domingo, novembro 05, 2023

Pensar a possibilidade de seer civilizado

Pensar a possibilidade de ser civilizado Prof. Severino Vicente Está a completar trinta dias a guerra na faixa de Gaza, entre o grupo terrorista Hamas e o Estado de Israel. O comportamento típico das guerras incivilizadas, (expressão terrível, essa) desnudam a pequena crosta de civilização que permeia as relações entre os seres humanos, esses que se se dizem sapiens sapiens. Acostumamo-nos com as ações violentas que, dizemos, eram praticadas antes que Cesare Baccaria nos ensinasse que as penas não devem ser maior que os delitos; a violência que os reis faziam aos povos usando a religião como álibi, começou a ser superada pelo temor que o Período do Terror gerou. Ao longo do século XIX. o mundo que o Iluminismo criou, parecia civilizar-se, embora isso tenha ocorrido com a colonização da África e da Ásia. Tranquilos entre o Estreito de Gibraltar e os Montes Urais, europeus entregavam-se a matanças nos continentes para alimentar os fornos e as máquinas de sua industrialização. Os mais sensíveis perceberam que a ‘civilização’ lhe enfastiava, alguns intelectuais expressão que estaria ocorrendo a Decadência do Ocidente, um Mal-estar da Civilização. Veio a Guerra, vieram a guerras, o banho de sangue tão bem-posto em memorável cena do Lawrence da Arábia, o militar e escritor inglês, T. E. Lawrence, após auxiliar a destruição do Império Otomano e criar as atuais Estados árabes. Desde então continuamos a viver um mundo em guerra, enquanto nos convencem que estamos em um grande período de paz. A Paz dos Cemitérios, dos Pântanos das diversas marcas de Cola, das viagens -são tantas as maneiras de viajar em veículos com vidros fechados com películas protetoras. Parece que não há guerras, exceto essa que está 24 horas por dia nos rádios e nos televisores, entre as campanhas publicitárias. Li hoje que Zelensky, até então o principal astro da “luta pela paz”, está a reclamar que ninguém mais lembra do que está acontecendo na Ucrânia. Mas a guerra de Zelensky, a do Hamas, do Estado de Israel, importam e estamos a acompanhá-las porque envolvem as economias industrializadas. As demais guerras, envolvendo quem não faz parte desse grupo não existem. Vivia eu meu décimo sétimo de vida quando a guerra entrou na sala de jantar. Até então a guerra era vista apenas no cinema e, até então os ‘bandidos’ eram os alemães. E o Vietnan, onde os franceses mataram tantas pessoas quanto na Argélia, começou a matar uma geração de estadunidenses, começa a fazer parte das refeições, como se Coca-Cola ou Pepsi-Cola fosse. Um escândalo pois o cinema começou a mostrar que os ‘mocinhos’ eram bandidos, também. Que grande sala de aula era o cinema que apresentava a guerra e as angústias que ela carrega. Aos poucos os sapiens sapiens foram voltando à sua condição de guerreiros e festeiros, e como a burguesia industrial do século XIX dedica-se a buscar essas bebidas espirituosas para continuarem a pensar que não há guerras. Parece que desistiu-se da ideia e do projeto civilizacional, que não deve ser confundido com os projetos que fracassaram, mas apontam que é possível viver sem guerras e sem esconder o mal-estar. Se os escondemos, não o superaremos. Ouro Preto, Olinda, 2023/11/05

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