terça-feira, junho 26, 2007

Transportes de trabalhadores

Tem sido impressionante a ineficácia do governo para resolver os problemas vividos nos aeroportos do Brasil e, tem me impressionado, mais ainda, a cobertura que a mídia, especialmente aquela que atinge um maior número de pessoas, a televisão, vem dando a essa questão.
Desde que ocorreu o trágico acidente envolvendo dois aviões, que matou mais de um centena de pessoas, todos os dias vemos outras pessoas sofrendo nos aeroportos brasileiros. Como essas estações de passageiros são mais modernas que aquelas dos anos sessenta, foram construídos com menos cadeiras, pois se espera que o tempo de permanência nesses lugares seja o mínimo possível. É claro que nos períodos de crise as pessoas ficam em pé, andando, ou simplesmente sentadas no chão.
Não tem sido fácil a vida dessas pessoas que precisam viajar de avião. Nunca sabem quando vão chegar onde pretendem chegar. Não contei quantos minutos são gastos diariamente para falar do infortúnio dessas pessoas que precisam entrar em um avião para chegar a algum lugar, seja para encontrar amigos, visitar parentes, trabalhar ou, simplesmente sentir o frio, ver a neve, conhecer a Orlando, ir a alguma palestra universitária, etc. São muitas as atividades que são realizadas por essas pessoas que precisam tomar um aviaão. Afinal, esse meio de transporte encurta as distãncias e nos faz ganhar tempo. E não tem sentido perder esse tempo ganho apenas esperando o próximo avião.
É verdade que Saint Exupery escreveu que se ganhasse nove minutos por semana, economizando o tempo de beber água por conta de um pílula que evitasse esse horrível hábito de ficar bebendo água, ele gastaria aqueles nove minutos, andando, vagarosamente, com as mãos nos bolsos em direção a uma fonte para beber água. Mas essas são idéias de um príncipe alienígena. No caso dos aviões, o conselho dado foi de que apenas as pessoas relaxassem um pouco, procurassem o prazer de ficar andando sem sentido nos modernos aeroportos. Mas a pessoa que deu esse conselho não tem utilizado os aviões de carreira, ela usa os aviões pagos pelos que nem mesmo entram nos aviões e são obrigados a escutar, apertados na ida e na volta do terabalho, como sardinhas enlatadas nos ônnibusm trens ou metrôs, sobre o sofrimento desses que ficam nos aeroportos, modernos externamente e superados em alguns instrumentos necessários.
Mas o que eu pretendia não era bem isso que acabei por escrever. Eu prentendia saber porque a questão do transporte público urbano é tão pouco falada, discutida. As ruas estão repletas de automóveis com apenas uma pessoa - inclusive o meu -, na maior parte do tempo; ruas que foram também construídas com o dinheiro de quem não tem carro individual.
Como se dá pouca importância ao transporte público! São poucos os ônnibus, os trens, os barcos, os navios. É interessante notar como se dá pouca importância à forma como o povo comum é transportado para trabalhar todos os dias do ano. Mas os ônnibus também servem para que as pessoas visitem os amigos, possam ir à escola, ao jardim zoológico, ou até à praça encontrar os amigos e bater um papo. Não, não ter um transporte decente para encontrar os amigos ou ir ao trabalho, não é interessante, é triste.
No Recife, um vereador foi escolhido para cuidar do transporte coletivo. Em uma entrevista ele disse que não se lembrava quando andou de ônnibus. Ao ler a notícia eu pensei no tempo em que, ele e eu andávamos à pé da escola para nossas casas. Fiquei pensado que não pode ser possível, ou fácil, resolver um problema que não é problema para mim.
De qualquer forma penso que vai ser mais fácil resolver o problema dos aviões.

sexta-feira, junho 22, 2007

"se eu não puder vir eu vou morrer" Manuel Correia de Andrade

No início do dia pensei escrever algo sobre as escolas públicas, sobre sobrecarregadas com tarefas que deveriam ter sido realizadas pelos pais, com outras que deveriam ser assumidas por postos de saúde, etc. Então eu soube do falecimento do professor Manuel Correia de Andrade, com quem tive a alegria de fazer amizade, após um convite que me fez para participar de um seminário internacional, que ele estava organizando na Fundação Jooaquim Nabuco. Nunca havia falado com ele, apenas conhecia Joaquim Correia, seu filho e meu colega de trabalho.
Fiquei com aquela alegria indescritível de estar conversando com um homem que eu só conhecia nas capas de livros. Trocar idéias com Manuel Correia foi uma alegria. Depois em várias oportunidades nos encontramos. Um vez, enquanto comprava um livro, ele entrou na livraria e eu fui pedir o seu autógrafo e ganhei o livro. Depois, quando assumiu a Cátedra Gilberto Freyre, no CFCH, passamos a nos ver mais amiúde e trocávamos palavras nos elevadores, corredores. Cada dia mais admirava aquele homem que, estando aposenatdo, recusava-se a ficar em casa de pijamas. Preferia trabalhar, e continuava a escrever, a promover simpósios, incentivar a que se fizesse ciência para continuar a fazer o Nordeste. A sua paixão.
Surpreendeu-me várias vezes. Uma vez perguntou como ia meu trabalho com o Ponto de Cultura Estrela de Ouro em Aliança; outro dia falou-me do que eu estava realizando no Instituto Histórico de Olinda. Eu ficava maravilhado com a manutenção de sua curiosidade sobre o mundo, como continuava atento. Nada parecia abalá-lo. O falecimento dos filhos ele superava no processo de criação, de escrita. Semanalmente estava com uma nova lição na página de opinião do Jornal do Commércio.
Na terça feira, dia 20, comentei com meus alunos a alegria que eu estava rendo com o lançamento de meu livro, mas disse que era uma alegria maior porque, no mesmo ato, o professor Manuel Correia estava lançando o seu mais novo livro. Muita vitalidade, muita vida.
Mas ele não apareceu naquela manhã. Alguns estranharam. Perguntei por ele e não tive resposta. Na manhã de hoje eu compreendi porque o Mestre não compareceu ao evento. Estava saindo de cena, ao seu modo.
A professora Eliane, de sociologia, disse que uma vez o ouviu dizer: eu tenho que vir aqui, se não puder vir eu vou morrer.
No dia 21 de junho Manuel Correia de Andrade não pode ir ao CFCH. à Cátedra Gilberto Freyre, no dia seguinte ele morreu. Ee gostava mesmo de escolas.

segunda-feira, junho 18, 2007

Calheiros, o Tempo e as Termópilas

O mês de junho avança célere e, a cada ano a sensação da velocidade do tempo modifica o nosso entendimento do passar das horas. "um minuto tem sempre sessenta segundos" costumava dizer Einstein.
A questão é que eu não consegui ficar acompanhando por mais que cinco minutos o balé da indecência que os senadores estão oferecendo ao Brasil. Tem um conselho de ética que se reuniu para saber se um senador da república que mantém relações que envolvem dinheiro com um lobista de uma empresa, de um empresa que recebe aprovação do senado está comprometendo a honra do Parlamento; este conselho de ética está em dúvida se um senador que apresenta notas fiscais de empresas que já não existem para comprovar pagamentos peca contra o decoro que se exige de um parlamentar. Não pude acompanhar o interrogatório que estava sendo feito a uma testemunha, pois parecia que o réu no processo era a testemunha e não o senador.
Fica difícil acompanhar o balé "ético" do conselho de ética do senado, pois o presidente do conselho já definiu, antes do processo que o réu era inocente; fica difícil acompanhar os passos dos senadores - que devem ser os mais sábios e mais cuidadosos na defesa do país - quando o relator, aconselhado pelo réu - que continua dirigindo a casa que o julga - diz que manterá o seu parecer idependente de novos fatos, se por ventura vierem à baila nessa sessão. Torna-se difícil acompanhar a reunião do conselho de ética se o relator já definiu que não vai mudar o seu pensamento, mesmo que venham a aparcer novos fatos.
Mas fica difícil ver como os nossos parlamentares se acostumaram em nos apresentar motivos para não confiar neles. O silêncio dos "bons senadores" nos faz pensar que eles não são bons. Como é estranho assistir Edaurdo Suplicy ficar buscando um meio para justificar a presença desse "senador" sob supeita na presidência do Senado, influenciando o processo que está analisando o seu caso. Bem que podiam imitar os deputados no caso de Severino Cavalcanti. mas os senis senadores se recusam a ver que está ocorrendo um abuso do poder.
As senadoras não estão percebendo que os senadores terminarão por condenar a jornalista que não tem como saber a origem do dinheiro do senador. Essa é a questão, não se ela é ou não sedutora. Dá vontade de perguntar da forma que os "companheiros" do PT diziam antes de se tornarem "prima dona" desse balé: onde está o mulherio?
São tantas as vergonhas que sinto nesta tarde, assistindo a derrocada do senado. Por menos do que a atual sucessão de fatos, o senador Antonio Carlos Magalhães renunciou para não ser cassado. Eram outros os tempos, eram outros os costumes, eram outros os trezentos, como então diziam Lula e seus seguidores. Mas então eles também eram outros.

quinta-feira, junho 14, 2007

Em torno das festas passadas e presentes

Ontem foi dia de Santo Antonio, na véspera costuma-se celebrar o dia dos namorados. Interessante que nos caminhos por onde passei não vi as fogueiras em homenagem ao santo.
Por conta de meus afazeres profissionais, minhas preocupações cotidianas, nem mesmo percebi que já é tempo de preparar canjica, comer pamonha e essas coisas que costumávamos fazer em casa, toda a família em torno de duas ou três mãos de milho, tirando as palhas, limpando as espigas, lixando-as no ralador enquanto outros cuidavam do coco e preparavam o fogo. Esse trabalho que era feito comunitariamente nos unia, mantinha-nos mais juntos. O mês de junho ficava mais alegre e nós com eles.
Os tempos mudaram e nós mudamos com ele.
Agora não há mais uma só família. Os irmãos, cada um tem a sua família, e os filhos já possuem os seus próprios filhos. Ademais, onde construir uma fogueira se todos os espaços estão tomados pelo asfalto e sobre eles os fios elétricos? E tem o crescente cuidado para proteger a natureza: não se pode mais queimar pedaços de paus na frente das casas, pois o aquecimento global nos fará culpados. Afinal, uma fogueira na frente de minha casa é um perigo e afetará a calota glacial e, em um futuiro não muito distante a minha cidade estará debaixo da água. Não se pode mais ficar em torno da fogueira, nem mesmo soltar fogos para acordar São João.
Não é politicamente correto, nem mesmo dançar quadrilha matuta nas ruas, afinal elas podem ser confundidas com outras quadrilhas. A quadrilha que pode ser brincada tem que ser dentro de um grande concurso, com os passos cada vez mais parecidos com os movimentos da Marquês do Sapucaí.
Além disso é perigoso ficar na rua até mais tarde, como sabem os comandantes da polícia que não deixam os soldados até muito tarde na rua. Eles podem ser feridos e atingidos pelos bandidos. É mais seguro brincar nos quintais organizados por estranhos. Afinal a nossa rua é perigosa. As ruas são perigosas.
Mesmo assim, as festas juninas estão permanecendo, com novas roupagens, crescendo como opção mercadológica, período de compras, com "arraiás" organizados e esperando pelos que viajam para encontrar o encantamento, dançando, pensa-se, como antigamente. Tudo é gigantesco, como o maior cuscuz, a maior fogueira - essa pode e parece que não polui tanto quanto os gravetos que algum esavisado que queira homenagear o seu santo, seja ele Antonio, João ou Pedro.
Mas as festas continuam, apesar dos delegados estarem predendo muitas quadrilhas ultimamente. Também não se deve manter esse hábito de fazer compadre de fogueira. Sim havia compadres de fogueira. Mas, como nós sabemos, tem compadre que é fogo. É coisa de jogo de sorte ou azar.

Reforma ou assalto eleitoral?

As dificuldades são muitas quando me sento e penso que devo escrever alguma coisa. É uma obrigação que me imponho, como um exercício com duplo sentido: manter-me exercitando os dedos e as palavras, e manter-me informado sobre o que se passa ao meu redor.
Mas são muitas as questões que afloram. Uma delas é essa reforma eleitoral que vão nos impor. Ao mesmo tempo que aumentam os seus pecúlios, com auxílios financeiros extraordinários que superam os seus salários, os legisladores querem fazer um afago aos donos dos partidos politicos: pretendem retirar o direito do eleitor, do cidadão, escolher o deputado e o senador.
Inventaram o voto de lista, que funcionaria dessa maneira. A direçãodo partido escolhe os candidatos, os põe em uma lista e entrega à justiça eleitoral. Cada partido faz isso. Na eleição, os eleitores votarão no partido, sem necessariamente saber quem são os candidatos a deputados e senadores. Dependendo do número de votos do partido, serão eleitos os primeiros da lista, mas os eleitores podem não sabem quem são os primeiros. Uma vez empossados, esses deputados biônicos não poderão ser questionados pelos eleitores, pois os eleitores não votaram neles, eles não teriam contas a prestar aos eleitores, mas ao partido.
O mais interessante é que, nessa eleição imediata mente posterior à reforma, todos os atuais deputados serão candidatos, e, não haveria possibilidade de renovação no poder legislativo. Será a permanência da mediocridade, da impunidade, da irresponsabilidade, da ridicularização do povo brasileiro. Eles poderão ficar conversando sobre amenidades, com senadores de cafeteira na mão, comendo peixe na beira do mar do Maranhão, enquanto garanhões continuarão a terem contas pagas por figuras jamais conhecidas. Ao mesmo tempo, mulheres e homens pobres, que assaltarem supermercados para roubar um pote de margarina, serão presos e condenados a assitir o assalto aos cofres públicos, possivelmente discutidos ao lado de churrasqueiras próximas a campos construídos nos tortos caminhos que levam a alguma alvorada.

segunda-feira, junho 11, 2007

A família no mundo e o mundo da família

Conversando com minha mãe neste sábado passado, descobri mais uma arte de meu pai. Quando jovem, isso eu já sabia, ele era um frequentador dos sambas de sua região. A novidade da conversa ficou por conta de que ele acompanhava, com o triângulo, a sanfona do meu tio Dantas. Além dessa, outras histórias saíram da memória de minha mãe, Maria Ferreira da Silva, evocando momentos de sua juventude, seus primeiros anos de casamento, viagens realizadas até Campina Grande e outras localidades.
aos poucos a conversa foi encaminhando para os parentes e contraparentes perdidos. Mas não aqueles que já morreram. Falamos dos que se perderam nos caminhos da vida. E fulana? nunca mais nos visitou... o que será que aocnteceu com beltrano, só soube que se mudou para São Paulo e nunca mais escreveu.... e, dessas formulações simples, fui ouvindo de como as famílias se perdem ao longo da vida e, sobrinhos, primos, tios desaparecem de tal maneira que as cordas das relações familiares se perdem.
A busca de outras terras, outras situações que possam tornar a existência mais tolerável, distanciam as famílias, especialmente as pessoas que viviam am áreas rurais na primeira metade do século XX. Os mais pobres se perdem na ausência de documentos, de arquivos inexistentes. As pessoas somem, ficam as lembranças. As histórias individuais não podem mais ser contadas, apenas acompanhamos os relatos sociais e cumuns. Embora não saibamos a história pessoal, podemos inferir algumas possibilidades sociais de suas vidas e história.
Escutando a conversa de minha mãe, caminhei em muitos dos seus anos vividos desde 1923, uma vez que as palavras ditas faziam brilhar os olhos, como se aquelas pessoas mencionadas estivessem entrando no quintal de nossa casa, ou, quem sabe? o quintal estivesse se alargando para abraçar e atualizar o mundo de minha mãe. No dia seguinte, ela colocou nos braços os seus mais recentes bisnetos, Gabriela e Rafael.

sábado, junho 09, 2007

Novidades do Estado

Havia uma propaganda de um banco, cujo dono virou ministro e cujo banco faliu, que lembrava: o tempo passa o tempo voa... e os corruptos, bem defendidos quando exerciam o poder, e a pouco tempo, ocupando ministérios, começam a ser condenados na Justiça. Este é o caso de ex-ministro e atual deputado Antonio Palocci. A nota abaixo saiu na coluna de Hélio Fernandes, na Tribuna da Imprensa:

Antonio Palocci foi condenado por IMPROBIDADE, em 2 processos. Em ambos quando era prefeito de Ribeirão Preto. Era tudo verdade mesmo. E não foi só ele, todo o primeiro escalão que veio com Lula.

Também uma operadora telefônica que auxiliou o filho do presidente Lula a ficar rico em seis meses, com negócios escusos, e na época que descobriram a negociata foii defendido pelo pai e pela imprensa, também foi condenada pela Justiça por ter feito negócios à margem da lei. A condenação só saiu para um dos interessados culpados: a companhia telefônica. O beneficiado, o que enriqueceu não foi a julgamento. Continua “inocente”. Agora o seu tio está envolvido com outras máfias.

As frase abaixo são do Barão do Itareré, Aparício Torelly, analista das coisas sérias do Brasil. Elas foram publicadas na coluna de Sebastião Nery. Pensando bem esse Barão é eterno

- "Temos dois grupos de heróis: os que o País chora por terem morrido e os que o País chora por não terem morrido"

- "O voto deve ser rigorosamente secreto : para o eleitor não ter vergonha de seu candidato".

- "Prenderam-me por ter conversado com Prestes. Impossível. Com Prestes ninguém conversa. Ele fala sozinho"

- "O Estado Novo é o estado a que chegamos"

sexta-feira, junho 08, 2007

G8, G5 e C162

Recebi esta carta reflexão sobre esta questão crucial que é o excesso e a falta de alimentos , saúde e cuidado com o ser humano. é uma reflexão sobre duas reuniões onde diferentes tipos de poder discutem sobre o mesmo problema. Vale a reflexão parta todos. o Autor da reflexão é dom Demétrio

D. Demétrio Valentini, bispo da diocese de Jales, SP. BR

Nesta semana coincidem dois eventos, aparentemente desproporcionais, mas que têm entre si uma evidente relação.
Em Heiligendamm, na Alemanha, cercados de toda segurança, estão reunidos os chefes dos oito países mais ricos do mundo. Na sua agenda, os rumos da macroeconomia, e as providências para garantir a continuidade dos bons negócios que a sustentam. E’ o famoso G 8, que além dos sete países mais industrializados inclui também a Rússia, que não tem muitas indústrias mas tem bomba atômica, o que deixa entrever o íntimo parentesco entre guerra e economia.
Em Roma, no Vaticano, representantes de 162 países realizam a assembléia da Cáritas Internacional, dispostos a levar adiante seus projetos de solidariedade para com as populações pobres do mundo, iluminados pelo lema que esperam colocar em prática, para serem “testemunhas da caridade e construtores da paz”.
A coincidência das duas reuniões com a festa do Corpo de Deus coloca um cenário comum, incômodo e inevitável: as multidões famintas, que não têm o que comer, e que não podem ser dispensadas.
O Evangelho descreve com clareza a solução encontrada por Cristo, contrariando a sugestão dos apóstolos. Diante do povo faminto, não valem desculpas. A fome precisa ser saciada. “Dai-lhes vós mesmos de comer!”, foi a ordem peremptória de Cristo.
Nas duas reuniões, o Cristo continua fazendo a mesma pergunta: “Quantos pães tendes?”
O grupo dos 162 poderia responder como os apóstolos: “temos alguns pães, mas o que é isto para tanta gente!”. Com certeza o Cristo continuaria respondendo da mesma maneira: “Dai-lhes vós mesmos de comer”. O pouco se torna muito, quando o povo começa a se organizar, e quando o pão começa a ser repartido.
Diante da mesma pergunta, o grupo dos 8 é que deveria ficar muito encabulado. Pois a fome no mundo tem tudo a ver com os grandes estoques guardados a sete chaves, e que não são colocados para saciar a fome das multidões de hoje. Tempos atrás a Alemanha constatou que seu estoque de manteiga daria para distribuir um quilo para cada habitante do mundo. Mas a manteiga permanecia estocada.
A economia sabe acumular, não aprendeu a distribuir. Esta a questão que deve ser colocada com contundência.Hoje a pobreza assume feições muito mais dramáticas do que a descrita no Evangelho. Partilhando suas preocupações, os representantes da Cáritas advertem que a cada três segundos morre no mundo uma criança vitimada pela pobreza. São três bilhões de pessoas, quase a metade da população mundial, que sobrevivem com menos de um dólar por dia. São quarenta milhões infectados pelo vírus HIV. E somando todas as situações, persistem ainda hoje no mundo trinta focos de guerra.

quinta-feira, junho 07, 2007

Negócios de fsmílis e o público

Todos temos famílias e cada um sofre os benefícios e os malefícios que essa instituição nos traz. Na maioria dos casos, os problemas familiares ficam no âmbito da própria família, às vezes extravasando para a "família larga" ou para os vizinhos mais próximos. Em cada família os pecadilhos aparecem e são, em grande número, absorvidos. O problema pode surgir quando a família, por razões de interesse político, torna-se mais pública que desejaria.
Lembremos, por exemplo, o caso do irmão do presidente estadunidense Jimmy Carter. Ele, um pastor, um homem dedicado á Igreja e aos negócios da sociedade, e da Comissão Trilateral, não poucas vezes foi atormentado pelo irmão bêbado, que algumas vezes quiz utilizar-se do "cargo" de irmão do presidente para não ser preso. Mas não funcionou. Negócios do Estado não se misturam com negócios de família.
O mesmo aconteceu com as filhas do atual presidente dos Estados Unidos da América, paradas em alguma delagacia por estarem dirigindo embriagadas (o que era um costume que o pai superou), apesar de serem descendentes do homem ocupante do cargo mais poderoso do planeta. Tem também os ricos que não escapam das normas criadas para todos os cidadãos e não apenas para os que vivem na planície do poder; sabemos que atualmente a herdeira de uma das maiores redes de hotéis do mundo, presa nos próximos 23 dias,- e sem celular. Esse privilégio de preso com celular só no Brasil, pois os que criam as leis sabem que um dia podem precisar do celular.
Muita gente está surpresa porque o irmão do presidente Lula está sendo investigado e, agora indiciado por estar abusando do "cargo" de irmão do presidente. A surpresa é compreensível, pois filhos de prefeitos/as não podem, essa é tradição, ser acusados nesse país e, jamais criminosos de colarinho devem utilizar as algemas. É que em terra de analfabetos, diplomas universitários são títulos de nobreza e o exercício de cargos públicos transformam mortais em habitantes do Monte Olimpo. Vejam o comportamento indecoroso dos senadores da República acobertando, ou seja, colocando "debaixo dos panos" as peripécias do sobrevivente da " collorida república das Alagoas". Esse cobertor a quantos acoberta, acobertou e acobertará?
Pode ser que esse incidente com o Vavá Inácio, que já havia sido admoestado - não julgado - pelo irmão algum tempo atrás, nos encaminhe para uma sociedade realmente republicana, como dizia o assessor jurídico de Palocci e doblê de ministro da Justiça.

quarta-feira, junho 06, 2007

A Guerra dos Seis Dias

Na vida de cada um, algumas experiências, alguns momentos ficam como marcas de degraus que foram utilizados na direção de uma consciência que construímos na vida.
Nesta semana todos ouvimos falar dos 40 anos da Guerra dos Seis Dias, um momento fulgoroso na vida do Estado de Israel em sua luta para manter-se vivo, segundo alguns, para evitar a existência de outros, segundo outros. Naquela guerra apareceu a figura de Moshe Dayan, um general que surprendeu o mundo ao destruir, ainda em solo, a aviação egípcia e que humilhou, com a rapidez de sua ação, todas as nações árabes. Dessa guerra, que pareceu consolidar a existência de Israel, fortaleceu-se a luta dos palestinos.
Mas tomei esse tema, não para discorrer sobre a guerra judia-árabe-palestina, mas porque a ocorrência dessa guerra me fez sentir a pequenez da existência, dos nossos lugares e, simultaneamente, me fez caminhar na direção de entender a grandeza do que somos.
Naquela semana de junho, um grupo de jovens de Nova Descoberta, um ponto na periferia do Recife, havíamos ido a um lugar em Alagoas, nós tínhamos ido a União dos Palmares. Fazíamos parte do grupo de jovens da Igreja Católica e, a convite dos padres canadenses que atuavam naquela região, fomos animar os jovens da cidade. Os padres eram canadenses, entre eles havia Donald e um que imitava, à perfeição John Wayne. Talvez o que ocorreu naquela semana, vivido por Samuel Freitas, Lia Vicente, Josenita Arcanjom, Nita e eu, venha a merecer uma pequena reflexão neste meu blog.
Mas o que me interessa hoje é lembrar a relação dessa nossa viagem 'pastoral' e a Guerra dos Seis Dias. Passamos toda a semana no interior de alagoas, conversamos sobre a experiência que tínhamos e ouvimos a experiência de nossos novos amigos e companheiros de jornada que viviam em União dos Palmares. No retorno, ainda no ônibus o rádio anunciou o que estava acontecendo no Oriente Médio e informava a destruição do pderio aéreo dos egípcios. Todos nós, que no momento estávamos refletindo sobre o que havíamos feito na cidade alagoana, silenciamos. Tivemos a impressão que, a qualquer momento, o que ocorria no Deserto do Sinai poderia ocorrer em qualquer lugar do mundo, e todos estávamos à mercê dos gênios da guerra e, talvez nosso trabalho, que julgávamos devia contribuir para melhorar o mundo, de nada valesse. O rádio que nos trouxe os sinais da guerra do Sinai, nos pôs, como diria um escritor português, "nos pôs no coração um grande medo". Naquele momento, saindo do interior das Alagoas, me senti tão só quanto se estivesse no Deserto do Sinai. E tanto fazia se como soldado ou como pastor. A guerra não fazia sentido para nenhum de nós, mas ela nos dominava, ela nos dizia que a guerra pode nos alcançar a qualquer momento. Vivíamos na ditadura militar, e ações dos militares em outros países repercutiam em nós. A Guerra dos Seis Dias, me pôs a entender que todos, desde União dos Palmares, Nova Descoberta ou qualquer lugar, éramos sempre o mesmo lugar. As angústias do mundo passaram a ser minhas companheiras desde aquele dia em que escutei, pela primeira vez as palavras Moshe Dayan.
O mundo globalizava-se naquelas duas palavras enquanto eu voltava para Nova Descoberta.

segunda-feira, junho 04, 2007

As festas dos amores

Estamos no início do mês de junho, que significa um período de muitas festas em comemoração a dois santos católicos que, de alguma forma, coincidem com certas tradições de religiões ligadas à fertilidade.
Santo Antonio, às vezes conhecido como de Pádua - por ter sido professor na universidade alí criada no século XIII,(mas niguém quer saber do filósofo e doutor em filosofia e teologia); às vezes é de Lisboa, para lembrar a terra de seu nascimento. Durante alguns séculos Antonio, que ra um frade franciscano, foi soldado protetor do litoral pernambucano. Mas Antonio terminou por ser responsabilizado pelo casamento de muitas moças. Casamento que leva à fertilidade, à família e aos filhos.
São João: esse é lembrado por ter consigo um carneiro, um menino, um pequeno pastor, louvado na noite mais fria do ano, na noite de fogueiras acesas, de juras de amor e de muitas danças. As pessoas nao festejam o João que batiza a Jesus, o homem sério que enfrenta o rei Herodes. Não. Aqui, nesse mês, se celebra a criança, o começo da vida.
A celebração é do nascimento de um menino que anuncia o nascimento de outro e que coincide com a colheita do milho. É a celebração da fartura da vida.
Tudo isso é uma festa dos tempos em que a agricultura era a principal atividade econômica da nossa soceidade, e havia uma relação mais direta com as forças da natureza. Hoje, as pessoas não conseguem fazer essa ligação com o mundo que gerou as festas. Mas elas continuam a festejar o amor, a amizade, o calor, a vida, tudo em torno da fogueira. As fogueiras eram acesas para espantar os animais e para juntar as pessoas. Em torno da fogueira se contava a vida, se celebrava a vida. Ainda hoje, com outras aproximações, mas sempre, em torno o calor da fogueira, as danças anunciam o amor.

sexta-feira, junho 01, 2007

Tornando-se brasileiro

Tem sido interessante a divulgação de resultados de um pesquisa realizada pela BBC, envolvendo lideranças de diversos movimentos negros no Brasil. Parece que essa pesquisa vem no rastro de uma entrevista que a Secretária para Assuntos de Igualdade Racial no Brasil (coisa essa estranha esse ministério da raça, pois nele não há brancos, mestiços e índios, só afrodescendentes! Entretanto afrodescendentes podem ser - na maioria são mestiços).

A pesquisa pretende verificar qual o percentual de africanidade, europeidade e amerindiidade nesses senhores e senhoras representativos da comunidade de brasileiros afrodescendentes. Penso que a maioria deles aceitou realizar os exames de DNA para comprovar que são africanos e, portanto, solicitar alguma indenização ao Brasil, país onde estão, segundo pensam, exilados. Pelo menos foi isso que entendi das declarações de um cantor - Seu Jorge, quando soube que, além de indiodescendente também é eurodescendente. Já a senhora Sandra de Sá está feliz por ser quase cem por cento africana. Tem um pouco de índio e europeu para atrapalhar o projeto de raça pura. Mas como ela diz,"isso explica muita coisa". O frei David, por seu turno, ficou desconcertado ao descobrir que a sua origem primeira não é africana; mas ele é resultante de um encontro entre um europeu e uma ameríndia, tendo os genes africanos entrado na sua vida muito tempo depois, de tal forma que não é garantido informar de qual localidade africana ele é originado. Ele não se contenta que a ciência tenha essa dificuldade. Já a campeão Diane dos Santos, é o exemplar perfeito do brasileiro, com todas as origens balanceadas. Ela está muito feliz por confirmar o que todos sabemos: somos todos miscigenado, em maior ou menor escala.

Essa pesquisa poderá nos auxiliar a entender melhor o que nós somos e, se soubermos pensar, nos fazer superar esse sentimento de inferioridade que a organização cultural, resultante do desenrolar da vida humana que teve a Europa como vetor, nos pôs. Quem sabe, podemos superar essa doença de nos rejeitarmos.

Alguns brasileiros rejeitam suas origens africanas, outros rejeitam suas origens ameríndias, outros rejeitam suas origens européias. Isso é uma doença social. é necessário discutir quem nós somos a partir de nós mesmos. Vamos nos autocentrar. Como ser um um ser humano rejeitando parte do seu própio ser?