quinta-feira, dezembro 21, 2023

Professora Christine Dabat

Caros Dom Helder dizia que conheceu alguns europeus nascidos na Rua da Aurora, e conhecera brasileiros que nasceram à beira do Rio Sena. Desde 1967 encontrei a Professora Doutora Chistine Dabat, uma brasileira nascida na França. Tornou-se professora concursada da Universidade Federal de Pernambuco, assumindo a disciplina de História Medieval, dedicada aos estudos de uma parte da “invenção” da Europa que veio, em parte para o Brasil com aqueles decididos a viver em espaços que havia conhecido recentemente, e criar novas Lusitânia, York, Inglaterra, Amsterdan, mas geraram novas culturas e sociedades, mesclando tradições e cargas genéticas, alguns, enquanto outros cuidaram de manter-se separados das novidades, como se não houvesse um Atlânticos separando-os das suas terras originárias, por isso viam as novas terras apenas como lugares para o enriquecimento rápido, com vistas a um retorno quase imediato para o lugar de onde saíram. Alguns desses vivem como uma sanfona, ou como diz um samba de Martinha da Vila: “não sei se vou, não sei se fico..” Christine não vive este drama: veio para ficar. Christine dedicou-se a estudar a história social e, como está no Nordeste do Brasil, na região que se constituiu com e no açúcar, com amargo sabor de exploração, de sofrimento, mas com a doçura do sonho, da esperança. Seus estudos nos ajudam a entender o que somos, como vivem parte dos brasileiros, esses brasileiros que não são vistos por outros que nasceram ao seu lado. Seus estudos sobre os moradores dos engenhos, não os das casas grandes, mas das casas de pau-a-pique, seguradas com o mesmo barro que alimenta o canavial, que se renova anualmente, mas são casas frágeis que não lhes pertencem, onde moram “de favor”, e que podem ser derrubadas facilmente, ao primeiro sinal de insatisfação. Enquanto Christine dedicava-se a estudar o mundo do trabalho dos cortadores de cana, eu brincava com ela que eu estudava esses mesmos homens e mulheres em seus momentos de lazer e criatividade, em suas brincadeiras, e a realização da crítica que está presente no Cavalo Marinho, no Maracatu Rural, críticas não percebidas pelos frequentadores dos alpendres das casas construídas vários metros acima dos corpos dos trabalhadores, uma arquitetura do poder. Christine tem os olhos de uma brasilidade, uma brasilidade não excludente, por isso é capaz de entender que há laços profundos entre os povos asiáticos e os brasileiros, uma relação que existe desde muito antes que os filhos da Europa encontrassem o caminho para as Índias; percebe que este passado está voltado a criar novas relações, como bem demonstra o Grupo de Estudos da Ásia, que tem aberto os olhos e as mentes de seus alunos para essa realidade que está sendo gerada enquanto estamos vivendo. A minha amiga Christine está a se aposentar, pelo que entendi, deixará as aulas dos cursos de graduação, mas continuará, enquanto lhe for possível, atividades na pós graduação e nos grupos de estudos sobre a Ásia. Agradeço os momentos que trabalhamos juntos em diversas comissões no curso de História, agradeço a sempre alegre acolhida em sua sala, agradeço a ela por ter-me auxiliado a compreender um pico mais o universo cultural em que viveram meus pais na Zona da Mata Norte de Pernambuco, agradeço-lhe ter-me feito gostar mais de meu povo. Desejo que o Curso de História da Universidade Federal de Pernambuco jamais deixe de estudar seu lugar, seu povo. Finalizo dizendo que, em meu nome, em nome de seus alunos e, creio, em nome de seus colegas, declaro, desde agora, Christine Paulette Yves Rufino Dabat, Professora Emérita da UFPE. Severino Vicente da Silva Professor associado da UFPE. Ouro Preto, Olinda, 21 de dezembro de 2023

sexta-feira, dezembro 15, 2023

Calendas de dezembro

São as calendas de dezembro, o mês que, avançou duas casinhas, abandonou a dezena, tornou-se dúzia, o mês do fim anunciador do Começo ou recomeço. Recomenda-se recomeçar, ou ao menos tentar novo rumo, novos caminhos. Desde o início do mês venho pensando em escrever algo sobre o aniversário da Declaração dos Direitos Humanos, uma bela carta de intenção para que se organize o caminho em direção da humanidade. É uma carta escrita sob a influência da evidência da malvadez humana. Ocorreu em um tempo de conviver com a surpresa dos campos de concentração na Alemanha, na Rússia, no Japão, nos Estados Unidos da América, no Sudeste e no Nordeste do Brasil. No primeiro instante, e nas décadas de quarenta e cinquenta, os campos utilizados pelos nazistas para eliminar ciganos, judeus, homossexuais, polacos, comunistas, católicos, protestantes ficaram mais famosos, foram registrados pelas lentes dos fotógrafos “para que ninguém viesse a negar” a barbárie que o General Eisenhower viu. Esperava, o general que tais registros fotográficos auxiliassem a memória dos povos e tais fatos de desumanidade não voltariam a ocorrer. E desde então não esquecemos, não devemos esquecer, que ocorreu o holocausto. Infelizmente, só tem sido considerado criminoso o que ocorreu com o povo judeu, e os demais grupos humanos foram jogados no silêncio da História, no esquecimento, na ignorância. Assim, foram escolhidos os alemães como responsáveis pelos campos de extermínio, e os judeus como sendo os exterminados. E então ocorreram julgamentos e caça aos que foram os principais responsáveis pela matança provocada pelo ódio a uma parte da humanidade. Mas quando se odeia uma parte, tudo que forma o inteiro é odiado. Quanto aos demais, receberam a ignorância consentida. O passar do tempo é que, vez por outra expõe a existência de outras barbaridades realizadas pelos humanos contra os humanos, mas tal novo conhecimento depende do movimento da história, dos interesses de alguma parte da humanidade. Foi assim que soubemos das atrocidades perpetradas pelos dirigentes da União das Repúblicas Soviéticas, morrer e como ocorreria tais mortes, se haveria a morte imediata ou se a morte viria de maneira lenta nos campos da Sibéria. A notícia chegou através uma acusação formal durante um congresso, ele veio a ser consolidado pela literatura de um sobrevivente desses Gulags. Mas não foram poucos os que desejaram ignorar, cultivar a ignorância desejada para si, a ignorância justificada. Stalin, como Hitler, tinha seus soldados voluntários e sedentos pelo poder. Um ditador não se mantém sem o apoio anônimo dos ignorantes dos fatos e daqueles que são ignorantes pelo desejo de sê-lo. Ainda não chegou nas escolas brasileiras a notícia de que durante as longas estiagens nordestinas foram criados campos que concentravam os migrantes, os retirantes em busca de pão. Muitos morreram nesses campos de concentração da miséria humana, uma parte que mata e outra que de fome morre. O século XX, como os anteriores estão carregados desses atos contra a humanidade. Durante a Segunda Guerra Mundial, aquela que gerou os campos de concentração nazistas, nas regiões onde os japoneses, recentes migrantes, estavam restaurando suas vidas, ocorreram campos de concentração para onde foram levados e tratados sem consideração por sua humanidade. Os estados de São Paulo e Pernambuco isolaram os japoneses que ali viviam. Os alemães também foram incomodados, e tratados como possíveis traidores da terra que os acolheu. Povos Transplantados, como nos explicou Darcy Ribeiro, formam comunidades à parte, onde mantém seus costumes de origem, recusando-se a envolver-se com aqueles que os aceitaram. Chegaram no Brasil com o sentimento do racismo científico que estava sendo gestado nas regiões que se industrializavam e geriam a produção do saber. E o saber produzido não reconhecia, não reconhece ainda, que não faz parte de seu grupo social, por isso “não são humanos”. A Declaração Universal dos Direitos Humanos, construída em 1948, marcada pelos escombros físicos e morais pela guerra que findara em 1945, pretende ser uma orientação para humanidade. Mas como alcançar esse objetivo se tem sido cultivada a ignorância sobre eles e, simultaneamente ocorra a celebração da miséria moral, leva milhares de cidadãos e cidadãs a optarem por dirigentes sem cultura, cultivadores de ódio aos seres humanos e ao planeta? Enquanto não assumirmos a Declaração Universal dos Direitos Humanos é de nossa responsabilidade, estaremos no caminho oposto à humanidade, como nos comprovam as guerras que, agora não têm mais pejo de criar campos de concentração à vista de todos, que os ignoram enquanto embebedam-se orgulhosamente de sua ignorância; Severino Vicente da Silva. Olinda 15 de dezembro de 2023. Este texto, entre outras influências, reconhece sua dívida a Peter Burke (Ignorância: uma história global) e Jesse Souza O( A guerra contra o Brasil).

domingo, dezembro 03, 2023

Dezembro e o sonho

Já vai longe o mês de novembro, é passado, recente, mas passado. O passado está sempre presente, assim não surpreende que mais da metade de dezembro é novembro. A guerra iniciada em outubro, tomou novembro, dominará dezembro e poderá continuar indefinitivamente, apesar dos esforços de Bibi, em “terminar o que começou”, como espera o presidente estadunidense, preocupado com a duração da guerra entre o grupo terrorista Hamas e o Estado de Israel que, sofrendo algum dos efeitos da Síndrome de Estocolmo, está cada vez mais parecido com um terrorista. Será possível que continuemos a esquecer a Guerra da Ucrânia, para desespero do palhaço que parece ter perdido o tablado? E o Iêmen? E o drama dos haitianos em Santo Domingo, onde os bispos católicos apontaram que o rosto de Cristo é o rostos nos negros, índios, brancos pobres e todos os desvalidos? E o que dizem os bispos sobre a Nicarágua, cada vez mais afundada no terror de uma revolução que era bonita no livro e que até virou livro de uma Pedagogia da Revolução? A era de Aquarius foi tão frustrante quanto ao balado Hare Krishna. Ainda bem que Henry Kissinger morreu quase obscuro e desconhecido das gerações da Nutella (nunca foram a uma favela), das ‘redes sociais ‘que não socializam. Novembro seguiu Outubro e vai ser seguido por Dezembro, o enunciador do permanente Ano Velho, vestido de novo. Esta semana sonhei que estava no Vaticano, assistindo uma reunião dos cardeais presidida pelo Papa. Eu devia estar no lugar de algum anjo, o que não surpreende, pois nunca estou no lugar que, pensam, me reservaram na vida. Assim assistia a reunião sem dela participar, pois para isso eu teria que ter a permissão de Nega Fulô, convidada para o céu. Vi quando um bispo – cardeais são bispos vestidos de vermelho – que parecia ter sido amigo de infância e juventude do papa, disse: Mas Antônio, você não me disse que era bispo. Ao que Antônio retrucou: Nem você, Francisco, disse-me que era papa. Os dois abraçaram-se choraram pelo reencontro. Os cardeais, ou outro, deviam estar chorando, mas eu não estava preocupado com eles. Francisco tomou aquele olhar sério que os pais costumavam ofertar aos filhos, e disse: pois Antônio, agora que você é bispo, lembre-se que deve ser um bispo para o mundo, como dizia Dom Hélder Câmara. E. lá do meu posto de observação, eu vis os cardeais levantarem-se e aclamarem o arcebispo de Olinda e Recife e do Mundo, a sua diocese. Não tenho a menor ideia do que este sonho signifique, ou se tem significado. Talvez vocês saibam. É muito estranha esta sensação de que alguns anos de sua vida você conviveu com um santo, uma pessoa que sabia ter defeitos e diariamente estava nos encantando com a simplicidade divina. Gosto muito do Dom e, neste mundo impessoal, convivo com jovens que nasceram no ano da da morte de Hélder, mas não sabem quem foi, o que ele fez. Nessa sociedade impessoal que está sendo gestado, por nós, os de setenta + e os de setenta - , é também uma sociedade que se desmemorializa. Sem memória, não há história, não há choro, não há alegria, não há amigos nem encontros pessoais, apenas mesa de negócios e janelas de oportunidades. Quem vive de oportunidades é apenas um consumido pelo seu consumo, não cria relações além da clientela. Boa Noite. 03/12/2023 Severino Vicente da Silva

domingo, novembro 19, 2023

Preconceitos

Fui educado, como todos os brasileiros que já viveram mais de que seis décadas, a aceitar e repetir que o Brasil era o país que não havia preconceitos. Passei parte de minha vida acreditando nessa afirmação, de maneira tal que, sendo prejudicado (prejulgado) a cada movimento realizado, não o percebia. Foram e são muitos os preconceitos que os seres humanos criaram para defender-se dos outros grupos sociais com os quais esbarravam e esbarram. Expressões simples, constantemente repetidas aos nosso ouvidos e que corríamos a replicar, sem pensar sobre elas. Éramos, somos, ensinados a não pensar. Os que escapavam e escapam das armadilhas, amorosas ou maldosas, logo recebiam algum rótulo, mais um dado para que fosse afastado. Entretanto começamos a descobrir e ver além das nuvens. Uma amiga dizia uma palavra que me forçou ao dicionário e algumas horas de meditação: desnublar. Descobrir conceitos escondidos na falas. Observei, mas não compreendi no início da minha adolescência, que os colegas mais ricos, parentes ou amigos dos diretores, jamais eram culpados por algum desastre ocorrido, a responsabilidade sempre cabia aos que não tinham padrinhos. Aliás esta é a frase “quem tem padrinho não morre pagão”. Alguns sociólogos começaram a mostrar que o “você sabe com quem está falando” era dita por pessoas sem razão mas com padrinho ou boa conta bancária. Durante a ditadura militar zombava-se, em uma anedota, de um militar que fazia tal pergunta juntando-a à patente, fazendo-o a ouvir: “sinto muito por você ter conseguido apenas ser um militar”. Mas havia outras manifestações de preconceitos e diminuição do outro, especialmente voltadas para as etnias. Aprendi, aprendemos, que o índio era preguiçoso, que era dissimulado. Hoje sabemos que a razão dessa “preguiça” era o trabalho mal pago, que a dissimulação era uma tentativa de ludibriar quem dele queria se aproveitar. Quanto aos negros que tudo ouviam calados, expressões as mais depreciadoras da sua humanidade e, se em algum momento reclamavam, logo ouviam dizer que devia “procurar o seu lugar”, que “esse povo é assim, a gente dá os pés e eles querem logo a mão”, e “esses negrinhos pensam que é gente”. Quanto aos pardos, eram ditos “desbotados”, “sarará”, e isso ouvíamos de todos os lados, pois que não eram índios, negros ou brancos, eram uma gente “sem eira nem beira” que nem sabe quem são seus avós. Ouvíamos tudo isso, e diziam-nos, que não havia preconceito no Brasil, que era tudo uma questão de “classe social” e que os não preguiçosos iriam subir na vida. Afinal de contas, na Carta de ABC que educou tantos brasileiros tem um verso decorado por gerações: "A preguiça é a chave da pobreza", definindo o pobre como preguiçoso; o que impediu a muitas gerações entender que a pobreza, a miséria, resulta da apropriação da riqueza produzida pelos pobres, pelos que não herdaram as terras nas quais seus avós trabalharam durante séculos, terras que foram tomadas dos indígenas originários. Ideias como essas é que tem provocado o preconceito em relação ao trabalho, atividade humana – pois trabalho é uma ação livre, realizada com um objetivo, o de assegurar a sobrevivência do indivíduo e da comunidade a que pertence. Contudo, a exploração que tem ocorrido ao longo de nossa história, tem sido de tal monta que ele é apontado como um castigo, o pagamento permanente de uma dívida impagável desde escreveram o capítulo 3 do livro do Gênesis. Esse mito fundador, impediu a nossa compreensão do valor do trabalho, de sua função humanizante, transformando aquece que trabalha em um animal, uma besta. Não é o trabalho que torna o homem uma besta que age sem sentido, realizando o projeto de outrem, mas é a apropriação, a negação da produção da ação dos homens, que gera e reforça os preconceitos que definem negativamente os seres humanos. Nesta semana que lembramos a permanente luta pela liberdade, inclusive a liberdade dos preconceitos que nos prendem ao passado e podem comprometer nosso futuro, nesta semana que dedicamos a cultivar nossa consciência negra, não nos esqueçamos que, o que sofreram nossos pais e sofremos nós ainda agora, que somos humanos e, temos que vencer todos os preconceitos. Pro. Severino Vicenre da Silva

quarta-feira, novembro 15, 2023

A República e o povo brasileiro

Vivenciamos neste dia o último feriado cívico do ano. Com o declínio das religiões como justificativa e organização das sociedades no espaço da dita Civilização Ocidental, cada Estado cuidou de aglutinar seus súditos em torno de alguns símbolos e heróis, personagens e expressões artísticas, capazes de os manter unidos. Criou-se a religião civil, com suas normas, suas leis, e até mesmo com alguns dogmas, certas CLÁUSULAS PÉTREAS que não podem ser removidas das constituições, as sagradas escrituras das religiões nacionais. Os Estados escolhem alguns dias do ano para celebrar e fortalecer os laços dos cidadãos, são feriados, que devem ser, como eram os dias santos das religiões, momentos para reflexão sobre as virtudes exigidas para a manutenção das nações que se uniram em um Estado. Não é incomum que essas datas sejam de louvação aos símbolos, com a Bandeira Nacional, reverenciada, no Brasil, no dia 19 de novembro. Tem o dia dedicado ao Exército, à Marinha, a Aeronáutica que, embora não sejam feriado são mencionados nos calendários e nos espaços específicos. Entre os brasileiros, o Dia do Exército é mais lembrado, pois é a parte das forças armadas formada por cidadãos provenientes das camadas mais populares e pobres, portanto, da maioria da população. Data muito festejada é a da Independência do Brasil do Brasil, no Sete de Setembro, convencionado para ser símbolo da unidade nacional, procurando superar as datas locais de outros movimentos que separaram parte do Brasil de seu antigo colonizador, o Reino de Portugal, como é o caso da Revolução de 1817 e da Confederação do Equador, lideradas por Pernambuco. a Revolução de 1817 e da Confederação do Equador, lideradas por Pernambuco. Se as elites pernambucanas cumprem rigorosamente o acordo para esquecer o Gervásio Pires, Frei Caneca e outros, a Bahia festeja gostosamente a sua tardia (1823) adesão ao Império brasileiro que se formou em torno da família Bragança e dos líderes paulistas. O 15 de novembro é feriado, um dia cívico, no qual os brasileiros devem, ou deveriam, celebrar que vivemos em um Estado que superou os governo pessoais e personalistas, pois que vivemos em uma República, uma sociedade voltada e dirigida para o bem-estar do público, por suposto. Mas esses feriados quase nunca são celebrados desse modo, normalmente são vistos como oportunidades de encontro de amigos para a dança, a bebida, a celebração da vida comum. Além dos feriados e dias de celebração nacional, há os feriados estaduais e municipais, quase sempre tratados de igual modo, pois as tradições são preservadas á medida que elas apresentem importância para a vida da comunidade. Se não há uma relação de afetividade, esses feriados serão momentos para fazer nada, ou fazer qualquer coisa que o cotidiano não permite fazer. Na manhã do 15 de novembro de 1889, o Marechal Deodoro da Fonseca, saiu de seu leito (estava adoentado), para acalmar a tropa que, alimentada pelo boato de sua prisão (o que não havia ocorrido) e, ouviu gritos de Viva a República. Houve apenas um tiro, o governo do Barão de Ouro Preto foi deposto. O Imperador tomou o trem em Petrópolis e desceu ao Rio de Janeiro disposto a formar um novo ministério. Soube que já não imperava e, em poucos dias, ele e sua família estavam expulsos do Brasil. No dizer de um dos articuladores do Golpe de 15 de Novembro, “o povo assistiu bestificado” o movimento da tropa. Depois cuidou de fazer sua república paralela, como vive até hoje, com alguns momentos de intersecções. Até os dias de hoje, o povo luta para deixar de bestializado. Como o Império e a República brasileiras. Prof. Severino Vicente da Silva

sábado, novembro 11, 2023

Dez de novembro em Olinda

• Olinda, 11 de novembro de 2023 Resolvi escrever um pouco sobre duas ações realizadas pelo Instituto Histórico de Olinda com o objetivo de fazer com que todos acompanhem nossos movimentos como instituição comprometida com a manutenção de nossa memória, nossa cultura, o que significa dizer com a nossa manutenção como cidade, mais especificamente, Cidade Patrimônio da Cultura da Humanidade, conforme reconhecimento da Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura – UNESCO, criado em 1972 e recebido por Olinda em 1982. Mas se o título conferido pela UNESCO reconhece a obra arquitetônica, urbanista e natural da cidade iniciada pela ação de Duarte Coelho, tais obras do patrimônio físico veem acompanhadas de ideias, sonhos, realizações não materiais que, ao longo de três séculos mantiveram as característica básicas de um processo civilizacional. Uma dessas ideias e projetos é a República que, ao longo da invenção de civilização vem sendo buscada e cultivada em diferentes momentos históricos. Um desses, ocorreu a 10 de novembro de 1710, quando a insatisfação da aristocracia do açúcar que dominava Olinda veio à tona por conta da decisão da coroa portuguesa de elevar a povoação do Recife à categoria de Vila independente de Olinda. Então, o Senado da Câmara de Olinda, em reunião na data acima mencionada, ouviu que alguns de seu membros pretendiam dispensar o rei, tornar-se um governo separado de Portugal. Essa apreciação foi apresentada por nosso confrade o Prof. Doutor George Cabral, em sua alocução no Mercado da Ribeira, próximo às ruínas do Senado da Câmara, onde reuniram-se alguns associados do IHO, Secretários da Cidade de Olinda. Uma pequena cerimônia para nos alertar que sem o cultivo de nossa herança imaterial, pouco sentido têm os prédios, os espaços; é que são as memórias, as tradições cultivadas que sustentam as cidades a humanidade. À tarde, o Instituto Histórico de Olinda recebeu a palestra de clausura, professores e estudantes da Universidade Federal de Pernambuco para ouvir palestra do Professor Eduardo França Paiva da Universidade Federal de Minas Gerais E foi dessa maneira que celebramos a memória do Primeiro Grito de República da história da América. Lembramos que no primeiro domingo de Dezembro, teremos nossa reunião mensal. Severino Vicente da Silva, presidente do IHO

domingo, novembro 05, 2023

Pensar a possibilidade de seer civilizado

Pensar a possibilidade de ser civilizado Prof. Severino Vicente Está a completar trinta dias a guerra na faixa de Gaza, entre o grupo terrorista Hamas e o Estado de Israel. O comportamento típico das guerras incivilizadas, (expressão terrível, essa) desnudam a pequena crosta de civilização que permeia as relações entre os seres humanos, esses que se se dizem sapiens sapiens. Acostumamo-nos com as ações violentas que, dizemos, eram praticadas antes que Cesare Baccaria nos ensinasse que as penas não devem ser maior que os delitos; a violência que os reis faziam aos povos usando a religião como álibi, começou a ser superada pelo temor que o Período do Terror gerou. Ao longo do século XIX. o mundo que o Iluminismo criou, parecia civilizar-se, embora isso tenha ocorrido com a colonização da África e da Ásia. Tranquilos entre o Estreito de Gibraltar e os Montes Urais, europeus entregavam-se a matanças nos continentes para alimentar os fornos e as máquinas de sua industrialização. Os mais sensíveis perceberam que a ‘civilização’ lhe enfastiava, alguns intelectuais expressão que estaria ocorrendo a Decadência do Ocidente, um Mal-estar da Civilização. Veio a Guerra, vieram a guerras, o banho de sangue tão bem-posto em memorável cena do Lawrence da Arábia, o militar e escritor inglês, T. E. Lawrence, após auxiliar a destruição do Império Otomano e criar as atuais Estados árabes. Desde então continuamos a viver um mundo em guerra, enquanto nos convencem que estamos em um grande período de paz. A Paz dos Cemitérios, dos Pântanos das diversas marcas de Cola, das viagens -são tantas as maneiras de viajar em veículos com vidros fechados com películas protetoras. Parece que não há guerras, exceto essa que está 24 horas por dia nos rádios e nos televisores, entre as campanhas publicitárias. Li hoje que Zelensky, até então o principal astro da “luta pela paz”, está a reclamar que ninguém mais lembra do que está acontecendo na Ucrânia. Mas a guerra de Zelensky, a do Hamas, do Estado de Israel, importam e estamos a acompanhá-las porque envolvem as economias industrializadas. As demais guerras, envolvendo quem não faz parte desse grupo não existem. Vivia eu meu décimo sétimo de vida quando a guerra entrou na sala de jantar. Até então a guerra era vista apenas no cinema e, até então os ‘bandidos’ eram os alemães. E o Vietnan, onde os franceses mataram tantas pessoas quanto na Argélia, começou a matar uma geração de estadunidenses, começa a fazer parte das refeições, como se Coca-Cola ou Pepsi-Cola fosse. Um escândalo pois o cinema começou a mostrar que os ‘mocinhos’ eram bandidos, também. Que grande sala de aula era o cinema que apresentava a guerra e as angústias que ela carrega. Aos poucos os sapiens sapiens foram voltando à sua condição de guerreiros e festeiros, e como a burguesia industrial do século XIX dedica-se a buscar essas bebidas espirituosas para continuarem a pensar que não há guerras. Parece que desistiu-se da ideia e do projeto civilizacional, que não deve ser confundido com os projetos que fracassaram, mas apontam que é possível viver sem guerras e sem esconder o mal-estar. Se os escondemos, não o superaremos. Ouro Preto, Olinda, 2023/11/05

quarta-feira, outubro 11, 2023

Parte do processo civilizador

Essas coisas da História da humanidade Prof. Severino Vicente da Silva (Biu Vicente) Ouvimos histórias, lemos histórias, contamos história, estudamos histórias, história dos homens e das mulheres, a história da humanidade. Nem sempre prestamos atenção ao que nos dizem essas histórias, essas letras, símbolos que nos deixaram os antigos para que as decifrássemos; não as notamos envoltas em sangue e as seguimos contando sem nos apercebermos que as histórias dos humanos sempre foi sanguinolenta. Rios de sangue seguem os conquistadores A história ocorre em constante parto, e no parto há sempre uma quantidade de sangue derramado. São dores de parto, essa nossa história. Esquecemos deste detalhe quando manuseamos um livro de história e encontramos que Ciro dominou a Pérsia; que Hamurabi fez um belo Código de normas para controlar o comportamento dos seus súditos que, segundo ele, dominava os quatro cantos da terra. Mas seu império caiu diante Sargão, o assírio que teve seu reino tomado pelos Medos de Ciáxeres. Sabemos que os gregos derrotaram os troianos e temos, bem claro em nossa memória comum, que um cavalo foi dado e recebido como presente. Sabemos da bravura dos povos do Oriente que não se curvaram ao poder de Alexandre da Macedônia, aquele que pôs fim à rivalidade entre espartamos e atenienses, conquistando-os. E quem é capaz de esquecer que César atravessou o Rubicão após derrotar gauleses Poderíamos continuar contando os sucessos dos generais e dos império e, nem imaginamos o sangue vertido, o sofrimento sentido. Foram séculos de guerra permanente na formação dos povos que chamamos ocidentais e, sabemos que também rios de sangue foram base dos sucesso dos reis do povos orientais, chineses, mongóis, japoneses e outros tantos. A humanidade vive em dores de parto, teria escrito Paulo de Tarso; a história é um vampiro, alimenta-se de sangue humano, escreveu Michelet. A guerra e tudo que lhe acompanha: o medo, o terror, a fome, a tortura, o abandono, a morte, foi o comum na existência da humanidade que, em todos os continentes e culturas sempre procurou alternativas ou justificativas para esse comportamento dos animais que se disseram sapiens. Se a descoberta da metodologia de fazer o fogo a qualquer momento foi crucial no processo de ampliar o espaço para a caça com os outros animais, com a agricultura, em seguida, veio o disputa com outros grupos de homo sapiens e, temos a invenção da guerra. Da busca por terra e seu controle, tudo veio a ser permitido. Aqui e acolá algumas normas foram sendo elaboradas para garantir a sobrevivência do grupo, de tal forma que ele fosse capaz de enfrentar outros grupos. Hamurabi, Gilgamesh, Moisés, Ciro, Dracon, Solon, Confúcio e outros estabeleceram normas de conduta. Mas a absorção de tais normas eram em sua maioria voltada para garantir a a coesão e sobrevivência de cada grupo, comunidade, tribo, etc. As guerras eram impiedosas, assim como os castigos aplicados aos que feriam as normas. As penas sempre foram maiores que os crimes cometidos. É com Cesare Beccaria (17h38-1794) que tem início um processo mais comedido na aplicação das sentenças, com os homens criando as suas leis e, não apenas seguindo as “leis que foram ditadas por alguma divindade”. Quanto ao comportamento nas guerras, as gravuras que noticiam a Guerra dos Trinta Anos, na Europa seiscentista, dão mostra de que os soldados, que trabalhavam por saque, agrediam a todos indistintamente, sem controle. As chamadas ‘árvores dos enforcados’ são a demonstração da ação dos reis em busca de controlar seus soldados. Mas isso foi sendo conseguido aos poucos, com a criação dos exércitos nacionais, o que diminuiu em muito a violência contra os civis. A violência dos homens armados contra grupos humanos sem armas ou com armas de menor efeito, levou ao massacre e genocídio dos povos e nações do dito Novo Mundo, de nações asiáticas e africanas entre os séculos XVI e XX, período que Norbert Elias diz ter havido, na Europa Ocidental, um Processo Civilizatório, um processo de contenção, de controle social, de modo a permitir a sobrevivência social. Esse controle da violência, que garante a vida em sociedade, nem sempre tem sido apreciada pelos críticos da ‘civilização ocidental’, uma vez que a sua civilidade parece ser favorável apenas aos, povos ocidentais. Mas foi ainda no século XIX que ocorreu a Primeira convenção de Genebra (agosto de 1864) para debater o comportamento dos exércitos no cuidado com feridos, definir a proteção à população civil, além da criação da Cruz Vermelha. Outros Tratados, no total de quatro) realizados em Genebra ampliaram a legislação e proteção dos combatentes e não combatentes. A reunião de Haia (1899) com a participação do brasileiro Rui Barbosa; a reunião de Genebra (1914) com a participação de Epitácio Pessoa, e em 1949, com a participação de Osvaldo Aranha, são parte desse processo civilizador que pretende minorar os efeitos colaterais da guerra. Mas a realidade anda mais rápido que os legisladores e a absorção dos ideais que nascem da criação de utopias. Esses tratados são respeitados pelos 196 países signatários, aqueles que não assinaram não sente a obrigação de o fazer. Alguns preferem a barbárie, pois a civilização estabelece limites que impedem o comportamento puramente animal e aponta para a convivência com os que pensam diferente. Ouro Preto, Olinda. 11/10/2023

quarta-feira, abril 12, 2023

A Páscoa e os cativeiros a serem vencidos

A PÁSCOA E OS CATIVEIROS A SEREM VENCIDOS Prof. Severino Vicente da Silva Semana da Páscoa deste ano põe em celebração conjunta os judeus, que reverenciam a ação mosaica em liderar seu povo a sair do cativeiro faraônico; a celebração cristã da ressureição de Jesus Cristo após sua paixão e morte, com as celebrações do povo cigano, amante da liberdade e cultuador de Jesus Cristo, em constante movimento por ser rejeitado por muitos povos que se autointitulam cristãos. Os cristãos, semelhantemente a Jesus, são sempre rejeitados por que Jesus sempre foi visto entre os menores e sem poderes da terra. A vida de Jesus é alegre, dispersadora de bondade, ocupado em cuidar dos pobres sem recusar o convite dos ricos para visitas. Quando vai a casa dos ricos opulentos e esbanjadores de riquezas que não lhes vem de seu trabalho direto, sempre os recorda que o verdadeiro tesouro é a vida. Este ano a Semana da Páscoa veio acompanhada da notícia de um massacre de crianças em uma creche no Rio Grande do Sul. O velho mundo de Herodes tentado evitar o crescimento do novo, esse apego à morte que, nos últimos tempos tem, em terras brasileiras, tem atacado escolas. Uma notícia pouco difundida é que a professora que foi ferida ao defender as crianças sob seus cuidados, morreu alguns dias após. Essa notícia nos faz lembrar que “prova de aor maior não há que doar a vida pelo irmão”. Essa é a Páscoa cristã. Estamos a caminho de novas mudanças de paradigmas em nossas convivências, agora que nos alcança o que nós criamos: a Inteligência Artificial. Eis que nos encontra ainda, infelizmente, em fase de uma Ignorância Natural. Teremos que nos relacionar com as máquinas, cada vez mais, elas cada vez mais capazes de realizar ações das quais estávamos cansado de fazer. As máquinas, as criamos para que nos servissem, para que nos sobrasse tempo necessário para o aprimoramento dos espíritos. Talvez sonhássemos como os filósofos mais antigos que, defendiam a liberdade carregados por escravos; pois alguém cuidava de suas roupas, de suas comidas, de seus afazeres enquanto, no ócio obsequioso, as poesias jorravam e as explicações eram dadas. Contudo, a maior parte de nós cuidou de usar o tempo, não para aprimorar o espírito, mas para cuidar da vaidade, da ganância, do falar mal, de pensar como prejudicar o outro em benefício próprio. Máquinas foram criadas, diminuíram as distâncias, puderam aproximar as pessoas, ajudaram a produção de alimentos de tal forma que, desde o final do século XIX, a fome poderia ter sido extinta e nenhum ser humano deveria morrer por falta de alimentos. Entretanto, a fome grassa enquanto poucos carregam para si o que falta para muitos. Teria isso acontecido por termos ficado parecidos com as máquinas que agiam a partir de nossa vontade? E será que o medo que vemos crescer, o medo da Inteligência Artificial, é elas nos repliquem? Ou será que tememos que elas possam desenvolver a bondade que falta aos muito guardam o excesso e sorriem diante da morte dos humanos e do planeta? Uma grande crítica que se faz ao Papa Pio XII é que ele desenvolveu, praticou, uma diplomacia bastante afável ao ditador Adolfo Hitler; seria a mesma que o querido Papa Francisco está aplicando ao ditador da Nicarágua?

sexta-feira, março 31, 2023

QUE VEIO COM MARÇO Prof. Severino Vicente da Silva Último dia de março de 2023, término de uma expectativa a respeito de um passado que parece jamais ser passado, o 31 de março de 1964 e madrugada do 1º de abril, quando os militares mais uma vez, à serviço dos interesses de uma pequena parte da população brasileira e de interesses de grupos de fora do país, deram início à uma ditadura que durou até 1985. Entretanto, derrotada pelo movimento que levou à anistia de presos políticos e pelas eleições diretas em todos os níveis, essa ditadura, continuadora de outras que vieram antes, parece ser invencível. A política de Conciliação que tem marcado a história do Brasil, evitou revoluções e, os mesmos grupos continuam a se suceder no poder, estabelecendo os caminhos que a nação brasileira tem trilhado desde que deixou de ser portuguesa. Os que sucederam Dom João e Dom Pedro I encontraram meios de mudarem sem permitir que as mudanças ocorressem ou ocorram. Cada época os grande proprietários de terra encontram o seu Bernardo Vasconcelos, esse “grande político” que se dispõe a “fazer a revolução antes que o povo a faça”, o que vem acontecendo desde a “maioridade de Pedro II”. Por esse caminho trilharam Prudente de Moraes, Getúlio Vargas, Castelo Branco (na ausência de um civil), Collor de Mello, o falso civil Bolsonaro e agora Artur Lira. Talvez eu esteja exagerando, mas vivemos em tempos de absurdos, mas a união de Lira, Bolsonaro e Campos IV me põe a ter pesadelos. Mas sempre tem aparecido algo que não estava nos planos, como um leve pneumonia. E Lira e está sendo obrigado a tocar outra música e o candidato a ditador percebeu que pode ir para a prisão, como seu amado Trump que está cada vez mais próximo de uma condenação por pagar mal os serviços de uma atriz pornô. Às vezes os grandes bandidos são condenados por pequenos delitos, assim como Al Capone não foi condenado pelas mortes que fez e mandou fazer, mas por mentir ao Imposto de Renda. As elites econômica, latifundiária e financeira que governa o Brasil sempre encontram meios para agraciar os frequentadores dos alpendres de suas residências, o que antigamente chamava-se “clientes”, sempre convidados para servirem de moldura para o retrato “atual”. Para calar alguns clientes insatisfeitos com os caminhos tomados pela ditadura do Estado Novo, Getúlio definiu que portador de diploma de curso universitário teria direito a cela especial, como eram poucos os portadores de diplomas, e todos relacionados, de alguma maneira, com as famílias de poder, essa “regalia”, algo que dado por algum rei, se manteve ao longo do século XX, quando poucos brasileiros entendiam que havia Direitos Humanos e que a Constituição define que todos os cidadãos são iguais perante a lei. Agora, com o fracasso da tentativa de retomar, com feições piores, a ditadura de 1964, finalmente o STF pôs fim a esta excrecência, a este excremento ditatorial. Foi a luta contra a Ditadura que levou os brasileiros a tomar consciência da Declaração Universal dos Direitos Humanos, e o paladino primeiro desse caminho foi o então Arcebispo de Olinda e Recife, Dom Hélder Câmara, com o movimento Pressão Moral Libertadora e o seu sucedâneo, Justiça e Paz, nos anos iniciais do período mais terrível do poder militar aliado a civis, os anos de 1968 e 1969. A “elite” brasileira sempre resolveu os impasses que viveu com a violência. Ela se fez pela violência sistemática contra os povos que habitaram primeiramente o Brasil, e quando digo isso não me refiro ao massacre que os portugueses realizaram entre 1500 e 1810. Precisamos estudar ainda como ocorreu a ocupação do Rio Grande do Sul, Mato Grosso, Santa Catarina, Acre, depois de 1822. A matança dos indígenas brasileiros não pode ser creditada apenas ao período português na América, os brasileiros fizeram sua parte neste genocídio. Uma leitura na revista O Cruzeiro, especialmente nos anos cinquenta nos lembraria algumas barbaridades próximas. A violência é a marca da conquista do Pantanal. Aliás era cantada nos carnavais: “lá no bananal mulher de branco, levou Prá índio colar esquisito...” , a violência que continua sendo aplicada a todos que não se adequam ao modelo vigente, seja o modelo dominante, seja o subsidiário, que parece contrapor-se, mas que como se dizia no império: nada mais parecido com o conservador como um liberal no poder. Hoje é o Dia do Livro Infantil, aquele escrito para que as crianças, com seus cérebros em crescimento recebam informações sobre o mundo; o livro, além de ter um perfume característico, desenvolve o tato, o prazer de tocar, senti-lo áspero e suave enquanto atiça a imaginação, levando a criança, depois o adolescente, a imaginar coisas que o autor imaginou, mas o leitor sempre põe mais uma cor na imaginação, uma curva no caminho. É na infância e adolescência que o cérebro cresce, guarda informações que nos chegam pelos sentidos. Neste mês de março soubemos que pessoas e instituições que criaram, usam e ensinam a usar a Inteligência Artificial, mostraram-se preocupados com a evolução dessa AI e o risco que a sociedade humana está vivendo. Desde o final do século XX que a arte mostrava a possibilidade de as máquinas tomarem decisões pelos humanos que as criaram e, mesmo contra os seus criadores. 2001, uma Odisseia no espaço e O Exterminador do Futuro são exemplos desses alertas que agora nos vem de cientistas e mesmo dos chefes das grandes empresas, com Google e Twiter. Eles sabem que um bom número de pessoas dessas novas gerações cresceram sem os desafios que a leitura de um livro traz, pessoas que já encontram tudo pronto e que vivem ao toque do teclado. A nossa cultura humana criou a crença em uma possibilidade de viver sem dor, sem esforço e que já não precisa nada além de uma máquina que faça o que ela deseja. Agora já temos máquinas que são capazes de dizer aos humanos o que eles devem desejar e, como a maioria da população humana do planeta tem sido educada para crer em tudo que vem da máquina, percebem que as máquinas podem, sim, dominar os humanos. Os guindastes foram benvindos, passaram a fazer o trabalho dos estivadores, e os engenheiros sorriam pois não precisariam cuidar de tantas pessoas. Os estivadores foram desempregados, tornaram-se inúteis. Agora as máquinas estão começando a fazer os trabalhos dos engenheiros, que ficaram preocupados e não mais sorriem, pedem que se dê uma pausa na programação, nos estudos, no aperfeiçoamento da Inteligência Artificial. Talvez tenham percebido tarde que a evolução não se está dando mais no homem, e sim nas máquinas. O ser humano evoluiu para as máquinas que fazem café, que movimentam a produção de uma fábrica. Os engenheiros inventaram máquinas que dispensaram o homem e a mulher, tiraram dos homens e das mulheres aquilo que as faz humanas: o trabalho. Trabalho é uma ação com objetivo e, também uma ação que gera novos objetivos. Mas só percebe os novos objetivos quem educou o cérebro para pensar, e essa seria a evolução humana; contudo, os engenheiros resolveram que os cérebros deveriam ser treinados para fazer ações que completassem as atividades das máquinas. Aos poucos os humanos forma perdendo a capacidade de pensar, e de sentir, e de ter compaixão, e de sofrer com o outro humano. Agora a principal ocupação dos homens é cuidar de algumas máquinas para que elas não apresentem defeitos. A grande preocupação não é mais entender o paciente, mas verificar o que a máquina disse a respeito do sangue que foi levado a máquina. Lembro de um livro, lá nos anos oitenta do século passado, que instava que os médicos dedicassem “cinco minutos” aos seus pacientes. Mas se as máquinas são capazes de oferecer o diagnóstico, para que os médicos? Não sem razão aos poucos tiraram da formação do médico a reflexão ética e moral, afinal essas coisas só se aplicam aos humanos e, preocupar-se com isso pode impedir a lucratividade da atividade médica que deixou de ser a cura, mas a organização do grande placebo que é o consultório cheio de máquinas. Afinal é necessário cuidar da saúde financeira. Quanto ao economistas, lembro de um que estabeleceu um pequeno apiário; quando recolheu os primeiros litros, mostrou aos amigos e um deles perguntou: trouxe para nos presentear? E ele respondeu: ninguém dar aquilo que vende. No decorrer da conversa, um professor disse que estava com livro novo sobre suas pesquisas, seus novos conhecimentos e, com naturalidade, o economista disse, “não esqueça de trazer o meu, terei prazer de ler o presente que você me dará.” O professor continuará “dando aulas” e livros, desde que não conteste as orientações dos engenheiros, médicos, economistas que estão sendo substituídos pelas máquinas e, pedem: diminuam o ritmo das pesquisas, pois nos perdemos. Já faz algum tempo que as escolas estão sendo atacadas, estudantes mortos enquanto recebem a possibilidade do conhecimento, professores são mortos em plena atividade de ensinar, e morrem enquanto procuram meios para educar os cérebros e os sentimentos daqueles que chegam até a sua sala de trabalho. A grande sociedade não quer conversar sobre esses acontecimentos que mostram os primeiros resultados de uma sociedade que parou de evoluir moralmente, amorosamente. Debater tal assunto por mais que cinco minutos usando as máquinas que comandam os horários das famílias, que decidem que os programas mais cerebrais devem ser apresentados após as 23 horas, pois os operadores das máquinas já foram dormir, após terem sido imbecilizados enquanto estavam acordados ou em movimento. Os operários precisam descansar um pouco para sentirem as máquinas quando estiverem operando-as. A boa administração da sociedade ensina que não se deve distrair os operadores de máquinas com assuntos que possam trazer ansiedades humanas; isso diminuirá a sua taxa de produtividade. Aliás essa palavra está cada vez mais usada nos espaços dedicados à formação dos cérebros que já estão formados, os cérebros dos universitários. Para crescer saudáveis os cérebros carecem de receber carinhos e os grandes “inimigos” das máquinas são aqueles criadores, transmissores de carinho e conhecimento. Com tempo, assim como os cachorros aprenderam a amar, as máquinas poderão vir a ser grandes amantes. E então, vitória total: não teremos mais professores, pois o antropoceno terá sido ultrapassado.

sábado, março 04, 2023

EM DEFESA DO POVO BRASLEIRO NOS CASOS DAS UVAS GAÚCHAS E DO AÇÚCAR PERNAMBUCANO

EM DEFESA DO POVO BRASILEIRO NOS CASOS AS UVAS GAÚCHAS E DO AÇÚCAR PERNAMBUCANO. Prof. Severino Vicente da Silva ORCID 000000189111409 Viver , parecer ser surpreender-se cotidianamente com as manifestações da vida e os desejos da morte, essas pulsões básicas que S. Freud nos desvendou. Saber dessas forças antagônicas que carregamos, nos auxilia a compreender alguns comportamentos, algumas tendências que vemos ao nosso redor e, às vezes, dentro de nossa própria alma. Seja de nossa alma individual, seja a coletiva que, aparece de múltiplas formas em nossas fidelidades a esse ou àquele grupo. Não poucas vezes vivenciamos esse antagonismo pois que pertencemos a muitos grupos simultaneamente. Pertencemos a um grupo nacional e, nele sentimos o quanto alguns dos nossos sócios nos temem e, por isso, procuram nos diminuir, destruir o que construímos. Nesta semana tivemos o caso de um vereador de uma cidade do Rio Grande do Sul, talvez descendente de algum europeu que chegou aqui no Brasil após 1870, puxando uma corda pensando que ele ainda possuía uma cachorro. É que lhe haviam tomado tudo, menos a imbecil ideia de que havia um “fardo do homem branco”, como dito pelo poeta Rudyard Kipling, condenado a distribuir civilização e ganhar ódio por isso. É que a civilização que levavam a quem não desejava, estava carregada de cobiça e ódio. A cobiça destruía a riqueza dos lugares aonde chegaram e o ódio fez aforar a mais funesta forma de destruição humana: o racismo, a negação da humanidade do outro, como cultura. Arraigado aos modos de pensar dos séculos anteriores, quando os europeus, em busca de riquezas espalharam a morte nas terras e nos mares nunca antes conhecidos, aquele vereador da cidade de Caxias do Sul, quis justificar a prática da utilização do trabalho escravo nos vinhedos do Sul Maravilha, acusando-nos, “os de lá cima” de sermos um povo que gosta de festa, praia e tambor. Sim, nós gostamos disso, pois amamos a vida e sua pulsão, mas não fazemos apenas isso, como os trisavós do vereador constaram ao chegar nesta terra e foram ajudados a nela se fixarem e viverem. Fizeram isso, mas não se despiram dos conceitos tendentes à morte. Como seus antepassados tinham escravos, viviam em uma sociedade escravocrata, fortaleceram, quem sabe, as más lições que aprenderam do outro do Oceano, pois foi a escravidão, como método, um dos principais fatores da riqueza europeia. Este mesmo vereador, ao ver-se interpelado pela sociedade por conta da sua defesa da escravidão e do preconceito contra o Brasil e os brasileiros, veio pedir desculpas e chorar lágrimas de crocodilo, mas não pediu desculpa quando, algumas semanas passadas, acusou os Ianomami de preguiçosos e responsáveis pela morte das suas crianças, pois defendia os garimpeiros que destruíam a fauna e flora dos rios e da floresta. Como não foi pressionado ao atacar os indígenas, senhores primeiros dessa terra brasileira, sentiu-se à vontade para atacar os brasileiros, especialmente os do Norte e Nordeste. Seu racismo, o seu ódio ao Brasil é visceral, estrutural. Ele é incapaz de ser um humano, pois nem soube seguir a orientação de seu advogado que o mandou chorar, ao contar a vergonha que alcançou toda a sua família. Quem odeia não chora. Mas esse ódio ao brasileiro não exclusividade de parte da população do sul do Brasil, esse ódio ao que o povo pobre cria, apesar de todo o sofrimento e exploração a que tem sido submetido desde que os europeu trouxeram a cana de açúcar e iniciaram o processo de escravização dos indígenas e dos africanos. Sempre lembro que um famoso e amado escritor ficou estupefato com a beleza de cores e movimentos dos caboclos de Tracunhaém surgindo em uma pequena elevação. Na Ocasião disse que era incompreensível que, após tantos anos de exploração, o povo ainda criasse tanta beleza. Ele poderia ter dito: após termos explorado esse povo durante quinhentos anos, como é possível ele ainda está com tanta vida, com tanta criatividade. Pois bem, Valéria Vicente revela em um de seus livros, que famoso colunista social acusava os caboclos do Maracatu Rural de levarem o cheiro de urina e mal gosto de suas fantasias para o carnaval do Recife. Dez anos depois, de muitas lutas e demonstrações de vitalidade, o mesmo cronista, no mesmo jornal, saudava os Maracatus que chegavam da Zona da Mata, especialmente de Nazaré da Mata, pois que traziam com os seu chocalhos, com seu vestuário colorido e alegre, um novo vigor ao carnaval da capital. O povo, os caboclos da Mata Norte, venceu o preconceito do cronista da elite conservadora de Pernambuco. E o que temos hoje em Nazaré da Mata, município que desse sua manutenção à cultura imaginada e criada pela dança dos caboclos que afirmam sua presença desde que seus antepassados, em guerra, perderam suas terras para um povo que, em diversas ocasiões, não cumpria o que havia sido acordado. Os Caboclos de Lança fizeram renascer o município de Nazaré da Mata e muitos outros da região, por isso o governo estadual cedeu terra para um monumento ao Caboclo de Lança, reconhecido como símbolo nacional na capital da Inglaterra, anunciando as Olimpíadas a serem realizadas no Brasil; um artista criou belos caboclos gigantes que foram cobertos de azulejos pela mulheres da Associação das Mulheres de Nazaré da Mata. Um espaço para os Maracatus, para os caboclos que são os cortadores de cana, os criadores das duas principais riquezas do município e da região. Mas a elite local, ignorante e pouco versada na história do seu país, ou mesmo envergonhada do povo que a alimenta, fez eleger um prefeito que, durante o carnaval, mandou avisar por de seus secretários – terá sido o da cultura? – que o monumento aos caboclos, ao maracatu, aos trabalhadores rurais será destruído para construir um “parque de eventos”. Talvez ele esteja pensando trazer, para o “seu parque de eventos”, algumas atrações que são exatamente isso: É VENTOS. Ao caso do racista do Rio Grande do Sul, cabe processos jurídicos. Que ele seja punido no rigor da lei para aprender a ser gente e não envergonhar seus pais, e seu país. No caso de Nazaré da Mata, devemos pedir a intervenção do Secretário de Cultura do Estado que defenda o patrimônio cultural da região. Talvez o secretário de Educação possa ser chamado para que o prefeito e seu secretariado assista algumas aulas (debates) de história da região e do Estado, mesmo sabendo que cimento duro não absorve água. Bibliografia VICENTE, Ana Valéria. Maracatu Rural: o espetáculo como espaço social. Recife: Associação Reviva, 2006. https://ensinarhistoria.com.br/o-fardo-do-homem-branco-exaltacao-do-imperialismo/

terça-feira, fevereiro 28, 2023

UMA VIAGEM PARA VER O PASSADO NO PRESENTE.

UMA VIAGEM PARA VER O PASSADO NO PRESENTE. Prof. Severino Vicente da Silva, Professor Associado UFPE; sócio correspondente do IHAGGO, sócio da CEHILA, sócio do IHO. Após as delícias do carnaval, este mês terminou com uma experiência desejada, faz tempo: conhecer alguns engenhos da antiga Capitania de Itamaracá no município de Goiana. Quando conversamos sobre o Goiana, quase sempre nos voltamos ao seu passado e, mais explicitamente, sobre os seus aspectos externos, o material artístico, arquitetônico construído na parte central da cidade, os lugares para onde se dirigiam os que iam cultuar a sua religião, seus santos e seu Deus. Esses lugares importantes testemunhas da longa, e ainda curta, história dos brasileiros, refletem a riqueza que era produzida nos canaviais e engenhos desde o tempo que os portugueses tomaram para si as terras dos tabajara, dos caeté tantos outros povos que viviam na região. Mas ainda hoje esses canaviais são importantes fonte de riqueza para a município. Sempre quis saber onde estão, com estão, qual o segredo que hoje escondem esses canaviais que vemos da janelas dos ônibus ou dos automóveis particulares, ao cruzarmos essa BR 101. O que há além dessa paisagem? O Instituto Histórico Arqueológico Geográfico de Goiana – IHAGGO, promoveu a realização desse desejo. No dia 25 de fevereiro, saímos em 20 pessoas para conhecer três engenhos: Miranda, Itapirema do Meio e Itapirema de Cima. Miranda é um engenho está localizado próximo à rodovia PE &@, na direção de Condado que, antigamente, era Goianinha. A Casa Grande que visitamos não é a original, e recentemente foi vitalizada, e apresenta mobiliário do século XIX e XX. Fomos recebidos com atenção pelos proprietário que, à medida que falavam da família, nos indicavam os pontos que eles organizaram para mostra, desde a sala de entrada até à cozinha. Observamos o cuidado na restauração do imóvel, ainda que não tenha sido recuperada com a assistência de restauradores profissionais. Há uma segunda casa senhorial, não recuperada, que apresenta melhor como se vivia no início do século XX em casa anterior à chegada do ferro e vidros. Esses apetrechos chegaram com os acenos da Revolução Industrial. Mais abaixo está situada a Moita, ou que resta dela, pois foi reordenada para ser uma cocheira, um recolhimento para os bois. Com a morte do fogo, o engenho passou a fornecer cana para as usinas, e fez o trajeto de mudança do carro de boi para o caminhão, como atesta a pequena oficina de manutenção próxima à casa do administrador. O Engenho Miranda também está mais conhecido pela particularidade de que, em sua capela, dedicada à Senhora Santana, encontra-se os restos mortais da família, especialmente de uma adolescente que tem sido cultuada como santa, a Xaninha, morta na epidemia ocorrida nos anos sessenta e setenta do século XIX. Dela é dito que tinha grande preocupação pelos escravos trabalhadores do engenho. Na segunda metade do século XX seu culto foi ativado e pequenas romarias eram realizadas duas vezes por mês, com missa, até o período da epidemia de COVID. Pelo que ouvimos, os proprietários estão interessados em tornar mais comum as missas, pois a presença de público ajudaria a preservação do espaço. Em seguida voltamos ao canavial e seguimos em direção ao Engenho Itapirema do Meio, onde chegamos já um pouco depois das 11 horas. As estradas de cana estavam molhadas da chuva recente, vimos que houve queimada recente, mas não encontramos nenhum caminhão de transporte. É dito que Dom Pedro II ficou hospedado nesse engenho, quando se dirigia à Goiana. Mas a casa grande que encontramos não reflete a antiguidade, esperada, mas parecendo ser uma construção do início do século XX, como pode ser observada pela data da capela, 1913, e pela chaminé da usina, que ostenta a data de 1937. Vimos que foi construída pequena vila para os trabalhadores no local onde pode ter existido a construção a que se refere a tradição, mas apenas escavações arqueológicas poderão sanar essa dúvida. A casa grande, não colonial, está sendo bem cuidada e não tivemos a permissão de nela entrar. Foi Itapirema de Cima o nosso terceiro destino, o que nos levou a atravessar o povoado de Sapé, onde pudemos observar, de passagem, a feira semanal, restos do posto de televisão comunitária que era comum nos anos de 1970, que hoje serve de praça. Notamos que o povoado é bem surtido em serviços como mercados, escola, manicure, barbearia, mercado municipal. Esse povoado, como outros da região da Mata Norte, é formado pelos descendentes dos escravos. Mutatis mutantes, essas periferias são as antigas senzalas, distantes dos olhos dos senhores que não desejam ver o que a cana produz com o açúcar, o melaço, a cachaça e o vinagre. Após Sapé, seguimos pelo canavial até o Engenho, com sua majestática Casa Grande, construída acima de todos. Passamos pelo rio que fazia girara a roda da moenda do engenho, encontramos gado solto pastando e, chegamos à Casa Grande que só não está completamente abandonada porque seus proprietários contratam pessoas para lá viverem e evitar a sua destruição. Atualmente é um casal que cuida da casa que está quase em ruínas. Com andar térreo, local da oficina e onde teria sido posto um depósito de açúcar. Para ter acesso à parte superior, seja dizer, a residência, com mais de uma dezena de cômodos, subimos um escada com vinte degraus, de cada lado; abaixo do encontro dos degraus há espaço para um nicho onde, nos tempos de ouro, deveria ter sido a morada de algum santo protetor. Na parte posterior da casa grande está um pomar e a capela do engenho, completamente dominada por caca de morcegos, e parece ter sido transformada em local para guarda de fertilizante. Comi deliciosa goiaba, arrancada do pé por Josué. Um brinde especial nos foi ofertado por Basílio Augusto que nos levou a um local que a tradição aponta como sendo o início de um túnel que teria sido construído pelos holandeses, ligando o Itapirema de Cima ao Engenho Ubu. São muitas as questões a serem levantadas em torno dessa tradição, baseada em escrito de Pereira da Costa que quase sempre oculta os sujeitos das ações e os documentos de onde tira as informações. Fala-se de minas de ouro, existência de vulcões, etc, mas tudo dito em frase de sujeitos ocultos, quais fantasmas. O buraco que vimos é capaz de passar o corpo de um jovem adolescente e tem a profundidade de cera de 1.70cm. Agradeço aos amigos do IHAGGO pela oportunidade de conhecer o mundo que se esconde nos canaviais. Em cada um desses locais visitados foram lidos textos alusivos, ora pelo professor Bartolomeu e Victor Romanelli, tudo registrado pelas múltiplas câmeras de nossos fotógrafos.