domingo, dezembro 30, 2007

A Casa de Xambá continua inventando o Brasil

Restando poucos dias para o final do ano 2007, a Secretaria de Cultura da Prefeitura de Olinda reconheceu e delimitou um Quilombo Urbano, em um espaço geográfico, no bairro de Beberibe, em um logradouro conhecido como Portão do Gelo. Essa ação é um reconhecimento à saga de um espaço religioso como local de resistência cultural. A Casa de Xambá, hoje liderada pelo Pai Ivo, é a saga de Dona Biu, brava mulher que manteve a tradição de seus ancestrais, transmitindo-a para as novas gerações. A Casa de Xambá, sob a proteção de Santa Bárbara, é um referencial para as tradições que atravessaram o oceano Atlântico nos tumbeiros e formaram, juntamente com os ditos índios, com os europeus e mamelucos, esse mundo cultural que é o Brasil.

A Casa de Xambá, além da relação com a formação grande nação brasileira, tem uma ligação mais estreita com a história de Olinda, em um momento mais recente. Quando, no início do século XX, as várzeas do Rio Beberibe ainda não estavam totalmente tomadas pela expansão das moradias, Dona Biu estabeleceu-se com seus familiares, atraindo, durante o Estado Novo, a repressão policial contra as manifestações religiosas de matrizes africana e indígena. A política centralizadora, de cunho fascista, não admitia dissensões, entre elas a religiosa. A bravura de Dona Biu, a sua capacidade de resistência, como a de outras mulheres em outros locais da cidade de Olinda, mas também no Recife - como é o caso de Badia, no Pátio do Terço, foram fundamentais para o aperfeiçoamento da construção cultural olindense, pernambucana e brasileira, afirmando, com a existência da Casa de Xambé, a presença fundadora dos cultos de origem africana para o povo brasileiro.

O primeiro Quilombo Urbano do Brasil é uma afirmação do povo brasileiro. Um povo que agrega, na bela tradição ibérica, uma tradição mais includente que excludente. Como todas as tradições, ela é gerada na dor, mas dores geradoras de novas maneiras de viver.

sexta-feira, dezembro 28, 2007

13 de dezembro

O dia 13 de dezembro de 1968 ficou inesquecível para toda uma geração e trouxe conseqüências nem sempre agradáveis nos anos seguintes para todos nós. Naquela tarde, o Congresso Nacional foi fechado porque se recusou a permitir que o poder executivo o dominasse, o controlasse e estipulasse o que poderia ser limites mínimos para o exercício democrático. Todos nós sabemos que, por causa da atitude honrada daqueles congressistas, o executivo de plantão levou o Brasil a um dos momentos mais cruéis de nossa vida democrática. Foram muitos os jovens que sentiram as terríveis conseqüências do Ato Institucional de número 5, editado pelos ditadores.

39 anos depois, alguns desses jovens, agora à frente do poder executivo nacional, pressionaram o congresso para que ele se curvasse aos seus interesses. No dia 13 de dezembro deste ano de 2007, depois de quase um ano de subserviência aos desejos do executivo, absolvendo um senador para que os interesses do executivo não fossem prejudicados por alguma chantagem, ou talvez porque alguns senadores estivessem sob chantagem, o Senado promoveu o fim de uma contribuição provisória que estava se tornando permanente. É verdade que o fim da CPMF pode vir a prejudicar o Sistema Único de Saúde, mas, o mais importante é que o executivo foi proibido de impor um novo silêncio ao parlamento.

Lamentável que aqueles que lutaram contra a ditadura imposta pelo AI 5 estivessem sendo aconselhados por aqueles que escreveram o AI, nesta pendenga da CPMF. Mas o 13 de dezembro de 2007 terminou com o fortalecimento do Senado, diferentemente do 13 de dezembro de 1967.

Talvez a batalha da CPMF venha a ter conseqüências negativa para o SUS, mas será retaliação dos que acham que podem conseguir tudo com a utilização do bens do Estado como moeda de compra de consciência. Essa data vai se tornando símbolo da resistência do parlamento aos desmandos do executivo.

Sobre Aluísio Lorscheider

Estive pensando em escrever um texto sobre dom Aluísio, um dos mais importantes servidores da Igreja Católica e dos homens e mulheres que conoheci. Foram poucos os meus contatos com ele, mas sei da sua importância para cada um de nós. A sua ação foi enorme no mundo dos poderosos, embroa ele jamais tenha deixado de ser um humilde servo da humanidade. Recebi, por intermédio de Guilheermo, um amigo comum a mim a a Eduardo, este texto de Eduardo que o conheceu melhor e que conviveu mais aproximado de domAluísio. Assim, apenas ratificando o anoda morte de padre Henrique para 1969, o texto segue como foi escrito por meu amigo Edaurdo Hoornaert.


Dom Aloísio, um franciscano cardeal.

Eduardo Hoornaert.

Não é fácil ser ao mesmo tempo franciscano e cardeal. Desde cedo, Aloísio Lorscheider abraçou um ideal feito de emoção e fascínio por um caminho de vida diferente do padrão comum. O ideal é viver a vida como ‘irmão menor’ no meio dos homens e acreditar na utopia de uma fraternidade universal para além da humanidade, abraçando os animais ‘nossos irmãos’, as pedras e as estrelas. Ficar feliz na companhia de um Jesus que nasce num presépio, anda no meio do povo, sofre perseguição e morre na cruz, mas ressuscita e irradia uma luz que atravessa os séculos. Usufruir das coisas sem possuí-las e assim alcançar a liberdade, realizar a ‘perfeita alegria’ e tornar-se artista de Deus.
Eis o ideal franciscano que Aloísio Lorscheider viveu desde seus nove anos de vida. Mas suas potencialidades intelectuais e humanas o guindaram cedo ao posto de bispo, o que não deixa de ser estranho para um franciscano, pois a inspiração fundamental do episcopado não combina bem com o sonho franciscano. O bispo é o herdeiro do fiscal da sinagoga judaica. Ele não pode mostrar-se ‘menor’, tem de impor autoridade. Seu Jesus não anda no meio do povo, entra em procissão na catedral. Fica igualmente difícil a um bispo seguir o ideal de ‘usufruir sem possuir’, pois ele tem de administrar as propriedades da igreja.
Só relato brevemente uns episódios. Fiquei impressionado com a simplicidade com que ele se apresentou no Encontro Intereclesial das Comunidades de Base em Itaici (1981): ‘Eu sou da diocese de Dona Maria (coordenadora das Comunidades de Base de Fortaleza)’. Lembro-me de suas viagens à diocese-irmã de Rio Branco (Acre). Ele ficou um dia inteiro no meio de líderes das comunidades estudando o evangelho. Sabendo que eu estudava a história de Padre Ibiapina, manifestou vivo interesse pelo método inovador com que Ibiapina trabalhava com o povo. No longínquo ano de 1968, viajou a Recife para confortar Dom Helder Câmara depois do assassinato de padre Henrique pelas forças de repressão.
No meu entender, Aloísio Lorscheider foi antes de tudo um franciscano. O princípio franciscano do ‘usufruir sem possuir’ fez com que ele assumisse a função de cardeal sem propriamente ‘tomar posse’ do cardinalato. Dom Aloísio não era ‘cardinalício’, ele não ‘possuia’ o cardinalato como quem possui uma propriedade. Ele usufruía franciscanamente do cardinalato para espalhar idéias, fortalecer experiências na base da sociedade, soprar vida em brasas quase apagadas. Isso fez o charme de sua personalidade. As pessoas se sentiam bem na presença do franciscano cardeal que escolheu sentar-se lado a lado com animadores(as) de comunidade, desprovido de qualquer pretensão.

sábado, dezembro 22, 2007

Ética do natal brasileiro: entre a manjedoura e o saco de papai noel

Estamos em pleno período natalino, caminhando na direção do final do ano, momento que, para muito, é de reflexão, de avaliação das ações ocorridas ao longo do ano, na expectativa de encontrar aspectos positivos e negativos vivenciados. Embora as festividades natalinas devessem lembrar mais especificamente o nascimento de uma criança que, em sua vida provocou mudanças substanciais na vida de uma parte da humanidade, a cada ano este aspecto tem sido posto em local mais reservado, menos evidente. Ocorrem trocas de presentes, doações são feitas, não mais como resultado de um sentimento religioso. A cada ano parece sumir na memória a idéia da divindade da criança que deveria ser lembrada. O saco com presentes, carregados por um velhinho, é faz a alegria das pessoas, sonhadoras e consumidoras de delícias. Todos sonham com os presentes, com os objetos carregados pelo velhinho.

Entre os presentes deste ano, os brasileiros recebemos a informação que somos 184 milhões de pessoas, um número menor do que o esperado. Agora o crescimento populacional do Brasil é de 1,2% ao ano e as famílias são, em média, formadas por cerca de três pessoas. Dois dias antes soubemos que agora somos a sexta economia consumidora do mundo. Parte da população do Brasil tem mais aparelhos de telefonia celular, tem mais automóveis, tem mais televisores, enquanto parte da sociedade terá esgoto a céu aberto até meados do século e, o país ainda pode demorar mais de cem anos para garantir a educação média a todos os seus habitantes. Temos consumo de país rico e os eternos problemas de país pobre. Tem aumentado o consumo de bens industriais, mas temos um dos piores índices de escolaridade do continente, os nossos jovens estudam pouco, mas são mortos com a prontidão de um país em guerra. Entretanto cabe afirmar que temos feito alguns avanços na direção de escapar da mediocridade a que, alguns de nossos antepassados não muito distantes, quiseram nos condenar.

O grande sofrimento do ano foi a exposição absoluta da falta de vergonha dos políticos na tarefa de se autoabsolverem, absolvendo a tresloucada ética de um presidente do senado. Da mesma forma que em ano anterior o presidente da república absolveu seus colaboradores do crime de Caixa Dois partidário, com a desculpa de que todos fazem assim, este ano os senadores não se fizeram de rogado e continuaram na trilha apontada pelo honestíssimo presidente Luiz Inácio da Silva. A ética, como a religião, está se tornando um prato desses que se fazem em restaurante de auto serviço, ou self service. Mas o sofrimento ético, se depender do presidente da república e do presidente do PDT a falta de bom comportamento ético na administração pública de alto nível continuará. Interessante é que o Ministro do Trabalho ameaça processar a comissão de ética porque esta está exigindo que ele cumpra o Código de Conduta da Alta Administração Federal. Luppi é, ao mesmo tempo ministro e presidente de partido, o que é vedado pelo código de ética. O presidente da República deu posse ao ministro sabendo da irregularidade. É difícil acreditar que ele venha a demitir o ministro. Tudo é uma questão de ética. Uma ética para o consumo; de preferência consumo interno. Essa ética vem no saco do Papai Noel, mas não é encontrada entre as palhas de uma manjedoura na zona rural de Belém.

O menino que aniversaria no dia 25 de dezembro – segundo a tradição – nasceu na periferia e manteve tal comportamento que não mereceu estar entre os reis, embora hoje os reis o citem facilmente. Nascido em área rural, há quem festeje e consuma o aniversário daquele menino. É tudo uma questão de ética sob medida para a ocasião.

quarta-feira, dezembro 19, 2007

A importância do contraditório e não da briga pessoal

Escrevi, esta semana, considerações sobre a maneira das autoridades reagirem à análises que não lhe são favoráveis. Normalmente dizem que a crítica não deve ser considerada por que ela é proveniente da oposição. Ou seja, a oposição não pode criticar e os aliados devem sempre elogiar. Quando alguém que não é do ramo, oposição político partidária emite opinião, logo vem a acusação de que o crítico se vendeu.

Alguns dias antes, neste mesmo espaço, eu comentei a maneira de como a imprensa tratou e noticiou um festival, pondo toda a relevância na presença da Velha Guarda da Mangueira, em pleno canavial de Aliança. O que chamei atenção foi que a imprensa resolveu noticiar e colocar em realce a presença dos cantores, cantoras e passistas vindo do Rio de Janeiro, obnubilando as demais presenças naquele Festival.

Creio, que após os sucessos da revolução Francesa, da conquista do direito de opinião, da relativização de todas os locais sagrados das verdades e de seus fazedores, uma pessoa pode reagir ao que foi dito e escrito e publicado. Sempre que se publica deve-se esperar reações. Apenas os ditadores, os que se julgam senhores da verdade, ainda entendem que as reações sempre devam ser de apoio. Pois bem, o texto "a importância que se dá é a importância que se tem" após ser publicado no blog “passo do carnaval” , recebeu uma crítica que, creio foi escrita por uma jornalista. Transcrevo:

O texto do senhor Biu Vicente seria muito verdadeiro se o próprio não tivesse nenhum envolvimento com a organização do evento. Sabemos que ele é parente próximo de Valéria Vicente, uma das principais organizadoras do Festival. Portanto, ele é parte interessada, seu desabafo não é o de um mero espectador... é de parte envolvida, está comprometido. É a reclamação de quem não se sentiu prestigiado pela imprensa. No Recife isto acontece o tempo todo. Todos acham que suas criações e projetos são os melhores do mundo. Só Freud!

Assim respondi a Sra. Ou senhorita Paloma Granjeiro:

Não há porque negar que sou eu parte do festival, não por ser parente de Valéria Vicente, mas por ter sido coordenador dos debates. É desalentador procurar desautorizar, via parentesco, a opinião de alguém. Aliás, são tantos os parentescos nos espaços públicos de Pernambuco em certas áreas, que este argumento não deveria ser mencionado. Não é uma questão de desabafo, é uma questão de por em debate uma opinião, como os jornalistas podem colocar a sua opinião. Da mesma maneira que a minha opiniãopode ser dita com o a de um interessado, creio que os jornalistas também possuem os seus interesses; os jornalistas têm interesses, os blogs e blogeiros também o possuem. Não disse que sou mero espectador, pois ninguém é mero espectador de sua vida; entretanto sei que alguns querem achar que podem definir-se apenas como espectadores ou construtores da história. Somos todos, inclusive eu ePaloma, construtores, criadores e espectadores das nossas histórias pessoal e coletiva. E todos temos o direito de expressar a nossa opinião e não apenas aqueles que são pagos para isso.

Pois é, a minha opinião é que o foco que a imprensa deu foi errado, mas foi a opção realizada pela jornalista. Mas o seu foco não tem que ser necessariamente o meu, nem o meu ser o dela. Agora, querer debater idéias com acusações familiares, e em uma cidade em que muito é realizado em torno de piscinas familiares, é desatino de quem não tem argumento. E ainda por cima vem com essa de Freud! Argumento ainda mais típico da ausência de argumento, pois quem o usa quase nunca leu mais que as orelhas de livros que comentam a obra do criador da psicanálise. Mas como diz Paloma, “No Recife isto acontece o tempo todo” Quando não se tem argumento procura-se desqualificar a crítica. E nem se percebe que com isso se desqualifica.

O crescimento de nossa cidadania ocorrerá quando pudermos discutir idéias sem a necessidade de incorrer em argumentos infantis que tocam na família do oponente. Espero que Paloma Granjeiro apresente argumentos mais consistentes e inteligentes para a negligência das matérias jornalísticas. O jornalismo é uma profissão séria e uma das vias importantíssimas para a construção do mundo livre, do mundo livre pensar; sem a crítica, sem o contraditório, a imprensa pode vir a tornar-se apenas um “press-release” feito por um e assinado por outros.

Quem já leu Aníbal Fernandes, Paulo Craveiro, Nestor de Holanda e outros grandes jornalistas pernambucanos tem outras necessidades intelectuais e saudades de bons textos nos jornais que pagamos.

domingo, dezembro 16, 2007

O deputado narciso e pesamento livre

Esta semana ocorreu interessante encontro entre projetos políticos que utilizam as mazelas da população para glorificar-se e a crítica série e pertinente realizada por setores do pensamento acadêmico.

Alguns costumam dizer que a universidade não se relaciona com a sociedade, o que é verdade em muitos casos, contudo, não se pode negar que alguns acadêmicos estão, em suas pesquisas, intimamente ligadas com as encruzilhadas que atormentam os cidadãos por conta de políticas públicas anunciadas às pressas e apontadas como resultados quando ainda estão no papel. Um desses acadêmicos é o professor Jorge Zaverucha. Quando acadêmicos participam, com seriedade de debates, apontando soluções que surgem de suas pesquisas, e quando essas sugestões não coincidem com os desejos dos governantes, é comum que essas autoridades tratem de afastar o pensamento acadêmico e livre. Alguns políticos querem sempre a confirmação de seus projetos e esperam que os cientistas confirmem os seus planos. Esse ranço autoritário, comum em certas repúblicas que se diziam socialistas, também é encontrado nas terras dominadas pelo cultivo da monocultura da cana de açúcar. Monocultores agrícolas também desejam a monocultura do pensamento. É dessa maneira que oligarquias têm se perpetuado, muitas vezes com o serviço subserviente de acadêmicos que não possuem a envergadura do professor Jorge Zaverucha.

Recordo-me ter sido chamado para assessorar um encontro de educadores, no governo anterior ao atual. Quando, em um grupo de estudo, tive a oportunidade de dizer que havia um erro naquele projeto de educação desenvolvido naquele momento, fui afastado dos trabalhos apara atender ao pedido de um gerente de um dos DERES. Hoje nós estamos vendo o resultado da política educacional desenvolvida nos últimos dez ou vinte anos. Os jornais informam que não há trabalhadores educados o suficiente para atender às demandas dos projetos industriais de Suape. Agora todos sabemos que a grande política educacional das últimas décadas gerou os mais vergonhosos números e a a mais triste realidade educacional do Brasil e de Pernambuco. Entretanto, o interesse político se sobrepôs à análise científica. O mesmo tem ocorrido noutros debates, como esse sobre a segurança pública. Políticos encarregados de defender a qualquer custo projetos governamentais ou partidários, terminam por afrontar a realidade.

Todos nós sabemos e observamos, a cada eleição, como os políticos aceitam as pesquisas e análises, apenas quando essas coincidem com os seus desejos. Não é sem motivo que não são alcançadas as metas que, efetivamente, poderiam trazer melhores condições para a população.

Um deputado acusa o professor Zaverucha de ter sido comprado pela oposição. Depois do que temos assistido nos recentes debates nos diversos parlamentos, municipais, estaduais e nacional, até entendemos esse deputado: ele está querendo diminuir a atividade de um intelectual sério, julgando-o como julga os seus companheiros de trabalho. Como diz um poeta: Narciso acha feio o que não é espelho.

quarta-feira, dezembro 12, 2007

Um secretário Armorial em Belém do São Francisco

Após quase um ano, um pouco mais de seis meses, voltei a ver Belém do São Francisco, cidade da qual me tornei cidadão por deferência e atenção de seus vereadores e moradores.Vim,mais uma vez para contribuir com as ações do Centro de Ensino Superior do Vale do São Francisco – CESVASF -, um dos mais antigos institutos de ensino superior do sertão pernambucano. Desta vez vim conversar um pouco sobre a questão da diversidade cultural do Brasil, da própria região, do Médio São Francisco. Para mim é sempre uma alegria olhar o casario dos anos vinte do século XX, e a evolução da arquitetura da cidade que acompanha o século.

Belém do São Francisco foi uma das cidades escolhidas pelo Secretário de Educação do Estado, Ariano Suassuna, para a sua exibição na “aula espetáculo”. Poucos professores podem ter a ousadia de Ariano em fazer de sua aula um espetáculo, embora todas as aulas, de qualquer professor, seja um espetáculo, sem o apoio da cenografia, da música, de uma trupe teatral.

Soube que mais de três mil pessoas ficaram sentadas, ao ar livre, em silêncio, aplauso, risos e respeito, ouvindo o meu professor, ouvindo as músicas armoriais, vendo o balet armorial. Pernambuco via Pernambuco; melhor, parte de Pernambuco via e ouvia parte Pernambuco. Ocorreu um respeito mútuo. Jamais o mestre Ariano havia realizado a sua aula ao ar livre, sob o estrelado céu do sertão, ainda que não tenha sido o sertão que ele conheceu nos limites de Pernambuco com a Paraíba. Mas eu soube que o Mestre ficou emocionado ao assistir a apresentação de um grupo teatral local: Núcleo Teatral Núbia Amando Granja, formado por jovens locais. Esses jovens apresentaram um texto, escrito por Núbia Granja, a quem chamamos de Nubinha, uma mulher maravilhosa, professora que dedica a sua vida à arte e à educação. Soube que o mestre Ariano pediu o texto. Todos os que estiveram presentes emocionaram o grande escritor e viram o grande dramaturgo emocionado com a arte que brota das áreas secas, sem apoio de secretários de educação ou de cultura, uma arte que nasce no meio do mato, longe do litoral, mas que é fruto de horas de dedicação de Núbia e de seus jovens. Mas esse empreendimento educativo pode deixar de existir porque nem sempre os administradores conseguem ver além de seus narizes ou de suas obras.Espero que o Mestre Suassuna, que cuida tão bem da obra Armorial, não esqueça que, em Belém do São Francisco há um grupo de jovens que luta para ser e viver a arte. Também é uma boa oportunidade para que os comerciantes, os industriais belemitas se emocionem com o secretário de cultura e , num gesto simples e necessário (ajudem economicamente o grupo), necessário porque belo, ajudem as moças e os rapazes que, sob a liderança da professora Núbia Amando Granja, tornam mais agradável a bela secura e mais terna a brisa do São Francisco.

segunda-feira, dezembro 10, 2007

Nossa Senhora da Saúde ou cpmf

Tendo passado o dia 8 de dezembro, após as festas dedicadas à Maria, mãe de Jesus – nas mais diversas denominações -, ou à Iemanjá, a mãe das Águas, é tempo de pensar que este dia, o 10 e dezembro é dedicado aos palhaços. Uma profissão que carrega um monte de significados, uma porção de imagens e milhares de desejos. Entretanto, esse personagem que nos faz rir enquanto chora, tem sido utilizado para significar o povo brasileiro. Talvez porque ele faça rir os seus governantes enquanto chora. É verdade que nem todos choram e que alguns choram menos. Neste último caso estão os milhões que vivem, não do seu trabalho, mas das bolsas distribuídas pelos governos e, agora, tornadas política de Estado, uma vez que essas bolsas fizeram aumentar o número de consumidores e consumidoras, para alegria dos primeiros, os que não choram. Não choram os banqueiros que jamais pensaram que teriam tanto lucro com um ex-operário à frente do governo distribuindo migalhas aos pobres enquanto eles conseguem os maiores lucros do mundo bancário.

Talvez precisemos de muito tempo para que parte da população venha a começar a compreender o que está se passando no Brasil. Não é de hoje que vem se apostando em pequenas ações na área de educação, o que provoca esta situação vexatória: as pessoas não conseguem entender o que lêem e nem conseguem ver o que enxergam: as luzes e os sons impedem que a realidade seja conhecida. Tudo parece que é, embora nada ainda tenha acontecido. Acontece o grande engodo. A CPMF foi criada para que fosse integralmente aplicada na saúde, e os governos a tem utilizado para distribuir migalhas em todas as direções; e ainda diz que pode aumentar o percentual da CPMF para a saúde, caso ela seja prorrogada. Ninguém percebe que o governo está dizendo: nunca cumprimos a obrigação de aplicar a CPMF na saúde e precisamos que vocês nos permitam a continuar iludindo os que desejam se iludir.

Que Nossa Senhora da Saúde nos livre dos descaminhos da CPMF; que Nossa Senhora da Ajuda mantenha todas as bolsas cheias, não apenas as dos banqueiros; que São Luiz do Caetés diminua aa imprecações contra aqueles que não são seus devotos.

No mais, a primeira dama do Brasil, por via das dúvidas, pediu cidadania italiana para seus filhos. Nunca se sabe o que pode acontecer depois. Veja-se a situação da ex-primeira dama Collor de Mello.

sábado, dezembro 08, 2007

A importância que se tem é a que se dá

Tivesse eu conhecimento do Canavial, o festival que ocorreu no Sítio Chã de Camará, apenas pelo que disseram os jornais do Recife, eu pensaria que ele foi realizado com o objetivo de trazer a Velha Guarda da Mangueira, escola de samba do Rio de Janeiro que este ano pretende emocionar a Avenida Sapucaí homenageando o Frevo. Mas como eu estive na Chã de Camará, sei que além dos sambistas e das sambistas cariocas, apresentaram-se, naqueles palcos, armados no meio do canavial, vários artistas pernambucanos, alagoanos. Ali esteve o sanfoneiro Mestre Pagode, vindo de Piaçabuçu, localizada na foz do Rio São Francisco; também um grupo que veio apresentar os Guerreiros, uma dança popular, ou folclórica, que encantou tanto quanto os choros, frevos e jazz do Maestro Spock. Spock começou dizendo que havia pouca gente, mas que ficou o fez sorrir e desculpar-se porque os caboclos da palha da cana aplaudiam e pediam mais, enquanto ele dizia que o contrato não permitia que ele tocasse mais.. Se ele e outros fossem mais vezes tocar para o seu povo, mais gente acorreria para o ouvir e dançar a sua música.

Creio que, algum dia, iremos superar essa mania de achar que o que de mais importante acontece vem da província carioca.

O mais importante do Festival Canavial foram, ao lado das oficinas de dança, arte, percussão, os seminários. Momentos de estudo, de reflexão que envolveu educadores, gestores municipais, professores, mestres da cultura popular. O primeiro deles foi sobre a gestão do turismo na região, que contou com a presença de goianenses, vicencianos, nazarenos e aliancenses, além de convidados da Bahia, Rio de Janeiro e professores da Universidade Federal de Pernambuco, além de participantes de vários Pontos de Cultura. Como não havia ministros presentes, a imprensa não chegou, pois não havia espetáculo, apenas reflexão e, por certa tradição, reflexão não ocorre longe das areis de Boa Viagem ou dos carpetes dos hotéis e aeroportos. O segundo momento de estudo foi um debate que envolveu os mestres da cultura popular e os mestres da cultura acadêmica. Este foi o ápice, o encontro dos saberes, da diversidade, das tradições, que se respeitaram e aprenderam um do outro. Como disse uma das participantes: foi a primeira vez que participei de um debate em que ninguém pediu desculpas para falar e todos falaram livremente. Falar livremente, dizer o que se pensa, sem medo de ferir suscetibilidades, pois não havia interesses escusos, interesse de prejudicar, apenas a sede de conhecer e deixar-se conhecer: não havia nada à venda, apenas a troca de conhecimento naquela Roda de Mestres. É claro que houve discordância, mas houve respeito à dignidade de cada um; é claro que houve discordância, mas ninguém tomou como pessoal as questões teóricas e essenciais suscitadas. Como sói acontece, houve momentos que algumas vozes se alteraram, mas todos saíram amigos e sabedores que buscam os mesmo ideais de cidadania. O Festival Canavial não foi feito para exibir a Velha Guarda da Mangueira, ela veio representar uma tradição entre as muitas tradições cultivadas no Brasil.

Um dia, continuo sonhando, os mais simples serão considerados mais que os que pagam para serem ouvidos.

quarta-feira, dezembro 05, 2007

Derrubaram as árvores da avenida Historiador Pereira da Costa, no Cabo de Santo Agostinho

Em sala de aula escutei o pedido para escrever sobre um crime ocorrido na cidade do Cabo de Santo Agostinho. Todos estamos quase nos acostumando a conviver com vários tipos de crimes, desde os realizados pelos pés descalços até aqueles cometidos pelos de colarinho branco e sapatos que pisam nos tapetes coloridos do congresso nacional. Criminosos criam fama e obrigam a sociedade a conviver com os seus crimes, fazendo acordos às escondidas e se escondendo em tapumes levantados à última hora. Salvam-se mandatos, fazem-se fortunas e árvores são derrubadas, com os seus frutos atuais e com os que iriam germinar.

Entre as árvores derrubadas recentemente, pediram-me para falar das que viviam cinco décadas na Avenida Historiador Pereira da Costa, no centro do Cabo de Santo Agostinho. Evidentemente o prefeito e a secretaria de meio ambiente daquele município (será que existe?) poderão nos dizer que há um projeto de colocar novas plantas, que um arquiteto famoso já pensou nisso e, todos verão que o prefeito está fazendo o Cabo de Santo Agostinho mais bonito.

Não sou cabense, sou um ser humano nascido em Pernambuco que se entristece quando se ataca o patrimônio social sem consultar a sociedade; quando se decide refazer uma avenida para aumentar a conta bancária de algum arquiteto famoso. Os prefeitos são sempre muito próximos a arquitetos, engenheiros, construtores, etc. às vezes são parentes ou participantes do mesmo partido político, ou de algum partido aliado. Muitos levam a sério que o importante é cuidar bem das pessoas, especialmente daquelas podem auxiliar na próxima campanha política.

Essas últimas considerações não se devem aplicar ao burgomestre que está com o Cabo sob sua responsabilidade. Mas é preocupante que exista gente que se contenta tanto em derrubar árvores, como se elas fossem criadas e crescidas da mesma forma que crescem as plantas virtuais nos computadores dos arquitetos, esses seres que parece não se sentirem responsáveis pelos projetos pensados em seus cérebros privilegiados. E isso quando se fala em aquecimento global e alguns setores da sociedade nos quer estimular a plantar uma nova árvore. Os que pensaram, arquitetaram e construíram o Projeto Manhattan (o que fez as bombas de Hiroshima e Nagasaki); justificavam-se dizendo que eles não eram responsáveis pela decisão de utilizar a bomba. Depois disseram que não tinham idéia da potência que criavam.

É tempo de os prefeitos cuidarem das pessoas comuns, daqueles que andam a pé e necessitam de sombras para proteger-se do sol que nos aquece e nos queima, quando não temos árvores.

Sr. Prefeito, o senhor já pensou no que os espanhóis farão quando souberem dessa barbaridade? O sr. não deve esquecer queeles estão preocupados com a questão climática. Aliás todas as pessoas com alguma intelugência e sensibilidade estão preocupadas com essa questão. Especialmente os políticos. Talvez fosse interessante se algum cabense retirasse do baú as fotos da avenida com as árvores, juntasse com as fotos da situação atual e as pusesse na internet. Vai ver o órgão de cooperação do governo espanhol venha em defesa do patrimônio natural e social das terras descobertas por Vicente Pizzon. Será que é alguma mágua com o Historiador Pereira da Costa porque ele afirma que o Brasil foi "descoberto" por Cabral e não por Pizzon?

Sr. Prefeito, não se vingue nas árvores por não escrever seus despachos em castelhano!

CANAVIAL e violência de gênero

Entre as muitas coisas que aconteceram em Chã de Camará durante o Festival Canavial, chama atenção a realização de debates teóricos sobre a cultura do povo brasileiro. Às vezes essa cultura se expressa na forma de violência que atinge as mulheres no interior de suas casas. Esse dado que alguns gostariam de poder afirmar que é uma característica da Zona da Mata e entre os pobres, devemos afirmar que ele é encontrado em todas as camadas sociais e em todos os lugares onde haja grupos humanos. O diferencial é que os ricos pagam para que nada seja publicado, o que gera a impressão que ela só existe entre os pobres. Todos nós sabemos que as camadas da base da pirâmide social tendem a replicar os comportamentos das camadas mais próximas do pico da pirâmide. No festival CANAVIAL encontrou-se tempo para discutir com as mulheres e os homens, a questão da violência de gênero. Não foi fácil para os moradores do lugar assistir pequenas peças teatrais que tocavam na violência diária que atinge as mulheres e as crianças. Entretanto, é função dos que se aproximam, ou retornam para o seu povo, alertar para a necessidade de modificar certas maneiras de comportamento, especialmente aqueles que põem em risco a vida física das pessoas, mas também aqueles que provocam a diminuição da estima de si mesmo. Um homem que bate em mulher, que bate em uma criança, é um covarde; uma mulher que repete esse ato batendo em uma criança também está cometendo um ato covarde. Ambos estão ensinando as crianças a serem covardes, violentamente covardes no futuro.
Os que fazem o CANAVIAL sabem que temos que preservar alguns aspectos de nossa cultura, mas também sabemos ser nosso devers erradicar a cultura da violência nas relações humanas que ocorrem nos canaviais; uma violência que vem sendo estimulada desde a tomada das terras dos primeiros habitantes para que a cana fosse plantada, passando pela violência da utilização do trabalho de homens e mulheres que foram comprados a africanos na África, como também as relações de violência dos senhores de engenho contra os seus escravos, sobre seus filhos, suas filhas e suas mulheres.
O Festival CANAVIAL quis apontar novas relações no canavial de cultura que estamos cultivando. De certa maneira, estamos seguindo a decisão dos fundadores da Associação dos Maracatus de Baque Solto, que exigem que seus associados não usem de violência nas suas apresentações. Não nos importa apenas fazer apresentações musicais, teatrais. O Festival CANAVIAL quer, com os seus apoiadores, a mesma beleza dos caboclos, dos cavalo marinho, dos cocos, da ciranda e dos maracatus, sem assumir a violência que gerou a riqueza descomunal para alguns e a dor para muitos.

segunda-feira, dezembro 03, 2007

Primeira notícia do Festival Canavial

Desde a quinta feira, 29, que estive em Chã de Camará, no Festival CANAVIAL. Foi mais uma bela coleção de experiências sonoras, corporais, espirituais, racionais e cordiais. Muito bom ter participado de um evento em que as pessoas se divertem com o que elas mesmo fazem: a arte, o brinquedo, a dança, a canção, a poesia.. A sede do Maracatu Estrela de Ouro foi o centro de atração para muitas pessoas de Timbaúba, Goiana, Vicência, Carpina, Nazaré da Mata e outras cidades da Mata Norte. Mas também havia pessoas do Recife, Olinda, etc. Todos foram verificar o grande encontro de culturas diversas, de manifestações culturais variadas, produzidas em Pernambuco, mas também produzidas nas alagoas, no Rio de Janeiro. Os cortadores e cortadoras de cana puderam viver emoções antigas, como o pastoril dançado por grupos da chamada terceira idade; assistiram apresentação da Velha Guarda da Mangueira; ouviram o jazz do maestro Spock e também os novos sons criados por jovens de Goiana.
Amanhã escrevo mais.

terça-feira, novembro 27, 2007

A Arte Rococó - um estudo de alunos do V período de História

Este texto é produção de Debóra Claizoni e João Marcelo Marques Ferreira filho. alunos do 5º período do curso de História da UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO. Está posto aqui para que seus colegas tenham acesso, utilizando este espaço. Além disso, este assunto pode interessar a muitos.


Professor: Severino Vicente da Silva
História Moderna II: A Arte Rococó
José Marcelo Marques Ferreira Filho
Débora

A ARTE ROCOCÓ

I. INTRODUÇÃO

Conceituar a arte sempre foi um grande problema, visto seu caráter de grande subjetividade, no entanto, o que não se poder negar, é que a arte é universal, produto de um ato criativo e que a cada instante ela corresponde direta ou indiretamente, às concepções ideológicas da sociedade a que aparece. Por ser uma linguagem composta de imagens e símbolos, pela qual os homens se comunicam em termos mais perceptivos do que conceituais, a arte envolve a participação tanto do artista criador quanto de seu público. “O homem não é um receptor passivo de imagens e impressões, mas também um agente do processo criativo. Ao entrar em contato com a obra de arte, precisará recrutar uma série de imagens, percepções e impressões correspondentes, frutos de sua própria imaginação e experiência”.[1]
Nesse sentido, tanto a personalidade do artista, quanto o inconsciente e o ambiente do artista, influenciam na forma de produzir e interpretar uma obra de arte. “Para compreender uma obra de arte, um artista, um grupo de artistas, precisamos representar para nós mesmos com exatidão o estado geral de espírito e dos costumes da época a que elas pertencem”[2]. A forma de perceber as coletividades humanas se transforma ao mesmo tempo que seu modo de existir.[3]
Consciente ou inconscientemente toda arte possue uma intenção estética, isto é, com o fim de alcançar resultados belos. Se bem que o ideal de beleza seja de caráter subjetivo e varie com os tempos e costumes, todo artista – seja ele pintor, escultor, arquiteto, ou músico e escritor – certamente investe mais na possível beleza de sua obra do que na verdade, na elevação ou utilidade que possa ter.
É sob essa discussão, que partimos para estudar a arte rococó do século XVIII, na Europa Ocidental. Nosso caminho, nessa breve discussão, partiu das análises da própria sociedade e das mudanças que vinham ocorrendo nas áreas política, econômica, religiosa e ideológica, e perceber como todas essa mudanças, influenciaram na forma de pensar e fazer arte.
O rococó foi fruto desse século, onde as críticas iluministas aos ideais absolutistas não somente no campo político e econômico, mas também nas artes, provocaram o surgimento dessa arte um pouco tradicional e um pouco moderna (como toda arte). Para alguns, o rococó foi à fase final do Barroco, o chamado Barroco Tardio, para outros, foi uma arte nova, porém com alguns traços barrocos. Todavia, independente de onde esteja classificado, o estilo rococó possue características peculiares que tentaremos abordar no recorrer desse trabalho.


II. O Conceito de Barroco e suas principais características: Um estudo de Arnold Hauser


Ao contrário de alguns dos estilos precedentes, o barroco assume-se, na concepção de Arnold Hauser, como expressão de uma cosmovisão intrinsecamente mais homogênea, mas que integra grande variedade de formas nos diversos países europeus[4]. Por não ter sido um estilo que se propagou uniformemente na Europa, além de englobar uma grande diversidade de ramificações do esforço artístico, assumiu formas particulares em cada país e esfera cultural, dificultando e até mostrando-se duvidoso a possibilidade de reduzi-las a um denominador comum.
Desta feita, parte-se para uma compreensão dos diversos barrocos (o dos círculos cortesãos, o da classe média, o protestante, etc.) e suas inúmeras subdivisões secundárias como “cortesão-católico” e subseqüentemente para classificação recente da arte do século XVII, que como um todo, foi designado genericamente por barroco.
Usado pela primeira vez no século XVIII, o conceito de barroco tinha sua aplicação limitada apenas àqueles fenômenos que eram considerados extravagantes, confusos e bizarros, em decorrência e de acordo com a estética classicista predominante.
Hauser faz sua crítica acerca da limitação da percepção dos classicistas como Burckhardt e Croce, para ele, “puristas posteriores que são incapazes de libertar-se do racionalismo freqüentemente tacanho do século XVIII”[5]. Estes “puristas” classificavam o barroco sob uma perspectiva superficial e influenciada também, por convenções acadêmicas hostis à arte moderna. Partindo desse pressuposto e mostrando-se contrário à classificação feita pelos classicistas, Hauser encontra em Wolfflin e Riegl, uma reinterpretação e reavaliação do barroco, no sentido em que o termo é entendido hoje. Esta tarefa, só foi possível na visão de Hauser, com a prévia assimilação do impressionismo.
Wolfflin fundamenta suas categorias do barroco aplicando os conceitos do impressionismo a uma parte da arte do século XVII, ignorando de modo geral, qualquer apreciação do classicismo seiscentista. Assinala no século XVII o início de uma tendência impressionista, sem reconhecer que aspectos como, “a subjetivação da cosmovisão artística, a transformação do ‘tátil’ no ‘visual’, de substância em mera aparência”[6], se consumaram no barroco, mas foi preparado pela Renascença e maneirismo. Desta feita, Hauser contrapõe-se a essa forma de Wolfflin conceber o curso da história da arte, ou seja, como função auto-suficiente, ignorando a verdadeira origem da mudança de estilo, que para Hauser se localiza nos pressupostos sociológicos.
O sistema desenvolvido por Wolfflin baseia-se em cinco pares de conceitos, onde em cada um dos quais uma característica da Renascença é colocada em contraposição à uma qualidade do barroco, refletindo assim “o desenvolvimento no sentido de uma concepção de uma arte mais estrita para uma mais leve”[7]. As categorias wolfflinianas são as seguintes: (1) linear e pictórico; (2) plano e recessão; (3) forma fechada e aberta; (4) clareza e ausência de clareza. (5) multiplicidade e unidade[8].
Com base na estrutura desenvolvida por Wolfflin, Hauser conclui que a base da concepção de Wolfflin do barroco seria a busca do “pictórico”, ou seja,

(...) a dissolução da forma linear, firme e plástica em algo movente, adejante e incapaz de ser apreendido; a obliteração de fronteiras e contornos, para gerar a impressão de ilimitado, de incomensurável e de infinito; a transformação do ser estático, rígido e objetivo em um vir-a-ser, uma função, uma interdependência entre o sujeito e objeto[9].


Desta feita, Hauser assume as bases de Wolfflin, na intenção de conceituar o barroco através da idéia que se pretende passar ou expressar, considerando assim, o barroco como expressão dinâmica, oposição a tudo o que é estável, estabelecido, rompendo com o irremovível, o barroco traz “uma visão do mundo em que o espaço é entendido como algo em processo de formação, como uma função”[10]. Delineada sua postura, o autor segue para tratar dos elementos do barroco sob uma nova perspectiva, ressaltando o caráter móvel, relativo e instável do mesmo.
As figuras trazidas para perto do espectador e a súbita diminuição dos motivos no plano de fundo exemplifica o modelo de espaço, concebido pelo barroco, de mobilidade intrínseca. Para Hauser, o observador, diante desse modelo, “sente o elemento espacial como uma forma de existência que lhe pertence”[11].
As composições da arte barroca seriam em parte “a-tectônicas”, abertas, que dão a impressão de ser incompletas e desconexas, apontando para além delas mesmas, no sentido de continuação. É nesse sentido que Hauser afirma:

Tudo o que nela é sólido e estável começa a vacilar; a estabilidade expressa pelas horizontais e verticais, a idéia de equilíbrio e simetria, os princípios de enchimento da superfície e de ajustamento da pintura à linha da moldura são depreciados; um lado da composição é sempre mais enfatizado do que o outro; ao observador é repetidas vezes mostrado o aparentemente acidental, improvisado e efêmero, em vez dos aspectos ‘puros’ da face e do perfil[12].


Nesses elementos acima, Hauser nos traz a idéia de fugacidade do barroco, onde este é vivido como um espetáculo passageiro. Nessa linha de reflexão ele afirma que “a concepção artística do barroco, é, numa palavra cinemática”,[13] ou seja, as forças que movem ou impulsionam àquele movimento é indefinida, ratificando a idéia de que a arte barroca reflete a intencionalidade do artista em tornar difícil ver sua arte como um todo lúcido. Essa atitude do artista leva Hauser a associar a complexidade da arte ao potencial de percepção do observador e seu nível de conhecimento e cultura, afirmando assim, que “quanto mais culto, exigente e inteligentemente interessado em arte é o público, mais ele pede essa intensificação dos estímulos artísticos”[14].
As características do barroco são para Hauser “a expressão do mesmo impulso anticlássico para o irrestrito e o arbitrário”[15], onde apenas uma das categorias examinadas e definidas por Wolfflin, o empenho de obter a unidade, expressa o crescente desejo de síntese e conseqüentemente, de um mais rigoroso princípio de composição. Hauser analisa essa categoria de unidade, na direção em que o detalhe individual não possui significação em si mesmo, contrapondo-se a exemplos de composição como a de Leonardo ou Rafael na Renascença, em que os elementos singulares ainda podem ser apreciados isoladamente. Essa estrutura das composições barrocas denota, para Hauser, composições mais ricas e complexas, onde o artista aborda seu tema com uma visão unificada, onde o isolado e particular acaba perecendo, ou seja, destrói-se o significado independente das formas detalhadas.
Outro elemento levantado por Hauser é o papel e a influência de uma nova concepção cientifica decorrente da descoberta de Copérnico, “de que a Terra desloca em torno do sol em vez do universo mover-se ao redor da Terra”,[16] que remete à reflexão e à mudança do lugar atribuído ao homem no universo pela Providência. Sobre essa questão, Hauser afirma:

(...) a partir do momento em que a Terra já não podia continuar sendo considerada o centro do universo, tampouco o próprio homem poderia ser visto como a finalidade última da criação. Mas a teoria copernicana significou não só que o mundo deixou de gravitar em torno da Terra e do homem, mas também que não existia absolutamente nenhum centro, consistindo o mundo apenas numa quantidade de partes homogêneas e equivalentes, cuja unidade era manifestada, de modo exclusivo, na validade universal da lei natural[17].


Essa teoria faz surgir o conceito de uma nova necessidade, diferente da predestinação teológica e arbitrariedade divina, agora enfraquecida, como também da “idéia da prerrogativa humana de graça divina e de participação do homem na existência supramundana de Deus”[18]. O homem torna-se irrelevante e insignificante nesse mundo desmistificado. Para Hauser, essa nova organização de posições, fez com que o homem desenvolvesse um novo sentimento de orgulho e amor-próprio, onde diante da consciência de compreensão do universo em que ele é apenas uma parte, “tornou-se a fonte de uma autoconfiança ilimitada e sem precedentes”[19].
O homem então, se desloca de uma cosmovisão antropocêntrica para uma consciência cósmica que transmite a idéia de “uma continuidade infinita de inter-relações em que o homem está envolvido e as quais contêm as premissas essenciais de sua existência”[20].
Por fim Hauser afirma que “a totalidade da arte barroca está repleta desse frêmito, cheia do eco do espaço infinito e das afinidades entre todos os seres”,[21] ratificando a idéia que introduz esse tópico, de abrangência do sentido e do conceito do que veio a ser o barroco, além da constante preocupação desse autor para com os riscos de limitar o barroco à características que remetem a homogeneidade do estilo.

III. O rococó e a arte do século XVIII


O XVIII, foi o século em que a prosperidade da classe média a tornou mais conscientes de seu próprio potencial artístico, o Absolutismo na arte, política, economia, cedeu lugar ao liberalismo e o relativismo. Essa classe media alta se tornou à cliente ideal das artes. Nesse momento, os clientes particulares apreciadores da arte e que passaram a comprar e ler livros com regularidade, substituíram os rei e o Estado como os grandes patrocinadores das artes. A antiga aristocracia palaciana sustentava as artes e os artistas mais por razões de prestigio e para aumentar seu conceito perante a sociedade, do que pelo real valor de suas realizações. O que vai caracterizar o século XVIII é a arte pela arte, arte como prazer e repouso, e os novos patrocinadores eram, de certa forma, mais sensíveis às artes que os monarcas. “A arte pela arte é no fundo uma teologia da arte; dela resultou uma teologia negativa da arte, sob a forma de uma arte ‘pura’, que não rejeita apenas toda função social, mas também qualquer determinação objetiva”[22].
Nessa época, pertencer à classe dominante dependia cada vez mais de um nível cultural comum e de concordâncias ideológicas, e a leitura já se conceitui uma das necessidades da vida, e a posse de livros e tão comum nessa época, quanto seria motivo de surpresa no período anterior. A cada ano, mais e mais livros são publicados.
A arte iluminista, visava deleitar uma sociedade ociosa, na qual ser tedioso era o único pecado, e a necessidade de criar um mundo em que as ocupações dos ociosos parecessem importantes fez com que a arte se transformasse num antídoto para o tédio. O prazer era o único princípio, e satisfazer os gostos sensuais dos clientes era uma das principais funções do artista.
Esse foi o século onde os homens estavam menos inibidos por minuciosos tabus sexuais, onde dificilmente alguma coisa os escandaliza. O afrouxamento da disciplina geral e a crescente falta de religiosidade, leva a sociedade a uma conduta mais livre de restrições, onde a arte se torna mais humana e acessível e menos despretensiosa.
Por se tratar de uma época em que os homens estão menos preocupados com o mundo metafísico e contemplativo, e com os princípios do estático, do típico e do convencional, a nova forma de arte que surgiu com o rococó, passou a servir também aos comuns dos mortais e aos “fracos de espírito” do que aqueles viviam em função do espiritual e do sobrenatural. O rococó é uma arte que “considera os critérios do agradável como mais decisivo do que o espiritualismo”[23].
O rococó foi uma arte de transição e repleta de tendências contraditórias, era o local de encontro entre a tradição e a liberdade, entre o formalismo e a espontaneidade; e que de certa forma vaio firma os objetivos artísticos da renascença com o “retorno da razão”.
Aproximando-se dos gostos da burguesia, que gradativamente foi tomando posse dos instrumentos de cultura, no rococó, a arte se torna cada vez mais pessoal, e o artista não aceita mais soluções prontas. O individualismo e a paixão pela originalidade, tomaram o lugar da tradição.
O rococó se situou precisamente entre o barroco e o romântico e foi considerado o ultimo estilo universal da Europa Ocidental, foi uma arte sobretudo decorativa que veio substituir o maciço barroco. O nu e o galanteio eram seus temas favoritos; com o rococó, correu uma grande mudança no ideal de beleza feminina, que se tornou mais malicioso e mais sofisticado. O rococó, foi sobretudo uma arte erótica, onde as mulheres possuíam um espaço privilegiado.
O século XVIII, também arca o fim das tendências para o monumental, o cerimonioso e solene, para o retorno a uma arte mais leve e intimista, o refinamento dessa sociedade se reflete no rococó.

IV. A arte Rococó e suas principais características

A arte rococó ou estilo rococó aparece nas obras de alguns autores, como algo indefinido, no tocante à sua natureza e relação em detrimento do barroco. Hauser é adepto de que esse estilo possui muitos aspectos que dão continuação ao barroco e coloca-o como “conclusão do esplendor e da pretensão barrocas”[24]. Já Carlos Cavalcanti em seu livro História das Artes, ao definir o rococó afirma ser este “natural desenvolvimento do barroco”,[25] situando seu pensamento da seguinte maneira:

(...) enquanto no século XVII o barroco traduzira na sua energia, nas suas violências expressivas e no seu realismo de inspiração popular, a mentalidade e os interesses da burguesia manufatureira e mercantilista, que estava evoluindo para o estágio industrial e capitalista, em plena marcha para o poder político que conquistará com a Revolução Francesa, o rococó expressará na sua delicada elegância, caprichoso decorativismo e inspiração fantasista e mundana, o espírito, os interesses e os hábitos da aristocracia palaciana, ociosa e parasitária, em que se havia transformado a antiga nobreza feudal, militar e agrária, que marcara com o seu domínio a sociedade feudal. Assim é que expressão da burguesia, em ascensão como classe, o barroco foi sobretudo vitalidade e movimento, ao passo que expressão da aristocracia, classe em decomposição, o rococó será sobretudo fragilidade e graça[26].


Stephen Jones considera algumas das estruturas barrocas como origem de elementos do rococó, assim como Hauser o faz ao tratar da relação barroco-renascença.
Essa primeira questão nos leva a perceber a estreita relação do rococó com o barroco, seja qual for à definição ou idéia adotada por nós. Tanto em sua estrutura quanto em sua origem o rococó comunica-se com a arte precedente, à mesma hora em que anuncia novos padrões artísticos.
Esse estilo considerado eminentemente francês localiza-se prioritariamente no século XVIII. Sua denominação aparece pela primeira vez em 1830, tirada do vocabulário das artes decorativas, para designar a fase do barroco compreendida entre 1710 e 1780, levando-nos a correlacionar tal fato à sua considerada natureza, decorativa e ornamental.
Essa natureza torna-se elemento comum a todos que se dirigem ao rococó, bem como outros elementos que o delineiam e o define como o fato de ser a arte de uma aristocracia e de uma alta burguesia, a predominância de cores e tons suaves, pastéis, o cinza, o prata, o verde e o rosa, que associa ao estilo a idéia de charme travesso e pompa, ternura e espiritualidade, “tudo o que é produzido no barroco parece frágil, fútil, trivial”, o rococó traz à decoração suas curvas, motivos florais, conchas e arabescos, revela-se através da graciosidade, fantasia e erotismo.
É nesse sentido que o rococó desenvolve uma forma incrível de art pour l’art, através de seu culto sensual da beleza, sua linguagem afetada e elaborada, bem como aspectos que revelam elegância e o belo melodioso. Hauser o situa sob essa concepção, acrescentando que o “o rococó representa a fase final da cultura do gosto, na qual o principio de beleza exerce um domínio irrestrito, o último estilo em que o ‘belo’ e o ‘artístico’ são sinônimos”[27].
Os elementos que compõe e caracterizam o rococó nos diz e revela a preferência de temas como o nu feminino, a mulher e seu cotidiano retratado por pintores e escultores nesse período. Cavalcanti expressa bem esse fato ao dizer que o século XVIII “é o da mulher, cujas graças jamais tinham sido cantadas como souberam cantá-las Watteau, Fragonard e Boucher, os franceses que melhor representam essa pintura”[28]. Hauser também denuncia esse aspecto comum e bastante presente na arte rococó ao dizer:

Há um desejo constante e universal de se contemplar o nu na pintura; o nu passa agora a ser um tema favorito das artes plásticas. Para onde quer que se dirija o olhar, ou seja, para os afrescos dos aposentos nobres, para os gobelinos dos salons, para as telas dos boudoirs, as gravuras em livros, os jogos de porcelana ou as figuras em bronze sobre os solos das lareiras, por toda parte se vêem mulheres nuas, coxas e ancas roliças, seios desnudos, braços e pernas entrelaçadas, mulheres com homens e mulheres com mulheres, em inúmeras e intermináveis repetições[29].

Hauser levanta ainda, a mudança no ideal de beleza feminina que se torna mais malicioso e sofisticado. No barroco o ideal dessa beleza refletia-se nas mulheres maduras e bem fornidas, estas por sua vez perdem o lugar para as mocinhas esguias, muitas vezes, quase crianças nas pinturas. Hauser associa esse padrão à clientela a quem é destinada à arte colocando o seguinte:

O rococó é, de fato, uma arte erótica destinada a epicuristas ricos e blasés – um meio de intensificar a capacidade de gozo onde a natureza lhe fixou limites. Não é de estranhar que com a arte das camadas burguesas, o classicismo e romantismo de David, Géricault e Delacroix, o padrão feminino volta ser o tipo mais maduro e mais “normal” de mulher[30].

Outro tema recorrente sob a égide do estilo rococó é o bucolismo, que se apresenta mesclado aos costumes peculiares da sociedade requintada. Pastores e pastoras apresentam-se vestidos de elegantes trajes da época, restando apenas da situação pastoril, as conversas dos amantes, a ambientação natural e o distanciamento da corte e da cidade[31].
Hauser correlaciona a presença desse tema a uma espécie de divertimento do indivíduo em imaginar-se numa situação que acenava com a promessa de se libertar das amarras da civilização, preservando em contrapartida suas vantagens[32]. É nesse sentido que afirma:

Os atrativos das maquiadas e perfumadas damas eram intensificados pela tentativa de representá-las, maquiadas e perfumadas como eram, à guisa de viçosas, saudáveis e inocentes donzelas camponesas, e pela valorização dos encantos da arte através daqueles da natureza. A ficção continha, desde o inicio, as precondições que lhe permitiram converter-se no símbolo da liberdade em todas as culturas complexas e sofisticadas[33].

Hauser afirma também que esse desejo de viver a vida pastora não deveria ser interpretado literalmente, chamando à atenção para o aspecto fantasista que o rococó traz, essa situação pastoril converte-se em ficção que habilita o artista a aparecer disfarçado de pastor e a se colocar dessa forma distante da vida comum[34].
É através de seus temas e técnicas que observamos a revelação da fragilidade e efemeridade da classe cujos interesses e costumes tão fielmente buscou-se expressar – a aristocracia. Nas palavras de Carlos Cavalcante, “enquanto os ideólogos da monarquia absoluta a proclamavam eterna, pela vontade divina, os artistas do rococó a denunciavam com a mesma fragilidade, efemeridade e feminilidade do estuque, da porcelana e do minueto”[35].
O rompimento com o rococó inicia-se na segunda metade do século XVIII, quando na concepção de Hauser a cisão entre a arte das classes superiores e da das camadas burguesas é flagrante. Para Hauser a pintura de Greuze assinala o início de uma nova atitude diante da vida e uma nova moralidade, bem como um novo gesto na arte. Sobre esse novo gesto, Hauser coloca:

Suas sentimentais cenas familiares, com o pai que amaldiçoa ou abençoa, os pródigos ou bons e agradecidos filhos, são de escasso valor artístico. Falta-lhes originalidade na composição, o desenho é medíocre, as cores são insípidas e, além disso, a técnica de uma desagradável uniformidade. A impressão que causam é de frieza e vazio, apesar de sua exagerada solenidade, e de falsidade, apesar das emoções que pretendem exibir. Os interesses que buscam satisfazer são quase inteiramente não-artísticos, e apresentam seus temas, pictoricamente áridos e puramente narrativos o mais das vezes, de modo muito tosco, sem o menor esforço em traduzi-los para formas genuinamente pictóricas[36].

Hauser afirma que nesse período em que se inicia o rompimento com o rococó, afirmava-se que a tarefa da arte era a de honrar a virtude e expor o vício, estando condenada a arte que pretendia ou revelava aspectos definidos por artificialismo, fácil e vazia destreza, bem como a libertinagem a exemplo da arte de Boucher e Vanloo, a introdução da burguesia no mundo da arte, por sua vez, e sua cruzada contra o rococó, foi para Hauser, meramente uma etapa na história da revolução que já estava em marcha[37].

V. A escultura e arquitetura rococó

A escultura no rococó revela-se na suavização das vigorosas estruturas barrocas. As linhas e os contornos adquirem a flexuosidade das conchas e arabescos característicos do estilo, eliminando a impressão de energia anterior e dando lugar ao surgimento da impressão de graciosidade.
Nas composições dos monumentos, mesmo os religiosos, aparecem o tom aristocrático, sob forma de uma constante e inevitável elegância voltada para o clima mundano dos salons, considerado inseparável do rococó por muitos.
Para Carlos Cavalcante, os escultores se destacam através do uso do retrato e seu sentido intimista. Surgem, nesse período inúmeros retratistas, autores de obras modelares pela técnica pela sua riqueza de expressão, exemplificada com a clássica peça de Houdon, o Voltaire. O desejo de perpetuar a existência transitória do indivíduo no que este tem de mais patente – a expressão fisionômica – acha-se na base da pintura e da escultura de retratos, e esse gênero de arte desenvolve-se especialmente em épocas nas quais o indivíduo desempenha na sociedade um papel preponderante. Segundo Walter Benjamin, “a ultima trincheira do valor de culto é o rosto humano; a partir daí o valor de culto cede lugar ao valor de exposição”[38].
Cores vivas foram substituídas por tons pastéis, a luz, que antes era barrada pela escuridão e umidez dos ambientes, foi convidada a entrar nos interiores por meio de numerosas janelas e o relevo grosso das superfícies cedeu lugar a texturas mais suaves. A estrutura das construções ganhou leveza e o espaço interno foi unificado.
O rococó era a princípio apenas um novo estilo decorativo. Nicolas Pineau, Gilles-Marie Oppenordt e Juste-Aurèle Meissonier transportaram-no para a arquitetura propriamente dita. Mais do que nas peças esculpidas, é em sua disposição dentro da arquitetura que se manifesta estilo rococó. Os grandes grupos coordenados dão lugar a figuras isoladas, cada uma com existência própria e individual, que dessa maneira contribuem para o equilíbrio geral da decoração interior das construções.
A escultura no rococó está presente como peça tipicamente ornamental, com a comum estatueta decorativa de porcelana no período. A porcelana aparece como uma das maiores contribuições do rococó para arte em geral, descoberta pelos alemães Tischirnhaus e Boettger, no início do século (1708), que na ânsia pela descoberta da fabricação do ouro através da transmutação de metais, fundiu o caulim obtendo a porcelana.
Inicia-se então o mercado da porcelana, que em 1709, já se vendia em Dresden às primeiras peças fabricadas em Meissen. Esse novo elemento acabou tornando-se bastante requisitado, como se pode ver através dos fatos descritos por Carlos Cavalcante que diz:

Da noite para o dia, sob a proteção de reis e príncipes, que instalavam manufaturas reais, o novo material escultório tornava-se conhecido, e a produção das pequenas e frágeis peças decorativas se aperfeiçoava em alguns centros, mais tarde famosos. Quase todos os escultores rococós ilustres, alemães, franceses, italianos e espanhóis, dedicavam-se, geralmente, em temas mitológicos, campestres e mundanos, tratados alegoricamente, sob requintes de graciosa delicadeza[39].

A porcelana não só define-se como essencialmente rococó como em sua própria forma e composição revela os aspectos característicos do estilo. As peças de porcelana retratam em sua delicadeza, fragilidade e suavidade as características femininas, tanto emocionais como físicas. Essas peças também ressaltam a importância do ornamento na composição dos ambientes do período, onde a posição revela o bom gosto e estilo vigente.

VI. A pintura rococó

Sobre a pintura, Hauser relaciona a dissolução da arte cerimonial, palaciana e restrita às normas acadêmicas, bem como as modificações estruturais da Regência na França às inovações e transformações na pintura. Sobre esse aspecto, Hauser coloca:

A grande manière e os gêneros pomposos e cerimoniais declinam durante a Regência. A pintura religiosa de caráter devocional, que mesmo nos dias de Luís XIV já se convertera em mero pretexto para retratar as relações do rei, bem como a grande pintura narrativa, que constituía, sobretudo, um instrumento de propaganda monarquista, são negligenciadas. O lugar da paisagem heróica é ocupado pelo cenário idílico da pintura bucólica, e o retrato, que até então era destinado ao público, torna-se um gênero trivial e popular, servindo principalmente a fins particulares[40].

É nesse contexto, em que se descobre no estilo de Rubens a inspiração para esse idílico mundo da arte que refletia os ideais e as novas preocupações de suas vidas. Inspirado em Rubens, Watteau inaugura um novo estilo da pintura, na qual alegoria; evocação de uma idéia em forma física elaborada; além de galantes cenas sociais formam os principais elementos abordados em sua pintura, denominados posteriormente por rococó.
Watteau rompe com as telas cerimoniais de natureza religiosa expressando a mudança de gosto que ocorre na virada do século. Para Hauser a formação de um novo público e a dúvida que se lança sobre autoridades até então consagradas no mundo da arte, bem como o rompimento com as barreiras formais que delimitavam a temática a ser expressa pelos artistas, contribuem para o surgimento do – segundo ele – “maior pintor francês antes do século XIX”[41].
A arte de Watteau delineia a pintura rococó, que traz os temas frívolos, mundanos e galantes, bem como a predileção pelas graças da mulher e o erotismo. Surgem cenas de interiores luxuosos, festas e reuniões em parques e jardins, refletindo em grande parte, o cotidiano da aristocracia.
Para Hauser, Watteau e a pintura rococó nos leva a uma utopia de liberdade de um meio social que talvez fosse análoga à sua própria idéia subjetiva de liberdade. Esse caráter utópico leva Hauser a perceber a profundidade da arte rococó, que expressa a ambivalência do relacionamento do artista com o mundo, leva “à expressão tanto de promessa quanto da inadequação da vida, ao onipresente sentimento de perda inexprimível e de uma meta inalcançável, à consciência de uma pátria perdida e do caráter utópico e remoto da verdadeira felicidade”[42].
Hauser aponta ainda que a pintura de Watteau apesar de superficialmente expressar o prazer do sensorial e da beleza, a capitulação jubilosa à realidade e o gozo propiciado pelas boas coisas da vida, está impregnada essencialmente e não tão claro e nítido de grande melancolia provocada talvez, pela consciência da natureza irrealizável de seus desejos. Essa consciência e o sentimento que a mesma provoca, para Hauser, distinguem-se do sentimento rousseauniano definido por “anseio pelo estado de natureza”,[43] e sim por um “desejo ardente por uma cultura perfeita, pela tranqüila e segura alegria de viver”[44]. A arte de Watteau não só revela as características da pintura rococó e do meio e contexto que vivenciou e representou, mas também sua atitude, como homem, perante a vida definida por Hauser como “um misto de otimismo e pessimismo, de alegria e tédio”[45].
A fête galante predominante nesse estilo de pintura descreve a paz dos campos, em que os homens se abrigam em segurança do mundo e as benesses e felicidade dos apaixonados. Esse ideal entra em consonância com a característica bucólica expressa no período e abordada anteriormente.
A técnica também se transforma durante o rococó: as pinceladas impulsivas e pastosas, bem como as massas sintéticas tumultuosas e os contrastes violentos de luz e cores intensas, características do barroco cedem lugar a pinceladas ligeiras, curtas e leves, assim como, desenho decorativo e o uso de tonalidades claras. Carlos Cavalcante nos lembra que os pintores “tornam-se exímios na representação dos tecidos finos, sedas e brocados chamalotados, tafetás e veludos, vaporosidade das gazes e musselinas e das carnações femininas”[46].
Ainda nesse âmbito da técnica é importante ressaltar a generalização da técnica do pastel, evento bem particular à época. Sobre sua natureza e seu uso, Carlos Cavalcante coloca:

O pastel, em última instância, é um giz colorido, pastoso e aderente, feito com terras bem moídas. Aplica-se o pastel sobre papel rugoso ou com superfície áspera, adrede preparada, para recebê-lo e fixá-lo, ou mesmo sobre camurça. Há pastéis mais duros, próprios para acentuar as partes do desenho, outros mais brandos, para massas de cor[47].

Esse último autor ainda ressalta que o pastel foi a verdadeira moda do século XVIII, devido em parte ao seu uso difundido nos retratos (elemento também bastante característico do estilo e período) devido a facilidade que o pastel se prestava à expressão de alguns efeitos de delicadeza e leveza dos tecidos, maciez da pele feminina, luzes e brilhos. O uso da técnica e sua harmonia e correlação com a temática característica do período e estilo fez dos grandes pintores da época, exímios pastelistas.
Por ser o principal representante do estilo rococó e da pintura rococó, Watteau é sempre usado para definir tanto um quanto a outra, mas não podemos ignorar nomes como Boucher, que nas palavras de Hauser é “o nome mais importante em relação ao nascimento da fórmula rococó e da técnica magistral que confere à arte de Fragonard e de um Guardi aquela qualidade de certeza infalível na execução”,[48] e Fragonard. Hauser define ainda Boucher, como “mestre incomparável do gênero erótico, do gênero de pintura mais procurado pelos fermiers généraux, os nouveaux riches e os círculos palacianos mais liberais”[49], acrescentando que Boucher foi o criador de uma mitologia amorosa que depois das fêtes galantes de Watteau, “fornece o mais importante tema da pintura rococó”[50]. Boucher traz os motivos eróticos tanto para artes gráficas quanto para industrial e faz da pintura do corpo da mulher e suas partes íntimas um estilo nacional conhecido por “peinture dês seins e des culs” (pintura dos seios e dos traseiros).
Apesar da aclamada posição de Boucher na pintura rococó, este não conquistou todos os públicos da época. Os que não apreciavam a arte de Boucher, em parte, tornaram-se apreciadores de artistas como Greuze e Chardin, conhecidos por suas telas didáticas e realistas. Estes últimos devem em grande parte sua inspiração aos realistas barrocos holandeses e flamengos. Em geral expressavam cenas da pequena burguesia e da vida de província.
O pintor francês Fragonard é constantemente associado ao estilo de Watteau por sua pintura associar-se às fêtes galantes, sinônimo de festivas reuniões campestres e divertimentos joviais de pastores e pastoras, mas no tocante ao público submete-se ao gosto burguês ao qual se esforçava por satisfazer.
Apesar da tímida influência do rococó na pintura inglesa, faz-se necessário tratar no presente trabalho devido aos poucos, mas grandes artistas no tocante ao estilo rococó, como William Hogarth, Francis Hayman e Thomas Gainsborough, principais representante da pintura rococó na Inglaterra.
Stephen Jones aponta como elemento difusor do rococó para Inglaterra, os artistas franceses ou estudantes da França que viajaram por toda Europa, levando o novo estilo cortesão[51]. Como dito anteriormente, a pintura rococó na Inglaterra esteve em voga num período e círculo bastante limitado, devido ao sentimento de repulsa dos ingleses frente a padrões culturais franceses e ao gosto da corte hannoveriana na Inglaterra, bastante distinto da corte francesa[52].
Essa pintura rococó na Inglaterra assimila o uso e a técnica do pastel, bem como temas acerca da libertinagem, formato de um romance mais febril, fazendo em parte uma paródia ao equivalente francês, demonstrando as adaptações feitas por artistas ingleses no estilo vigente. Hogarth exemplifica bem essa atitude de adaptação e formulação de um estilo mais particular em seu pragmatismo e realismo declarado, criando para os estudiosos da área discussões acerca da natureza de seu estilo pertencer ou não ao rococó. Entretanto, o fato é que Hogarth, nas palavras de Stephen Jones, “impregnou o mundo artístico londrino durante um breve período”[53], influenciando artista como Francis Hayman que incorporou suavemente a veia realista e ingênua da pintura rococó e demonstrou grande fascinação pelos efeitos prateados da luz sobre o cetim. Esses elementos podem ser vistos, em suas telas que retratam camponesas fogosas, dançando através de campos, expressando o encanto feminino do rococó.
Para Stephen Jones, apesar do reflexo e da influencia do rococó na pintura dos dois artistas retratados acima, o único grande pintor rococó da Inglaterra foi Thomas Gainsborough[54], que conhecia bem os campos para além dos portões dos parques e jardins aristocráticos britânicos. Sobre seu estilo, Stephen coloca: “Sua intuitiva compaixão pela humanidade, semelhante à de Hogarth, embora menos satírica, permitiu-lhe retratar pessoas verossímeis e dotá-las com algo da graça e espirituosidade de seus antecessores franceses”[55].
Gainsborough retrata em suas telas a aristocracia rural inglesa, bem como elementos decorativos próprios do rococó, usou em grande parte de seus trabalhos o cenário campestre muito apreciado pelo pintor, assim como trabalhou bastante o retrato comum à época.

VII. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Herdeiro das influencias barrocas e anunciador de um tempo de profundas mudanças na sociedade européia, o rococó representou nas artes os ideais de uma classe que tomou as rédeas da cultura num período conhecido por século das luzes.
No decorrer do século XVIII, as idéias do Iluminismo sobre Deus, a razão, a natureza e o homem cristalizaram-se numa concepção de mundo que acabou por produzir mudanças significativas na arte, na filosofia e na política.
O Iluminismo foi o movimento cultural e intelectual europeu que, herdeiro do humanismo do Renascimento e originado do racionalismo e do empirismo do século XVII, fundava-se no uso e na exaltação da razão, vista como o atributo pelo qual o homem apreende o universo e aperfeiçoa sua própria condição. Considerava que os objetivos do homem eram o conhecimento, a liberdade e a felicidade, e nada melhor para se alcançar à liberdade nas artes que abandonar o paradigma metafísico anterior, que prendia os homens a modelos preconcebidos, onde a principal função da arte era dominar primeiro o EU interior, e depois os OUTROS. No barroco, os OUTROS, eram induzidos a perceber as artes de determinada forma, havia pouco espaço para interpretação.
Quando se mudam os paradigmas artísticos, mudam também os conceitos, os problemas e as explicações. O olhar passa a ser orientado para novas direções; os artistas olham para os mesmos pontos e vêem coisas novas; os objetos que antes eram familiares, passam a ser visto de forma diferente; a percepção do artista é (re)educada., pois “Tudo o que o homem vê depende tanto daquilo que ele olha, como daquilo que sua experiência visual-conceitual prévia o ensinou a ver” .
A arte em seu estado “natural” é aquilo que se espera, é quando não existe novidades inesperadas, o que existe é sempre uma expectativa. Durante o rococó, arte vivia num estado de “crise” (na ‘verdade’ tudo é crise), quando a “natureza” violou as expectativas do paradigma. O que ocorreu então foi um fracasso em produzir resultados esperados.
Na ciência, abandonar o paradigma anterior significa (na teoria) necessariamente substituí-lo por outro, pois, rejeitar um paradigma sem simultaneamente substituí-lo por outro, é rejeitar a própria ciência. Na arte isso não se dá de forma tão robótica, prova disso foi à arte rococó que, ao mesmo tempo em que negava uma tradição de rigorosidade, não representou uma completa ruptura, que só ocorrerá com o classicismo, pós Revolução Francesa.
[1] BENJAMIN, Walter. Obras Escolhidas: Magia e Técnica, Arte e Política. 4° Ed. Volume I, São Paulo: Brasiliense, 1985.
[2] Idem.
[3] HADJINICOLAOU, Nicos. História da Arte e Movimentos Sociais: arte e comunicação. Lisboa: Martins Fontes, 1973.
[4] HAUSER, Arnold. História Social da Arte e da Literatura. São Paulo: Martins Fontes, 2003. p.442.
[5] Idem. p.444
[6] Ibdem. p.445
[7] HAUSER, Arnold. História Social da Arte e da Literatura. São Paulo: Martins Fontes, 2003. p.445
[8] Idem. p.445
[9] Ibdem. p. 446
[10] HAUSER, Arnold. História Social da Arte e da Literatura. São Paulo: Martins Fontes, 2003. p. 446
[11] Idem. p. 446
[12] Ibdem. p. 446
[13] HAUSER, Arnold. História Social da Arte e da Literatura. São Paulo: Martins Fontes, 2003. p.447
[14] Idem. p.447
[15] Ibdem. p.447
[16] HAUSER, Arnold. História Social da Arte e da Literatura. São Paulo: Martins Fontes, 2003. p.451
[17] Idem. p. 451
[18] Ibdem. p.451
[19] HAUSER, Arnold. História Social da Arte e da Literatura. São Paulo: Martins Fontes, 2003. p.451
[20] Idem. p.452
[21] Ibdem. p.452
[22] BENJAMIN, Walter. Obras Escolhidas: Magia e Técnica, Arte e Política. 4° Ed. Volume I, São Paulo: Brasiliense, 1985.
[23] HAUSER, Arnold. Historia Social da arte e da literatura. São Paulo: Martins Fontes, 1998.
[24] HAUSER, Arnold. História Social da Arte e da Literatura. São Paulo: Martins Fontes, 2003. p.497
[25] CAVALCANTI, Carlos. História das Artes. 2.ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira. 2 vol. p.83
[26] Idem.p. 83-84
[27] HAUSER, Arnold. História Social da Arte e da Literatura. São Paulo: Martins Fontes, 2003. p.529
[28] CAVALCANTI, Carlos. História das Artes. 2.ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira. 2 vol. p.85
[29] HAUSER, Arnold. História Social da Arte e da Literatura. São Paulo: Martins Fontes, 2003. p.528-529
[30] Idem. p.529
[31] Ibdem. p.512
[32] HAUSER, Arnold. História Social da Arte e da Literatura. São Paulo: Martins Fontes, 2003. p.512
[33] Idem. p.512
[34] Ibdem. p.514
[35] CAVALCANTI, Carlos. História das Artes. 2.ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira. 2 vol.87
[36]HAUSER, Arnold. História Social da Arte e da Literatura. São Paulo: Martins Fontes, 2003. p.531
[37] Idem. p.532
[38] BENJAMIN, Walter. Obras Escolhidas: Magia e Técnica, Arte e Política. 4° Ed. Volume I, São Paulo: Brasiliense, 1985.
[39] CAVALCANTI, Carlos. História das Artes. 2.ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira. 2 vol. p. 85
[40] HAUSER, Arnold. História Social da Arte e da Literatura. São Paulo: Martins Fontes, 2003. p.510
[41] Idem. p.510
[42] Ibdem. p. 511
[43] HAUSER, Arnold. História Social da Arte e da Literatura. São Paulo: Martins Fontes, 2003. p. 511
[44] Idem. p. 511
[45] Ibdem. p. 511
[46] CAVALCANTI, Carlos. História das Artes. 2.ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira. 2 vol. p. 86
[47] Idem. p. 86
[48] HAUSER, Arnold. História Social da Arte e da Literatura. São Paulo: Martins Fontes, 2003. p. 530
[49] Idem. p. 530
[50] Ibdem. p. 530
[51] JONES, Stephen. A arte do século XVIII. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1985. p. 21
[52] Idem. p. 21
[53] Ibdem. p. 23
[54] JONES, Stephen. A arte do século XVIII. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1985. p. 24
[55] Idem. p. 24

Fim de semana em Aracaju penando no Pará

Este final de semana fiz mais uma viagem para Sergipe, ficando, desta feita, na capital. Foi mais uma série de palestra, um pequeno curso com o objetivo de refletir as relações entre a cultura e as religiosidades brasileiras. Encontrei um bom grupos de studantes que me pareceram bastante interessados nas questões brasileiras e, uma boa parte parte do grupo demonstrou estar familiarizada com os autores teóricos, embora poucos na sala tenham lido os clássicos da historiografia brasileira. É interessante como a discussão dos autores modernos, de preferência franceses, suplantas a leitura dos bons autores nacionais. Tenho conversado com alunos de historia que já leram quase toda a obra de Certeau , Foucault e outros, mas poucos se atreveram a ler gente como Capistrano, Sérgio Buarque e ouros, entretanto ostentam diplomas de História do Brasil. Aprendemos a interpretar, ou continuamos a interpretar as realidades brasileiras com um olhar majoritariamente exterior. Mas, como dizia, foi ótimo o período de convivência com aquelas pessoas que me fizeram cansar com tantas perguntas e debates.

Enquanto isso, no Pará, governado por Dona Júnia, aquela que parece achar normal colocar jovens do sexo feminino em cadeias para pessoas do sexo masculino, chega à superfície social mais um problema limite da sociedade brasileira: Não se sabe o que fazer com essa nova modalidade de criminosos, os do sexo feminino – com a aplicação de uma legislação que foi criada em um período que, por preconceito, parece não ter admitido que as mulheres pudessem ser delinqüentes. No Pará, diante desses últimos acontecimentos que estão chagando ao conhecimento social, as mulheres deliquem enquanto delegadas, juízas, secretárias de segurança e governadoras. Nenhuma delas percebeu que seria arriscado colocar uma mulher, independente da idade, em uma cela com homens brutalizados pela existência perversa que historicamente se formou neste país. Se tivesse havido algum bom senso tal situação não teria ocorrido. Ainda bem que o ministro da justiça, Tarso Genro, disse que, em janeiro do próximo ano, será liberada verba para que sejam feitas, pela governadora Júnia, as mudanças necessárias para sanar essa situação. Como os dois são do mesmo partido, creio que o problema está resolvido. É que, desde que os marqueteiros assumiram o poder, é dado como realidade aquilo que ainda irá ser feito.

No universo político pós moderno, o espetáculo é mais bonito pois não é ficção, é virtual.

quinta-feira, novembro 22, 2007

História da Infância em Pernambuco

Acabei de participar de um evento bem importante: o lançamento de um livro. Embora este não seja um tema que interesse à grande imprensa, sendo apresentado nas páginas internas dos ditos cadernos culturais, a produção, a publicação de um livro é uma explosão de uma supernova. Tal explosão é magnificada quando é uma explosão de jovens historiadores que, pondo-se na vanguarda, como convém a jovens, publicam uma HISTÓRIA DA INFÂNCIA EM PERNAMBUCO. Um livro de história social, resultado de pesquisa em arquivos, visando entender o que tem significado ser criança em Pernambuco, desde o Império Português até esses dias que estamos vivendo. Não é uma história caduca, com cheiro de naftalina holandesa, mas uma história corajosa que busca compreender como realmente vive, não os renascentistas tardios, mas os pequenos que constroem a sociedade ou sofrem a construção da sociedade, enquanto falsetes viviam e vivem de seus sofrimentos.

Ainda não li o livro organizado por Humberto Miranda e Maria Emília Vasconcelos, com artigos de Alcileide Cabral, Bruno Dornelas,Carolina Cahu, Elaine Cunha, Felix Aureliano, José Luiz Simões,, José Nildo Alves Caú, Márcio Vilela, Natália Barros, Pablo Porfírio, robson Costa, Silvia Couceiro, Sylvia Arend, Vera Braga, mas como conheço a seriedade da pesquisa de cada um deles, compreendo que este livro, o primeiro sobre o assunto na historiografia pernambucana, será uma referência para os futuros historiadores.

HISTÓRIA DA INFÂNCIA EM PERNAMBUCO foi publicado pela Editora Universitária da UFPE.e pela Editora da Universitária da UFRPE, e o lançamento ocorreu em sessão solene da Assembléia Legislativa do Estado de Pernambuco

Festival Canavial 2007: A maior festa da Zona da Mata Norte pernambucana

Festival Canavial 2007: A maior festa da Zona da Mata Norte pernambucana

Entre as muitas vantagens, entre os diversos sentidos, que O CANAVIA aponta, está o fato de atrair, para além do circuito Recife-Olinda, discussões sobre o fazer cultural.
Muitos dos que conhecem a Zona da Mata Norte pernambucana apenas através de seus brinquerdos, raramente conseguem perceber que o que lá existe e é feito não é um conjunto de atos foclóricos, objetos de estudiosos. A dinâmica cultural da população é bem mais ativa que os pensamentos surgidos nas varandas das antigas casas grandes. A cultura da Mata Norte, assim como a cultura de Pernambuco, é completada pelo que foi produzido pelos "meninos de engenhos" e pelo engenho dos meninos e dos homens cortadores de cana.
O Festival CANAVIAL, em sua terceira edição, apresenta a vivacidade do povo em sua criatividade, o que é perceptível nos versos dos Mestres de Maracatús e repentistas de Coco, dos movimentos da danlça dos caboclos, dos sons dos ternos e dos tambores. É essa criatividade que deve ser admirada, filosoficamente admirada, pois da admiração, esse ver a algo, esse procuirar ver algo além dos olhos, como escreveu o poeta de "Sei Lá Mangueira", é que promove o re-encontro (ou encontro) do Brasil, dos homens e mulhweres consigo mesmo.

terça-feira, novembro 20, 2007

onde votar nas maravilhas e na data

um anônimo leu a postagem anterior e perguntou: onde votar?
resposta:

http://www.as7maravilhasdepernambuco.com.br/

para votar a data magna de Pernambuco tem que ir na Assembléia Legislativa, ou na Câmara de Vereadores do Recife, lá tem uma urna. Ou no telefone 081- 32072233. Mas parece que vai ter um link no site da Assembléia www.alepe.pe.gov.br

Ilhas, vales e independência. o Pernambuco interno

Neste mês de novembro estão ocorrendo duas votações relacionadas à Pernambuco, uma disputa entre dois meios de comunicação. Vou apostar que esse blog está sendo lido e tentar influenciar alguns votos.

Uma das votações quer saber quais as sete maravilhas que existem em Pernambuco, e aponta para construções, como o centro histórico de Olinda, de Igarassu, de Triunfo; obras criadas pela natureza, como cachoeiras, vales, ilhas; praças como a da República e outros. O público escolherá sete, em voto pessoal. Eu tomei a iniciativa de votar nas Ilhas do Rio São Francisco, no Centro Histórico de Igarassu, entre outros. Afinal essa é uma brincadeira interessante, entre outras razões porque pela primeira vez alguns pernambucanos ouvirão e verão fotos do maior conjunto de ilhas fluviais do Brasil (alguns dizem do mundo) que fica no muncípio de Belém do São Francisco, (mesmo depois da construção da barragem que transformou o sub-médio sanfranciscano em lago); saberão também que existe o Vale do Catimbau na entrada do Sertão, no município de Pedra, as cachoeiras de Bonito. Vamos superar a síndrome de só termos Boa Viagem (ainda que bela apesar de estar ficando parecida com outra praia de um continente do norte) como cartão postal de Pernambuco.

A outra votação é para escolher a data magna de Pernambuco. Essa ainda será mais difícil, inclusive porque de uns tempos para cá parece que a história de Pernambuco e do Brasil se resume em algo ao derredor de um holandês. Como os líderes pernambucanos do passado e os atuais fizeram e fazem de tudo para ocultar que Pernambuco foi a primeira região do Brasil a se tornar independente de Portugal, a Convenção de Beberibe terá poucos votos. A aristocracia do açúcar preferiu ficar à reboque da independência paulista-carioca-mineira a ter que se afirmar livre e sem escravos. Não é a toa que o primeiro governador de Pernambuco livre tenha uma rua transvessa e não uma avenida principal. Afinal era um comerciante, um mascate, e não um barão ou visconde. De qualquer modo, meu voto será para a CONVENÇÃO DE BEBERIBE, como a principal data de Pernambuco. A Bahia comemora a data de sua independência, embora tenha sido a ultima das províncias a aceitar o Brasil independente. É tempo de os professores de história impulsionarem novos caminhos à Pernambuco e não mais ficarem à reboque dos sequazes de Maurício de Nassau e dos arrependidos de terem martirizado Abreu e Lima, padre Miguelinho, Frei Caneca e tantos patriotas, agora por eles louvados.

Vamos mexer na sucralocracia.