domingo, setembro 22, 2024
AS PRIMAVERAS QUE PODEMOS PERDER
As PRIMAVERAS QUE PODEMOS PERDER
Severino Vicente da Silva.
Sempre em continuidade à minha formação, estou a ler Uma Breve História da Desigualdade, autoria do professor Thomas Piketty. Sem pressa, passo pelos capítulos como um passeio sobre a história da humanidade, encaminhado pelas interpretações que o autor desenvolveu sobre a quase impossibilidade de afastar a pobreza, diminuir as desigualdades entre os seres humanos, elas que são criações humanas em todas as sociedades. Mas ele se propõe a estudar a igualdade entre os seres humanos, ele concebe a história como a luta pela criação da igualdade, e admite que não é uma história fácil de ser assimilada, pois ele a vê como sendo o objetivo da humanidade. Podemos entender que essa preocupação pela igualdade entre os homens é. pois, resultado do processo de conscientização das diferenças que antes eram vistas como naturais. É nesses tempos modernos que a consciência de que o Outro tem existência, que ele é diferente, mas que essa diferença não pode ser vista como desigualdade. “Todos os homens são nascidos em igual condições e direitos”, é um conceito desenvolvido pela sociedade a partir do século XVIII, e desde então vem evoluindo a recepção e compreensão de que os Direitos Humanos são uma criação histórica, não dada de maneira total e definitiva, como se dogma religiosos fosse. Por razões como essas, o que estamos assistindo e fazendo é a luta pelo fim das desigualdades. Por isso é que os grupos humanos não desistem de sonhar e construir essa sociedade igualitária.
Na década de 1990 foi criada a Carta da Terra, onde se expunha a situação periculosa que se vivia: pôr em risco a sobrevivência da terra por conta dos interesses econômicos de alguns, em detrimento dos Direitos dos demais seres que habitam o planeta, Os eventos climáticos recentemente experimentados: excesso de chuva em algumas regiões, seca cada vez mais longeva em outras; enchentes cada vez mais fortes e intensas, decorrente do assoreamento dos rios, em consequência da destruição das matas ancilares, protetoras dos solos. Os governantes locais não se preocupam em acompanhar os debates e as decisões tomadas por fóruns de especialistas sobre o tema, pois estão mais interessados em satisfazer a cupidez e a luxúria de interesses econômicos regionais ou locais, não percebendo que seus locais e regiões são parte de uma sociedade mais ampla que as bordas das piscinas que frequentam. E ao falarmos governantes, estamos a nos referir aos três poderes conforme a compreensão moderna e montesquiana. E os cidadãos parece desejarem aprofundar comportamentos incivis, mantendo suas ruas ruas sujas, calçadas intransitáveis, como que recusando compreender que governantes não podem mudar sem a sociedade e, em alguns casos, forçados pelos exemplos dos cidadãos.
Começamos, agora a Primavera, estação tão interessante que se tornou mais comum lembrar a passagem do dia do nascimento como mais uma primavera conquistada que dizer ter vivido mais um inverno. A Primavera é sempre uma promessa de nova vida, com temperaturas amenas, uma quantidade maior de flores e, pouco difícil de encontrar nas cidades, borboletas a brincar com o vento, espalhando polem, criando a possibilidade de novas vidas. A primavera começa, em nosso hemisfério com o Dia da Árvore, talvez para nos lembrar que sem os vegetais diminuem bastante as possibilidades de vida humana na terra. Nas escolas dos primeiros anos de nossas vidas, celebrávamos, ainda celebra-se, o dia da Árvore. À medida que envelhecemos começamos a achar sem graça essas menções nas escolas de nível médio e superior. Daqueles período em diante, em nossa sociedade voltada para o lucro e a satisfação individual, as Árvores passam a ser vistas como objetos de onde lucros podem provir, perdem o encantamento e não mais cuidamos delas. As cidades onde vivemos são construídas, algumas, em solo de antigas florestas, bem como campos agora dedicados ao plantio de leguminosas, pecuária e grande quantidade de grãos. O estímulo que leva muitos a cuidar dos campos parece ter mudado, pensa-se no lucro, depois na alimentação das pessoas. Na verdade, quase mão se pensa nessa última hipótese, somos levados a pensar dessa forma, quando observamos a organização de lançamento de leite nos esgotos das cidades, o esmagamento de frutos e legumes nas ruas, em defesa do lucro de indivíduos que já receberam incentivos para plantar e produzir. E, no entnto, tais comportamentos ocorrem enquanto milhares de seres humanos estão em carência alimentar. Estaremos a perder a profecia da primavera? Nosso comportamento societário atual nos indica uma preferência por invernos e verões capazes de alimentar os caminhos da destruição que socialmente cultivamos, ao dominar a natureza de modo que a desvirtuamos em sua capacidade de promover a geração de novas vidas.
As maldades que fizeram com os biomas brasileiros nos últimos anos são tão semelhantes aos milhares que foram mortos pela fome, por causa da fome de lucro de alguns. Claro que esse comportamento tem provocado fome nos países africanos, nos países asiáticos e também nas cidades do mundo gordo por excesso alimentar. Esses são novos desafios para além do que os humanos têm enfrentado desde quando compreenderam que deviam se organizar em sociedade para manter o tipo de vida que surgiu das vidas já existentes. Assim o fizeram, assim o fizemos, e criamos civilizações com artes; mas agora, estamos a agir de forma a destruir as civilizações que construímos, pois não conseguimos, até agora, entender que o outro somos nos simultaneamente.
Severino - Biu - Vicente da silva
Ouro Preto, Olinda, 22 de setembro de 2024.
domingo, setembro 01, 2024
AOS 74, UMA LEMBRANÇA DOS 17 ANOS
AOS 74 E QUATRO, UMA LEMBRANÇA DOS 17 ANOS
Severino Vicente da Silva - Biu Vicente.
1º de setembro de 2024.
Vez por outra nos assalta lembranças de momentos que jamais esquecemos, permanentes que ficaram em nossa mente, continuam fazer parte de nossa existência de modo consciente. Tenho essa sensação no que se refere a uma pequena viagem que realizei à Palmeira dos Índios. Havia, recentemente, completado 17 anos de vida e estava evolvido com a organização e animação de grupos de jovens católicos. Pertencia à Paróquia de Nova Descoberta que, à época estava sendo assistida por padres de afirma nacionalidade estadunidense, fruto de um convênio assinado, ainda no bispado de Dom Carlos Coelho, entre as arquidioceses de Olinda e Recife e Detroit. Estavam atendendo um pedido do papa João XXIIIi para que fossem enviados padres para a América Latina, tendo em vista a possível expansão do comunismo após a vitória da Revolução Cubana. Mas não foi apenas Pernambuco que recebeu sacerdotes missionários, pois Palmeira dos Índios estava sendo atendida por padres Oblatos de Maria, só que de origem canadense. O grupo de jovens de NOva Descoberta foi convidado a participar de um seminário naquela paróquia alagoana, pelo vigário padre Donald. Fomos em grupo formado por Samuel Freitas, Josenita Monteiro (Nita), Josenita Arcanjo (Dói) e eu. Passamos a semana e eu aproveitei para fazer um ritual que tenho: andar pela cidade, olhando suas ruas, becos, praças, pessoas nas ruas, edifícios, etc. Assim conheço o local sem a interferência de olhares comprometidos e acumulo informações que utilizo em minhas falas. Faço isso até os dias de hoje, quando vou a lugares pela vez primeira. Fiz uma palestra no encerramento do encontro que não agradou muito aos meus novos amigos/conhecidos na cidade. Durante a semana ouvi a constante reclamação sobre o poderio do Império Estadunidense que tratava a todos como Colonia. Sem negar afirmações como essa, perguntei se havia alguma lei proveniente dos Estados Unidos que proibia crianças entrar, nas escolas, de chinelo. Sim eu assisti essa prática, e ao mencioná-la provoquei ira no auditório, tendo que sair de lá protegido por alguns amigos da paróquia. Retornamos para o Recife no dia seguinte, e na viagem o radio de pilha nos informou que havia iniciado uma guerra entre Israel e a República Árabe Unida - RAU, tendo os israelenses destruído a força aérea do Egito, Síria e Jordânia. Então comentei: a gente não pode sair de casa que começa uma guerra que não se sabe quando acaba enquanto acabam as nações
Nesta semana estou lendo O Naufrágio das Civilizações, escrito por Amin Maalouf, filósofo, membro da Academia Francesa desde 2011ii , na página 92 ele assim escreve: Eu seria quase tentado a escrever, pr eto no branco: segunda feira, 5 de junho e 1967, nasceu o desespero árabe. Naquele ano, Amin Maalouf, que nasceu em 1950, estava com 17 anos. Ele lembra que seus colegas estudantes traziam notícias, publicadas nos jornais, de que o exército e a força aérea israelenses haviam sido destruídas. Eram as falsas noticias, enganavam o povo, escondiam o fracasso, que não foi apenas dos árabes, mas das civilizações, incapazes de dialogar, o que as encaminhou para o naufrágio.
Neste ano de 2024, estamos assistindo à destruição da Faixa de Gaza. A destruição dos prédios, nem se nota, é acompanhada com a destruição da esperança, a destruição da da esperança é a destruição das civilizações que, construída no passado, rejeitamos agora.
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