quarta-feira, agosto 26, 2009

Criando novos laços

Quero dividir essa alegria com todos os leitores deste blog


Querido amigo Biu

Encontramos nossos irmãos graças ao seu blog - e através da história de Biriba.
Nosso irmão se chama Andre e mora aqui em Recife, na Rodinha, antigo Córrego do Euclides. Já nos encontramos varias vezes. Temos também mais duas irmães que moram no Rio de Janeiro - neste feriado de sete de setembro, elas virão do Rio exclusivamente para nos conhecer. Que chique!.. estamos muito felizes. Será um almoço no dia 06/09 lá em casa. Se você quizer aparecer será uma honra.

Beijos da amiga de ontem e sempre

Rosa Vasconcelos

Rosa se refere ao que publiquei no domingo, Novembro 23, 2008
Antonio Melo, cidadão de Nova Descoberta, do Recife e do mundo.

segunda-feira, agosto 24, 2009

XII Jornada Teológica Dom Hélder Câmara

Dedicada a todos que permanecem fiéis ao ideário libertador
de Dom Helder, para a Igreja e para o Mundo

Tema: “Dom Helder Camara:
Centenário do Profeta da Justiça,
da Esperança e da Libertação”.

Data: 24, 25 e 26 de agosto/2009, às 19h
Local: FAFIRE

Programação
Dia 24 - Palestra: “O Dom, Profeta da Justiça” - Frei Betto:
- Momento Cultural: “Grupo de Danças do Tururu”

Dia 25 - Palestra: “O Dom, Profeta da Esperança” - Pe. João Batista Libânio
- Momento Cultural: “Grupo de Artes da Casa de Frei Francisco”

Dia 26 - Palestra: “O Dom, Profeta da Libertação” - Ivone Gebara
- Momento Cultural: “Arricirco”

ENTRADA FRANCA
Fone: (81) 3325.2762 / (81) 3342.0659
Fax: (81) 3341.0539

e-mail: igrejanova@igrejanova.jor.

Partilha: Colabore com a Biblioteca Popular do Coque doando Livros, Revistas
Infanto-juvenis, Gibis, cadernos, lápis e canetas coloridas, papel ofício ou cartolinas.

quinta-feira, agosto 20, 2009

O folclore

O mês de agosto sempre nos prega peças. Dizem que sempre carrega problemas políticos e os mais ligados à religião mesopotâmica nos dirão que os astros comandam esse mês, o mês do Saci Pererê, o mês das bruxas, da Noite de São Bartolomeu, das bombas que apressaram o final da Guerra que começou em agosto de 1914, o mês da morte de Agamenon Magalhães, do salto para a História dado por Getúlio Vargas, e suicídio político de Jânio Quadros, que virou Zumbi e voltou prefeito de São Paulo, etc., etc., etc.
Esse mês que nas escolas de Ensino Fundamental é apresentado como o Mês de Folclore ou da Cultura, agora passa a ser o mês de Sarney, uma figura quase folclórica, o Bicho Papão da política brasileira. “Ele põe todas as criancinhas no saco e as leva para comer seu fígado”. Era assim que dizia, que o Bicho Papão fazia, mas não lembro que ele, nas histórias que ouvi, usasse casaca. Mas ele fazia desaparecer as criancinhas, especialmente aquelas que não seguiam os conselhos dos pais e responsáveis. Mais ou menos assim como essa semana desapareceu um partido da ética, completamente partido, bem partido como o bigode de Mercadante, menino que esqueceu as lições do velho general que até enfrentou a ditadura. Mas, sob a orientação do grande líder, ele seguiu o caminho turvo que o afastou da casa da Vó democracia e, seduzido pelo “sapo barbudo” que virou príncipe, terminou parando no saco do Bicho Papão que é dono do Maranhão e sócio das lagoas. O pt virou folclórico, no sentido mais degradado da palavra, de coisa morta, de algo posto para observação de estudiosos, ou melhor, de viajantes que escreverão suas “notas dominicais”.

Contam que no Maranhão, em uma lagoa que reflete a luz da lua está escondido o rei Dom Sebastião que um dia virá para restaurar a Portugal. Vai ver que foi isso que aconteceu nesse mês de agosto. Voltou-se ao reino, às histórias de Trancoso.

sexta-feira, agosto 14, 2009

Os sinais do novo episcopado

No próximo dia 16 de agosto, a cidade do Recife assistirá um cerimonial memorável: a posse de um novo arcebispo. Em carro aberto, o bispo desfila pela cidade, se oferece aos gulosos olhos da população. Vi esse espetáculo recentemente em Garanhuns. Houve um tempo em que acontecimento semelhante causava mais alarde, pois toda a cidade era católica e o bispo era um novo príncipe que chegava para tomar posse de seu território físico e espiritual. Mas esses eram tempos herdados da Baixa Idade Média e mesmo até o final do século XIX na Península Itálica, mais precisamente nos ditos Territórios de São Pedro, os quais teriam sido doados por Constantino, confirmados por Clóvis Meroveu e Capetos. Mas atualmente boa parte da população do Recife já não tem o catolicismo como rito religioso único, embora seja dominante e, mesmo os que são católicos já não consideram o bispo como príncipe, mas como um servidor do povo a quem vem dirigir. Se a expressão servus servorum Dei, talvez cunhada pelo papa Gregório VII, escolhido bispo de Roma por aclamação popular dos romanos (1073), (era um irmão beneditino, não era padre), tem servido de modelo formal para muitos que assumem postos na Igreja Romana, parece haver uma expectativa positiva dos católicos em relação ao beneditino Dom Fernando Saburido, o bispo que foi escolhido pelo Discatério romano para assumir a direção da Arquidiocese de Olinda e Recife.

É nosso costume fazer comparações. Elas nos auxiliam a tomar compreender o mundo, a orientar as decisões que tomamos. Os estudos são sempre comparativos, e essas comparações devam seguir certas normas para que as conclusões não sejam tomadas a partir de premissas falsas. Os católicos e os não católicos que vivem na Arquidiocese de Olinda e Recife estão exercitando, em relação ao futuro bispo, essa arte, a da comparação e a estão fazendo não tanto a partir da prática, mas dos desejos. Ah! Os desejos sempre auxiliam a criar a realidade.

O ponto de comparação é o atual arcebispo, Dom José Cardoso Sobrinho, que se torna emérito, aposentado, voltará à sua condição de padre, não mais poderá falar como autoridade eclesiástica, não mais fará parte do núcleo do poder, ficará em silêncio, assim como Dom Hélder após um telefonema. Ora, como príncipe e como bispo Dom José Cardoso não conseguiu o afeto de grande parte dos seus diocesanos. Mas, nenhum bispo ou arcebispo de Olinda e Recife foi amado pela totalidade de seus súditos. Os príncipes não precisam ser amados. Dizem que Dom Cardoso teria sido indicado pelo Discatério para arcebispo de Olinda e Recife, porque um bispo progressista teria lembrado que há de um século a sede arquiepiscopal da Província Pernambucana não tivera um bispo nascido em Pernambuco. Roma atendeu a lembrança solitária daquele eminente bispo e a Arquidiocese recebeu o pernambucano nascido em Caruaru, Carmelita formado em Goiana e doutor em Direito Romano por academia pontifícia. Talvez, mais do que o fato de ter ele nascido em Pernambuco, o que tenha pesado mais na decisão romana foi a orientação política conservadora do então bispo de Tacaratu, MG. Havia outros pernambucanos que poderiam ser escolhidos, mas não eram conservadores, não estavam indo na direção que os ventos do Vaticano sopravam, e a direção indicava calmaria ou o não atracamento no cais de projetos que então ruíam e que o Vaticano auxiliara a corroer.

Quando assumiu a arquidiocese, Dom Cardoso encontrou um rebanho que suspeitava dele e do qual ele também suspeitava. Para os católicos “progressistas”, e os progressistas não católicos, a chegada de Dom Cardoso punha problemas que os desfavorecia naquela conjuntura política e eclesiástica. E aí estava o cerne da questão eclesial que Dom José Cardoso não soube –ou não quis – solucionar. Dom Cardoso chegava para governar uma diocese em que parte dos católicos já não se sentiam súditos de uma sociedade feudal, mas que haviam desfrutado de uma participação quase democrática – na linguagem eclesiástica diz-se colegiada -; na sociedade recifense havia aqueles que receberam orientação católica e desejam uma possibilidade de prática religiosa que não fosse confundida com aquela de seus pais e avós, esses estavam retornando aos templos, alguns chegavam a afirmar que haviam feito a Primeira Comunhão e casado segundo o ritual romano. Essa pequena utopia, e as pequenas utopias são sempre maiores que os maiores sonhos, quase se realizara nos anos do pastoreio de Dom Hélder, os anos imediatamente anteriores á chegada de Dom Cardoso. Mas em um outro lado desse paralelogramo havia um grupo de católicos conservadores que silenciara obedientemente, catolicamente, durante o período helderiano, e foi com esse grupo de padres e leigos que o bispo canonista fez o governo da diocese que lhe fora confiada pelo papa João Paulo II.

Embora carmelita, ordem criada após a morte de Gregório VII, Dom José Cardoso assumiu a tarefa de defender a Igreja, a convicção gregoriana de que a Igreja se coloca acima de todas as vicissitudes humanas. À Igreja e ao papa todas as autoridades estão submetidas, diz o Dicatatus Papae. Muito dos que não concordaram saíram, ou mantiveram-se catolicamente. Mas agora é a hora do exílio a que todo bispo, desde decreto de Paulo VI, está sujeito. Note-se: Dom Cardoso não foi afastado da arquidiocese senão quando a lei obrigou, o que significa que ele fez aquilo que lhe foi pedido pela Congregação dos Bispos. Religiões são carregadas de atos simbólicos e o entendimento desses atos nos fornecem a compreensão dos fatos que ocorrem nas instituições religiosas e nas demais instituições de poder. Poderes são dados àqueles que reconhecem o poder. Vejamos: enquanto o seu antecessor não conseguiu que aquele Discatério lhe concedesse um auxiliar, Dom Cardoso recebeu três auxiliares, entre eles, Dom Fernando Saburido que receberá o báculo arquiepiscopal, das mãos de Dom José Cardoso, na concatedral da Madre de Deus.

Recebi uma pergunta que me afirmava ser Dom Fernando Saburido mais carismático que o arcebispo que retira. É provável. Disse-me, essa pessoa, que quando pároco da paróquia de São Lucas, Ouro Preto, Olinda, PE, o vigário conhecia as pessoas, conversava com elas, enquanto dom Cardoso não parecia ter essa preocupação. Realmente é parte do carisma de um padre estar preocupado com os seus paroquianos, estar em contato com eles e auxiliá-los a superar os confrontos diários. É o carisma da função e nem sempre aquele que está na função tem o carisma da função. Parece que o padre Fernando Saburido tem uma boa relação com o carisma sacerdotal. Mas, as pessoas que fazem essa comparação não conviveram com Dom José Cardoso enquanto vigário. Parece que Dom José Cardoso jamais foi vigário de uma paróquia, ele sempre este envolvido com os estudos e o ensino do Direito Canônico, só deixando a academia para ser bispo de Tacaratu, cidade que, quando era povoado, marcava o fim da diocese de Pernambuco. Mas, teremos que esperar para ver como Dom Fernando Saburido marcará a Arquidiocese de Olinda e Recife, como exercerá o múnus e o carisma episcopal na historicamente problemática arquidiocese pernambucana.

Enquanto isso, nós podemos analisar as pistas que sua posse nos oferece para uma possível compreensão inicial. E aqui temos mais símbolos. A entrada do bispo em uma cidade é uma maneira que ele tem para dizer sem palavras, idéias que nem sempre afloram conscientemente. Apresentar-se para ser conhecido e reconhecido. A apresentação do príncipe diz quem esse príncipe pretende ser, e diz para além de suas palavras. Aqui temos conjecturas, pensamentos mistos, de cientista e também de católico que viverá o seu quinto arcebispo.

Nascido na cidade do Cabo de Santo Agostinho, Fernando Saburido teve toda a sua formação no Recife e em Olinda, ordenado padre em 1983 no Mosteiro de São Bento, tendo atuado em várias paróquias em Olinda, foi sagrado bispo no ano 2000, sendo auxiliar na Arquidiocese de Olinda e Recife e bispo de Sobral, CE.

Pelo que li nos jornais, Dom Fernando Saburido, ao chegar em Pernambuco, irá para a sua casa monástica, o Mosteiro de São Bento, em Olinda, antiga sede episcopal. De lá irá até próximo ao Palácio Rio Capibaribe, sede da Prefeitura do Recife, onde subirá em carro de bombeiro e desfilará até a Concatedral da Madre de Deus, que pertenceu à Ordem dos Padres Oratorianos, onde receberá o Báculo e de onde sairá para a aclamação popular na Praça do Marco Zero. Após toda essa cerimônia, retornará para Olinda, onde residirá no Seminário de Olinda. O Palácio do Manguinhos será a Chancelaria da Arquidiocese. Se esse roteiro for verdadeiro e realizado, teremos um arcebispo que, no seu primeiro dia de trabalho pisará apenas na Olinda e Recife dos séculos XVI a XVIII.

quarta-feira, agosto 12, 2009

A dois passos do paraíso

Algumas ocupações humanas são tão antigas quanto a própria vida social. Outras ocupações são mais recentes, embora, se as observarmos bem, elas são aperfeiçoamentos de outras. Conversas são antigas.

Na tradição judaica, uma tradição da palavra, os dois primeiros capítulos apresentam uma narração que é sempre uma conversa do ser consigo mesmo: é Javé conversando consigo enquanto cria o mundo e, quando o primeiro homem diz a primeira conversa é uma conversa consigo mesmo, quando ele define o que é a mulher. Não existe o outro que pode pensar ou falar ou se definir, mas é o mesmo que diz o que o outro é.

A primeira conversa, de um ser com outro ser ocorre entre a Serpente e a Mulher. Sabemos o resultado dessa primeira conversa sobre o fruto que havia sido proibido. Daí então virão muitas outras conversas. E o próprio Javé dirige-se diretamente às suas criaturas que se escondem, começam a colocar a culpa de uma ação realizada escondida do criador do jardim no outro; dizem que se um errou o outro também está errado; mas ninguém assume que é responsável pelo que fez. É um parlamento, uma assembléia cheia de acusações aos demais, jamais de auto-acusações, de assumpção de responsabilidades.

Outro incidente de pouca conversa entre os homens envolvidos é a história de Caim e Abel, que jamais trocam palavras entre si. Caim mata Abel sem que o relator dos acontecimentos apresente os dois conversando. Apenas diz que Caim diz para Abel: “Saíamos.” E o mata. Javé conversa com Caim antes e após a morte de Abel. E após a morte de Abel, Caim conversa com Javé, e suas palavras são semelhantes a de seus pais após terem se refestelado secretamente do fruto que lhes havia sido proibido. Descoberta a farra que em segredo foi realizada em benefício de alguns, surpresos por terem sido descobertos, todos começara a parlamentar que eram inocentes, ou nada poderia lhes ser imputados, pois os outros também o fizeram. Quanto a Abel, bem esse jamais falou, ele foi quem mais perdeu, embora Javé tivesse gostado muito de suas ofertas.

Ora, conversar, trocar idéias, dizer o que pensa, o sente, mas fazer isso de maneira explícita para ser a base de todo bom entendimento. Conversando podemos chegar a novas maneiras de entender o que já entendemos, ou perceber que o outro que nos enganar. Toda boa mercancia vem de muita conversa, de muito diálogo: mercadores, mercadantes, bons comerciantes, bons parlamentares sabem disso. Mas é sempre bom conversar de maneira que todos os interessados tenham participação, que nada seja secreto, ou só de alguns. É certo que Javé teve que decidir consigo mesmo a criação, ele teve que convencer-se que era algo a ser feito. Parece que ele disse, informou que não deveria haver banquete com um determinado fruto, entre tantos que estavam á disposição. Ele não fez segredo disso. Até disse o seu uso levaria á morte, à destruição. Mas, eis que ocorreu uma conversa entre uma personagem – serpente – com outros personagens - mulher, homem – mas na ausência de um dos personagens – Javé. Dessa reunião secreta veio o banquete do qual frutificou a morte anunciada.

Os negócios feitos às escondidas levam à morte das conversas, das possibilidades de entendimento, pois todos põem a culpa nos demais. Ninguém é culpado. Nem o irmão, nem o pai, nem o avô, nem o neto, nem o namorado, nem o amigo, nem o coronel, nem o cangaceiro, nem o agricultor, nem o pastor, nem o conselheiro. E como ninguém é culpado, todos vivem com medo, pois parece haver uma possibilidade de existir, em algum lugar, um dossiê, uma pasta vermelha (pode até estar vazia) que seja uma chamada para uma conversa com algum mercador andante, algum especialista em prometer que “seus olhos abrirão e sereis como deuses, versados no bem e no mal”.

E então...

quinta-feira, agosto 06, 2009

Sabedoria paraguaia:O Brasil aceita tudo

“O Brasil aceita tudo.” Esta bela frase, tornada pública em matéria jornalística no dia 5 de agosto, foi dita por um paraguaio que ensinava como utilizar, no Brasil, documentos forjados no Paraguai, aceitos por brasileiros. Um claro ato de não observância das leis locais e internacionais. Mas ele fazia isso com tranqüilidade, pois, vendia facilmente carros a brasileiros que aceitam falsificar documentos de residência para justificar a compra de automóveis no país vizinho. Os documentos forjados no Paraguai devem ser usados no Brasil, e isso está sendo feito pois “o Brasil aceita tudo” , como diz o sábio paraguaio que assiste o Brasil aceitar todas as exigências feitas pelo presidente Lugo.

Assim parece pensar grande parte dos brasileiros. Em reportagem esportiva, após a desclassificação de cinco atletas brasileiros por uso de substância não permitida, o repórter perguntou se, tendo o técnico assumido que foi dele a decisão de orientar os atletas a usarem a substância, não seria possível diminuir a pena dos atletas. Bem que se poderia dar um jeitinho, e fazer de contas que os atletas não seriam responsáveis pelo que põem dentro de seus corpos. A pergunta do repórter mostra que, talvez o paraguaio tenha razão. “O Brasil aceita tudo”. O Brasil aceita que uma pessoa possa dizer publicamente que não conhece o seu afilhado, mesmo que uma fotografia o mostre, no dia do casamento, ao lado do afilhado. O Brasil aceita tudo.

Durante a ditadura militar, compreendendo que os eleitores, proibidos de votarem para os cargos de governadores de seus estados, estavam votando sistematicamente em pessoas que, no Senado, fariam oposição ao regime, o ditador Ernesto Geisel fechou o Congresso e veio com um “pacote de abril”, modificando a composição do Senado. Até então cada estado federativo escolhia dois senadores para formar a Casa Revisora Mas, com o objetivo de garantir a presença majoritária do regime e garantir a "governabilidade", foi criado o terceiro senador, este escolhido pelo ditador de plantão. Foi o que se chamou de “senador biônico”, aquele que é escolhido para cargo eletivo sem ter sido votado, sem sido a escolha do povo. Alguns anos depois a ditadura sucumbiu e foi convocada uma Assembléia Constituinte que fez a Constituição. Na nova Constituição, cidadã, como disse o deputado Ulisses Guimarães, manteve em três o número de senadores, ao invés de eliminar a cria da ditadura. E, para a eleição desses senadores foi posta a figura dos suplentes, que são sujeitos ocultos ou ocultados. Esses são eleitos com os votos daqueles, sem que os eleitores saibam quem são eles. Quase um terço dos atuais senadores chegaram ao posto sem terem sido eleitos, são suplentes.

Atualmente, tem uma comissão de Ética no Senado que está investigando o senador que disse não conhecer seu afilhado (mentiu) e esta comissão está sendo presidida por um senador que era suplente do suplente. Como dizia o sábio paraguaio: O Brasil aceita tudo.

sábado, agosto 01, 2009

A Biblioteca Nacional e o Ponto de Cultura e Leitura Maracatu Estrela de Ouro

Escuto o Yellow Submarine, que diz que tudo que eu preciso é amor. Essa é uma eterna questão, pois o amor é vivido nos atos dos dias da vida e não apenas com palavras ocas. O amor é um eterno ato de criação nas experiências diárias. Hoje,vivi algumas experiências interessantes. Hoje, algumas dessas experiências ocorreram na casa do Ponto de Cultura Estrela de Ouro de Aliança.

Aliança é uma cidade da Zona da Mata Norte de Pernambuco, uma cidade pobre: pobre de dinheiro na mão do povo; aparentemente pobre na cabeça, na imaginação dos que dirigem a cidade, pobre de presente, pobre de futuro e rica de um passado pobre. Entretanto a cidade é rica de canaviais. Nesta cidade, auxiliamos a organizar um Ponto de Cultura, o Ponto de Cultura Estrela de Ouro que, em sua primeira ação, promoveu a interação social de 26 jovens, alguns agora estão inseridos no mercado de trabalho em Aliança e em cidades vizinhas.

Essa ação levou-me a escrever dois livros: Festa de Caboclo e Maracatu Estrela de Ouro, a Saga de uma tradição. Um pouco sem sentir, saiu quase uma história da cidade. Mas tem sido difícil manter contato com o Secretário de Educação da Cidade. Assim ainda não pude dizer a ele que o Ponto de Cultura Estrela de Ouro de Aliança agora é parte da rede que está sendo formada a partir da Biblioteca Nacional e que a cidade de Aliança faz parte de uma grande rede nacional de bibliotecas. O Ponto de Cultura, a partir de um pequeno projeto – Leitura no Ponto, Agora é reconhecido como Ponto de Leitura.

Em 2005 o Maracatu Estrela de Ouro iniciava uma parceria com Jorge Mautner com o projeto “RioPernambuco.com”, com apresentação musical no Teatro Nelson Rodrigues, no Rio de Janeiro. Aproveitamos a oportunidade para visitar o Museu Nacional e a Biblioteca Nacional. Um bando de mestiços, na sua maioria analfabeta, foi conhecer a catedral da leitura e hoje é sócio de uma instituição criada pelo Príncipe Regente português, Dom João, lá pelos idos de 1808. Fico pensando: como dizer isso a esses senhores que assumem a liderança de uma cidade sem terem como objetivo melhorar a condição de vida, melhorar a condição de educação, de saúde do seu povo. É de muita importância de que a Biblioteca Mestre Batista, em Chã de Camará seja parte do sistema nacional de bibliotecas.

Neste dia 30 de julho de 2009 o Ponto de Cultura Estrela de Ouro de Aliança, que fica ali, no meio do canavial, na Chã de Camará, que fez e faz a riquezas de alguns, assinou um documento que o associou à Biblioteca Nacional, criada pelo regente Dom João de Portugal, no ano de 1808, mas assumida, depois pelo Império e pela República, tanto quanto o Teatro Municipal.

E esse fato está ligado ao trabalho simples de voluntárias que, a cada sábado, criam e recriam o mundo de crianças e adolescentes com o pequeno acervo da Biblioteca Mestre Batista, agora acrescido com os livros e equipamentos enviados pela Bibioteca nacional.

Como é bom ouvir de jovens, entre treze e quinze anos: “Professor, já li todos os livros que o senhor trouxe a semana passada.”

Neste dia, 30 de julho recebemos da Biblioteca Nacional mais mil livros para saciar a fome de saber e conhecimento dos meninos, das meninas, dos rapazolas, das moçoilas que estão descobrindo a beleza de ler coisas novas enquanto seus pais estão cortando duas toneladas de cana. E esses jovens são filhos de cortadores de cana, bisnetos de escravos de corte de cana. Além dos livros recebemos três cadeiras, duas estantes, um computador, impressora, mesa e cadeira. Que bela essa ligação entre a Biblioteca Nacional e os Pontos de Cultura que sabem que cultura é, também, leitura, reflexão e escrita e não apenas, como podem pensar, batuque e rebolado. Os caboclos de Lança de Cambará não são apenas de apito, mas apitam para o futuro.

Isso me faz ver como foram desprezíveis certas dores sofridas no contato com os descendentes dos senhores de engenhos falidos (alguns foram meus professores). Gilberto Freyre teve sobre a sua classe a dignidade da crítica, analisando a decadência dos senhores de engenho por não terem criado condições de integrar os trabalhadores ao mundo que a riqueza do açúcar criava. Mais do que doação do “bolsa família” é mais interessante para o futuro cuidar com mais afinco as transferências culturais. Também é desnecessária a "bolsa ditadura", esta concedida aos “revolucionários” que, sempre disseram, desejar o melhor para o povo que, no Brasil, é esse pessoal que nem sempre tem o mínimo para sobreviver. A maioria dessas "bolsas ditadura" está sendo dada a jornalistas, advogados, políticos, e tantos outros que a recebem por "quase terem se sacraficado" pelo povo.

Nesses tempos pode ser difícil colocar Cultura e Leitura juntos, pois há quem ache que cultura é só rebolado e que roubo é só de galinha. Mas, nós sabemos, lula sempre foi uma enguia escorregadia.

Quero agradecer e parabenizar Wanessa, Bárbara, Amélia, que sonham comigo e as crianças cada sábado; agradecer a Afonso, Luiz Caboclo, Patrícia, Lourenço, Biu do Coco, a todos os que fazem o Ponto de Cultura Estrela de Ouro; aos meus filhos, à Associação Reviva.