sexta-feira, março 14, 2008

Tautologia e ensino

Os jornais deste dia informam que existem propostas de empregos bastante interessantes, uma diz que os valores a serem pagos chegam a dez mil reais e uma outra nos informa que o salário pode ficar em até quatrocentos e vinte reais. Como de praxe este último salário está reservado para professores. Mais interessante ainda é que as vagas oferecidas são para professores temporários. Não vou discutir a primeira oferta, pois ela se refere à ocupações a serviço do governo federal, necessitado de fiscais para o PAC. Mas sempre me chama atenção que no Estado de Pernambuco, que apresenta o pior desempenho educacional do Brasil, os governos continuem nessa política equivocada de não contratar profissionais a um valor decente pelo trabalho dos docentes. As vagas estão disponíveis porque os que fizeram concurso para o emprego provisório não aceitaram o salário oferecido. Já chamaram quase todos os concursados e não conseguem preencher as vagas. Não percebem que não é decente pedir a uma pessoa, que investiu quatro anos de estudos para diplomar-se, condenar-se a receber um salário mínimo, um salário que não se paga nem mesmo a coveiros. Decididamente os governos, de Pernambuco, pouco importa qual a orientação ideológica, continuam a apostar na política de impedir que os níveis educacionais ultrapassem os limites das primeiras décadas do século XX.

Mas, ontem, passei o dia com os mestres Griôs do Maracatu Estrela de Ouro de Aliança. Participei da acolhida a jovens do ensino médio de uma escola de Igarassu e, mais tarde, participei de uma oficina cultural na Escola Dom Bosco, pertencente à Rede Estadual de Ensino. Uma agradável experiência, ainda que no sol das três horas da tarde, em frente à escola, pois não há um espaço com cobertura que possa reunir os alunos para eventos desse tipo. Esta é a décima oficina que os Griôs estão realizando em escolas situadas no município de Aliança. A interação é grande e a apresentaçãoa deve ser fonte de assuntos para as aulas seguintes das diversas disciplinas.

Além da presença dos Griôs, a escola recebeu a visita de um casal de escoceses; ele professor de percussão, e veio estudar a sonoridade e o ritmo do Maracatu de Baque Solto, ela artista plástica. Aprendi que ele está em ano sabático, um período de seis meses em que fica liberado de sala de aula – mas recendo o salário - para que possa estudar, especializar-se e, então, renovado, retornar aos seus alunos com novas informações e conhecimentos. Essa prática de garantir um ano sabático ao professor, no Brasil ocorria para os professores de universidades. Entretanto, quando o Brasil foi governado pelo professor Fernando Henrique Cardoso, esse incentivo foi retirado, quando deveria ser acrescido aos professores de nível fundamental. Essas decisões políticas em não investir seriamente na educação, têm garantido o comprometimento do futuro das próximas gerações de brasileiros.

Entretanto, essas políticas garantem, também, que sempre haverá assuntos para os palanques populistas. Sempre haverá eleições e um povo que poderá ser manipulado por não ter indicações para superar o senso comum, aquele que vive da tautologia. Também garante empregos a pedagogos que vivem de assessorias a secretários de educação que julgam ser o seu papel garantir a alegria dos secretários de fazenda, sempre inovando para jamais mudar.

Um comentário:

Carlos disse...

Sim, realmente a educação não é encarada como uma política de Estado, no Brasil, a exemplo do que ocorre em outros países. Mas também ela é, de certa forma, desdenhada (o que é paradoxal) pela mesma sociedade que sofre as consequências do descaso ao ensino. Este "desdenhar" se dá de muitas maneiras, indo desde um comodismo ou indiferença de muitos pais para com a educação de seus filhos até uma aula que se baseia num planejamento feito há dez anos. Se a questão salarial se apresenta como algo vergonhoso e gritante, a acomodação ou indiferença de muitos só tende a agravar a situação. O primeiro passo é realmente termos um salário digno para os (as) que se propõem a cuidar da formação dos futuros cidadãos (ãs) do país, ou melhor dizendo, do planeta, uma vez que a educação não se restringe (ou não deveria se restringir) às fronteiras polítiqueiras de nossas tão frágeis comunidades patrióticas. Mas é preciso atentarmos para o fato de que "compromisso", "vontade" e "reflexão" integram o dicionário das mudanças. NÃO À TAUTOLOGIA DO COTIDIANO REVOLUCIONÁRO!