sexta-feira, junho 08, 2007

G8, G5 e C162

Recebi esta carta reflexão sobre esta questão crucial que é o excesso e a falta de alimentos , saúde e cuidado com o ser humano. é uma reflexão sobre duas reuniões onde diferentes tipos de poder discutem sobre o mesmo problema. Vale a reflexão parta todos. o Autor da reflexão é dom Demétrio

D. Demétrio Valentini, bispo da diocese de Jales, SP. BR

Nesta semana coincidem dois eventos, aparentemente desproporcionais, mas que têm entre si uma evidente relação.
Em Heiligendamm, na Alemanha, cercados de toda segurança, estão reunidos os chefes dos oito países mais ricos do mundo. Na sua agenda, os rumos da macroeconomia, e as providências para garantir a continuidade dos bons negócios que a sustentam. E’ o famoso G 8, que além dos sete países mais industrializados inclui também a Rússia, que não tem muitas indústrias mas tem bomba atômica, o que deixa entrever o íntimo parentesco entre guerra e economia.
Em Roma, no Vaticano, representantes de 162 países realizam a assembléia da Cáritas Internacional, dispostos a levar adiante seus projetos de solidariedade para com as populações pobres do mundo, iluminados pelo lema que esperam colocar em prática, para serem “testemunhas da caridade e construtores da paz”.
A coincidência das duas reuniões com a festa do Corpo de Deus coloca um cenário comum, incômodo e inevitável: as multidões famintas, que não têm o que comer, e que não podem ser dispensadas.
O Evangelho descreve com clareza a solução encontrada por Cristo, contrariando a sugestão dos apóstolos. Diante do povo faminto, não valem desculpas. A fome precisa ser saciada. “Dai-lhes vós mesmos de comer!”, foi a ordem peremptória de Cristo.
Nas duas reuniões, o Cristo continua fazendo a mesma pergunta: “Quantos pães tendes?”
O grupo dos 162 poderia responder como os apóstolos: “temos alguns pães, mas o que é isto para tanta gente!”. Com certeza o Cristo continuaria respondendo da mesma maneira: “Dai-lhes vós mesmos de comer”. O pouco se torna muito, quando o povo começa a se organizar, e quando o pão começa a ser repartido.
Diante da mesma pergunta, o grupo dos 8 é que deveria ficar muito encabulado. Pois a fome no mundo tem tudo a ver com os grandes estoques guardados a sete chaves, e que não são colocados para saciar a fome das multidões de hoje. Tempos atrás a Alemanha constatou que seu estoque de manteiga daria para distribuir um quilo para cada habitante do mundo. Mas a manteiga permanecia estocada.
A economia sabe acumular, não aprendeu a distribuir. Esta a questão que deve ser colocada com contundência.Hoje a pobreza assume feições muito mais dramáticas do que a descrita no Evangelho. Partilhando suas preocupações, os representantes da Cáritas advertem que a cada três segundos morre no mundo uma criança vitimada pela pobreza. São três bilhões de pessoas, quase a metade da população mundial, que sobrevivem com menos de um dólar por dia. São quarenta milhões infectados pelo vírus HIV. E somando todas as situações, persistem ainda hoje no mundo trinta focos de guerra.

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