sábado, maio 11, 2024

Maio das chuvas, das mães.

Derrama-se o mês de maio em chuvas, e em lágrimas que as sucede. Nos idos do anos setenta uma geração pensava e cantava em voz alta a sua insatisfação com a ditadura. Bem , nem toda uma geração, como bem lembrava o Raul Seixas em Ouro de Tolo. Mas lembro de que o poeta Aldir Blanco escreveu O que dá para rir dá para chorar, apontando situações sobre as quais as pessoas podem sentir diferentemente, embora estejam no mesmo lugar que,se para uns é de partida, para outros é de chegada. Em certo momento ele chama atenção que, a chuva tem errado o lugar de sua queda, pouca no Nordeste e muita no Sul do país. Por aquele tempo Tom Jobim cantava que as Águas de Março fechavam o verão. Nos sertões nordestinos elas são esperadas por anunciarem um tempo sem seca e a possibilidade de não ter a fome que mata “um pouco por dia” como escreveu o poeta Cabral de Melo. Até os anos setenta a geografia brasileira confirmava o ufanismo do Conde Afonso Celso: uma verdura permanente, ausência de furacões, tornados, terremotos, e outras reações alérgicas do Planeta, tão comuns nos outros países. Por aquelas partes do globo terrestre alguns cientistas já chamavam atenção de que o planeta é finito, seus recursos são finitos embora a ganância, o desejo de acumulação de alguns seres humanos pareçam ser infinitos. Esse desejo de acumulação tem se mostrado mais claramente após o advento da Revolução Industrial e da civilização que dela tem brotado. Logo após a Guerra ‘terminada’ em 1945, parece ter aumentado o processo de cobertura da face da terra. Esse projeto tem início com a fabricação de automóveis com as consequentes rodovias. O solo começa a ser impermeabilizado. Lembro que as crianças que podiam ir à escola quando eu era menino, possuíam um par de galochas e uma capa protetora de chuva. A importância da galocha era a proteção do sapato contra as lamas de um terra ainda não impermeabilizada com calçamento, pixe ou asfalto. Agora galocha é um utensílio que vemos apenas nos pés de trabalhadores da construção civil ou de repórteres enviados para os lugares onde a água não é absorvida pela terra. E a quantidade de água que chega à foz dos rios tem aumentado porque destruíram grande parte das matas, especialmente as que ficam próximas ao curso dos rios. Afinal, dizem, a agricultura deve alimentar a população urbana, embora nas cidades, haja quase um terço da população com fome, sem acesso aos alimentos necessários para a vida digna: sobrevivem. Aliás pensando bem essa palavra talvez esconda o desejo dos que lucram com a fome, com a destruição das matas, com a industrialização excessiva, os mais pobres conseguiram uma SOBREVIDA. Talvez os quisessem mortos, pois lhes proporcionaram uma SOBVIDA. Este mês de maio veio bem mais chuva que nos anos anteriores e, como a população das cidades cresceu, muito mais gente foi afetada, especialmente aqueles que não puderam comprar os apartamentos de luxo que a especulação territorial e imobiliária puderam construir. Os preços dos alimentos podem aumentar, como já informal Bob Fields, neto daquele que fez e ajudou fazer o "milagre brasileiro" enquanto o Nordeste sofria uma seca. Era o tempo da poesia de Aldir Blanc. Atualmente as Chuvas de Maio estão mais bravias que as Chuvas de Março e, outros maios virão, pois a sanha dos proprietários de motoserra parece ser infinita, ao contrário das matas. O Código Florestal aprovado em uma legislatura é deformado na legislatura seguinte. No Brasil ainda não se compreendeu a importância das matas, que não são apenas lugares onde gorjeiam os sabiás, as araras, as aratacas (assim fui apresentado, carinhosamente, a uma família de Erichim, RS) nos anos em que o debochado Gonzaguinha cantava, Você Merece, no programa de Flávio Cavalcanti. Os Sabiá de Tom Jobim, como a Asa Branca e Assum Preto de Luiz Gonzaga merecem suas matas, suas florestas, bem como as onças e jacarés do Pantanal. Quando eu era menino, o mês de maio era o Mês das Noivas (nunca entendi porque não se menciona os noivos) que choravam de alegria no momento do seu casamento, conforme as novelas de época mais antiga, permitem aos mais velhos lembrarem e aos mais novos saberem que as moças e rapazes casavam, com a pompa que suas classes sociais permitiam. Claro que sempre houve, entre os mais pobres, os que nunca casavam, pois os papéis eram caros e os juízes sempre seguem as regras do jogo. Neste maio, continua a destruição de Gaza e da Ucrania, ambas para preservar a civilização, salvar a cultura matando um povo. Continuam as pequenas guerras na Grande África, Mãe de todos os povos. Feliz Dia das Mães, as que perderam seus filhos nas guerras, as que morreram nas guerras, as que vivem nas favelas, as que estão aquecendo seus filhos nos acampamentos nas cidades do Rio Grande de São Pedro, as que têm seus filhos mortos nos confrontos policiais, as que perderam seus filhos para alguma bala perdida, Feliz Dia das Mães para aquelas que já cumpriram suas tarefas e descansam eternamente. Prof. Severino (Biu) Vicente da Silva, 11 de maio de 2024.

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