domingo, outubro 04, 2009

A olimpíada de 2016

Na manhã da sexta feira, dia primeiro de outubro, fui questionado sobre a olimpíada, pois naquela tarde seria anunciado qual a que cidade sediaria os jogos em 2016. Respondi que estava torcendo pela escolha do Rio de Janeiro, porque acredito que tais jogos que envolvem emoções coletivas podem fortalecer sentimentos positivos comuns e necessários para a vida social e nacional.

Bem, agora já sabemos que o Comitê Olímpico aceitou as promessas empenhadas por políticos, empresários, desportistas brasileiros e, agora é tempo de fazer cumprir as promessas.

Lembro de quando João do Pulo ganhou uma medalha de ouro foi uma surpresa naqueles longínquos anos passados e, também quando João da Cruz correu como um saci-mercúrio para apanhar a medalha de ouro. Interessante lembrar como os primeiros medalhistas no atletismo eram negros. E eram poucos os medalhistas. Os esportes, como a educação eram vistas pelos governantes e pelas perdulárias elites brasileiras como uma atividade secundária, algo para ser realizado nos finais de semana. Os bons hábitos demoram ser assimilados. Por isso, sempre que um brasileiro termina um curso, por mais simples que seja, há que se realizar uma festa, tirar um retrato, capturar uma imagem, um momento, para ser guardado. As famílias trazem guardados esses objetos nos baús ou caixas de sapatos. Ter um diploma de conclusão do curso de datilografia nos anos quarenta a oitenta era ter uma medalha olímpica dentro de casa. Vi muitas lágrimas em conclusões de cursos de Arte Culinária, pois esse era um caminho para um emprego em alguma “casa de família” ou restaurante.
A educação formal, sempre foi vista como um tesouro, algo que só alguns podem ter: era uma espécie de botija, algo escondido que se sabia valioso, mas distante e protegido por segredos enormes. Por isso, a maior parte dos “da Silva” entenderam o choro de Luiz Inácio da Silva, porque, apesar das muitas dificuldades que são postas ao povo brasileiro, a olimpíada de 2016 pode ativar com maior sustança o acesso à educação, à saúde, à segurança de vida, do que políticas de cotas do neo-racismo pós-moderno.
A preparação para a olimpíada de 2016 levará, creio e desejo, a melhorias nas escolas, e surgirão mais campos e estádios de esportes, investimentos sociais serão realizados, cidades serão obrigadas a repensar os seus sistemas de coleta e aproveitamento de lixo, nos sistemas de recolha e tratamento dos esgotos. A conquista de um pódio é sempre carregada de sacrifícios e investimentos de horas de estudos e treinamentos, não apenas físicos. Esse evento que começa a ser preparado é mais uma oportunidade para que as elites entendam que elas não podem mais viver se dedicando aos esportes enquanto lazer, ao mesmo tempo em que força o povo brasileiro a uma luta de Sísifo pela sobrevivência. A olimpíada de 2016 pode ser uma oportunidade de mostrar que ideais coletivos e abrangentes, capazes de fazer florescer lágrimas de alegrias, são melhores que políticas de formação de ghetos, geradoras de sobrancelhas de preocupação, que foi a política social praticada nesse país até o momento da democratização das salas de aulas.

3 comentários:

João "Johnnÿ" Dias disse...

Tbm fiquei feliz com a escolha das Olimpíadas de 2016 no Brasil. Espero entretanto q além de uma maior evolução nos esportes, possa haver uma real integração do povo, e não apenas dos cartolas que já controlam até mesmo o esporte nacional.

texto sobre disse...

Aplausos! Professor. Gostei muito do texto. Confesso que não estava torcendo pelo RJ; conheço o Rio, não o cartão-postal, mas o suburbão: passou do Maracanã o RJ está muito feio, muito maltratado, pichado...Mas, o entusiasmo de Lula, Pelé e Cia me contagiou; apesar de toda dificuldade que será realizar esse evento, da necessária fiscalização séria no uso dos recursos, e, principalmente, de lembrar ao RJ que ele não é o Brasil, mas faz parte dele, o significado dessa conquista é de extraordinária importância para todo o país.

Anônimo disse...

Prezado Biu,

quis o acaso que eu estivesse no Rio de Janeiro justo no dia do anúncio da cidade-sede das Olimpíadas e assisti, comovido, à explosão de felicidade nas ruas do Catete - parecia uma final de Copa. Entretanto, conversando e parabenizando os cidadãos da nossa Eterna Capital Espiritual, percebi que há muita descrença, indiferença e desconfiança em relação ao que vai resultar de concreto do evento. O carioca é assim mesmo: muito pé atrás, até pq a história ensina... Mas concordo contigo, parabéns pelo texto - temos de dar uma chance ao otimismo. O discurso de Lula conseguiu me empolgar, depois de alguns anos de decepção com nosso peão (de campamha ele entende, né?). Chorei junto com a maioria e me orgulhei da conquista!
BJ
Caio Maciel