dezembro de 1967, foi uma grande preparação, em Nova Descoberta, o meu bairro, para o ano seguinte. As inovações litúrgicas, preconizadas pelo Vaticano II, já apresentavam seus resultados, com a supressão de muitas tradições do catolicismo popular. Naquele final de ano, foi supresso o altar dedicado a Santa Filomena, pois a pesquisa histórica comprovava a sua inexistência como pessoa física. Como explicar aos devotos que a sua santa não havia vivido na terra, que era uma criação de alguém em um passado distante. Lembro-me da retirada da imagem, mas não consigo lembrar qual foi a pedagogia dos padres para justificar aos devotos a retirada da "santa". O Natal daquele ano surpreendeu a muitos, pois enquanto estavam todos voltados para o mistério natalino, poucos se aperceberam que havia um nincho vazio. Apenas depois das festas natalinas da celebração do final do ano, é que se notou que Filomena não mais estava no altar.
Penso que ações como essas, ocorridas no campo da religiosidade popular católica, no final dos anos sessenta, indicavam uma nova "romanização". Roma estava ensinando um novo modo de ser católico. Esse modo de novo encontrou-se com um outro novo modo, um modo de maior atuação político-social dos católicos. Penso que os estudiosos das transformações da cultura, das religiosidades próprias das camadas mais humildes deveriam, nas diversas comunidades, verificar como ocorreram as mudanças.

terça-feira, dezembro 19, 2006

Semana difícil

Parece que ainda terei muito a caminhar, pensar e amar para entender o que se passa ao meu lado e, mesmo, da minha participação em tudo o que está em volta. Nesta semana, como em todas, os acontecimento parecem se atropelar: todos querendo chegar em primeiro, cada um pretendendo tomar toda a minha a atenção.
Pesquisas mostram que a população, desde a eleição de outubro, aumentou a confiança em Luiz Inácio Lula da silva, aprova seu governo, ao mesmo tempo em que são apresentadas imagens que confirmam que a "operação tapa-buraco" foi realizada para ganhar a eleição, e que mais uma vez foi rebaixa a expectativa de crescimento econômico do país; nesta mesma semana ocorreu a definição dos novos salários dos deputados federais que, com todas as ajudas de custeio perceberão quase cem mil reais a cada mês - este será o salário dos mensaleiros absolvidos no plenário da câmara; nesta semana envolvi-me em uma discussão sobre um projeto turístico para a Zona da Mata que está sendo visto, por pessoas inteligentes e sábias, como uma apologia à escravidão e como uma perseguição ao povo afro-descendente, uma louvação aos senhores de engenhos. Também um jornalista que matou a ex-namorada com tiros covardes, foi condenado. mas não será preso, ao mesmo tempo em que uma mulher pobre passará quatro anos na cadeia por ter roubado um pote de margarina em um super-mercado. Por outro lado, esta semana se anuncia que o Brasil católico terá o primeiro santo nascido no Brasil, o que não significa muita coisa para os não católicos que já há muitos recebem seus proteotres e encaminhadores das suas vidas. São muitas as tradições.São muitas as tradições que temos a compreender, inclusive a de ter de decorar tantos nomes e teorias racionais, endógenas e exógenas - especialmente essas últimas, pois as últimas, também no sentido de mais recentes, são mais inteligentes, mesmo que não facilmente inteligíveis. Oh! que vida boa, olerê, oh! que vida boa, olará, o estandarte do sanatório geral vai passar. Sei que a frase de Chico Buarque foi escrita em um outro contexto, para celebrar outros loucos. Perdoem a apropriação indevida.

domingo, dezembro 17, 2006

Vencendo os obstáculos e representações

Faz algum que não ponho letras nesta página. Estive no Sertão do São Francisco, especificamente na cidade de Belém do São Francisco. Ministrei uma discussão sobre teorias da História, como parte de um curso de especialização. Eram pessoas vindas de cidades diferentes, maior parte delas do Estado da Bahia. Já faz alguns meses que não chove o suficiente para manter os pequeno açudes molhados. Nós dá uma impressão que o calor não vai diminuir nunca, nem mesmo à noite. Ainda assim, as pessoas estão vivas, procurando um brecha de vida no enorme emaranhado de problemas que são postos para superá-los. E elas superam com um jeito próprio, uma aceitação marota, que vai minando o obstáculo.
Fico sem graça indicar livros em uma região que não tem livraria; exijo que eles possuam uma carga de leitura que, de antemão, sei que não tiveram, pois a sociedade se organizou de maneira que eles jamais tivessem alcançado o posto em que estão. Eles riem e aceitam as minhas implicâncias, chegam para o debate, escutam, discordam e me ensinam de novo que a vida é muito complexa e muito bonita.
No final de semana eles e elas voltaram para suas cidades - algumas estão 300 quilômetros. Vão de ônibus, estrada de barro, tmendo assaltos, que são comuns. Impressiona como essas moças - a maioria é mulher entre 20 e 35 anos - avança com medo e destemor a atravessar rios em paquetes, estradas em ônibus. Quando perdem o ôbnibus arriscam caronas. Mas, a cada mês chegam para a semana de estudos. E fazem isso todos os dias, pois são professoras que atendem alunos de cidades, não apenas do seu município.
Ficamos discutindo idéias pós-modernas. Elas e eles acompanham. Localizados nos sertões, fazem relações entre a sua vida e a queda do muro de Berlim e, no otimismo com que vivem suas vidas, procuram entender o pessismismo dos que não conseguiram terminar o ano de 1968. Entendem que são parte desse mundo, querem se apoderar dessas idéias, saber porque elas foram"vencidas" e estão interessados em saber daqueles que não ficaram debaixo do muro. Não querem se perder nas discussãoes sobre representações do mundo, mas estão querendo mudar o seu mundo concreto. O mundo pode parecer ser, para alguns, mas o sol, as estradas, os barcos, os alunos, a ausência de livros, o desejo de mudar, esses são realidade.

terça-feira, dezembro 12, 2006

Apreciação musical

NÚMEROS: 300 mil pessoas formam o público-alvo mensal da Osesp; 37% das maiores empresas brasileiras preferem investir em música erudita, o que faz dela o terceiro maior destino de investimentos, ao lado da música popular; 80% do público da Osesp tem mais de 50 anos; 96 a cada 100 pessoas da população brasileira das classes D e E nunca foram a um concerto de música erudita; 93 a cada 100 pessoasda classe C nunca foram a um concerto de música erudita; 75 a cada 100 pessoas da população das classes A e B nunca foram a um concerto de música erudita.
Esses números referem-se à Orquestra sinfônica de São Paulo. Eles mostram muitas coisas, tais como um problema no modelo de educação. Esse modelo não faz grande diferença entre os mais pobres e os mais ricos. Veja-se que não se pode afirmar que haja diferença de gostos, ou de formação de gostos musicais entre as classes D e A. Se 75% das pessoas dessas classe jamais foram a um concerto da música dita erudita, é porque não lhe foram dadas as oportunidades que o seu dinheiro poderia comprar. Oportunidades de aprender a apreciar a música como se diz que sabe apreciar o uisque. Os colégios onde estudam os ricos diferenciam-se mais no piso, e nas latrinas do que na formação do espírito.
Existe uma outra pesquisa que mostra que os maiores compradores de dvds bregas estão na classe A e, os maiores compradores de dvds piratas de bregas estão nas demais camadas. É uma educação muito sofrível, nos mais diversos níveis, e não apenas no básico da escrita, contagem e leitura.
Os pobres recebem uma educação musical parca - se a recebem - os ricos recebem uma educação musical parca. O que diferencia o pobre do rico, no Brasil, não é a cultura, é a quantidade de lixo que produz e com o qual se confunde.

segunda-feira, dezembro 11, 2006

Estatísticas e crianças

Diariamente somos atingidos por muitas estatísticas. Nesses tempos ditos pós modernos, a realidade ainda parece estar sendo medida por números e não apenas por emoções. Quando dizemos que a cada 1000 crianças nascidas no Brasil 33 morrem antes dos cinco anos de idade, conforme diz a ONU, logo em seguida, contendo ou explodindo emoções, o Ministério da Saúde diz que a ONU errou, pois não são 33, mas 27 as crianças mortas em cada mil. e isso faz muita diferença, especialmente se nenhuma dessas crianças pertence à família dos ministros ou de seus vizinhos. Na verdade, se fôssemos contar pelas crianças que vivem no mundo dos ministeriáveis o Brasil não estaria à frente apenas da Bolívia, da Guiana e do Suriname na América latina.
Outra estatística que ouvi hoje foi sobre os adultos alfabetizados. Descobriu-se que mais da metade deles não conseguem fazer relação entre o que leêm e a sua vida diária. em verdade eles são capazes de desenhar os seus nomes. Mas, disse um dos coordenadores do programa, eles estão prontos para continuar a serem alfabetizados. Para diminuir o número de crianças nas ruas, pedindo esmolas, os governos estuduais emunicipais estão oferecedo bolsa família - R$40.00 por mês. Temos aimentado o número de estudantes nas universidades com bolsas do pró-uni.
Para resolver esses problemas, as soluções que são postas em prática são pontuais, localizadas. Quando iremos entender que esses problemas (mortalidade infantil, analfabetismo, impossibilidade dos mais pobres - mulatos, mestiços, negros -)fazem parte de um todo?
Faltam políticas públicas, e público e autoridades que queiram fazer valer a cidadania de todos.

A morte do ditador e a luta pelos Direitos Humanos

Ontem, de acordo com os acordos e conveções, terminaria a semana dos Direitos Humanos, período no qual foram realizadas muitas ações para nos recordar da tarefa de garantir a cada criatura o direito de ser reconhecida como pessoa. A semana terminou com uma grande festa no Chile. Ocorreu o falecimento de Agusto Pinochet, o militar que foi alçado ao comando das forças armadas chilenas pelo presidente Salvador Allende.
Alende fora eleito por uma grande coalizão de partidos de esquerda, em um época de tendência direitista na América Latina. Todas as esperanças vinham do Chile que colocara à frente do governo um projeto socialista, pelo voto. Entretanto, os setores ligados ao status de dominação não permitiria o avanço nessa área, Estados Unidos da América à frente.
Pinochet passou a simbolizar essa parte da humanidade que vê o lucro acima das pessoas, as regras acima dos homens, as coisas acima dos valores. Algumas semanas depois de ter sido feito comandante das armas chilenas, o general liderou um golpe que culminou com a morte de Allende e o iníco de um ditadura que durou quase duas décadas. Muitos chilenos morreram, muitos desapareceram; foi um momento em que os direitos humanos no Chile desapareceram. Soube da morte de Allende e do início da ditadura pinochetiana em uma das celas do Doi-Codi, no Recife, pela boca de um dos carcereiros. Exultavam, os nossos pequeno pinochets, pelo fim de mais um regime democrático e pelo início de uma das mais sangretas ditaduras dos modernos tempos na América Latina. Era setembro de 1973. Por coincidência, um dos maiores destruidores dos direitos humanos, um dos maiores inimigos da liberdade, um dos que mais se enriqueceu com o destruição de ooutros seres humanos, morreu no dia dedicado aos Direitos Humanos.
Escutei, nesta manhã, um verso de Chico Buarque, este cronista da luta pela liberdade, que diz:
e se de repennte a gente sentisse a dor que a gente finge que sente... E se as pessoas que fingem se preocupar com os valores humanos enquanto sobem as escadas do poder, e se de repente elas começassem mesmo fazer disso a razão de suas vidas, bem que os "pinochets" da vida, esses que só pensam em chegar ao poder para dela gozar, seriam menos numerosos.
Não há porque se alegrar com a morte de Pinochet. A morte não é um castigo, a morte é uma etapa conclusiva da vida, todos morreremos - de susto de bala ou de vício, disse Caetano. Pinochet morreu de susto. Não há o que comemorar, há que se continuar a luta pela vitória dos direitos humanos.

sábado, dezembro 09, 2006

Andarilhaulando

Desde os anos noventa, alguns anos após a conquista do meu mestrado, tenho dedicado muitos dos meus finais de semana em capacitações de professores fora da cidade do Recife. Nesse período já estive em todas as regiões de Pernambuco, nas cidades de Caruaru, Garanhuns, Floresta, Belém do São Francisco, Petrolina, Salgueiro, Serra Talhada, Pesqueira, Arcoverde, Belo Jardim, Olinda, Goiana. Em todas elas tenho encontrado pessoas interessadas em aprofundar os seus conhecimentos e vencer os obstáculos inerentes ao fato de terem sido alunos de escolas, públicas ou privadas, que nem sempre garantiam um fácil acesso a livros, pois poucas possuem bibliotecas. Por outro lado, as condições econômicas dessas cidades nem sempre permitem que nelas surjam livrarias - algumas nem mesmo possuem bancas de revistas - que lhes ofereçam a possibilidade de adiquirir algum dos indicados pelos professores. Na verdade, muitos desses professores que buscam melhrar a sua qualificação, eles mesmo filhos das condições sócio-econômicas de suas cidades, poucas oportunidades tiveram de ter acesso aos mais recentes lançamentos. Na verdade, nesses cursos, vejo o que Darcy Ribeiro definia como Atualização Histórica, processo através do qual as sociedades que não produziram a tecnologia são obrigadas a receber o que foi realizado em outras, delas aumentando a sua dependência. Esse processo de atualização histórica, esses cursos supletivos, são diferentes dos cursos de aperfeiçoamento, uma vez que estes procuram aperfeiçoar o que existe e aqueles buscam o que não tiveram. É importante, julgo, essa minha atividade, entretanto lamento que tenhamos de fazê-la, não como aperfeiçoamento, mas como suplência de algo que não foi realizado no seu devido tempo.
Por outro lado, essa atividade me põe em contato com um Brasil, um Pernambuco, um mundo bem diferente daquele que me tem sido passado por livros e por pessoas e acadêmicos mais afeitos aos contatos políticos que ao contato com o povo. apesar da dificuldade de promver a leitura, vejo, após esses quase 25 anos de ambulante de aulas, uma sensível melhora, se não no nivel de conhecimento que encontro nos professores-alunos, uma melhora na consciência de que é preciso melhorar.Tenho aprendido com esses alunos a manutenção do desejo e da esperança.

sexta-feira, dezembro 08, 2006

A Mãe dos pobres do Recife

A manhã do dia 8 de dezembro é cheia de movimento ao longo da Avenida Norte, especialmente o espaço entre a entrado do Córrgo do Euclides e a entrada do Vasco da Gama. É como se a cidade do Recife resolvesse visitar aquele pedaço de terra, quase santa. Na madrugada que inicia o dia, não é incomum assisitr pessoas andando desde os mais distantes bairros, até mesmo de Jaboatão dos Guararapes, em direção do Morro da Conceição.
No início do século XX, eram poucas as habitações naquela região. O Recife ainda não se expandira naquela direção. O Recife do Império navegava e se criara às margens do Rio Capibaribe, ocupando as várzeas da madalena, da Jaqueida, de Casa Forte, do Monteiro, até Dois Irmãos e Várzea, alí bem próximo de Camaragibe. Os espaços geog´raficos qque ficavam distante do Rio eram pouco procurados. Só muito lentamente é que Macaxeira de Santo Amaro foi sendo ocupado. Nesse quase deserto é que foi instalada uma pequena capela dwedicada à virgem da Conceição, no alto de um morro que hoje tem o seu nome. As pessoas devotas começaram a visitar a Santa, numa imagem alí colocada após uma promessa. As promessas e as notícias do atndimento dos pedidos tornaram o Morro um local de devoção popular. Interesante que, ao mesmo tempo em que as autoridades religiosas e cívicas, procuravam incentivar o culto a Senhora do Carmo, tornando-a padroeira da cidade, inclusive a igreja do Convento do Carmo foi tornada basílica, as camadas populares voltavam-se para a pequena capela situada no Morro da Conceição. Depois a Zona Norte da Cidade foi sendo ocuipada por migrantes vindos da Zona da Mata Norte do Estado. As fábricas de tecelagem da Torre e da Macazeira eram o ponto de emprego desses que vinham para o Recife em em busca de emprego. A Senhora do Morro da Conceição passou a ser parte da vida da população.
Uma pesquisa nos livros de batismos do final do século XIX e início do século XX, poderá confirmar uma hipótese: A Nossa Senhora da Conceição era tomada por Madrinha de muitos pobres. Na verdade, a madrinha de meu pai era Nossa Senhora da Conceição.
Conceição, Maria da Conceição são nomes bem populares ao longo do século XX, perdendo espaços apenas no final do século, especialmente após os anos sessenta. Muitas crianças nascidas desde então foram batizadas - registradas - com nomes de origem indígena ou africana. Uma relação com os tempos de secularização e de espaços ganhos na lutas das "minorias"?
Possivelmente uma outra razão para a grande caminhada ao Morro da Conceição foi o sincretismo religioso, essa aproximação, entre a mãe de Jesus e a Mãe das Águas. Esse não é um fenômeno apenas recifense, nem mesmo brasileiro. Em todos os espaços onde ocorreu a catolicização do povo, no sofrimento próprio da América latina, a mãe de Jesus, a Mãe das Águas, tornou-se a Mãe dos pobres. Não mais advogada, como se reza na Salve Rainha, mas a mãe, a madrinha, uma pequena mãe, uma grande mãe dos pequenos.

segunda-feira, dezembro 04, 2006

Notas para a história dos Institutos Teológicos em Pernambuco

Leio nos jornal deste domingo - 2/12 - que o Instituto Franciscano de Teologia de Olinda está encerrando as suas atividades. Este insitituo tem uma larga ascendência. A mais antiga é a Cursos superiores de Estudos, criado pelos franciscanos em 1596, para a formação de padres que serviram ao longo de uma parte da história do Império Português no Brasil. Embora os franciscanos sejam menos conhecidos que os jesuítas em sua tarefa educacional, não creio que seja de pouco valor a sua contribuição para a formação da parte da elite colonial. Infelizmente não temos documentos que ajudem a compreender melhor a saga dos Irmãos menores nesse afair no período dito colonial. A tarefa dos franciscanos, na área da educação veio a ser maracada na seguinda metade do século XIX pelo esvasiamento dos conventos, uma das conseqüências da política religiosa no governo de Pedro II. No final do século XIX, ocorreu um renascimento da Província de Santo Antonio, com a chegada de frades alemães que, entre outras ações, criaram casa de estudos em Lagoa Seca, na região do Brejo da Paraíba, recebendo futuros professos e frades de diversos pontos do Nordeste. Com poucos estudantes de teologia, era mais comum enviá-los para o Insitituto Teológico de Petrópolis.
A tradição mais recente do IFTO está localizada nos anos anos sessenta, a diminuição de candidatos ao sacerdócio em todo o Norddeste levou os bispos a fecharem muitas casas de formação e unir suas ações no Seminário Regional do Nordeste II -SERENE, e no Instituto de Teologia do Recife -ITER. Embora houvesse sido uma iniciativa dos bispos para a formação dos padres seculares, os superiores das ordens religiosas assumiram o projeto e passaram a enviar seus noviços e professos para o ITER, cerrando as portas de suas escolas teológicas. Na reogranização conserdora comandada pelo papa Jo9ão Paulo II, o ITER foi fechado e alguns superiores religiosos decidiram se unir e reativar os Cursos Superiores que toma o nome de Instituto Teológico Franciscano de Olinda, tendo eu participado desas conversações que envolveram os provinciais dos padres do Sagrado Coração, dos Capuchinhos e Oblatos de Maria. Era uma tentativa de garantior uma formação teológica com a perspectiva da região. Ministrei aulas de História da Igreja nos dois primeiros semestres dessa nova fase dos Cursos Teológicos. Ao mesmo tempoo Mosteiro de São Bento também reabriu a sua Escola Teológica, mas com uma visão oposta aos dos franciscanos. Depois de algum tempo os beneditinos fecharam as suas aulas por orientação vaticana, enquanto a Arquidiocese de Oinda e Recife fez ressurgir o Seminário de Olinda, não tanto na tradição de Azeredo Coutinho ou Hélder Câmara, mas mais aproximada de Cardoso Aires.
Lamemnta-se sempre o fechar uma escola, especialmente uma escola que pretendia refletir como ser padre no Nordeste.

sábado, dezembro 02, 2006

Direitos Humanos

Interessante como algumas datas marcam pelo que nós vivemos e, algumas, pelo significado que elas possuem para além de nossas vidas pessoais e mesmo dos contemporâneos imediatos. Vindo de Goiana para Olinda após uma manhã de estudo/ensino, um programa de rádio lembrou-me que na próxima semana completa mais uma idade a declaração Universal dos Direitos Humanos, promulgada pela ONU no dia 10 de dezembro de 1948. Parece que a primeira vez que ouvi falar de Direitos Humanos foi naquele ano de 1967, quando começamos a preparar o vigésimo aniversário da Declaração. Era mais uma proposta de Dom Hélder Câmara. Todos os grupos passarem o ano discutindo o que significava essa Declaração. Então soubemos que ela estava ligado aos direitos de vida, de locomoção, de estudo, cidadania, educação, saúde, nacionalidade, etc.. Tudo que estava sendo negado pela ditadura para a maioria do povo brasileiro. Os anos seguintes foram vividos nessa perspectiva, pois o período que se seguiu à posse de Costa e Silva foi o de endurecimento ditatorial. Se hoje a classe média, apavorada, fica julgando que "direitos humanos" é a defesa dos bandidos, nos anos da ditadura, possivelmente muitos pensaram que era coisa de comunista. Todos temos direito à vida, a viver. Penso nisso quando sei que um grupo de jovens e pessoas maduras estão na avenida Boa Viagem defendendo o direito à vida por conta do assassinato de um jovem de classe alta; mas esses jovens e esses homens maduros que formam essa associação de defesa dos direitos, só se organizram quando foi morto alguém de sua classe. Não os vejo, de verdade, lutando pelo direito de uma vida decente para os jovens e pessoas maduras que moram na periferia. Penso que, em verdade eles têm medo da periferia, pois pensam que os seus direitos de viver são contrários aos direitos daqueles que vivem nas periferias. Como a sociedade, a classe rica e dominante, não garante os direitos dos que vivem na periferia e não fazem parte de sua classe, temem que os sem direitos reconhecidos tomem os seus direitos. Todos os homens, todas as mulheres, todas as crianças, todos os jovens têm direitos que devem ser postos à disposição de todos de forma o mais eqüânime possível.
Vamos procurar ler que direitos são esses que as nações unidas disseram que todos temos e lutar para que todos os vivam completamente. Então o medo ficará mais tênue.

sexta-feira, dezembro 01, 2006

O candidato a Beato não é "beato", professora.

Começarei citando: ... esse foi o cenário propício para o surgimento de beatos como "padre Mestre Ibiapina", advogado que chegou a ingressar na carreira política do Ceará, mas por razões pessoais abandonou a toga e passou a peregrinar pelo Nordeste, sem que saibamos exatamente quando foi "ordenado". O fato é que chegou a proferir missa com a autorização das autoridades eclesiásticas de Sobral, fundou uma congregação religiosa de freiras, talvez a primeira da região, difundiu as primeiras instituições educacionais para mulheres e recebeu apoio até mesmo das elites do vale do Cariri, que admiravam as iniciativas do Beato."
O texto foi escrito por Jacqueline Hermann, faz parte do artigo Religião e política no alvorecer da República: os movimentos de Juazeiro, Canudos e Contestado, parte de primeiro volume de O Brasil Republicano, uma série de quatro volumes, publicados pela Civilização Brasileira, no ano de 2003, organizado pelos professores Jorge Ferreira e Lucilia de Almeida Neves Delgado.
Com o devido respeito que temos para com os ilustres professores, especialmente, especialmente à professora Jacqueline Hermann, devemos alertar ao aluno que, neste trecho citado, parte de um parágrafo, está demonstrado um pouco do preconceito que se tem pela historiografia produzida no Nordeste. Uma pessoa que escreve sobre o padre Ibiapina deveria ter lido um livro publicado na década de cinquenta, por Mariz, sob o título Ibiapina, um apóstolo do Nordeste. Houvesse lido o livro, saberia que Ibiapina estudou no Seminário de Olinda e no Seminário da Madre de Deus, dos padres Oratorianos; saberia que depois formou-se em direito, advogou, foi deputado pelo Ceará e atuou na Corte, na comissão de finanças do Parlamento. Desenganado pela política voltou a dedicar-se à advocacia para os pobres no Recife e também desiludiu-se dessa atividade ao entender que os juízes e as leis fovoreciam os poderosos e donos da terra. Pasou a viver semieclausurado e foi convidado pelo bispo de Olinda para assumir o sacerdócio. Foi ordenado pelo bispo de Olinda e foi professor de História Eclesiástica no Seminário de Olinda. Depois pediu permissão e foi missionar nos sertões, onde atuou desde o Piauí até Pernambuco. Ele não era um "beato", como quer a professora que não lê o que é produzido no Nordeste (se bem que há nordestinos que não folheiam as páginas de seus conterrâneos e, por isso engolem as bobagens escritas no sul). Além desse clássico já citado, Jacqueline deveria ter conhecimento dos escritos de Eduardo Hoornaert - Ibiapina e a Igreja dos pobres - publicado pela Paulinas nos anos 80. bem como deveria saber que atualmente a diocese de Guarabira está postulando a beatificação do Padre Ibiapina.
Uma última informação para os leitores: Os beatos e as beatas do nordeste são decorrentes da atuação do padre Ibiapina.
Bem: devo dizer que, mesmo fazendo esses adendos e correções indico a leitura do texto da professora Jacqueline Hermannn. Eu mesmo já escrevi sobre o padre Ibiapina, em textos publicados pelas editoras Vozes e Paulinas, portanto de fácil acesso aos professores do Rio de Janeiro. Por fim, não devemos esquecer: quem vá discorrer sobre um tema deve fazer uma pesquisa para verificar o status quaestionis

Duas nações? Uma esperança

Custa muito a crer que, um dia, vamos superar todos os males que os poderosos desse país têm feito ao povo dessa nação. É como se fôssemos duas nações: uma, a quem tudo é permitido, no sentido de roubar, manipular informações, promover absolvições antes que se dê início o processo, como foi o caso de Suassuana, o Sanguessuga; e outra, a nação representada por um pai desesperado que se prendeu em um poste , na Praça da República, em frente ao Palácio da Justiça, no centro da cidade do Recife, em protesto pela prisão de seus dois filhos, encarcerados sem provas e sem julgamento, lá se vão trinta dias. Uma nação gorda, super-alimentada das explorações realizadas sobre a outra nação esquálida, faminta de alimentos e reconhecimento de sua humanidade.
Embora custe muito a crer, ainda devemos crer e continuarmos a criar a esperança, evitando cair no jogo dos poderosos que fazem tudo para nos dividir - oferecem vantagens para alguns e esquecem outros e os alguns esquecem dos outros - e fazer do povo dessa nação brasileira, muitas nações. Não devemos nos esquecer que certo líder dos romanos antigos ensinava que dividir favorce o dominar. Não podemos simplesmente ir "levando", precisamos criar a levada.
Afinal, como nos lembra Darcy Ribeiro, o Brasil nasceu da Utopia, da Terra sem Males. Vamos nessa direção.