terça-feira, julho 31, 2007

uma greve (inesperada)dos empobrecidos

Escutava o noticiário em uma emissora de rádio sobre a greve dos médicos na Rede Pública de Saúde. Os médicos que trabalham na rede estadual de saúde de Pernambuco estão entregando os cargos, os empregos: eles entendem que o Estado não lhes paga o suficiente para o serviço que devem prestar à sociedade.

Esta foi a grande surpresa do atual governador: os médicos, esquecendo o juramento que fazem de sempre atender o doente, estão se recusando a trabalhar por um valor tão baixo, quase desprezível, dos salários. O mesmo está acontecendo com a rede pública de educação, pois os professores, contrariando a orientação dos líderes sindicais atrelados aos governos estadual e federal, continuam paralisando.

As greves nas redes públicas, dizem os governantes, prejudicam principalmente os pobres. Com esse discurso eles têm conquistado a adesão envegonhada dos médicos e dos professores (também tem os policiais) que ficam com complexo de culpa se os pobres não forem atendidos. Esse argumento é também dito aos professores pelos diretores das escolas particulares. Mas parece que esta lógica está sendo superada.

É que os médicos da rede pública recebem mal porque eles atendem os pobres. Os médicos podem ter vários empregos, ter vários salários e trabalharem cansados para atender os pobres. Os funcionários do legislativo, do judiciário e os possuidores de cargos que servem diretamente aos senadores, deputados, governadores, ministros e presidentes, esses têm salários melhores. Eles não fazem greves. Não se ouve falar em greve dos funcionários do legislativos. Se ouviu uma vez falar de greve dos juízes, mas isso foi porque a falta de vergonha lhes acometeu o juízo, mas logo eles viram que estavam dando um tiro no pé e voltaram a "trabalhar".

Bem o que acontece agora é que os médicos estão ficando, eles mesmos, pobres e já estão com dificuldade de pagar o plano de saúde deles, daí a greve. Ou fazem greve ou serão atendidos pelo SUS. Começa o governo a ter problema porque não são apenas os pobres - esses que ficam calados, com medo de que o Senhor lhe prenda e os torture e os mate de fome - que estão sendo atingindos pela política de destruição dos serviços que o Estado deve oferecer à população.

Médicos, em grande parte são filhos dos setores mais bem aquinhoados, alguns até mesmo filhos de juízes e irmãos de deputados. Enquanto não aconteceu a discussão dessa prática do nepotismo, dáva-se um jeito. Mas agora está ficando cada vez mais difícil continuar espoliando os pobres sem atingir esses setores da classe média. Nunca é damais esquecer que a luta contra a tortura ditatorial começou quando os meganhas passaram a prender jovens jornalistas, filhos de criadores de gado, padres, filhos de advogados e quejandos..

O povo unido, unido às pequenas dores de uma pequena parte dos poderosos, jamais será vencido. É assim que tem sido.

quase entendendo parte da zona da mata

Fazendo pesquisa para a produção de um texto sobre uma instituição da Zona da Mata Norte de Pernambuco, ontem entrei nas estradas que cortam canaviais do município de Aliança. Pude, de certa maneira, confirmar os caminhos de conquista do interior, ditos pelo prof. José Antonio Gonçalves de Mello: são caminhos que seguem os rios. Nos estudos de José Antonio, são principalmente os rios São Francisco, Capibaribe.
Mas se tomarmos o caminho da ocupação da Capitania de Itamaracá, os rios serão o Capibaribe-Mirim e o Siriji. Próximos a esses dois rios estão lugares como Lapa, que possui uma igreja construída o mais tardar em 1764 e, mais ligada ao Siriji, está o lugar Tupaóca, com duas igrejas - c. 1820 - uma dedicada a Nossa Senhora do Ó e outra à Rosário. Distam elas quinhentos metros. Duas igrejas significa uma população razoável e diferenciada.
Entre esses dois pontos, pode-se ver a opulência que foi o engenho Jucá, com a casa grande datada de 1897.
Temos muito a organizar em livros para que as nossas escolas conheçam como foi sendo construído Pernambuco. Ontem entendi que a cidade de Aliança foi sendo formada por dois movimentos: um originado na capitania anexa de Itamaracá e outro a partir do Recife e Tracunhaém. Esses movimentos não foram simultâneos, mas foram acionados pelas mesmas famílias dominantes em tempos diversos.

sábado, julho 28, 2007

Consciência de integração ou/e consciência integradora

No dia 25 deste mês comentei algumas questões sobre "dias das consciências" no Brasil. Alí disse de minha ignorância sobre particularidades históricas da formação da região Sul do Brasil. Naquele espaço, deveria também ter dito da ignorância dos sulistas sobre a formação histórica das regiões brasileiras além da sua. Também deveria ter deixado mais claro que é importante esse que conhecimento deve ser acrescido do desejo real de integração na sociedade nacional. As consciências dos afrobrasileiros e dos afrogermânicos, se não forem condimentadas com o desejo de fazerem parte do Brasil, poderão ocasionar males que, a princípio, nenhuma dessas comunidades desejam.

ministro da defesa dos bancos

O Brasil tem um novo Ministro da Defesa. Mais uma vez, o presidente Lula não encontrou entre os petistas um companheiro que se mostrasse apto para conduzir parte do seu governo. Essa foi a razão para que ele fosse buscar, no PMDB alguém para enfrentar e solucionar a crise que é experimentada pelos que se utilizam do transporte aéreo brasileiro. Esse novo Ministro já havia sido ministro do governo de Fernando Henrique Cardoso.

Esse novo ministro é um aposentado advogado que já foi deputado, minstro do Supremo Tribunal Federal. Homem experimentado no poder, deslumbrou-se quando estava presidente do STF e, em uma entrevista, ciente de que não haveria punição para ele, informou ao povo brasileiro que, quando estava deputado constituinte, ao fazer a revisão do texto constitucional, após a aprovação, por iniciativa própria, modificou o texto e, introduziu a sua vontade, algo que hoje é lei para todos os brasileros. Ou seja, o arrogante resolveu que a sua vontade pessoal, ou a vontade de quem o pagou para fazer, criou um norma que beneficia os bancos internacionais, em prejuízo dos brasileiros. este é um crime de lesa pátria.
A sua indiscrição levou dois professores a pesquisar e localizar quais os artigos "jobinianos" os brasileiros somos obrigados a obedecer. Pois bem, esse senhor, que se pôs acima da Assembléia Constituinte para defender os interesses dos bancos estrangeiros é hoje o ministro da defesa do Basil, no governo do partido Partido dos Trabalhadores. e não será possível o atual desatento presidente do Brasil dizer que não sabia desse assunto. Ele foi muito bem descrito por Sebastião Nery, à época.
Abrindo espaços para esse espécime, o atual governo apresenta mais uma de suas faces: apoiar e apoiar-se naqueles que desdenham do povo e de sua memória. Memória que é esquecimento, pois apenas na Tribuna da Imprensa, na coluna de Hélio Fernandes, leu-se um comentário a esse respeito.

quarta-feira, julho 25, 2007

As consciências e seus dias no Brasil - consciência Brasileira

No dia de ontem tive duas revelações que me preocuparam, pois cada uma a seu modo, apresenta visões de Brasil ou de compreensão do que é o Brasil; e elas apontam para certas realidades insuspeitadas, embora bem que poderíamos estar mais atentos ao que estamos fazendo de nós mesmos. Foram duas informações, uma recebida através da rede internacional de informações e outra em sala de aula. Elas falam de etnias que vivem no Brasil e de como elas se aceitam e se percebem como parte do Brasil.

A primeira informação foi a primeira surpresa. Soube que no Rio Grande do Sul, região do Brasil conhecida por ser formada por descendentes de imigrantes alemães, italianos e outros grupos europeus que vieram para o Brasil no século XIX, está sendo estabelecido um dia da consciência alemã, no dia 25 de julho; nesse dia se comemora a chegada dos primeiros imigrantes naquela parte do Brasil.

Esse tem sido um processo a partir do estabelecimento do dia do imigrante. Mas, depois se viu que essa expressão pouco dizia, uma vez que os imigrantes têm origens e tradições culturais diversas. Alguns são italianos, outros alemães, outros de outro país europeu. Formam o que Darcy Ribeiro chamou de Povos Novos. Ao dia do Imigrante pôs-se o dia do Marceneiro e, agora, uma cidade estabeleceu que o dia 25 de julho deve ser um dia para que os descendentes dos imigrantes alemães reflitam sobre a sua cultura original.

Para mim que vivo no Nordeste, e para muitos brasileiros que, como eu, na escola não escutam falar seriamente sobre outra tradição européia além da portuguesa para a formação do povo brasileiro, essa é uma notícia que pode me fazer surpresa e, ao mesmo tempo favorecer a minha compreensão da diversidade cultural brasileira. Daí, dessa celebração, compreende-se que já é tempo de estudarmos todas as tradições culturais que formam o Brasil, e não apenas aquelas que foram definidas pelos historiadores do século XIX, em um tempo anterior à imigração européia decorrente da Revolução Industrial e da superação do trabalho escravo.

A segunda informação veio-me na sala de aula. Estávamos acompanhando a exposição de alguns alunos sobre a arte européia no século das Luzes. Na verdade quase era um estudo de como se formara uma tradição cultural dominante no Brasil, uma tradição que vem da França e de um pedaço da Alemanha, embora que tenha sido filtrada, especialmente para os que, como eu, mestiço nascido e criado no Nordeste, conviveram pouco com outra tradição européia além da portuguesa. Então fiz um comentário sobre a celebração que algumas cidades brasileiras de tradição alemã estão realizando no dia 25 de julho, tendo este como o dia da consciência alemã.

Ao ouvir o que acabara de pronunciar, um dos alunos perguntou o que “eles” estavam pensando. (ah! o ranço da intransigêcia de quem deseja a pluralidade parecida consigo mesmo!) Então eu disse que o processo que se passa na região sul é semelhante ao que levou à criação do dia da Consciência Negra. A justificativa que esses grupos apresentam para o estabelecimento dessas datas é se sentirem marginalizados da grande sociedade brasileira; pode ser que eles não se vêem representados nos livros didáticos que ensinam o que são os brasileiros; talvez ambos os grupos sentem-se excluídos nas explicações que são dadas para a formação do Brasil. Afinal continuamos a repetir muito o que foi estabelecido nos primeiros livros de História do Brasil sobre os grupos formadores do Brasil: portugueses, africanos e indígenas. Podemos até dizer que, em alguns momentos “Brasil” os excluiu. Um desses momentos foi o período do Estado Novo, quando os terreiros eram perseguidos e os idiomas alemão e italiano eram proibidos à população descendente dos imigrantes.

O meu desconhecimento do processo social, dos movimentos sócio-culturais que ocorrem nas terras de colonização alemã e italiana, como o de meus alunos, mostra que não assimilamos ainda a real diversidade cultural brasileira. Mostra também que o não reconhecimento das diversas matrizes culturais que carregamos (portuguesa, espanhola, bantu, keto, ioruba, japonês, coreano, tupi-guarani, caeté, italiana, alemã, polonesa, turca, judia, etc) pode nos levar a esquecer esses valores mais profundos e, desgraçadamente, nos fixarmos nas cores de nossa pele, fazendo a alegria dos seguidores do Conde de Gobineau.

Precisamos tomar cuidado com a focalização excessiva em apenas uma etnia formadora, somos vários, somos multicoloridos, multiculturais.

O silêncio do inocente?

Transcrevo texto publicado n O Estado de São Paulo, pois entendo que, independente de certas cores partidárias, devemos refletir sobre os muitos aspectos de uma questão. Além do que já escrevi texto com semelhantes idéias

O presidente em seu reduto

Às 20h30 de 17 de julho de 1996, um Jumbo da TWA explodiu sobre o Atlântico minutos depois de levantar vôo de Nova York. Todos os 212 passageiros e 18 tripulantes morreram. Nas caóticas horas que se seguiram, as famílias das vítimas que convergiram para o Aeroporto Kennedy reagiam com ira e desespero à falta de notícias sobre a tragédia. Levadas para um salão, viram a porta abrir-se para o presidente dos Estados Unidos, Bill Clinton. O que se passou em seguida foi um dos momentos mais fortes dos seus oito anos na Casa Branca. Desacompanhado, ele foi de grupo em grupo, abraçando e confortando as pessoas em voz baixa. Ouviu protestos, cobranças, desabafos. Quando enfim se retirou, o ambiente era apenas de quieta resignação.
Não se pode exigir de chefes de governo convencionais a naturalidade quase sobre-humana com que ele se entrosa com gente do povo, mesmo nos piores momentos, evocando o sentido original do termo grego simpatizar: sentir com. Nas situações de luto coletivo, esse talento dos chefes de governo para a comunhão produz um efeito terapêutico que não se limita aos atingidos mais de perto pelo acontecimento doloroso. Transmite, para toda a sociedade traumatizada, o sinal confortador de que o dirigente maior da nação, além de solidário no sofrimento, é alguém em cujos cuidados se pode confiar. Clinton é um caso à parte, mas agora mesmo outros governantes o imitaram - e não foi pela primeira vez.
Na manhã do último domingo, um ônibus que transportava 50 peregrinos poloneses ao santuário de Notre-Dame de la Salette, perto de Grenoble, a 700 quilômetros de Paris, mergulhou num rio, matando 26 deles. Duas horas depois, ali já se encontravam o primeiro-ministro François Fillon e outros membros do governo francês. Pouco mais tarde, quando chegou ao local, o presidente da Polônia Lech Kaczynski encontrou à sua espera o colega Nicolas Sarkozy. Depois de visitar os sobreviventes hospitalizados, ele anunciou que acompanhará pessoalmente o inquérito sobre o acidente.
Impossível não comparar tais condutas com o sumiço do presidente Lula depois da catástrofe de Congonhas em que morreram 199 pessoas. Principalmente porque, transmitidas as condolências em rede nacional, após 72 horas de relutância, ele tornou a submergir. Passou o fim de semana trancado na residência oficial e só voltou à tona no programa de rádio das segundas-feiras Café com o Presidente, gravado no seu gabinete. Tornou a dizer, então, o óbvio ululante sobre a impropriedade de se fazer “julgamentos precipitados” sobre a explosão do Airbus da TAM. E, na contramão até do senso comum, considerou “quase irresponsável” que se debatam publicamente as causas da tragédia.
Hoje, o quase emudecido Lula volta à vida normal - à sua maneira, bem entendido. Viaja à noite para o Nordeste, seu reduto por excelência, para um giro por Aracaju, João Pessoa, Natal e Teresina. À época do escândalo do mensalão, o Nordeste era o pouso preferido do presidente. O pretexto, desta vez, é o lançamento de projetos do PAC, o que rende a discurseira para platéias prontas a aplaudir seja lá o que lhes diga o seu ídolo, embora, pelo retrospecto, isso não garanta futuras realizações práticas. O lançamento do PAC na Região Sul, com a presença de Lula nos três Estados da região, estava previsto para a semana passada. Compreensivelmente, foi adiado em razão do desastre da TAM - mas compreensivelmente apenas à luz do seu oportunismo - para depois de 10 de agosto, no regresso de uma viagem ao exterior. O fato é que, desde a sexta-feira que precedeu a tragédia, quando foi vaiado no Maracanã, o chefe de governo que deixou correr à solta o apagão aéreo, fiel ao princípio de que “a gente faz quando pode, e se não pode deixa como está para ver como é que fica”, parece ter dividido os brasileiros em dois grupos.De um lado, aqueles junto aos quais procura se reconfortar - certo de que lhe são gratos e não lhe negarão aplausos em quaisquer circunstâncias. De outro, aqueles que, não lhe devendo nada, o aplaudem quando julgam que merece aplausos, mas vaiam quando julgam que merece vaias, como aconteceu na abertura do Pan.
Resta saber por quanto tempo Lula evitará as cidades que congregam as parcelas do povo mais críticas do seu desempenho.



terça-feira, julho 24, 2007

RecorDança na linha do tempo e do espaço

Ontem, na casa da Fundação Joaquim Nabuco, no Derby, ocorreu lançamento de uma nova fase do projeto RecorDança, da Associação Reviva, em parceiria com a FUNDARJ: foi posta na rede internacional de comunicação -internet - o resultado de três anos de pesquisa sobre a dança ocorrida no Recife entre as décadas de 70 a 90 do século passado.
Interesante que esse projeto vem tomando corpo e tomando a alma das pessoas desde que foi pensado por Valéria Vicente. A cada momento, os que se dedicam à dança compreendem melhor o seu significado e, aqueles que não dançam, podem se perguntar: como não sabíamos que já fizera tanta dança em Pernambuco. Historiadores, que nem sempre ultrapassam os limites do político e do econômico em suas suas pesquisas, recebem essas pesquisas realizadas pela equipe do RecorDança com surpresa, mas irão se beneficiar delas para compreender partes significativas da sociedade pernambucana. Lá estão organizadas fotos, pequenos vídeos, textos, tudo bonitamente organizado, as informações organizadas solciitando historiadores que interpretem o significado do que fizeram esses bailarinos.
Visitando o site http://200.17.132.93/recordanca/index.htm a pessoa poderá ficar supresa com a evolução - mudanças - progresso , o que desejar a sua ideologia, por que passou a arte de dançar, aqui neste recanto do mundo.
Como o RecorDança não é apenas o passado que já se viveu, mas o passado que se viverá, a equipe já está se empenhando, se envolvendo, na luta pela criação de um urso superior de dança em nossa cidade. Foi muito bonita ver, no estrado da Fundarj, três gerações de bailarinos unidos nesse debate.
Visite o Recordança e dance de alegria nesta terra de dançantes.

domingo, julho 22, 2007

Diz a lenda que a poesia nos acompanha

Na noite de 21 deste julho ocorreu mais um momento de regozijo de pessoas que se consideram amigos e, desde os tempos de adolescência se comunicam, às vezes não seguidadmente. Por iniciativa de Rosa e seu marido, Alves, é que a festa foi realizada. Penso que aproveitaram o aniversário de sua filha, o lançamento de um livro de poesia coletivamente criado por primos, para colocar juntos duas gerações, ou três.
O encontro ocorreu na casa de Orlando e Rilda, que receberam Antonio e Cristina, ele foi presidente do Conselho de Moradores de Nova Descoberta que vieram com filhos e netos; Sonia e Ninha Orange; Nita; Walter; Zefinha - que também foi presidente do Conselho de Moradores e trouxe sua filha, o genro e a neta; Carlos Brito e suas irmãs Walda e Kátia, esta trazendo a sua filha. Eu também estava lá. E havia muitas pessoas amigas dos filhos, tanto de Orlando quanto de Alves. O que de comum unia a todos é que fomos jovens em Nova Descoberta e tínhamos atividades na comunidade. E, cada um ao seu modo, continua comprometido com a comunidade.
A maioria de nós participava inicialmente ao movimento de jovens ligado à Igreja Católica e, em decorrência da maneira que então encarávamos a religião, foi natural que houvesse a inserção no movimento social - Conselho de Moradores - gerado pela Operação Esperança. Éramos Jovens e acreditávamos que iríamos mudar o mundo.
Nessa caminhada tivemos a companhia de muitos que não estavam na festa. Dois desses foram muito lembrados, especialmente por Walter que trouxe dois grandes quadros com o rosto de Carlos Ezequiel, que foi um dos que nos incentivava para o cultiva das artes da poesia, do teatro do canto; o outro foi Antonio Bezerra, que auxiliou-nos a abrir a mente para as mudanças que ocorriam ao nosso redor, politicamente nos explicava o mundo.
Aproveitando a motivação poética dos nossos filhos, pois diz a lenda que somos um tanto coruja, Rosa, Alves, Carlos Brito e a aniversariante, recitaram Operário em Construção, de Vinícius de Moraes, um dos poemas que discutíamos nos tempos difíceis da ditadura. Foi emociante, pois esse poema me levou, com as palavras de Rosa, ao tempo em que eu recitava-o na íntegra, e teve um dia especial na casa de Bezerra, uma celebração do dia do trabalhador. (não comemorávamos o dia do trabalho, mas o do trabalhador).
A noite, embora de nostalgia, nos a vimos como de celebração do futuro, pois ao mesmo tempo que lembrávamos o nosso tgempo de jovens, com os filhos havia a sensação de continuamos a criar o futuro.
foi uma bela noite.

quinta-feira, julho 19, 2007

onde está WalLULA

Ainda estamos todos no estupor do acidente ocorrido em São Paulo. Alguns dizem tragédias, mas as tragédias ocorrem por decisões dos deuses, os homens não podem escapar daquilo que eles determinam. Foi o que ocorrem com Épido, Electra e tantos outros que eram brinquedos dos deuses. Mas tudo isso ocorreu antes que os homens alcançassem alguma consciência. Não creio ter sido a vontade de algum deus vingador que encaminhou aquelas pessoas para aquele desastre.

Sim, aquilo foi um desastre, algo que foi realizado pelas ações humanas. Todos já entenderam que estou me referindo ao avião que explodiou na cidade de São Paulo, SP. no dia 17. As razões do acidente, do desastre, estamos todos procurando, especialmente a Aeronáutica, a Infraero, a TAM. o governo Federal, etc. Se procuram a causa, é porque todos já sabem que não foi uma tragédia. Uma tragédia não se pode evitar, pois só tem uma causa: a vontade dos deuses. Acidentes são causados pelas ações humanas. A questão é saber se os homens estão interessados em assumir que tomam decisões e que são responsáveis por elas. Mas o importante é que todos saibamos que não ocorreu qualquer tragédia no na cidade de São Paulo.

Entretanto, esse acidente me lembrou um pai de família que conheci. Ele estava presente em todas as festas, todos os momentos de alegria, da famílioa e dos amigos e vizinhos. Era uma pessoa maravilhosa, sempre disposta a nos acompanhar em todas as celebrações. Tinha um pequeno problema que só com tempo a gente foi compreendendo: ele nunca esteve presente nos momentos de dor, de sofrimento, de morte. Continuo querendo muito bem a ele, mas fico pensando que um verdadeiro pai, um verdadeiro amigo, tem que estar presente no momento de dor dos filhos, dos irmãos, dos amigos.

Essa lembrança me veio pelo fato de não ter visto nenhuma vontade do nosso presidente em aparecer para dizer que estava sofrendo com a família dos mortos. Logo ele, tão ávido em aparecer em todos os lugares, se escondeu no palácio, incapaz de externar um sentimento de dor. Teve medo que dissessem que era mentira. E daí. Tem medo de ser chamado de mentiroso quem mentiroso é. Como o nosso presidente não mente, não tem motivo para ser chamado de mentiroso, apreveitador. Mas é triste ver um presidente, que o povo diz que ama, ficar escondido na palavra de um portavoz. E nós, ao votarmos nele, queríamos alguém que falasse por aqueles que não têm voz.

Parece que na próxima leva de criação de cargos de confiança, ministérios ou secretaria especial, teremos uma que se chamará porta-vergonha. Enquanto isso vamos bricar de onde está....?

segunda-feira, julho 16, 2007

As vaias a Lula, o inefável

Tenho lido muitas colunas sobre as vaias que o presidente da República recebeu no ato de inauguração dos jogos Panamericanos. Como o fato ocorreu no Maracanã, logo muitos foram buscar Nelson Rodrigues - hoje uma unanimidade, ele que dizia ser burra a unanimidade - para dizer que no Maracanã se vaia até minuto de silêncio. Poucos se lembram que o minuto de silêncio a que se referiu o defensor da ditadura militar e ponta de lança nos ataques a Dom Hélder Câmara, foi o minuto de silêncio que se pediu em homenagem ao ditador Humberto de Alencar Castello Branco. Nâo foi o minuto o vaiado, mas o ditador.

O presidente da República foi vaiado. Não foi o primeiro, não será o último. O povo não é apenas para aplaudir. O primeiro "pai dos pobres e mãe dos ricos" - Getúlio Vargas - também foi vaiado.

Alguns disseram que não foi o povo que vaiou, mas parte dos ricos e a classe média. Esses entendem "povo" como classe social ou como sinônimo de pobre. Eles entendem que se algum brasileiro receber mais de três salários mínimos -R$ 900.00 - não faz mais parte do povo brasileiro. Parece ser o caso deles. Se assim for, Luiz Inácio da Silva não faz parte do povo brasileiro, é um estrangeiro, ou um alienígena, pois seu salário e sua aposentadoria o coloca na Dinamarca.

Como é tão difícil aceitar a idéia de que o povo, ou parte do povo esteja insatisfeito com um governo que demorou quatro anos para entender que tem obrigação de devolver os impostos em serviços como educação, segurança, saúde, direito de locomoção!

É claro que o povo, esse ente sem face porque tem todas as faces, cansa de ver o seu presidente defendendo e elogiando corruptos, como fez no Centro de Convenções de Pernambuco, consolando Severino Cavalcanti, a quem o povo se recusou a dar um novo mandato. Quem defende corruptos não deve se surpreender com a rejeição que tal atitude pode provocar. Evidentemente não foi apenas esse ato que fez surgir a vaia, na verdade foram várias vaias. E não foram apenas os cariocas que vaiaram o presidente, pois naquela tarde de domingo, no Maracanã, havia gente do país todo.

É claro que lá não estavam os beneficiados por programas como o "bolsa família", mas estavam os financiadores do referido programa e outros semelhantes. Mas esses que não são pobres também têm o direito de expor as suas idéias e os seus pensamentos. Como o presidente, não apenas este atual, costuma apresentar-se quase sempre apenas para aqueles que concordam com ele ou dele dependem (governadores, prefeitos, senadores, vereadores, chefes de partidos, e outros aúlicos, chalaças e chaleiras) fica surpreso em saber que existe mundo além dos tapetes e salameleques aoportunistas.

Todos somos vaiados vez em quando. Todos somos abraçados quando em vez. Temos que conviver com isso. Todos convivemos e tiramos lições das vaias que tomamos ao longo de nossas vidas. O "inefável", aquele que faz o que ninguém nunca fez, também precisa aprender a viver com as vaias, com idéias dessemelhantes às suas.

A unanimidade é burra, dizia o pernambucano que entendia das mazelas das almasm das vidas e dos sentimentos dos brasileiros. A nação - que é o povo se reconhece como tal - não.

Padroeiros e padroeiras do Recife

Hoje é o dia da padroeira da cidade do Recife, Nossa Senhora do Carmo. Esta festa lembra, reaviva a tradição religiosa - cristã católica - uma das bases formadoras da cultura, do ideário e imaginário brasileiros. Essa tradição, ainda que não mais a única, continua sendo a mais cultivada pelos brasileiros. Sendo muito plástica desde o princípio de nossa formação, continua sendo capaz de aglutinar, explicitamene, mais de sessenta por cento dos brasileiros religiosos.

Uma das mais antigas povoações do Brasil, o Recife multicultural, como tem sido apregoado pela adminsitração da cidade, tem vários protetores, ou padroeiros, cada um nos dá uma representação da história da cidade.

Nos primeiros momentos do Recife, quando ainda era uma simples povoação de pescadores e se tornava o porto de Pernambuco, substituindo o de Igarassu, eram são Pedro Gonçalves e Santelmo, os santos preferidos para as orações dos recifenses. Suas capelas foram destruídas no processo de modernização do porto do Recife, ocorrido início do século XX. No século XVII, quando o povoado começou a ser vila e cidade, sob a influência dos franciscanos, esses mendicantes que já nasceram com a vocação de urbanidade, santo Antonio passou a ser o preferido, inclusive sendo convocado para assumir posto militar na defesa do litoral.

No século XIX cresce a importãncia dos frades carmelitas na sociedade recifense, em uma época de mudanças, tanto na vida urbana quanto na religião católica que estava iniciando uma reforma interna, e essa reforma afetou as práticas de expressão externa da religiosidade dos católicos. Essas mudanças fizeram o Recife receber uma madrinha, uma padroeira, sem perder o padoreiro. No final daquele século e início do século XX, quando a cidade era o ponto de encontro das elites e das sociedades que formavam o hoje chamado Nordeste, a festa de Nossa Senhora do Carmo começou a superar as festas dedicadas a Santo Antonio.

As festas dedicadas a Santo Antonio, Nossa Senhora do Carmo anunciam e rememoram movimentos do Recife mais antigo, e suas festas foram aclamadas oficialmente pelas autoridades civis e religiosas. Ao longo do século passado, ao mesmo tempo em que os recifenses católicos continuavam a louvar Antonio e a Senhora do Carmelo, as populações mais simples voltaram-se a uma outra devoção, à Senhora da Conceição. A devoção não surgiu de uma iniciativa do clero nem dos vereadores da cidade, foi a população mais pobre da cidade, que crescia também com a migração ocorrida após a Abolição da escravatura e com a crise dos engenhos e usinas, uma população que foi ocupando os morros da Zona Norte da cidade, que a criou.

As festas religiosas católicas mostram como os recifenses organizam a sua vida espiritual. Os mesmos recifenses estão presentes em cada uma dessas festas. Louvando os seus protetores e afirmando a sua pertença, seja à religião seja à cidade. Embora, diferentemente do que pensavam os católcios nos anos trinta do século XX, não é necessário ser católicos para ser recifense. Entretanto, parece ser saudável, para a cidade, sempre lembrar que as festas são uma celebração pelas coisas que já foram realizadas e prenúncio de novas realizações.

Escrevo isso lembrando como me parecia grande, maior que hoje, as festas do Carmo, no meu tempo de criança. Certo que para as crianças, para os pequenos, tudo é gigante. Entretanto, as muitas opções de lazer, o êxodo da população que habitava os bairros do Recife, Santo Antonio, São José e Boa Vista, afetou a frreqüência à festa do Carmo. É que os tempos são outros; nem melhores nem piores, são apenas outros. Como os anteriores, este tempo também é criado pela cidade.

sábado, julho 14, 2007

Pressa

As permanências e os mitos acompanham gerações de brasileiros e pessoas de outros países. Mas certas idéias, por suas permanências nos fazem temer, pois as pessoas costumam gostar das facilidades de realização. Por isso é muito preocupante ouvir, em uma aula, um jovem de vinte e poucos anos perguntar se não seria melhor ter uma ditadura que faça as coisas acontecerem do que ficar tentando vencer a burocracia do estado burguês.
Essa idéia de que talvez seja preferível uma ditadura que facilite realizações materiais do que o lento caminhar para as mudanças de atitudes pode levar a uma opção de entender que a oposição atrapalha quem está no poder. Jovens que não conheceram a ditadura podem até pensar que isso é bom, mas quem viveu em uma ditadura, opondo-se a ela, não pode permitir que essa idéia de um partido, um grupo se isole no poder, se isole da sociedade para poder fazer o que ele acha melhor para a sociedade.
Tem gente que está no poder hoje, foi oposição, e vive reclamando que tem oposição aos seus projetos, quase tornando claro que não quer ter oposição. Está havendo muito lamento por conta de certos "entraves" que não permitem esses "escolhidos" realizar o que desejam. Vamos tomar um pouco mais de cuidado. Cuidemos para que o desejo de melhorar as condições de nosso país seja acompanhado pela paciência histórica. A pressa pode nos levar a outro engano.
"homem do meu tempo, tenho pressa" era uma frase utilizada por Médice, um dos generais que nos impuseram a ditadura contra a qual lutamos. Nos indgnemos contra posturas e comportamentos que comprometem a liberdade, mas evitando a pressa.
A democracia, a liberdade, essas delícias, são construídas coletivamente, com persitência, urgência e calma.

quinta-feira, julho 12, 2007

"O único caminho ...."

Os últimos dias foram de bastante azáfama e não pude escrever aqui. Entretanto eram muitos os motivos que se apresentavam para mim.

Recebi o convite para paticipar de uma festa com colegas de juventude, dessas festas que fazemos vez por outra para lembrar que sonhamos juntos, nos separamos na busca da sobrevivência mas, como amigos, carregamos uns aos outros no coração e nas mentes. Fomos alma (boa, talvez) de alguém.

O que mais me chamou atenção, além da falta de respeito do congresso nacional, foi o sobressalto dos não católicos em relação ao pronunciamento do Papa Bento XVI.

O pontífice reafirmou um dos pontos básicos de sua igreja: ela é a única que veio direto de Cristo. Ao longo dos séculos essa verdade dos católicos vem sendo contestada, ao longo dos séculos os papas católicos vêem reafirmando essa verdade que eles cultivam, o papa e os católicos cultivam. Inclusive João XXIII.

É verdade que poucos católicos sabem que João XXIII ensinava que a única Igreja de Cristo é a católica romana, mas é verdade, também, que pouquissimos católicos se obrigam a ler os livros sagrados de sua religião e as cartas escritas pelos seus líderes. A maioria deles se contenta com as informações que são dadas pelos que não são católicos Mais ou menos como aquelas pessoas que não leram qualquer texto marxista mas são contra os pensamento marxista por terem lido ante marxistas. Também tem aqueles que nunca leram os livros de Paulo Freire, conhecem Paulo Freire porque escutaram, às vezes dos que não concordam com ele.

O que é interessante é que cada religião se entende como a única, recusa as outras, mas não diz isso publicamente. Se cada uma se afirma como a única, escandaloso esse escândalo que fazem porque o lider dos católicos afirma o que cada um entende que é.

Nessas questões de religião, nos dias atuais, ninguém é obrigado a ter a religião do papa, nem mesmo os que vivem nos antigos Estados pontificios; também o papa católico não é obrigado a mudar o ensinamento de sua igreja para agradar os que não são de sua fé. Também é razão de escândalo a idéia de que só Alá salva; também de ser razão de escândalo dizer etc. etc.

Pode ser até loucura essa idéia de que tem uma religião verdadeira, que é o cristianismo, - pode ser o cristianismo católico ou um dos muitos reformados - ; pode ser até escandaloso pensar que o caminho para chegar à perfeição passa por um banho o rio Ganges, ou que o batismo só vale se for de imersão completa. Isso depende da escolha de cada um.

Ninguém é obrigado a seguir a loucura do catolicismo. No mundo de hoje as pessoas podem escolher as suas preferências, inclusive as sexuais. Os fumantes são cada vez mais intoleráveis para os não fumentes. Os papas são como os fumantes: eles preferem ficar intoxicados com a verdade deles. Ninguém é obrigado a tomar o tóxico que ele toma. Escolha o seu e deixe o papa e a sua igreja (dele) ir para o passado. É a escolha deles, o papa e seus seguidores. Faça a sua escolha e respeite a dele. Bem ou mal ele está convivendo com o mundo moderno.

Ele, o papa, não concorda com o mundo moderno. Ele está convivendo com a modernidade e pagando o preço por isso. Dizem que o preço é ter menos pessoas nas suas igrejas. Tudo bem para ele. As outras igrejas estão repletas, bom para elas. É assim no mundo moderno.

Querer que o papa pense como você pensa, homem moderno, é, para usar uma palavra muito utilisada para desqualificar o papa, medieval.

Chamar o papa de medieval não é ofensa, é o reconhecimento de que a sua igreja foi organizada no medievo europeu. Deixe o papa ser medieval. Mas seja moderno. quero dizer, deixe que ele exerça o direito de escolha. Escolha a sua, ou não escolha nenhuma, mas não imponha a sua escolha aos outros. Alguns modernos já tentaram isso faz quase cem anos. Alguns continuam tentando hoje.

segunda-feira, julho 09, 2007

"Pizondo" na história

Os jornais deste dia me lembram que é o aniversário da cidade do Cabo de Santo Agostinho. Aniversários de cidades são ótimas oportunidades para verificarmos os usos que se fazem da história. Afinal, a história enquanto ciência, forjou-se no século em que se forjaram as nações europeías. As nações que nasceram da expansão européia também fizeram e fazem a sua história, tomando a Europa como modelo.
Nos últimos anos a hsitoriografia brasileira está se esforçando para superar o eurocentrismo, essa doença cultural que nos domina, de tal forma que, vemos uma inovação no dia de hoje.
Está sendo lançada mais uma história de Pernambuco. Graças aos avanços da pesquisa não mais se diz A História de Pernambuco, mas apenas mais uma. Assim. desde metade do século XIX que a História de Pernambuco, contada a partir da História do Brasil orientada pelo Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, conta essa história a partir dos olares de Portugal. Desde algum tempo, um grupo de pernambucanos insatisfeitos com o tratamento que recebeu de Portugal após a Restauração e, também insatisfeitos pelo descaso dos Orleans e Bragança no Império, passaram a desejar ser uma Nova Holanda. Tem muita gente com saudade de ser batavo. Dias Gomes escreveu sobre uma viúva Porcina: a que foi sem nunca ter sido. (Só para lembrar: quando governou Pernambuco Maurício de Nassau ainda não tinha o titulo de Príncipe).
Esse desejo de ser o que não é, faz com que agora tenha uma parte de Pernambuco querendo ser espanhol, inclusive informando em propaganda oficial do Cabo de Santo Agostinho que Vicente Pizon passou cinco dias andando a pé naquele pedaço de terra.
Que prefeitos com compromisso mínimo com documentos digam isso, nós entendemos, é uma questão ideológica. Mas fica pesado quando historiadores arrancam do baú seus diplomas para afirmar o que é ideológico como "verdade" histórica. Fica difícil continuar aceitando a idéia que a história de nosso povo começou quando algum português ou espanhol colocou os olhos sobre essa terra, como se não houvesse viva alma, pessoas e culturas aqui antes da chegada dos europeus. Assim, ainda que sejam belas as fotos do caderno que vai contar a história de Pernambuco, é necessário que se explique que a história é feita por homens e mulheres e que havia homens e mulheres no Brasil antes de 1500. Aliás é isso que quer dizer a imagem de capa do fascículo posto á venda no dia de hoje.
Pizon esteve no litoral pernambucano antes de Cabral, mas Pizon não pisou nas terras que hoje se chama Cabo de Santo Agostinho.
Mas tem gente pisando na bola da história.

coveiros, teólogos e sociólogos

Os jornais trazem as notícias, alguns comentários e, como também esse e outros blogs, pretendem nos educar. Cada palavra, cada expressão é uma ousadia na direção de dirigir o pensamento e a ação do outro. É assim que funciona a sociedade, hoje. No passado apenas alguns podiam expressar o seu sentimento, dizer o que entendiam ser "correto". Eram as autoridades - religiosas, estatais ou universitárias - e o que diziam havia de ser seguido. Isso mudou um pouco.
Tem sido assim - o estabelecimento do diálogo para o estabelecimento de regras sociais - desde algum tempo, embora continue ser difícil realizar essa possibilidade de cada um oferecer a sua opinião e ser ela acolhida. Ser acolhida, não necessariamente seguida. O seguimento das idéias e opiniões emitidas, depende muito de debates com outras idéias postas em comum. Nada mais é socializado apenas pala vontadade da autoridade de um grupo, de uma pessoas ou instituição. Até o sagrado se impõe a poucos.
Na última semana, o Vaticano publicou um série de "mandamentos" que demonstram a falência dos tradicionais Mandamentos da Lei de Deus, dos Mandamentos da Igreja, que eram, e ainda são, ditos e re-ditos às gerações, e não eram obededecidos, excetos nos Estados Papais. Os mandamentos dos cristãos quando estão trânsito são simplificações, talvez necessárias, para o mundo mundo contemporâneo. Mas se essas recomendações não forem seguidas de penalidades, dificilmente serão acatadas, como não o são os antigos mandamentos. Aliás, aqueles eram mais obedecidos quando certos tribunais funcionavam. Da mesma maneira, o uso de cinto de segurança e outras regras de trânsito, passaram a ser obedecidas quando o Estado começou a penalizar monetariamente os desrespeitosos. A gentileza é sempre, diz Hobbes, uma necessidade de satisfação de interesses.
Querer explicar o comportamento religiosos do homem contemporâneo com esquemas mentais do passado, ou dúbios, criam situações vexatórias, como a que passaram um teólogo católico e um sociólogo calvinista no Diário de Pernambuco do dia 8/7. A questão proposta pela jornalista era a respeito da ausência de devotos de "santos" que populares elegeram a três ou quatro décadas. A repotagem menciona a "menina sem nome" e "Alfredinho". Observa, a jornalista, que esses túmulos que eram muito visitados e referenciados como sendo de pessoas "santas", e não mais são visitados nos dias de hoje.
Um ex-coveiro disse que "isso é coisa de povo antigo.... os mais novos preferem passear, ir para a praia, para o pagode".
Já o teólogo diz que aceitar que essas pessoas simples eram santas e ajudam os devotos é outra coisa, "trata´se de uma mentalidade popular, de quem não tem conhecimento científico". Mais adiante diz que "o milagre pode acontecer com um filme que você assiste, um livro que você lê, ... não penso que Deus se manifeste somente em pessoas sagardas".
O sociólogo diz que "o que falta é orientação religiosa correta" que, não fica claro se para ele sociólogo ou para a sociologia, é que o correto é: "somente Deus, o Pai e o Espírito Santo são divinos".
Assim, parece que o coveiro, com 44 anos de cemitério, observando o comportamento das gerações entende que há diferenças de comportamentos, e explica o fato social apresentado pela jornalista, a partir de sua experiência as mudanças da expressão da vivência dos homens diante a morte e as vicissitudes de suas existências. Os que se dedicam a entender o mundo racinalmente - o teólogo e o sociólogo -, nos dizem que milagres existem e ocorrem, inclusive nos cinemas, pois o poder de Deus vai além das relações pessoais, Deus está nas coisas (parece o retorno científico ao animismo) ou então, só é possível ser um bom religioso com a orientação "correta" dada pela sociologia calvinista, um novo sub-grupo da sociologia: Sociologia geral - sociologia da religião - sociologia calvinista.
Certos teólogos e sociólogos podem estar se tornando coveiros de suas ciências.
Mas essas são apenas minhas idéias, que não necesáriamente devem ser seguidas.

sexta-feira, julho 06, 2007

O preço de uma aula - o valor de um

Saindo após um dia de trabalho, ontem, da Universidade Federal de Pernambuco, fiquei surpreso com a quantidade de ônnibus na Avenida dos Reitores. Apenas hoje compreendi que eram caravanas vindas de diversas cidades para encontrar-se com o Ministro da Educação. Eram prefeitos das cidades de mais baixos índices de educação do Estado. Então, o Ministério pretende fazer uma ação específica, em cada uma dessas cidades, para recuperar o tempo perdido. É essa expressão que dói: recuperar o tempo perdido. Por que se perdeu tanto tempo?

em um dos jornais do dia, está dito da surpresa de um prefeito ao saber que, em uma escala de zero a dez, o seu muinicípio estava com 1 (um). Ele não sabia. Agora ele quer recuperar o tempo perdido. Em outra página, o jornal tráz uma matéria sobre uma mulher que aprendeu a ler agora, cem anos após o seu nascimento. Diz também que os seus filhos também não puderam aprender a ler. E as pessoas, os governantes, os políticos, os ministros, todos ficam surpresos por descobrir que ainda cerca de 15% das pessoas com mais de quinze anos não sabem ler neste país. Os prefeitos não sabem que não há escolas em seu município. O prefeito citado na reportagem chegou a admitir que surpreendeu-se com o fato de, em seu município, há professores que nem mesmo receberam formação universitária.

O PAC da educação, esse esforço para acabar com o analfabetismo no Brasil atual, começou em 1949, com a primeira cruzada para educação de adultos. Tem sido muito dinheiro gasto. Eu digo gasto porque se houvesse sido investimento teria dado resultado melhores.

Leio, também no mesmo jornal, que o governador do Estado pôs uma nota dizendo que que está preocupado com as crianças que estão sem aulas porque os professores estão em greve; diz ainda que já se ofereceu para pagar o que o governo federal estabelecerá com o PAC: salário mínimo de professor - R$850.00 por mês. Isso quer dizer R$ 4.25 por hora de trabalho. Isso sem verba de gabinete, sem auxílio paletó, etc.

O preço que se paga a um senador é R$ 11.000.00 por minuto!

quinta-feira, julho 05, 2007

Faculdade de Direito no Sertão de Pernambuco

A gente se ocupa com a vida. O que é bom, necessário, embora se pense que a quantidade de tarefas nos faça quase desistir de continuar. Ontem, ainda estava no programa Que Históría é Essa que mantenho cada quarta feira na Rádio Universitária AM, quando recebi a notícia de que Belém do São Francisco inicia mais uma etapa na construção do seu mais recente sonho: foi aprovada a Faculdade de Direito.
É a primeira instituição dessa modalidade no Sertão. A inexistência de instituições de ensino superior no interior de Pernambuco tem sido um dos fatores para a exportação de cérebros pafra o litoral ou para outras regiões do país.
Belém do São Francisco, ainda que tenha sofrido com a criação de barragens (perdeu as melhores terras para a agricultura e, diferente de outras cidades, não recebeu idenizações adequadas), tendo perdido mais de cinco mil habitantes com a construção da barragem de Itaparica, Belém continua mantendo a melhor faculdade de Pernambuco - o Centro de Ensino Superior do Vale do São Francisco, com cursos de História, Geografia, Letras e Matemática, tem formado profissionais que atuam nos estados de Pernambuco, Bahia, Alagoas e Sergipe. Agora Belém do São Francisco formará os advogados necessários para defesa da vida cidadã.
A Faculdade de Direito, que tem uma biblioteca rica nas questões jurídicas, é acessorada pelas bibliotecas que atendem aos demais cursos. Alí tem um acervo extraordinário e que vem sendo atualizado constantemente, graças aos cuidados dos administradores do CESVASF e dos seus professores.
A Faculdade, que surge com a permissãodo MEC e da OAB, vem fortalecer a cidade em sua vocação universitária. Para que isso aconteça de maneira eficaz e eficiente, é necessários que os comerciantes, os hoteleiros, a prefeitura, os politicos, os empreendedores, toda a cidade assuma a disposição de fortalecer essa possibilidade, que foi gerada pelo sonho de alguns belemitas, seja um dos caminhos para superar os problemas históricos que enfrentamos.
A Faculade não servirá apenas aos jovens belemitas; os benefícios serão para jovens de todas as cidades do Sertão pernambucano e das que estão localizadas na outra margem do rio que nos integra. Para Belém continuaram a confluir os jovens, de Belém sairão advogados, além de professores.
A virgem do Patrocínio, padroeira da cidade, todas as forças espirituais, todas as pessoas religiosas de todas as religiões, e todos aqueles que não cultivam religião, que todos se unam na construção dessa nova possibilidade para Belém do São Francisco.

terça-feira, julho 03, 2007

Senadores, ex-reitores e estudantes

Às vezes sou tentado a ficar "na minha", assim como muitos ficam, sem querer perceber o que ocorre nesse cotidiano. Mas não consigo. Não sei ficar sem comentar sobre os políticos, essas pessoas que deviam cuidar do bem público, mas que se dedicam a nos dizer que estão dispostos a tudo destruir, desde que eles prmanençam no poder.
Como é vergonhoso ver os senadores da República, a quem pagamos R$ 11.000.00 por minuto, assumirem a função de capacho de um antigo colaborador de Collor de Mello, esse também senador. Assim nós temos um acusado que assume a função de organizador do tribunal que o vai julgar. Renan Calheiros age acima do bem e do mal, não vê que ele está obstruindo, interferindo nas ações dos demais senadores. O pior é ver os senadores prestarem-se a esse papel. É doloroso verificar isso. E temos que nos policiar para não ficar imaginando as razões desse comportamento daqueles que devem ser os conselheiros da nação.
Mas, penso eu, deve haver alguma relação entre o comportamento de Renan, que se recusa a admitir seus erros, e o comportamento de alunos que "odeiam" professores que indicam os seus erros. Tenho encontrado alunos que dizem claramente que, embora tenham errado, acham normal os seus erros e entendem que merecem a maior nota pelo "esforço realizado". Professores que se recusam a tais ações correm o risco de serem molestado fisicamente, moralmente. Os senadores da República, e outras autoridades protetoras de desmandos estão auxiliando a destruir o Brasil. E ainda questionam o deficit de professores no país. Acham que a introdução de máquinas no ensino - como acham que a existência do painel eletrônico nas votações do Congresso provocaria a moralização da insitituição - será a grande saída para o Brasil, como disse ontem um ex-reitor da UFPE, assumindo a função de agenciador de computadores, abandonando a idéia de que a educação se faz com homens e mulheres para homens e mulheres.

segunda-feira, julho 02, 2007

A alegria de rever amigos e fazer novas amizades

Estive, neste final de semana, em Belém do São Francisco para asssitir o casamento de um aluno e, também matar a saudade que estava coçando o coração e quase me fazendo triste. Foi ótimo e penso que deverei fazer mais vezes esse exercício de encontrar pessoas que estão confiando no futuro.
Todos sabemos que Belém do São Francisco é uma cidade pobre, com um dos mais baixos indices educacionais no Estado de Pernambuco, a despeito de ter uma das melhores faculdades o Estado. Nela encontramos pessoas que estão em luta pelo futuro. E o futuro é construido sobre os passos do passado e as ações do presente.
Visitei as obras de reconstrução física do Clube dos Artífices, que agora é uma associação, com destinação não apenas recreativa, mas também cultural. Aproveitei a visita para levar oito livros com o objetivo de iniciar a biblioteca da Associação dos Artífices de Belém do São Francisco. Será uma grande caminhada, pois as tradições culturais nem sempre auxiliam para a construção de um mundo melhor. Nem todas as tradições devem ser cultivadas, na verdade algumas serão vencidas pelo tempo e pela sua inutilidade para a humanidade. Um dos grandes problemas a ser superado na reconstrução dessa boa tradição, que ter é um lugar onde os trabalhadores se encontrem para o lazer e a produção cultural, é a descrença e a desconfiança que os pobres são ensinados a ter em relação aos seus iguais. Grande tarefa vai ser conseguir a superação de alguns ruidos que podem impedir a organização crescer. Mas acredito que em breve um maior número de artífices estará participando da reorganização dos trabalhadores de Belém do São Francisco.