domingo, março 30, 2008

João Francisco de Souza - meu professor informal

Tão logo cheguei a Salvador recebi a lamentável notícia da norte de João Francisco de Souza, em Abrantes, município de Camaçari, na Bahia. Minha passagem por Salvador estava ligada à defesa da dissertação de mestrado de minha filha Ana Valéria, na Universidade Federal da Bahia. João Francisco estava em Camaçari para inaugurar um curso de Formação de Professores. Formar educadores, o grande objetivo de sua vida. Os motivos de alegria e tristeza se confundiram na paisagem baiana, como parte que da vida. Em um assalto, morreu vítima da violência um educador.

Conheci João Francisco ainda na minha adolescência, na segunda metade dos anos sessenta do século passado. João estava envolvido na organização do Encontro de Irmãos, um programa de evangelização da arquidiocese de Olinda e Recifem sob a liderança de Dom Hélder Câmara. João Francisco era um dos coordenadores daquelas Comunidades Eclesiais de Base, sistematizando as discussões e produzindo material que era utilizado nos grupos espalhados por toda arquidiocese. Especilamente nas áreas periféricas, pois as áreas centrais e engordadas com as riquezas carecem de sensibilidade para a Boa Nova.

Simultaneamente eu começava a organização de grupos de jovens na comunidade de Nova Descoberta, jovens ligados à Igreja Católica. Nas minhas andanças pelos bairros, visitando e conhecendo os grupos, pude sentir como João era querido por todos. O tempo passou e João Francisco iniciou a sua carreira acadêmica no Centro de Educação da UFPE. Seguidor de Paulo Freire, cujas diretrizes estavam tão presentes nas reuniões do Encontro de Irmãos e nas suas aulas, João foi chamado a participar na renovação educacional das escolas da Prefeitura da Cidade do Recife. Uma de suas maiores colaborações foi, acredito, o Projeto Teimosinho, para a Educação de Jovens e Adultos, quando ainda ele atuava como presidente da Fundação Educar, antigo Mobral, que se tornou depois a Diretoria de Educação de Jovens e Adultos da Secretaria de Educação do Recife, onde eu o substitui.

A ação de João Francisco ultrapassava os limites de sua cidade, vindo a se tornar Secretário de Educação de Jaboatão dos Guararapes, ao mesmo tempo em que assessorava os projetos de Educação de Adultos em vários países da América Latina e Caribe.

A educação, formal ou não formal, deve levar à libertação do educador e do educando. As estruturas de dominação e escravização dos homens e mulheres, sempre dispostas a impedir as possibilidades de realização dos anseios de liberdade, perseguem e procuram destruir aqueles que sonham e agem na direção da liberdade. No ano de 1973, no auge da ditadura militar, quando o ditador de plantão pugnava para acabar todas as resistências contra a desordem legal implantada desde 1964, João Francisco foi preso, tirado de sua casa, sob olhar atônito de sua esposa, Inês. Não foi ele o único a ser preso naquele difícil momento de nossa história, especialmente aqui no Recife. Impossibilitados de atingir diretamente a Dom Hélder Câmara, os ditadores e seus sequazes passaram a atacar os colaboradores do Arcebispo de Olinda e Recife, o DOM. Mas as igrejas lotaram em vigílias de oração por ele e por outro Francisco, o José, da ACO.

João Francisco de Souza, que sorria e abraçava com afetuosidade, gerou espaços de libertação para educandos e educadores que com ele puderam comunicar-se. Sua vida, com todas as contradições humanas foi, em sua maior parte, um hino à liberdade e à felicidade. Obrigado.

quarta-feira, março 26, 2008

Primeiro Quilombo Urbano do Brasil continua a Resistência

No final do ano passado, a Prefeitura de Olinda anunciou a existência de um Quilombo urbano em seu território. No dia 30 de dezembro escrevi um comentário sobre esse assunto, aqui. Terminei texto dessa maneira: O primeiro Quilombo Urbano do Brasil é uma afirmação do povo brasileiro. Um povo que agrega, na bela tradição ibérica, uma tradição mais includente que excludente. Como todas as tradições, ela é gerada na dor, mas dores geradoras de novas maneiras de viver.

Para mim foi interessante assistir o ato oficial, na mesma casa onde dona Biu – Severina Paraíso, desde a década de cinqüenta do século passado estabeleceu seu povo, um povo que cultiva uma tradição ancestral, vinda Niger, dos Camerons, lá no coração da África. Foi ressaltado nos discursos, que, em torno daquela família, ali, onde havia uma fábrica de gelo, foi sendo organizada uma sociedade, uma povoação, hoje parte do bairro de São Benedito. Da mesma forma que os mais antigos africanos que foram trazidos pela necessidade de braços para o plantio da cana e produção do açúcar, e, por seu saberes e por seus suores se tornaram parte constituinte do Brasil, sendo portando seu povo, a Casa da Nação Xambá, construída nas areias do rio Beberibe, parte do reino de Oyá, foi geradora daquele bairro, conforme a pesquisa da historiadora Valéria Costa. A fábrica de Gelo já não existe, poucas pessoas ainda sabem que existe um lugar de Olinda chamado Portão do Gelo, mas lá está viva a obra e a Nação Xámbá, reconhecida como patrimônio da cidade que é Patrimônio Cultural e Natural da Humanidade, definida assim pela UNESCO. Todos sabem da “Casa de Dona Biu”

Mas, nem passados seis meses do reconhecimento da importância cultural da Organização Religiosa Santa Bárbara – Nação Xambá, ouve-se o barulho de que, naquele espaço, a Prefeitura de Olinda pretende construir um terminal rodoviário. Ótimo que a Prefeitura tome iniciativas que melhorem as condições de transporte urbano a que está sendo submetida a comunidade de São Benedito e outros bairros da cidade, mas isso deve ser feito sem por em risco o patrimônio cultural que foi reconhecido pela edilidade. Com certeza o Conselho de Preservação dos Sítios Históricos da Cidade de Olinda ainda não soube dessa proposta que pode destruir a tradição que se quis salvar ao definir aquela região como Primeiro Quilombo Urbano do País. Mesmo os que não sabiam da existência desse local de resistência cultural, devem sentir-se obrigado a dizer à Prefeitura da Cidade que há outros lugares para se construir um terminal rodoviário. Aliás, parece que se falava de um espaço que localizado próximo à antiga fábrica da cerveja antártica. Pode ser que ali sim, seja “uma boa” construir o terminal rodoviário. Caso se mantenha a idéia de utilizar o espaço quase frontal ao Terreiro da Nação Xambá, estará sendo consumada uma outra forma de destruição, mais branda, embora bem mais destrutiva. Faz lembrar o verso do poeta que dizer ser o que abraça o mesmo que maltrata.

Parece-me evidente que a atual administração da cidade de Olinda não está pretendendo assemelhar-se ao período do famigerado Estado Novo, destruidor de uma de nossas mais populares tradições. Talvez, melhor benefício para si e para a cidade, seria a prefeitura complementar o que foi iniciado pelo Conselho de Preservação dos Sítios Históricos, e desapropriar, ou conseguir um comodato, o prédio da antiga CELPE e permitir que ali se organize um centro cultural, com biblioteca, sala de jogos, sala de teatro, local de conferências, etc. celebrando convênio com a comunidade local e as secretarias de Educação, Cultura e Turismo.

domingo, março 23, 2008

Reflexão em um domingo chuvoso - Feliz Páscoa

Famílias de tradição católica encontram-se na sexta feira santa para um pequeno almoço. Ocorre um pouco antes da cerimônia das três horas, quando se dá a adoração da cruz, uma vez que naquele dia não ocorre a celebração da missa. Como sempre nossa família reuniu-se no que foi possível, na casa de mamãe, com a ausência de um irmão que está no Rio de Janeiro e uma irmã que acompanha o marido em sua atividade comercial na cidade de Gravatá. Estávamos os demais, como filhos e netos na casa construída por meu pai nos idos de 1954.

Como sempre a comida era toda no coco: o feijão, o arroz, os peixes, o bredo. E então veio a chuva, forte e, rapidamente tomou conta da rua, que foi transformada em um rio. As águas foram invadindo os espaços e finalmente tomou toda a casa. As crianças mais jovens, assustadas, foram postas sobre cadeiras. Os mais velhos cuidavam de colocar no alto o que não podia ser molhado. E continuar o almoço esperando a chuva passar, as águas diminuírem.

Lembro que sempre houve a transformação da rua em rio, em Nova Descoberta. Desde a sua construção, nossa casa subiu o piso seis vezes. Quando a casa foi construída, não havia calçamento, o que ocorreu na administração de Augusto Lucena. Mas, como ainda hoje se faz, pouco se pensou no escoamento das águas pluviais e, saneamento e rede esgoto, essas coisas, pelo que vejo, não passam muito pela imaginação dos administradores. Assim é que para conter a queda das casas que foram construídas nos morros, sem qualquer atenção e assistência dos poderes públicos, assistimos a impermeabilização do solo. As águas apenas passam e quase nada delas é assimilada pela terra. Onde nos anos sessenta havia uma mata de eucaliptos, hoje há uma aglomeração de casas construídas pela pertinácia e coragem dos homens e mulheres sem apoio. Após a construção, o governado Miguel Arraes fez a concessão dos títulos de propriedade. Mas esqueceu que deveria criar um posto de saúde, escolas, projetar a coleta de esgoto, etc. Organizou-se a situação de miséria, não a possibilidade de sua superação.

As águas que a cada chuva tornam a nossa rua em um rio correm na direção do extinto rio do Brejo, que desaguava no rio Passarinho que se dirigia para o rio Beberibe. Os rio viraram córregos ocupados que foram por pobres sem casa e por indústrias sem senso ecológico, sem sentido de irmandade com os seres vivos.
O processo de ocupação urbana da Zona Norte da cidade foi semelhante à ocupação de outras áreas mais antigas da cidade. Mas não precisava ser desse modo, uma vez que já havia conhecimento suficiente para criar condições de vida decentes para todos. Hoje Nova Descoberta é um Bairro, mas tem uma infra-estrutura de um aglomerado dos anos cinqüenta do século passado.

Bem, mas nós estávamos no almoço familiar da Sexta Feira Santa e nós tivemos a casa lavada duas vezes pela águas que vieram da rua; mas também tivemos a casa lavada pelo suor e pela alegria de todos o que nela estavam naquela Sexta Feira. O trabalho da família como que nos anunciava a alegria da Páscoa, da Ressurreição, que se faz em conjunto, em comunidade. As águas da Sexta Feira nos fizeram mais próximos, nos alegraram; não pelo incômodo de ter a casa atingida pela sujeira que a enchente traz da rua, mas por temos aproveitado a oportunidade de, mais uma vez, nos tornamos irmãos, primos, tios, netos. Todos com vassouras e rodos na mão, limpando a casa, nos tornando limpos e, sem maldizer o mal que nos afligia, cultivávamos o sentido de família. Todos estávamos cuidando da casa onde crescemos e nos tornamos o que somos, sob a influência de nossos pais. Além de nos alegrarmos com a comida e a bebida, nos alegramos no trabalho comum, na construção e recuperação de nossas vidas, de nossas amizades, de nossos amores. Estávamos vivendo a Páscoa.

Nesta manhã do Domingo de Páscoa, quando os cristãos celebram a vitória da vida contra a morte, fico pensando na necessidade de superar os aspectos negativos da vida, os sinais de morte, como dizia o nosso Dom Hélder Câmara. São sinais de morte essa concentração de riqueza cultivada por algumas famílias em detrimento da maioria dos habitantes; são sinais de morte, esse cultivo incessante de um consumo incessante; são sinais da morte essa ganância de poder que torna tantos mentirosos e cegos para os reais problemas. Com todos esses problemas, com todas as omissões nossas e dos que nos pediram permissão para administrar o país, e o fazem apenas para a manutenção da situação de pobreza para muitos e bem riqueza para poucos, desejo, a todos que freqüentam esse espaço, uma vida melhor e mais feliz. Feliz Páscoa

quinta-feira, março 20, 2008

UMA RUA INDUSTRIAL

O texto que segue foi publicado no jornal A PROVÍNCIA da cidade de Goiana,em Pernambuco.


Talvez seja o tempo apropriado para aprofundar as repercussões do carnaval que se realizou tomando como eixo a Avenida Nunes Machado. Isso está sendo realizado nas conversas que os goianenses estão mantendo entre si. As cidades são construídas no diálogo dos seus cidadãos, nas relações que eles mantêm enquanto trabalham e tornam materiais os seus sonhos. E por isso cada época constrói sua própria história, e uma cidade é formada por todas essas histórias que ela viveu.

Percorrendo a Avenida Nunes Machado nossos olhos encontram uma parte de Goiana que foi construída no final do século XIX parte do século XX. Toda essa artéria urbana é uma lembrança do momento em que Goiana viveu um surto industrial. Ali funcionava a Companhia Industrial Fiação e Tecidos de Goyana, com paredes e máquinas inauguradas em 1894. Aquela rua e suas transversais atestam a modernização das relações de trabalho e a presença objetiva da chamada Revolução Industrial às margens do rio, gerando novas moradias e novos hábitos. Vê-se que há casas de diversos tamanhos, denotando as diferenças sociais e funcionais de seus moradores. Talvez alguns moradores daquelas não tenham se apercebido que eles estão continuando uma parte da história goianense: o momento de modernização, do estabelecimento de maquinarias modernas, não apenas nas usinas que substituíam os engenhos, mas maquinário que transformava o algodão em fio e tecidos para atender necessidades novas e maiores em Pernambuco e no Brasil. A Companhia Industrial Fiação e Tecidos de Goyana colocou a cidade como partícipe de um momento especial da economia pernambucana, dividindo com outras cidades a responsabilidade de, ao lado da cana de açúcar, apontar para uma outra possibilidade de riqueza para a região.

Da mesma forma que as igrejas e conventos são testemunhas de um passado mais antigo, a Avenida Nunes Machado é um testemunho da capacidade de seus habitantes em adaptar-se aos tempos industriais. É tempo de parar de pensar que só pode ser considerado históricos os tempos coloniais.

Bem que poderia haver um projeto para estudar aquela vizinhança da fábrica, verificar que prédios guardam as características daquele período, tombar alguns deles, para que fiquem como testemunha de uma época; assim estaríamos criando condições para se entender que Goiana tem história para além séculos XVI a XVIII. Essa visão romântica e ultrapassada de achar que a história de Goiana foi feita apenas nos engenhos e usinas de açúcar é uma negação aos tempos de homens empreendedores e modenizadores como Manuel Aurélio Tavares Gouveia, Joaquim Pereira Marques, José Ignácio da Cunha Rabelo, Manuel Antonio Pereira Borba. Agora que entramos no século XXI preocupados com a manutenção dos edifícios que guardam a memória dos tempos coloniais e imperiais, devemos nos preocupar em tornar viva a história dos goianenses que apontaram para a possibilidade de nossa Goiana ser uma cidade industrial. Foi o que aconteceu no alvorecer da República. As edificações da Avenida Nunes Machado são testemunhas do espírito inovador, progressista e industrioso de parte da nossa sociedade.

A história de Goiana é mais ampla do que indicam os prédios sagrados dos tempos coloniais. São históricos, também os prédios que foram construídos no século XIX, como as ruínas da edificação que acolheu o imperador Pedro II, os espaços dos escritórios da Companhia de Fiação e Tecidos, e mesmo a Vila Operária. Aliás, a Vila Operária é um sinal de que os criadores da Companhia Industrial de Fiação e Tecidos estavam pondo em prática as orientações contidas na carta encíclica Rerum Novarum, do papa Leão XIII, como também o faziam outros industriais católicos em Pernambuco. Na passagem do século XIX para o XX ocorreu um esforço de modernização industrial no Estado, utilizando principalmente o capital próprio, mas talvez se beneficiando da política do Encilhamento. Essas são questões que os professores de História, docentes de escolas secundárias e superiores de Goiana poderiam pesquisar com os seus alunos, de sorte a re-invertar a história de cidade e do município.

quarta-feira, março 19, 2008

Respeita os sofrimentos do teu povo!

Era uma vez, em um país de uma terra muito distante, que era tão longe que a gente nem é capaz de imaginar a distância. Um pequeno homem de bigode pequeno achava que ele sabia qual o caminho que todos deviam seguir para serem felizes. Ele jurava que jamais, antes dele, ninguém ousara pensar em fazer o povo tão feliz quanto ele era capaz de fazer. Esse home tinha um bigode aparado. E ele fez a econmia do seu país crescer e muitos ficaram felizes, até que um dia....

Noutra terra, tão longe que terminava ficando perto daquela que era longe, tinha esse outro homem que tinha um bigode e uma barba rala que nem sempre ele podia cuidar, tanto era o tempo que ele passava conversando e debatendo com o povo e os não povo. Para não ficar parecido com aquele homem daquela terra distante, ele começou a deixar a barba crescer. Assim ele podia lembrar o Jesus da Editora Paulinas, ou com Joaquim, o José da Silva Xavier, mas também podia ficar parecido com alguém que estava fora do sistema.

Esse homem, de barba assanhada e voz rouca, sempre achou que conversar era o melhor remédio para qualquer situação. Ele entendia que o grande problema é que os governantes jamais ouviam o que os outros membros da sociedade tinham para dizer. Negociação, debate, acordo, eram palavras que levariam, para ele, à construção da democracia. Ou seja, para ele a democracia, o debate democrático era o caminho, ainda que fosse mais demorado, mas o fim valeria à pena. Era no tempo em que a sua barba era revolta e preta. Depois ela foi ficando ruiva depois amarelecida e, finalmente branca. Aos poucos quem queria parecer José Joaquim Xavier, aquele que era da Silva, foi ficando parecido com Gepeto (aquele que prefere fazer uma criança de madeira) ou Nicolau (aquele que distribui presentes para os meninos bonzinhos e meninas boazinhas).

Depois de um tempo, esse tempo em que ele ficou dirigindo o que parece um circo, ele chegou à conclusão que não se pode governar esperando os “debates democráticos” do congresso, porque ninguém consegue governar sem decretos leis, agora renomeados de Medidas Previsórias, ou MP, como se diz nos restaurantes de Macombo.

Ainda que com barba branca, o seu discurso começa a ficar parecido com o moço do bigodinho preto aparado, aquele da terra distante que fica próximo da distante terra onde vive o homem das barbas brancas.

Bem que o povo de Cabrobó, Exu, Salgueiro, achou estranho aquele filho de Januário, e comentava:

Pois é, o Luiz “Nem parece aquele matuto que saiu daqui em 1930...(50) ‘amalero’, magro, buchudo, zambeta, feio c’a peste. Agora tá gordo, Bonito rosado. O nego enricou! Tá rico. Só anda com uma casimira lascada..”

Eita Luiz Gonzaga, o poeta profeta do Sertão.

Naquela música se pedia pra Luiz respeitar Januário. O velho pai que não foi buscar a riqueza no “sul maravilha”, mas ficou tocando o oito baixos, conversando para tirar música, sem sanfona de cento e vinte baixos, tantos desnecessários.

Bem que a gente, mesmo sem ser Januário, deveria receber mais respeito desse outro Luiz. Fico pensando no que diria a moça do parque de Niemeyer da Boa Viagem, né João!!!

sexta-feira, março 14, 2008

Tautologia e ensino

Os jornais deste dia informam que existem propostas de empregos bastante interessantes, uma diz que os valores a serem pagos chegam a dez mil reais e uma outra nos informa que o salário pode ficar em até quatrocentos e vinte reais. Como de praxe este último salário está reservado para professores. Mais interessante ainda é que as vagas oferecidas são para professores temporários. Não vou discutir a primeira oferta, pois ela se refere à ocupações a serviço do governo federal, necessitado de fiscais para o PAC. Mas sempre me chama atenção que no Estado de Pernambuco, que apresenta o pior desempenho educacional do Brasil, os governos continuem nessa política equivocada de não contratar profissionais a um valor decente pelo trabalho dos docentes. As vagas estão disponíveis porque os que fizeram concurso para o emprego provisório não aceitaram o salário oferecido. Já chamaram quase todos os concursados e não conseguem preencher as vagas. Não percebem que não é decente pedir a uma pessoa, que investiu quatro anos de estudos para diplomar-se, condenar-se a receber um salário mínimo, um salário que não se paga nem mesmo a coveiros. Decididamente os governos, de Pernambuco, pouco importa qual a orientação ideológica, continuam a apostar na política de impedir que os níveis educacionais ultrapassem os limites das primeiras décadas do século XX.

Mas, ontem, passei o dia com os mestres Griôs do Maracatu Estrela de Ouro de Aliança. Participei da acolhida a jovens do ensino médio de uma escola de Igarassu e, mais tarde, participei de uma oficina cultural na Escola Dom Bosco, pertencente à Rede Estadual de Ensino. Uma agradável experiência, ainda que no sol das três horas da tarde, em frente à escola, pois não há um espaço com cobertura que possa reunir os alunos para eventos desse tipo. Esta é a décima oficina que os Griôs estão realizando em escolas situadas no município de Aliança. A interação é grande e a apresentaçãoa deve ser fonte de assuntos para as aulas seguintes das diversas disciplinas.

Além da presença dos Griôs, a escola recebeu a visita de um casal de escoceses; ele professor de percussão, e veio estudar a sonoridade e o ritmo do Maracatu de Baque Solto, ela artista plástica. Aprendi que ele está em ano sabático, um período de seis meses em que fica liberado de sala de aula – mas recendo o salário - para que possa estudar, especializar-se e, então, renovado, retornar aos seus alunos com novas informações e conhecimentos. Essa prática de garantir um ano sabático ao professor, no Brasil ocorria para os professores de universidades. Entretanto, quando o Brasil foi governado pelo professor Fernando Henrique Cardoso, esse incentivo foi retirado, quando deveria ser acrescido aos professores de nível fundamental. Essas decisões políticas em não investir seriamente na educação, têm garantido o comprometimento do futuro das próximas gerações de brasileiros.

Entretanto, essas políticas garantem, também, que sempre haverá assuntos para os palanques populistas. Sempre haverá eleições e um povo que poderá ser manipulado por não ter indicações para superar o senso comum, aquele que vive da tautologia. Também garante empregos a pedagogos que vivem de assessorias a secretários de educação que julgam ser o seu papel garantir a alegria dos secretários de fazenda, sempre inovando para jamais mudar.

domingo, março 09, 2008

Sem se curvar aos "mitos"

As vezes é como se os temas e as palavras se afastassem da gente.Bem que queríamos escrever, pôr algo no papel, talvez alguma reflexão sobre o cotidiano. Mas tudo se parece muito grande e espesso para nossa aproximação. Contudo, a vida continua a nos dizer: é preciso pôr algo para fora, dizer em voz alta o medo que a realidade nos faz, como forma de preservarmo-nos dos fantasmas dela, um enigma a ser vencido, uma esfinge a ser derrotada. Leio e contemplo o passar dos anos, das pessoas e da percepção de seus e dos meus ideais.

Recebo uma correspondência que diz ter ocorrido a superação de um mito, a retirada da cena política de Fidel Castro. A saída da cena política sempre ocorre e é uma demanda histórica: quando o agente não percebe, é uma imposição biológica.

Fico sem saber se Fidel Castro é um mito. Na imprensa e na pressa, todos somos interessados a definir tudo rapidamente para termos a sensação de que o mundo é organizado e nessa organização nos sentirmos seguros. Em minha pequena vida vi nascerem e ocorrerem os mais diversos "mitos", que já não o são de um ou outro povo, mas tem sido mais comum o serem de uma ou outra geração. Assim já li sobre o “mito” de Fidel, de Miguel Arraes, o de Francisco Julião, o da juventude, o dos Beatles, o de Lennon e o da liberdade ser uma calça jeans azul desbotada. Essas idéias e as pessoas que as representam estão intimamente ligadas à um período de saturação de uma época e a busca de uma outra que se queria fazer mas que se não fez, o que levou Lennon a informar a todos que desejassem ouvir e acreditar que o sonho havia acabado.

Talvez precisemos saber ainda qual o sonho que parecia ter se acabado para Lennon. Pode ter sido o sonho de se criar uma sociedade global de liberdade e sem acumulação, como todos nós fomos convidados a imaginar. Muitos continuaram a imaginar, enquanto Lennon e seus companheiros – que pareciam ser os quatro cavaleiros do apocalipse do sistema de poder – continuavam a acumular bens e viram-se na condição de continuar a fazê-lo. É quase impossível querer continuar sonhando um mundo de partilha enquanto acumula riquezas para si. Não é difícil imaginar porque o sonho de Lennon não poderia deixar de ser sonho. Como não se quis ir mais além de sonhar, é melhor dizer que o sonho acabara e não que se desistira de sonhar.

Pode ser que o Imagine de Lennon estivesse ligado ao sonho que pretendia se concretizar na descida da Sierra Maestra. Afinal, a vida dos meninos dos bairros empobrecidos de Liverpol poderia ter alguma relação com os sonhos dos meninos e meninas pobres da América Latina que pareciam estar condenados à pobreza, à miséria, à impossibilidade de sonhar. Os jovens cubanos desde o início dos anos cinqüenta chamaram atenção do mundo que parecia não entender que o excesso de prazer material em certos lugares do mundo era a causa da pobreza material e espiritual na maior parte do mundo. Até o papa Pio XII pediu que Fulgêncio Batista não matasse o jovem sonhador Fidel Castro. Havia possibilidade de sonhar ainda. Essa possibilidade parecia ter acontecido em 1957, quando os jovens cubanos liderados por Fidel tomaram o poder na Ilha do Caribe. Em 1959, o substituto de Pio XII, o papa João XXIII, resolveu enviar padres para a América Latina com o objetivo de impedir a expansão do sonho cubano. No mesmo período, o jovem presidente dos Estados Unidos da América,John Kennedy, enviou jovens americanos do Corpo de Paz com o objetivo de impedir a expansão do sonho dos jovens cubanos. Em 1962 a ilha foi impedida de se comunicar com o mundo. Asfixia econômica. Os Beatles já não sonhavam apenas em cantar em alguma festa em Liverpoll, mas já cantavam suas insatisfações aos jovens dos Estados Unidos da América.

Algum tempo antes, o filho de proprietário rural Francisco Julião, assim como Fidel, foi apoiar os despossuídos que viviam no Engenho Galiléia, em Vitória de Santo Antão, PE. Aqueles camponeses sonhavam em ser enterrados em um caixão. Mas para se realizar o sonho de um enterro decente necessita-se de uma vida decente; ser enterrado como gente só é possível se o restante da sociedade aceitasse que aqueles que sonhavam com caixões eram gente. Assim não pensavam aqueles que possuíam terras e plantavam cana de açúcar e tinham, desde seus antepassados, a tradição de tratar gente como gado. Proprietários de terra e cana, como os do Engenho Galiléia, se uniram aos poderosos que estavam, desde 1962 tentando destruir o sonho dos jovens cubanos, e produziram veio o golpe militar de 1964 e, entre outras, se promoveu o exílio de Julião, de Miguel Arraes et alli.

Tempos depois, Julião voltou dizendo ser possível uma aliança com os donos das usinas, das canas, dos bichos. Confrontou-se com Arraes que ainda sonhava, apesar do aviso de Lennon,Mas Arraes tinha dificuldade de abrir espaços suficientes para os mais jovens, para os novos sonhadores.

Tenho dificuldade em admitir que “o sonho acabou” por ter Lennon parado de sonhar, por Julião ter confundido quimera por sonho, por alguns mais velhos se recusarem a permitir novos sonhos, porque tem gente qua inda pensa liberdade como calça jeans, ou porque a ilha de Fidel não tenha podido ter o sonho completado. Entendo que este último aconteceu, em parte, porque os Kennedys e seus sucessores asfixiaram a ilha economicamente e os papas – de todos os tipos de cristianismo - tentaram asfixiá-lo espiritualmente.

Não é uma questão de mito. É uma questão de opção de civilização que se queira construir.

Atualmente, estão querendo constituir o Lula como Mito. Outra bobagem enganadora. O líder do seu governo é o aliado de Francisco Julião na luta contra Miguel Arraes. Ele é o dono das terras que, uma vez foram “dadas” a Gangazumba por ele ter abandonado o sonho.

Abandonar um sonho até que se pode, mas não dizer que O SONHO tenha morrido.

Penso que não se deva confundir o sonho da humanidade com os limites de uma pessoa.

sábado, março 08, 2008

Rei português no Brasil - a explicação de Jorge Couto

Retirei essa informação da BBC. É quase uma dessas revisões históricas, que são permanentes, pois cada geração de historiadores ler os documentos a partir de novas questões. Um novo ângulo sobre uma questão antiga. Jorge Couto esteve diversas vezes aqui no Recife e tem nos auxiliado a compreender como fomos nos gerando e sendo gerados.

Jair Rattner
De Lisboa para a BBC Brasil


A Família Real portuguesa chegou ao Brasil há 200 anos
Um historiador português defende a tese de que uma disputa territorial na região da Amazônia envolvendo a França e Portugal está na raiz da fuga da família real portuguesa para o Brasil em 1808, depois que os franceses invadiram o país europeu.
Para o historiador Jorge Couto, antes da invasão das tropas de Napoleão em 1807, os franceses pretendiam ampliar a Guiana Francesa até a margem norte do rio Amazonas.
“A reivindicação territorial foi feita em 1797 pelo Diretório, ainda antes de Napoleão assumir como imperador da França. Uma das atribuições do Diretório era a de fixar as fronteiras”, disse Couto à BBC Brasil.
O historiador, que é diretor da Biblioteca Nacional de Lisboa – uma das principais fontes de pesquisa sobre a história de Portugal – indicou quais eram os três objetivos da invasão francesa de Portugal: Dividir o território português com os espanhóis, tomar posse das colônias portuguesas e colocar a marinha portuguesa a serviço dos franceses.
Construção da história
Para Couto, a ida para o Brasil foi uma grande saída do regente português D. João 6º.
“Portugal era a única parte da Europa continental que não estava sob o domínio de Napoleão. Não havia alternativa. Entre os franceses e os ingleses, D. João escolheu o mal menor, os imperialistas mais inteligentes.”
Ele conta que Portugal ainda tentou negociar com os franceses.
“Foi oferecido direito de os franceses negociarem nos portos portugueses da mesma forma que os ingleses; foram oferecidas possessões na África, mas não no Brasil.”
O historiador acredita que, por motivos políticos, procurou-se caracterizar a fuga da família real para o Brasil como atabalhoada e D. João 6º como uma figura caricata.
“Foi uma construção da história. Os países, para se firmarem como independentes tendem a diminuir o papel do colonizador, ridicularizá-lo.”
Marinha
Os portugueses tinham nessa época 21 navios de guerra e 33 mercantes.
Couto explicou que o objetivo francês de ter a Marinha portuguesa a serviço dos franceses e espanhóis se deve às derrotas marítimas desses países pelos ingleses nas batalhas de Abuquir, em 1798, e Trafalgar, em 1805.
Eles pretendiam usar os navios portugueses para combater o domínio inglês do mar.
“A Marinha portuguesa era a terceira maior do mundo, atrás da inglesa e da americana. A espanhola e a francesa tinham sido destruídas e a dinamarquesa havia sido bombardeada pelos ingleses em 1805, no porto de Copenhague, quando a Dinamarca aderiu ao bloqueio continental à Inglaterra.”

quarta-feira, março 05, 2008

Colombia ultrapassa os limites

Pagina12, Buenos AiresEl país
Martes, 04 de Marzo de 2008
Pasarse de la raya - Cuando fue asesinado, Reyes estaba negociando
Por Horacio Verbitsky

La incursión armada colombiana en territorio de Ecuador plantea el mayor desafío que la Confederación de Naciones de Sudamérica haya conocido en su corta existencia.No se trató de una agresión convencional por cuestiones limítrofes, al estilo de las que en el siglo pasado enfrentaron a distintas naciones andinas. Lo que se desplegó aquí es una nueva y perversa concepción: la denominada guerra contra el terrorismo, que habilitaría a ignorar límites, tanto geográficos cuanto políticos y morales.Las explicaciones del gobierno del presidente colombiano Alvaro Uribe agravan la situación. Primero pretendió que el enfrentamiento había ocurrido dentro de su territorio. Cuando esa versión se tornó insostenible afirmó que sus tropas se habían pasado de la raya en la persecución a un destacamento de las FARC-EP. Tampoco eso era cierto.

El segundo jefe de esa organización, Raúl Reyes, fue bombardeado mientras dormía y la incursión terrestre posterior sólo tuvo el propósito de rematar a los sobrevivientes y apoderarse del cadáver de Reyes, que luego fue objeto de una exhibición propagandística.Cuando el presidente ecuatoriano Rafael Correa reiteró su condena a las acciones y a los métodos de las FARC pero advirtió que no admitiría el ultraje a su soberanía, el gobierno de Colombia explicó que se había tratado de un golpe preventivo. Así pasó de la mentira voluntaria a la justificación inadmisible. La doctrina del preemptive strike, expuesta en la academia militar de West Point por el presidente de los Estados Unidos, George W.Bush el 1 de junio de 2002, declara caducas las doctrinas de contención y disuasión de la guerra fría y consagra como única estrategia posible el golpear primero. "Debemos llevar el combate al enemigo, frustrar sus planes y enfrentar las peores amenazas antes de que se concreten", dijo. Así, destruye las bases jurídicas que permiten la existencia de una comunidad internacional organizada sobre principios racionales y con intenciones pacíficas. En su lugar consagra la ley del más fuerte.El gobierno colombiano sostuvo también que entre la información capturada a Reyes figuraban sus contactos con el canciller ecuatoriano Gustavo Larrea. ¿De qué extrañarse, si Reyes era el encargado de las negociaciones con los gobiernos extranjeros, como confirmó de inmediato el canciller francés Bernard Kouchner? En la documentación difundida por el director de la Policía Nacional de Colombia, Oscar Naranjo, Reyes transmite al secretariado de las FARC el interés del gobierno ecuatoriano por una solución política, pero también una gestión estadounidense ante el canciller Larrea. "Los gringos", dice sin más precisiones Reyes, le pidieron al gobierno de Quito que transmitiera a las FARC el interés de conversar, porque el nuevo presidente será Barack Obama y "no apoyará el Plan Colombia ni el Tratado de Libre Comercio". Hay buenos motivos para creer que esas negociaciones, las ya entabladas y las que pudieran abrirse luego del cambio de gobierno en Washington, hayan sido el principal blanco que procuró impactar Uribe. Ya había dado un indicio hace dos meses, cuando hizo todo lo que pudo para frustrar la misión humanitaria de la que participó el ex presidente Néstor Kirchner y que incluía a Brasil, Bolivia, Cuba, Ecuador y Francia.Los grandes éxitos que Uribe ha conseguido al empujar a las FARC hacia el corazón de la selva, despejando las ciudades y las rutas principales, son el principal activo con que cuenta para forzar una reforma constitucional que le permita aspirar a un tercer mandato. Dados sus altos índices de popularidad, no parece lejos de su alcance siempre que consiga remover el obstáculo legal. El cadáver del negociador de las FARC-EP es un trofeo valioso en ese camino tan peligroso para la democracia en Colombia y para la paz en Sudamérica.
Colombia se desangró durante décadas, sin que los vecinos hicieran otra cosa que quejarse por la intromisión estadounidense, que encontró en las guerrillas y en su nexo con las organizaciones que abastecen de sustancias estupefacientes a su mercado, el pretexto intervencionista perdido con la finalización de la guerra fría. Los gobiernos progresistas de Sudamérica quebraron esa abstinencia suicida y decidieron involucrarse en el conflicto. Los presidentes de la Argentina, Brasil, Bolivia, Chile, Ecuador, Paraguay, Venezuela y Uruguay coinciden en buscar una salida negociada, porque éste es el tiempo de la democracia y de los medios pacíficos y no el de la lucha armada para la toma del poder y el establecimiento de la dictadura del proletariado y porque Colombia es demasiado importante como para dejarla en manos del Comando Sur. Hasta los ex guerrilleros que gobiernan Cuba y Nicaragua comparten esta apreciación. La novedad más reciente es que también los gobiernos de España, Francia y Suiza están dispuestos a participar en la búsqueda de ese desenlace. Con casi todos ellos, y también con el presidente de México, habló ayer Rafael Correa para comprometerlos en la elaboración de una propuesta conjunta que impida el derrame del conflicto colombiano. El canciller argentino Jorge Taiana, quien regresará hoy al país, habló desde Ginebra con sus colegas de la región y con algunos presidentes, como Lula. Lo mismo hizo desde Olivos la presidente Cristina Fernández.Apenas desentonaron en esta polifonía el presidente venezolano Hugo Chávez y el ex presidente de Cuba, Fidel Castro. Chávez ordenó por televisión desplegar su Fuerza Aérea y enviar divisiones de tanques a la frontera colombiana. Es sólo una bravata verbal, incomparable con la terrible agresión colombiana a Ecuador, pero contribuye a la creación del clima bélico que para nada conviene a Sudamérica y desplaza el eje de la discusión. Desde su retiro, Castro escribió que oye sonar en el sur del continente "las trompetas de la guerra". Está claro que no la desea, pero hasta mentar su posibilidad es imprudente en un momento tan crítico.Con cualquier justificación que se intentara darle, una escalada bélica en Sudamérica sería el peor de los crímenes y la más contraproducente respuesta a la provocativa actitud de Uribe, porque proveería de nuevos argumentos al intervencionismo estadounidense.
Nunca como ahora han sido tan promisorias las perspectivas para una región que tiene definitiva conciencia de la unidad de sus intereses y de su destino. Sus presidentes dialogan con confianza en la búsqueda del bienestar de sus pueblos, con una sinceridad y una frecuencia sin precedentes.La responsabilidad mayor la tienen Brasil y la Argentina, pilares del MERCOSUR, que constituye a su vez la columna vertebral de la Confederación Sudamericana. Si esas voces prevalecen podrán fijar, en acuerdo con la Unión Europea, las grandes líneas de un acuerdo que exponga a la última guerrilla de América a los vientos de la historia, que no han soplado hacia donde el ahora octogenario Manuel Marulanda creía cuando era un joven campesino atraído por la utopía comunista; que devuelva a sus rehenes a la vida, que frustre el intervencionismo estadounidense y asegure la paz que tanto anhela Colombia. En lo más negro de la noche, es cuando más cerca está el amanecer.

terça-feira, março 04, 2008

Westfália, Bush e o capitão Nascimento

Comecei hoje o semestre letivo propondo um debate sobre o conceito de Idade Moderna, mas parece que os estudantes preferiram ficar silentes ou esboçar, vez em quando um sorriso. Ao final a minha conversa, uma aula quase monologo castrista, pedi que escrevessem um texto sobre alguma das muitas idéias que foram postas para pensar. Em um momento da conversa disse que a decisão do presidente dos EUA, Bush, invadir o Iraque contra o posicionamento da ONU, em ato unilateral, significou um retrocesso de três séculos, pois ele violara disposições de convívio entre as nações desde o Tratado de Westfália, em meados do século XVII. Foi interessante ler, em um dos textos mais interessantes que recebi, uma percepção de não teria havido retrocesso, uma vez que as guerras e as invasões de fronteiras têm sido comuns desde então e, de certa maneira, aquele tratado jamais havia sido respeitado.

Ora, o ponto que foi apresentado pela aluna baseia-se em questões pontuais, enquanto eu debatia a questão de princípios. O que nós estávamos discutindo era que o mundo moderno, esse criado pela experiência européia desde meados do século XIV até parte do século XIX, define-se pela certeza dos princípios, a certeza das regras, da ciência. E o que Bush fez foi não respeitar o princípio de informar ao país as suas intenções bélicas. O mesmo fez Adolf Hitler em relação à Polônia e, mais recentemente, a Colômbia em relação ao território equatoriano. A questão é que os países, os Estados devem respeito a cada um, respeito às fronteiras e o jogo a ser jogado, mesmo um jogo de guerra, o oponente deve ser informado oficialmente. São princípios, são metas a serem alcançadas pelas nações, assim como é uma meta a honestidade dos homens e das mulheres. É algo a ser alcançado, algo desejado e desejável para que se viva e conviva. Sim, há um “retrocesso civilizacional” quando as regras comuns a todos são desprezadas por algum que se sinta superior aos demais. Quando regras de sociabilidade não são obedecidas especialmente por aqueles que devem preserva-las e cuidar pelo seu respeito, vive-se situação de anomia,uma vez que já não se sabe mais o que o certo e o errado, como diz a última frase do filme Tropa de Elite.

Esse filme é bem um retrato da situação vivida por muitos de nós, nesse emaranhado de incertezas, ou certeza pouco acertadas. Uma das cenas mais interessantes do filme é o debate sobre o pensamento de Foucault sobre o estado e a sociedade, especialmente quando o policial expõe seus argumentos e o silêncio severo se pôs sobre toda a turma, a ponto do professor-mediador indicar o final da aula. Da mesma maneira que o capitão Nascimento sabia que estava errado quando se decide pela caça ao bandido por conta de alcançar o seu objetivo pessoal, superando todos os limites de vida social, assim também fez o presidente Bush, não respeitando as convenções que foram sendo criadas ao tempo em que se construiu o mundo moderno.
Mas essas palavras, esses pensamentos estão aqui para ajudar-me a entender a mim, ao mundo moderno e as inquietações de meus alunos

sábado, março 01, 2008

Esbarrões, pacotes e gigantes com ideais

Terminado o mês de fevereiro é tempo de fazer as contas do como foi administrado esse período que começou com a brincadeira do carnaval. Mês diferente este com 29 dias, menor que os comuns e um pouco maior que ele mesmo. Assim às vezes somos nós, quase sempre menor que os comuns, embora julguemos ser maiores, conquanto o sejamos vez em quando.

Mas se é maior que ele mesmo vez em quando, fevereiro jamais consegue ser maior que o março iniciado nesta manhã. Somos nós diante da realidade, diante do imenso desafio em que fomos postos sem termos sido consultados, tal qual dizia Sartre. Entretanto, pigmeus, devemos a cada dia confrontarmos com gigantes e, depois de algum esforço, sermos capazes de rir deles ou com eles.

São muitos os gigantes que nos convidam para a luta ou a simples caminhada a seu lado. Nem sempre podemos acompanhar os passos dados por eles e caminhar lado a lado. Quase sempre estamos um pouco atrás, como eu, quase perdido, acompanhando meu pai, desde a Rua Tobias Barreto até à Siqueira Campos. Vez por outra esse era o desafio. Tomávamos um ônnibus em Nova Descoberta para irmos ao centro de vendas se secos e molhados a comprar carne de charque e outros produtos para a nossa mercearia. Cada um de nós com um pacote proporcional às nossas forças. Quanta gente na rua! e eu, pequeno, querendo olhar as ruas e as pessoas ao mesmo tempo em que acompanhava os passos largos daquele gigante que, vez por outra olhava para traz e perguntava se eu estava cansado e se queria descansar. Mas ele sabia que eu “não queria”, e continuava com os seus passos em meio àquela multidão. Eu dois passos atrás. A mente e o coração dizendo que as minhas pernas agüentariam o que faltava. Eu pensava no ponto de parada do ônnibus. E apertava meus passos para não perder o gigante de vista, como faço agora com os meus ideais, dizendo a mim mesmo que não estou cansado e que vou alcançá-los. Assim, quando chegávamos à Praça da Independência, ele parava e dizia, só falta mais uma rua, como a animar-me, pois a Siqueira Campos, onde iríamos apanhar o ônnibus que nos levaria de volta para casa, estava à vista. Ainda não era o final da jornada, mas era o momento que teria para descansar o corpo do peso que me fora atribuído. Vinha o ônibus e começava a etapa quase derradeira, antes de chegar em casa. Papai, o gigante que eu seguia, às vezes conseguia um lugar para sentar e, às vezes, me encabulava ao pôr-me no colo. Quase não havia palavras, mas ele me ensinava a ser duro e suave, exigente e compassivo na caminhada, no ganho da vida ao fazê-la.

Hoje, levando esbarrões ao longo da vida, em estradas mais movimentadas que as antigas Tobias Barreto, Concórdia, Palma; sendo empurrado por outros que tomam os espaços que eu estava conquistando, ou pensava ter conquistado, tendo vontade de jogar fora os embrulhos recebidos pela vida para carregá-lo e deles cuidar até chegar ao destino, eu preciso ouvir, e parece-me ouvir, aqui, na minha Praça da Independência, ou na Praça da minha Independência, meu pai dizer: “falta só mais uma rua”.