domingo, janeiro 07, 2024

A FRANÇA E A LUTA PELA LIBERDADE

Temas Contemporâneos 1 A FRANÇA E A LUTA PELA LIBERDADE É do conhecimento e crença de todos que a França é o farol da liberdade, exemplo para todos os povos, nesse caminhar para a ereção de uma sociedade mais justa, mais igual. A história, apesar do pessimismo dos conservadores e reacionários, tem caminhado em direção de um mundo menos desigual, mas isso não tem sido feito sem lutas, sem sofrimentos. Como diria Michelet: a história é um vampiro, alimenta-se de sangue humano. Um dos pilares construtores das desigualdades contemporâneas foi o sistema de produção que tomou a utilização da escravização de humanos, especialmente os africanos, entre os séculos XVI e XX. É comum, ao brasileiro, alimentar o “complexo de vira-lata” repetindo que o Brasil foi o último país a acabar com a escravidão, embora saiba-se que a Mauritânia só a aboliu em 1981. Sabemos, por outro lado, que metade de africanos escravizados entre 1500 e 1888, foram comercializados entre 1750 e 1860, período em que a Inglaterra controlava o mercado do algodão ( era o início da Revolução Industrial) após afastar a China e a Índia do comércio de têxteis. A grande produção de algodão acontecia em Santo Domingo até 1790. A Revolta dos escravos levou à criação do Estado do Haiti. A partir de 1871, foi o sul dos Estados Unidos que passou a dominar a produção de algodão, o que fez quadruplicar o número de escravos no Estados Unidos entre 1800 e 1860, utilizando a reprodução de escravos em suas fazendas. Entre 1780 e 1790 as ilhas francesas na América e na Ásia era a área de maior concentração de escravos do mundo ocidental: 700.000; os ingleses possuíam em suas possessões 600.000 e o Sul dos Estados Unidos tinham 500.000 seres humanos de origem africana escravizados. Como sabemos, a Declaração dos Direitos do Homem, na Revolução Francesa promoveu a liberdade de todos os homens e, a população descrava de Santo Domingo – 90% do total de habitantes – exigiu a liberdade, que foi conquistada em 1791 na primeira Revolução de Escravos, criando o Haiti. Mais tarde, Napoleão Bonaparte revogou a liberdade dos haitianos levando a uma nova Guerra de Independência, com a derrota do exército francês. A pressão sobre o Haiti continuou com um bloqueio econômico. A França só reconheceu a independência do Haiti em 1825. Os franceses mantiveram a escravidão na Martinica, Guadalupe e na Ilha da União, até 1848. A Independência do Haiti foi reconhecida sob pressão intensa da frota francesa que ameaçava mais uma invasão. O governo haitiano viu-se obrigado a aceitar indenizar os proprietários dos escravizados em 150 milhões de francos-ouro, quantia que equivalia a 300% da renda do Haiti em 1825, e deveria ser paga em 5 anos. A dívida foi paga (capital e juros). Entre 1840 e 1915, foram depositados, 5% da renda nacional do Haiti, na Caisse de Dépôt e Consignation, criada durante a Revolução Francesa. A partir de 1915, após a invasão dos EUA, que durou até 1934, a dívida do país passou a ser paga ao país invasor, e foi finalmente quitada em 1950. O preço que a França cobrou pela liberdade do Haiti significou a impossibilidade da sua autonomia econômica, a sua atual pobreza. Severino Vicente da Silva. Olinda, 7 de janeiro de 2024. Os dados citados podem ser encontrados em PIKETTI, Thomas. Uma breve história da igualdade. Rio de Janeiro: Intrínseca, 2022. WIKIPÉDIA.

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