domingo, fevereiro 09, 2025
AINDA O INÍCIO DO SÉCULO XX
AINDA O INÍCIO DO SÉCULO XX
Prof. Severino Vicente da Silva – Biu Vicente
Quase segunda quinzena deste fevereiro e então já começamos a ter maior clareza do que pretende o “homem amarelo” que governa os EUA desde 20 de janeiro. Temos assistido a realização de algumas de suas promessas de campanha, tais como expulsar imigrantes ilegais do país que governa. Ainda bem que ele veio depois do seu pai, um imigrante ilegal que chegou na “terra da liberdade” na época do vale tudo em Nova York, quando gangs disputavam o poder.i Sorte do Trump pai é que ele chegou quando os ânimos estavam mais calmos, já no início do século XX. Nesta semana, dia 7 de fevereiro, o Brasil recebeu o segundo pacote de ilegais brasileiros que estavam nas terras de Trump, o segundo avião desse tempo. Antes já haviam mandado outros aviões com brasileiros que não alcançaram muito sucesso na terra do Tio Sam. Tio Sam, como sabemos, é um velho senhor que convocava jovens para lutar na guerra de 1914, e nas guerras subsequentes, com dedo em riste, vestido com a bandeira do vermelha e branca, dos EUA, gritando “eu preciso de você”. Deve ter sido uma experiência interessante para ele que, nessa sua intervenção nos interesses europeus, pois começaram a se entender como salvadores do mundo, uma vez que os livros de história começaram a dizer que os estadunidenses começaram venceram a guerra, colocando em segundo plano as muitas batalhas entre os exércitos capitalistas europeus. É notório que os Estados Unidos da América do Norte não tinham, a princípio, interesse em sair do ninho que criaram, destruindo nações indígenas e os bisões, tomando terras do Méxicoii e viver de fazer intervenções militares nos países da América Central que trataram sempre como uma extensão sua, a ponto de criarem um país com terras colombianas, o Panamá. Para as regiões onde não enviaram soldados armados, cuidaram de enviar bíblias, mostrando-se tementes a Deus, que sempre confundiram com a cédula de dólar.
Na guerra de 1939, os estadunidenses já estavam mais à vontade em fazer guerra fora de casa, embora viessem a entrar na luta apenas depois da destruição de sua força naval ancorada no Pacífico Sul, pelos japoneses, estes haviam sentido o gosto de possuir colônias, após as experiências no Leste da Rússia e na Coreia, além de excursões sobre a China. O Japão havia vivido isolado desde o século XVII, observando o comportamento dos europeus e dedicando-se a guerras intestinas. Mas ambas nações esbarraram com a Revolução Industrial, iniciada na Europa. O capitalismo industrial carecia de fornecimento de matérias prima para as máquinas, e foi a busca de terras que levou à fomração dos impérios europeus, subjugando os continentes africano, asiático, enquanto o Tio Sam apoderava-se dos governos e compravam governantes nas América Central e do Sul. Após a Guerra, em 1945, o velho Tio Sam descobriu que tinha novo inimigo que vinha crescendo desde 1917. para enfrentá-lo, entre as muitas invecionices, duas ideias tomaram corpo: uma remodelação do capitalismo com o aprofundamento do Estado do Bem Estar Nacional, voltando-se um pouco para a carência dos não ricos, posto em prática Franklin Delano Roosevelt após a crise sistêmica de 1929; e a procura de “traidores”, os estadunidenses que queriam o Estado do Bem Estar Social aplicado ao seu país: foi o empo de “caça a bruxas”, um esporte religioso praticado no século XVII, pelos ingleses e outros europeus, temerosos do poder das mulheresiii. Na década de 1950, o Senador Joseph Mcharty foi grande campeão dessa cruzada contra as ideias inovadoras.iv Na mesma época a população negra dos USA começa a campanha pelos Direitos de cidadãos que a Constituição lhes garantia mas a sociedade de Brancos Anglo Saxões e Protestante (WASP) os negavam. A divisão política entre os EUA e a URSS, geroua Guerra Fria e nos dizia que os demais povos estavam condenados a seguir um outro modelo, enquanto as potência, sobrepujando a Organização das Nações Unidas, criada por eles. E esses modelos de sociedade politica entraram em crise à medida nas décadas de 1970 e seguintes, com uma juventude embalada pelos sonho, desejo e práticas que levassem a um nova forma de organização sociopolítica, na qual os direitos fundamentais: comida, moradia, saúde, educação se tornassem usufruto de todos. Na virada do século e na transição geracional esses sonhos foram sendo substituídos por “antigas lições”, doutrinas que eram ensinadas nos quartéisv e que tinham, têm, como objetivo o enriquecimento de alguns que se apoderam do fruto do trabalho dos demais, como acontecia antes. Era o fim desse “antes” que uma geração punha em dúvida e desejava superar. Entretanto, no século XXI, os sonhos não são a realização “dos homens e de cada homem” como expressou o papa Paulo VI.vi ´século XXI deseja a “inteligência artificial”, que um cientista brasileiro diz “não ser inteligência nem artificial”.vii
Neste século estamos assistindo e experimentando práticas que costumávamos ler nos livros de história, assistimos o retorno, ou a emergência vigorosa dos racismos, dos nacionalismos, das intolerâncias e, muitos entendem que basta a criação de leis para dominar o ódio à humanidade, que é o fundamento de todas essas ações. Dom Hélder Câmara nos falava de uma Espiral de Violência, ainda na segunda parte do século XX.
São muitos os que acham que a educação escolar seja capaz de barrar essa maré de ódio, mas eles esquecem que o fenômeno dos sistemas escolares são tão recentes quanto a Revolução Industrialviii. Foram as práticas diárias que formaram as gerações anteriores ao método científico de ensino, através de canções, danças, provérbios, conversas informais.ix A qualidade da música que oferecida, não apenas às ‘massas ignorantes’, e que são acompanhadas de versos de baixa qualidade, de linguagem tosca, diversões voltadas apenas para a satisfação dos sentidos na linha inferior à cintura. E é esse método difuso, auxiliado pelas tecnologias, que tem sido o real educador das gerações recentes e, que levam também alguns das gerações anteriores que preferem a escravidão do medo ao risco da liberdade. Nesse mote ocorreram as escolhas eleitorais de muitos países europeus e das Américas. Bolsonaro, Millei e Trump são modelos desse novo tempo que não mais se anuncia, mas que se está vivendo, um tempo de imposição, de censura, morte física e tentativa de assassinato da vida espiritual, não desses citados, mas penso na Nicarágua e outros que, decididamene se preocupa com os outros, desde que os outros seja de sua família. É um modelo de sociedade que nos remete, se não formos muito rigorosos, à metade do século passado, mas que pode ser visto como a vitória do fascismo, aquele que é fruto dos miseráveis e da classe média criados pela guerra 1914-1919. Aquele período foi um tempo de escolhas, e muitos escolheram um mundo mais amigável, enquanto outros escolhiam o melhor momento para realizar o pior dos seus sonhos. Hoje desejam um mundo que seja assim dividido: “nós e o resto do mundo” como está dito em Choque de Civilizações, publicado em 1996, por Samuel Huntington. E Trumam deseja dar forma física à essa separação, no que tem sido seguido pelo seu seguidor argentino, aquele que se aconselha com o seu cachorro. Mas isso não é surpresa quando vemos que há um ditador que conversa com pássaro, que ele diz ser seu antecessor.
Talvez estejamos atravessando uma baixa maré, um recuo das ondas civilizatórias, e os profundos movimentos da história são de longa duração. Espero que seja um movimento de duração média, que esses acontecimentos sejam o que sãox, pois como vimos, cada geração tem seu tempo, sua maneira de organizar-se, embora não consiga se livrar daquilo que é construído pelas gerações anteriores e que forma o conteúdo do tempo e da sociedade que não apenas de um grupo geracional.
Severino Vicente da Silva, Biu Vicente.
Ouro Preto, em Olinda do Salvador do mundo, em 09 de fevereiro de 2025, celebração de Nossa Senhora da Assunção.
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