sábado, julho 19, 2025
MÊS DE JULHO, MÊS DE SANT'ANA
O QUE NOS DIZ O MÊS DE JULHO; O TEMPO DE SANT’ANA
Prof. Severino Vicente da Silva
Sétimo mês do ano, resultou da reforma que Júlio César, ditador romano que mandou fazer a mudança, para melhor contar o tempo e, principalmente, para glorificá-lo. Neste ano de 2025, na região Nordeste do Brasil, julho herdou um pouco do frio das noites de junho.
1. JULHO E AS MULHERES E OS GUERREIROS
Com o esquecimento da origem nominal do mês, a tradição cristã portuguesa, passou a mencionar o mês que inicia o segundo semestre de ‘mês de santana’, homenagem àquela a quem se credita ser a avó de Jesus, mãe de Maria, Ana ou Santana como ficou popularizada na tradição mais lusitana. Interessante verificar que algumas das mais antigas igrejas construídas nos engenhos produtores de açúcar, quando não dedicadas a Nossa Senhora da Luz, são oráculos que homenageiam Ana, ou Santana. O dia 26 é inteiramente dedicado a Santa Ana e, acompanhado por Joaquim, seu esposo. Essas devoções femininas estão ligadas às senhoras de engenho e, Santana é apresentada ensinando os passos de leitura a uma menina que, parece representar Maria enquanto menina, recebendo os primeiros ensinamentos.
Sim, muitas mulheres casadas com senhores de engenho eram alfabetizadas, o que lhes permitiu dirigir os destinos de suas propriedades na ausência de seus maridos. E nós sabemos que o acesso à leitura é, no Brasil, foi sempre, privilégios dos grupos que dirigiam a colônia portuguesa e, posteriormente, no Brasil que se libertou de Portugal, e, contudo preferiu manter-se escravo dos conhecimentos em troca de manter a população sob seu domínioi. Mas sempre há uma Beatriz - ou Brites – Albuquerque, a Capitoa da Capitania de Pernambuco.
2. MULHERES NA FORMAÇÃO DAS ESCOLAS NO BRASIL E NA FORMAÇÃO DOS BRASILEIROS
Até pouco mais de cem anos, pequeno era o número de mulheres com acesso ao conhecimento e às escolas que foram criadas no final do Império e na República. Mas é interessante notar que em todos os séculos de sua história, no Brasil sempre podemos encontrar mulheres que, ainda que obscurecidas pela historiografia masculinizada, ativas nas ações sociais. As professoras são famosas antes que um sistema escolar viesse a ser criado no país, e pequisas indicam a existência de mulheres escritoras, nos jornais do século XIX.ii Mas há um esforço para distanciar as mulheres das escolas. Contudo o mundo muda e as mulheres aparecem cada vez mais nas universidades, como alunas e como professoras. Uma demonstração disso é que, em 1970, apenas 26% dos estudantes das universidades era do sexo feminino; atualmente, 50% da matrícula nas universidades é de mulheres e, no momento da conclusão do curso elas mantêm-se em cerca de 58%, os rapazes giram próximo a 49%.iii Embora de forma lenta, Santana está deixando de ser apenas professora de meninas ricas, sinhazinhas de engenho;agora as descendentes dos índios e negros escravisados estejam a frequentar as salas de aula, e, ainda que, com diploma nas mão, elas tenham maiores possibilidades de entrarem no mercado de trabalho, os espaços são ganhos de maneira lenta. Elas, ainda que não o saibam, são as Sant’Anas.
Entre as muitas capelas dedicadas a Santana, vem à mente uma capela situada em engenho que se põe entre as cidades de Goiana e Condado. Aliás nessa capela se mantém uma tradição de louvar uma menina que, à época escravocrata tratava bem os escravos do engenho do seu tio. A cidade de São Lourenço da Mata possui um povoado chamado Nossa Senhora da Luz, onde está uma das mais antigas igrejas de Pernambuco com dedicação a tal devoção. Ainda na Mata Norte de Pernambuco há a Igreja com tal devoção no Engenho dos Ramos. Entretanto, a devoção popular, escolhida pelos cortadores de cana daquele engenho, e de muitos outros, voltou-se para Severino, São Severino dos Ramos, talvez a segunda maior tradição religiosa de Pernambuco e dos estados vizinhos, produtores de açúcar de cana.
3. MULHERES E GENERAIS
Ao visitar os manuais de história encontramos poucas mulheres em destaque, embora saibamos que elas possuem papel especial na trajetória humana, começando, na tradição judaica, com a presença de Eva, criada para ser companheira de Adão, logo foi demonizada como personalidade central do drama que introduz o mal na sociedade, o que é feito para retirar o homem da responsabilidade nesse processo. Semelhante acorre na tradição dda Europa greco-romana; observamos que, em sua origem, as mulheres nos são apresentadas, com um protagonismo positivo das seja como deusa, seja como a introdutora de atividades fulcrais para a sobrevivência da humanidade que crescia em população, especialmente urbana e carente de alimentos. A agricultura foi fundamental no estágio da superação para a época urbana. Mas os gregos e herdeiros esquecem a Ceres e expõem Medeia e Jocasta. Helena, a quem não se permite a fala, nos é apresentada como responsável por uma guerra que, Paris se justifica colocando a responsabilidade do conflito em deusas que desejavam sua beleza. O homem não pode ser acusado dde destruir sua cidade. Mesmo rainhas como Cleópatra são apequenadas, apresentadas como amantes, vaidosas, traidoras. Ramsés, Akemamon, Ciro, Dario, Davi, Salomão, Júlio César são os responsáveis pelo destino das suas civilizações, são generais, senhores da guerra, conquistadores treinados a serem capazes de atrocidades, que são apresentadas como heroísmo. Escrevem, ou mandam escrever livros e monumentos que apodam a sua ganância como bravura. O imperador Marco Aurélio é esquecido como pensador para ser louvado como guerreiro em luta, em guerra constante, como cada vez mais ensinam os novos suportes.iv
E, não sem razão, os atuais noticiários estão repletos de notícias sobre Puttin, Natanyahu, e outros sanguinolentos líderes e, mais recentemente ao que não mata diretamente, mas induz ao genocídio ou o faz através de tarifas, do recebimento de subsídios que, levarão à fome, milhares de seres humanos. O relatório de Júlio César – Vim, Vi, Venci – não menciona quantos romanos e francos, principalmente, morreram para a glória de Roma e para sua glória e alegria pessoal. E o processo educacional condiciona as gerações a dedicarem horas de seu dia assistindo a filmes que fazem a apologia da violência, equanto que o uso da capacidade intelectual vai sendo perdida para a dita “inteligência artificial”. Novas -ou antigas?
4. DESAFIOS PARA SANTANA
Memórias são postas à disposição de cérebros cada vez mais dominados enquanto as novas Santa’Anas são perseguidas por salários miseráveis. Nessa primeira quadra do século XXI foi gestado o guerreiro presidente dos Estados Unidos da América, Donald Trump. Seu comportamento é tal que, neste mês de julho, a assessoria de comunicação da Casa Branca viu-se obrigada a informar que ele não se imagina imperador do mundo.v E, o entanto se imagina como tal. Uma de suas grandes obras é a destruição dos institutos produtores de conhecimento, as universidades. Seu exemplo é logo seguido por pequenos sátrapas e, pelos senhores ricos locais que jamais deixam de seguir aquilo “que o senhor rei mandar”.
Como professora educadora, Sant’Ana tem muito que fazer nos próximos julhos:diminuir o poder dos Júlios que se entendem Caesar.
Severino Vicente da Silva (Biu Vicente).
Ouro Preto, Olinda, PE, 19 de julho, dia de São Símaco, papa conciliador após a queda do Império Romano
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