sábado, agosto 01, 2009

A Biblioteca Nacional e o Ponto de Cultura e Leitura Maracatu Estrela de Ouro

Escuto o Yellow Submarine, que diz que tudo que eu preciso é amor. Essa é uma eterna questão, pois o amor é vivido nos atos dos dias da vida e não apenas com palavras ocas. O amor é um eterno ato de criação nas experiências diárias. Hoje,vivi algumas experiências interessantes. Hoje, algumas dessas experiências ocorreram na casa do Ponto de Cultura Estrela de Ouro de Aliança.

Aliança é uma cidade da Zona da Mata Norte de Pernambuco, uma cidade pobre: pobre de dinheiro na mão do povo; aparentemente pobre na cabeça, na imaginação dos que dirigem a cidade, pobre de presente, pobre de futuro e rica de um passado pobre. Entretanto a cidade é rica de canaviais. Nesta cidade, auxiliamos a organizar um Ponto de Cultura, o Ponto de Cultura Estrela de Ouro que, em sua primeira ação, promoveu a interação social de 26 jovens, alguns agora estão inseridos no mercado de trabalho em Aliança e em cidades vizinhas.

Essa ação levou-me a escrever dois livros: Festa de Caboclo e Maracatu Estrela de Ouro, a Saga de uma tradição. Um pouco sem sentir, saiu quase uma história da cidade. Mas tem sido difícil manter contato com o Secretário de Educação da Cidade. Assim ainda não pude dizer a ele que o Ponto de Cultura Estrela de Ouro de Aliança agora é parte da rede que está sendo formada a partir da Biblioteca Nacional e que a cidade de Aliança faz parte de uma grande rede nacional de bibliotecas. O Ponto de Cultura, a partir de um pequeno projeto – Leitura no Ponto, Agora é reconhecido como Ponto de Leitura.

Em 2005 o Maracatu Estrela de Ouro iniciava uma parceria com Jorge Mautner com o projeto “RioPernambuco.com”, com apresentação musical no Teatro Nelson Rodrigues, no Rio de Janeiro. Aproveitamos a oportunidade para visitar o Museu Nacional e a Biblioteca Nacional. Um bando de mestiços, na sua maioria analfabeta, foi conhecer a catedral da leitura e hoje é sócio de uma instituição criada pelo Príncipe Regente português, Dom João, lá pelos idos de 1808. Fico pensando: como dizer isso a esses senhores que assumem a liderança de uma cidade sem terem como objetivo melhorar a condição de vida, melhorar a condição de educação, de saúde do seu povo. É de muita importância de que a Biblioteca Mestre Batista, em Chã de Camará seja parte do sistema nacional de bibliotecas.

Neste dia 30 de julho de 2009 o Ponto de Cultura Estrela de Ouro de Aliança, que fica ali, no meio do canavial, na Chã de Camará, que fez e faz a riquezas de alguns, assinou um documento que o associou à Biblioteca Nacional, criada pelo regente Dom João de Portugal, no ano de 1808, mas assumida, depois pelo Império e pela República, tanto quanto o Teatro Municipal.

E esse fato está ligado ao trabalho simples de voluntárias que, a cada sábado, criam e recriam o mundo de crianças e adolescentes com o pequeno acervo da Biblioteca Mestre Batista, agora acrescido com os livros e equipamentos enviados pela Bibioteca nacional.

Como é bom ouvir de jovens, entre treze e quinze anos: “Professor, já li todos os livros que o senhor trouxe a semana passada.”

Neste dia, 30 de julho recebemos da Biblioteca Nacional mais mil livros para saciar a fome de saber e conhecimento dos meninos, das meninas, dos rapazolas, das moçoilas que estão descobrindo a beleza de ler coisas novas enquanto seus pais estão cortando duas toneladas de cana. E esses jovens são filhos de cortadores de cana, bisnetos de escravos de corte de cana. Além dos livros recebemos três cadeiras, duas estantes, um computador, impressora, mesa e cadeira. Que bela essa ligação entre a Biblioteca Nacional e os Pontos de Cultura que sabem que cultura é, também, leitura, reflexão e escrita e não apenas, como podem pensar, batuque e rebolado. Os caboclos de Lança de Cambará não são apenas de apito, mas apitam para o futuro.

Isso me faz ver como foram desprezíveis certas dores sofridas no contato com os descendentes dos senhores de engenhos falidos (alguns foram meus professores). Gilberto Freyre teve sobre a sua classe a dignidade da crítica, analisando a decadência dos senhores de engenho por não terem criado condições de integrar os trabalhadores ao mundo que a riqueza do açúcar criava. Mais do que doação do “bolsa família” é mais interessante para o futuro cuidar com mais afinco as transferências culturais. Também é desnecessária a "bolsa ditadura", esta concedida aos “revolucionários” que, sempre disseram, desejar o melhor para o povo que, no Brasil, é esse pessoal que nem sempre tem o mínimo para sobreviver. A maioria dessas "bolsas ditadura" está sendo dada a jornalistas, advogados, políticos, e tantos outros que a recebem por "quase terem se sacraficado" pelo povo.

Nesses tempos pode ser difícil colocar Cultura e Leitura juntos, pois há quem ache que cultura é só rebolado e que roubo é só de galinha. Mas, nós sabemos, lula sempre foi uma enguia escorregadia.

Quero agradecer e parabenizar Wanessa, Bárbara, Amélia, que sonham comigo e as crianças cada sábado; agradecer a Afonso, Luiz Caboclo, Patrícia, Lourenço, Biu do Coco, a todos os que fazem o Ponto de Cultura Estrela de Ouro; aos meus filhos, à Associação Reviva.

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