terça-feira, março 12, 2024

Duas cidades aniversariam: Olinda e Recife

Duas cidades aniversariam; diz a lenda que há poucos anos de diferença entre elas, pois que são quase gêmeas, com diferentes topografias, o que provocou outras diferenças, tornando-as, em diversos momentos, quase inimigas. Mas elas têm muito em comum, entre elas e com outras cidades com idade semelhantes, cidades que começaram como pequenos povoados, faz quase meio milênio. Uma das cidades recebeu o reconhecimento e o título de Patrimônio Cultural, Artístico e Natural da humanidade. Ambas estão à beira do Oceano Atlântico e parte de seus territórios eram manguezais, berço de inúmeras espécie de peixes e crustáceos. Hoje esse ecossistema está quase desaparecido para as cidades crescessem em espaços para acomodar a gente que vinha de terras longínquas para viver, domando a terra e tentando vencer o mar. A bela Olinda nasceu da guerra entre a gente de Duarte Pereira e os Caeté, o povo que vivia na colinas e nos espaços estre elas. A derrota dos Caeté foi possível com a aliança matrimonial entre o irmão de Dona Brites Albuquerque e Muira Ubi, mais conhecida como Maria do Espírito Santo Arco Verde, filha do cacique Uira Ubi, da tribo dos Tabira do ramo Tabajara. Esse enlace amoroso garantiu a criação do povoado que, dois anos depois foi dita vila/cidade, no Foral de Olinda. Era, então a colina onde Duarte Coelho fez seu castelo, construiu a igreja dedicada ao São Salvador do mundo. E então veio o açúcar dos engenhos que fez a riqueza de Olinda, riqueza que a colocou no furacão da guerra das Províncias dos Países Baixos e a Espanha, e Olinda foi invadida pelos povos daquelas províncias lideradas pela Holanda. Ocorreu o incêndio da cidade, a depredação de suas residências e prédios. O holandeses olhavam mais para o Recife, cujo porto lhes interessava. Inicialmente, a população do Recife vivia do mangue, mas veio a ser o porto, um porto natural, que Olinda não possuía. Esta foi a razão da guerra holandesa: controlar o comércio do açúcar produzido nos engenhos de propriedade dos habitantes de Olinda. Os interesses dos batavos fez o povoado crescer durante a guerra, e para controlar a violência e garantir o lucro, os sócios da Companhia das Índias Ocidentais contrataram um nobre e o puseram no governo das terras que os holandeses vinham tomando dos portugueses de Portugal e dos portugueses de além e aquém mar. Na ocorrência da guerra da Restauração Pernambucana, que ocorria correlata com a Restauração Portuguesa, os holandeses derrotados militarmente, destruíram o que haviam construído nos tempo em que colonizaram Pernambuco, Paraíba Rio Grande e Ceará. Mas o Recife cresceu em importância e população, pois o centro do poder é atrativo. Ao longo de um século, governadores, bispos, ordens religiosas mudam-se para o Recife. Mas não sem guerra entre as irmãs gêmeas, ou entre a mãe e a filha bem-sucedida. Quinhentos anos depois, as duas cidades estão em crise, elas têm dificuldade de contar as suas histórias que, neste mundo performático, parece só existirem uma vez por ano, no período carnavalesco. As duas cidades não cuidaram de guardar suas memórias, como pode ser comprovado pelo estado decadente de seus arquivos públicos, entre outros aspectos. Mas hoje é dia de festa, assim devemos parecer alegres, pois a ignorância, como a inocência, assim o exige. FELIZ ANIVERESÁRIO. VAMOS COMER BOLO. Prof. Dr. Severino Biu Vicente da Silva, Presidente do Instituto Histórico de Olinda. Ouro Preto, Olinda,12 de março de 2024

domingo, março 03, 2024

INÍCIO DE MARÇO

Início de Março Prof. Severino Vicente da Silva Todos os meses guardam segredos, tão secretos que estão nas conversas dos botequins de esquina, das igrejas nas praças centrais, bem como naquelas que se estabelecem apressadamente em antigos cinemas ou nas salas apertadas em ruas de periferia. Sim, quase todos, padres, pastores e vendedores das rosas de Hebrom, falam da do Estado de Israel e o Grupo Hamas. Na confusão há quem confunda o Estado de Israel com o povo judeu, e há aqueles que, juram pelo plim plim que todo Palestino é militante do Hamas, inclusive os que ainda estavam no ventre de suas mães quando essas foram mortas. Esses são, como dizia Cazuza: segredos de liquidificador. Outro segredo que estava sendo esquecido é a existência da guerra iniciada pela anexação de territórios ucranianos pela Rússia, processo iniciado em 2018, mas este é outro esquecimento, bem como a política de expansão da Organização do Tratado do Atlântico Norte. No final de fevereiro o Macron, o presidente francês que evita um tratado de comércio com a América Latina enquanto defende o direito de proteger seus agricultores ultrapassados da livre concorrência do mercado, principal dogma dos sacerdotes do capitalismo, falou que talvez fosse necessário mandar mais armas e homens para ajudar a Ucrania derrotar a Rússia; então o presidente da Rússia lembrou outro segredo: ele tem mísseis que podem alcançar qualquer cidade da Europa e, os que os tais mísseis carregam ogivas nucleares. Macron calou-se, lembrou-se de outro segredo: a França faz tempo que não é levada a sério. Nem vamos mencionar as “pequenas” guerras que ocorrem na África, mesmo porque elas estão matando menos que as hostes de Natanyaho, o Bibi. Também não é segredo que Março é o mês dedicado a Marte (Aries) o mitológico deus da guerra. Mas algumas coisas, algumas ações escapam ao deus da Guerra, como o aniversário de nascimento de minha caçula, no dia 6. Ocorre que este dia, recentemente foi ‘descoberto’ pelos pernambucanos como o início da Revolução Pernambucana, que também envolveu a Paraíba e o Rio Grande do Norte, e na virada do século passou a ser celebrado como a Data Magna de Pernambuco. Era uma data tão esquecida que nem nome de rua tem. Mas tem o Primeiro de Março, para lembrar uma vitória do Brasil contra o Paraguai, a Batalha de Aquidabã, que pôs fim à guerra contra iniciada com o aprisionamento do governador do Matogrosso pela marinha paraguaia. O Seis de Março continua sendo, para alguns com problemas de audição e escolaridade a “gata magra”. Aliás, em toda minha vida de estudante – 1955 a 1986 – jamais ouvi a expressão Data Magna, embora sempre foi ensinado que houve uma Revolução dos Padres, embora que mais recentemente os mações estão mais presentes no atual momento de revisão histórica. O dia de hoje, 3 de março, foi muito interessante para mim, que presidi a reunião ordinária do Instituto Histórico de Olinda, que me deu a oportunidade de ser lembrado pelo confrade Hely Ferreira, que neste mês, no ano de 1982, ocorreu o assassinato do procurador Pedro Jorge, que havia demonstrado a existência, com conivência de algumas autoridades, de desvio de verbas, no que ficou conhecido como o Escândalo da Mandioca, no Sertão pernambucano. A reunião continuou com a apresentação de uma pesquisa interessante, inclusive por tratar de um bairro da periferia de Olinda: o Matadouro e o Bairro de Peixinhos. A palestre do confrade João Henrique provocou um aluvião de notas e notícias por parte da assembleia. À tarde, tive outra alegria, indo ao Bairro de Peixinho para assistir a culminância de uma residência promovida pelo Projeto Recordança, no Ponto de Cultura Darué Malungo, onde encontrei muitos malungos com os quais vivi alguns bons momentos de minha vida. Alguns que se apresentaram eram de minha geração, outros mais jovens, e todos dançando a vida como a vida lhes fez e eles a fizeram, ali e em outros lugares onde se brinca capoeira, caboclinhos, frevo, rap. Bonito e renovador ver meu povo contar a sua dança, a sua história, e nelas estão a vida dos que tiveram de ser em uma sociedade que lhes nega os meios de serem. Daruê Malungo bem que poderia ser reconhecido, pelos “homens escolhidos para as rédeas do poder” aquilo que ele já é: Patrimônio Vivo da Cultura de Pernambuco. Prof. Severino Vicente da Silva