terça-feira, julho 28, 2009

Pobreza

Uma das notícias da semana passada foi um conjunto de dados, uma pesquisa sobre a quantidade de jovens que serão assassinados nos próximos anos. È uma cifra acima dos vinte mil jovens mortos até o final da próxima década. Esses são índices positivos na luta contra a mortalidade infantil e tudo pode ser perdido na questão da sobrevivência de jovens até 19 anos. Bem, isto está de acordo com a proposta da Organização das Nações das Nações Unidas de fazer com que até 1015 seja reduzida a pobreza extrema na América Latina. Extrema pobreza significa quem vive com um dólar por dia. Há muitos brasileiros nessa situação e o estudo “Rumo ao objetivo de reduzir a pobreza na América Latina e no Caribe” apresentado pelo CEPAL, PNUD e IPEA, diz que “seis países continuariam a reduzir a incidência de pobreza extrema, mas a um ritmo muito lento”, entre eles está o Brasil, juntamente com a Costa Rica, El Salvador México e Nicarágua. Ao mesmo tempo estamos produzindo cada vez mais riqueza. O Brasil, por exemplo, espera estar entre as cinco maiores economias do mundo ao final da segunda década do século. Isso indica que continuará o processo de concentração de renda.

Podemos inferir que a pobreza continuará sendo combatida, principalmente com a concessão de bolsas que fazem crescer o consumo, mas que não garantem a melhoria efetiva da qualidade de vida. Pessoas continuarão a viver próximas a esgotos abertos, sem água tratada, sem acesso real aos benefícios criados pela civilização tecnológica. O que essas pessoas recebem, e algumas continuarão a receber, são os efeitos negativos, globalizados com maior facilidade. Para que esse quadro realmente mude, não é necessário o Estado total, pois se assim o fosse, as sociedades do antigo império soviético teriam realizado esse sonho. Mas é necessário que o Estado esteja presente, crie e direcione projetos para que a sociedade siga nessa direção desejada. Para isso carecemos de políticos que tenham uma visão para além dos seus interesses particulares e dos interesses de seus partidos; precisamos de políticos e partidos que sejam capazes de pensar além de apenas permanecerem no poder para seus enriquecimentos comprovados com a construção de castelos, mansões, além da compra de ilhas para seus repousos pessoais.

Mas com certeza algumas coisas já mudaram. No século XIX ocorreu, em Salvador, BA, a chamada Revolta da Chinela, que foi um protesto contra a escassez de farinha e carne para a alimentação dos pobres. Foi uma reação dos mais pobres contra a política governamental que não garantia os produtos para a alimentação básica dos mais pobres, esses que andavam de chinelas, pois o uso de sapato sempre foi apanágio dos que podiam pagar tal parte do vestuário. Depois veio o tamanco, influência que nos chega com a grande imigração do final daquele século, para acompanhar os pés dos pobres. O tamanco foi muito usado até meados dos anos sessenta do século passado, e hoje é utilizado para fazer o maravilhoso trupé do Coco Raízes de Arcoverde. Então foi se estabelecendo, cinqüenta anos depois da chegada dos japoneses, a sua sandália, feita de borracha, e uma das marcas tomou conta do mercado: as havaianas. Mas era utensílio das camadas mais pobres da população. Lembro-me que Enéas Álvares, quando trabalhava no Instituto Nacional do Cinema e eu ia ao seu escritório pegar filmes para apresentar no Alto do Refúgio, em Nova Descoberta, me perguntava por que eu tinha que ir ao seu escritório de sandália havaiana. Hoje, essas havaianas fazem sucesso no mundo globalizado, com famosos as usando nos pés e nas mãos. Entretanto, ainda escutei recentemente: por que é que o senhor está de havaiana?

E o que eu vejo é que muitas sandálias havaianas descartadas ainda são reaproveitadas por aqueles que vivem com um dólar diário.

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