biu vicente
domingo, setembro 07, 2025
DATAS CÍVICAS
DATAS CÍVICAS
Professor Severino Vicente da Silva – Biu Vicente
As datas cívicas servem para promover uma unidade de pensamento e ações de uma população, de uma nação. Os brasileiros escolheram o dia Sete de Setembro para celebrar a sua separação do Império português, e então celebramos a Independência do Brasil, em torno de ato que teria sido protagonizado pelo Regente Pedro de Alcântara, assessorado por sua esposa e José Bonifácio de Andrade, Tal acontecimento acontecera às margens do riacho Ypiranga, em São Paulo, quando o príncipe Regente voltava de uma tarefa de pacificação em Minas Gerais. A escolha dessa data pôs em esquecimento as ocorrências em Pernambuco, em novembro de 1821, quando as Câmaras de Goiana, Nazaré, Olinda tomaram o poder do Capitão-general Luiz do Rego Barreto, o que fez Pernambuco ser independente desde então, e foi governado por Gervásio Pires Ferreira. Esse movimento de rebeldia popular, armado contra o arbítrio da monarquia portuguesa, tem sido olvidado para que seja mantida a tradição de que não houve guerra dos brasileiros contra o império português, de forma que se formou a ideologia de um país pacífico, embora tenha sido mantida a escravidão e a negação da existência de cidadãos sem participação política, como base da nação que surgia e se fortaleceu ao longo de século XIX, sempre comandada pelos proprietários de terras.
Neste ano de 2025 o Brasil está enfrentando mais um momento de crises: uma externa, sempre latente, que é a presunção dos Estados Unidos da América do Norte manter uma autoridade abrangente sobre os países e nações do continente Sul-americano, também desejando estender-se sobre os demais continentes, e a interna, a permanente luta dos grupos endinheirados (alguns dizem elites) pelo controle do poder político. Desafeita a crise interna torna-se explícita e toma feição no julgamento do ex-presidente Jair Messias Bolsonaro e seus correligionários, militares e civis, na tentativa de golpe de estado, perpetrada em janeiro de 2023. Nesta semana que se inicia, é possível que tenhamos a primeira condenação de ex-presidente e generais golpistas, representantes de grupos sociais e políticos conservadores pelo Supremo Tribunal Federal, e que virá a ser uma ação de independência do Brasil da parte do Brasil, formado por brasileiros, como dizem, de pés raspados. Estes, que se organizam em movimentos sociais, apresentaram-se em manifestações paralelas àquelas oficiais nas principais capitais e tornam-se um Grito dos Oprimidos, daqueles que descendem de escravos, de indígenas e que formam a maioria do povo brasileiro. Além dos desfiles oficiais, os grupos de poder e seus agregados de falsos patriotas, chegaram às ruas tornando claro que estão dispostos a entregar o Brasil aos EUA, enrolando-se com a bandeiras daquele país e de Israel. As diversas manifestações deste domingo nos oferecem um retrato da sociedade mais próxima da realidade que aquela oferecida aos brasileiros em sua formação cultural e escolar. Ou seja, estamos assistindo a exposição da luta de classes vivida pela sociedade brasileira ao longo dos dois séculos de independência, que não pode continuar ser naturalizada, como nos ensina, com correção, a filósofa Marilena Chauí.
Aos mesmo tempo, li Leonardo Boff a dizer que devemos superar a fase dos limites entre os países, pois todos somos membros de uma “pátria comum”. Mas estou lendo Anne Applebaum que nos mostra que governos de tração ditatorial estão utilizando a dita Inteligência Artificial, ultrapassando as fronteiras nacionais, como já o fazem as grandes redes bancárias e o crime organizado. Há muito que pensar, fazer, pensar.
Bultrins, Olinda, 07 de setembro de 2025.
sábado, julho 19, 2025
MÊS DE JULHO, MÊS DE SANT'ANA
O QUE NOS DIZ O MÊS DE JULHO; O TEMPO DE SANT’ANA
Prof. Severino Vicente da Silva
Sétimo mês do ano, resultou da reforma que Júlio César, ditador romano que mandou fazer a mudança, para melhor contar o tempo e, principalmente, para glorificá-lo. Neste ano de 2025, na região Nordeste do Brasil, julho herdou um pouco do frio das noites de junho.
1. JULHO E AS MULHERES E OS GUERREIROS
Com o esquecimento da origem nominal do mês, a tradição cristã portuguesa, passou a mencionar o mês que inicia o segundo semestre de ‘mês de santana’, homenagem àquela a quem se credita ser a avó de Jesus, mãe de Maria, Ana ou Santana como ficou popularizada na tradição mais lusitana. Interessante verificar que algumas das mais antigas igrejas construídas nos engenhos produtores de açúcar, quando não dedicadas a Nossa Senhora da Luz, são oráculos que homenageiam Ana, ou Santana. O dia 26 é inteiramente dedicado a Santa Ana e, acompanhado por Joaquim, seu esposo. Essas devoções femininas estão ligadas às senhoras de engenho e, Santana é apresentada ensinando os passos de leitura a uma menina que, parece representar Maria enquanto menina, recebendo os primeiros ensinamentos.
Sim, muitas mulheres casadas com senhores de engenho eram alfabetizadas, o que lhes permitiu dirigir os destinos de suas propriedades na ausência de seus maridos. E nós sabemos que o acesso à leitura é, no Brasil, foi sempre, privilégios dos grupos que dirigiam a colônia portuguesa e, posteriormente, no Brasil que se libertou de Portugal, e, contudo preferiu manter-se escravo dos conhecimentos em troca de manter a população sob seu domínioi. Mas sempre há uma Beatriz - ou Brites – Albuquerque, a Capitoa da Capitania de Pernambuco.
2. MULHERES NA FORMAÇÃO DAS ESCOLAS NO BRASIL E NA FORMAÇÃO DOS BRASILEIROS
Até pouco mais de cem anos, pequeno era o número de mulheres com acesso ao conhecimento e às escolas que foram criadas no final do Império e na República. Mas é interessante notar que em todos os séculos de sua história, no Brasil sempre podemos encontrar mulheres que, ainda que obscurecidas pela historiografia masculinizada, ativas nas ações sociais. As professoras são famosas antes que um sistema escolar viesse a ser criado no país, e pequisas indicam a existência de mulheres escritoras, nos jornais do século XIX.ii Mas há um esforço para distanciar as mulheres das escolas. Contudo o mundo muda e as mulheres aparecem cada vez mais nas universidades, como alunas e como professoras. Uma demonstração disso é que, em 1970, apenas 26% dos estudantes das universidades era do sexo feminino; atualmente, 50% da matrícula nas universidades é de mulheres e, no momento da conclusão do curso elas mantêm-se em cerca de 58%, os rapazes giram próximo a 49%.iii Embora de forma lenta, Santana está deixando de ser apenas professora de meninas ricas, sinhazinhas de engenho;agora as descendentes dos índios e negros escravisados estejam a frequentar as salas de aula, e, ainda que, com diploma nas mão, elas tenham maiores possibilidades de entrarem no mercado de trabalho, os espaços são ganhos de maneira lenta. Elas, ainda que não o saibam, são as Sant’Anas.
Entre as muitas capelas dedicadas a Santana, vem à mente uma capela situada em engenho que se põe entre as cidades de Goiana e Condado. Aliás nessa capela se mantém uma tradição de louvar uma menina que, à época escravocrata tratava bem os escravos do engenho do seu tio. A cidade de São Lourenço da Mata possui um povoado chamado Nossa Senhora da Luz, onde está uma das mais antigas igrejas de Pernambuco com dedicação a tal devoção. Ainda na Mata Norte de Pernambuco há a Igreja com tal devoção no Engenho dos Ramos. Entretanto, a devoção popular, escolhida pelos cortadores de cana daquele engenho, e de muitos outros, voltou-se para Severino, São Severino dos Ramos, talvez a segunda maior tradição religiosa de Pernambuco e dos estados vizinhos, produtores de açúcar de cana.
3. MULHERES E GENERAIS
Ao visitar os manuais de história encontramos poucas mulheres em destaque, embora saibamos que elas possuem papel especial na trajetória humana, começando, na tradição judaica, com a presença de Eva, criada para ser companheira de Adão, logo foi demonizada como personalidade central do drama que introduz o mal na sociedade, o que é feito para retirar o homem da responsabilidade nesse processo. Semelhante acorre na tradição dda Europa greco-romana; observamos que, em sua origem, as mulheres nos são apresentadas, com um protagonismo positivo das seja como deusa, seja como a introdutora de atividades fulcrais para a sobrevivência da humanidade que crescia em população, especialmente urbana e carente de alimentos. A agricultura foi fundamental no estágio da superação para a época urbana. Mas os gregos e herdeiros esquecem a Ceres e expõem Medeia e Jocasta. Helena, a quem não se permite a fala, nos é apresentada como responsável por uma guerra que, Paris se justifica colocando a responsabilidade do conflito em deusas que desejavam sua beleza. O homem não pode ser acusado dde destruir sua cidade. Mesmo rainhas como Cleópatra são apequenadas, apresentadas como amantes, vaidosas, traidoras. Ramsés, Akemamon, Ciro, Dario, Davi, Salomão, Júlio César são os responsáveis pelo destino das suas civilizações, são generais, senhores da guerra, conquistadores treinados a serem capazes de atrocidades, que são apresentadas como heroísmo. Escrevem, ou mandam escrever livros e monumentos que apodam a sua ganância como bravura. O imperador Marco Aurélio é esquecido como pensador para ser louvado como guerreiro em luta, em guerra constante, como cada vez mais ensinam os novos suportes.iv
E, não sem razão, os atuais noticiários estão repletos de notícias sobre Puttin, Natanyahu, e outros sanguinolentos líderes e, mais recentemente ao que não mata diretamente, mas induz ao genocídio ou o faz através de tarifas, do recebimento de subsídios que, levarão à fome, milhares de seres humanos. O relatório de Júlio César – Vim, Vi, Venci – não menciona quantos romanos e francos, principalmente, morreram para a glória de Roma e para sua glória e alegria pessoal. E o processo educacional condiciona as gerações a dedicarem horas de seu dia assistindo a filmes que fazem a apologia da violência, equanto que o uso da capacidade intelectual vai sendo perdida para a dita “inteligência artificial”. Novas -ou antigas?
4. DESAFIOS PARA SANTANA
Memórias são postas à disposição de cérebros cada vez mais dominados enquanto as novas Santa’Anas são perseguidas por salários miseráveis. Nessa primeira quadra do século XXI foi gestado o guerreiro presidente dos Estados Unidos da América, Donald Trump. Seu comportamento é tal que, neste mês de julho, a assessoria de comunicação da Casa Branca viu-se obrigada a informar que ele não se imagina imperador do mundo.v E, o entanto se imagina como tal. Uma de suas grandes obras é a destruição dos institutos produtores de conhecimento, as universidades. Seu exemplo é logo seguido por pequenos sátrapas e, pelos senhores ricos locais que jamais deixam de seguir aquilo “que o senhor rei mandar”.
Como professora educadora, Sant’Ana tem muito que fazer nos próximos julhos:diminuir o poder dos Júlios que se entendem Caesar.
Severino Vicente da Silva (Biu Vicente).
Ouro Preto, Olinda, PE, 19 de julho, dia de São Símaco, papa conciliador após a queda do Império Romano
quarta-feira, junho 11, 2025
GENOCÍDIOS BRASILEIROS
GENOCÍDIOS BRASILEIROS
Professor Severino Vicente da Silva – Biu Vicente
O longo mês de maio terminou, e levou consigo as festas diversas, quase todas dedicadas à mulher, às Marias comuns que encontramos no cotidiano e, especialmente à Maria que os cristãos consideram mãe de Jesus, mas os católicos vão mais adiante, considerando-a mãe de Deus. Este ano o mês foi muito ruidoso, ao mesmo tempo em que se comemorava o Dia da Vitória contra o nazismo que praticara genocídio do povo judeu durante a Segunda Guerra Mundial, fomos chamados a assistir genocídio que o Estado Judeu está realizando na faixa de Gaza, um genocídio anunciado nos meios de comunicação pelo próprio governante daquele Estado. E quem se levanta contra essa prática que, diariamente nos vem pelas redes de televisão, logo recebe o epíteto de ‘antissionista’. O capital que pagou a matança de judeus, ciganos, homossexuais, doentes mentais, comunistas, católicos, protestantes na Alemanha nazista, é o mesmo que agora mantém uma indústria bélica produtora de mortes em Gaza, tantas que apenas sabemos dados aproximados da realidade. Semelhante situação vivem os ucranianos, usados como moeda garantidora da ‘paz’, em uma guerra que terá fim quando as riquezas existentes na Ucrânia forem equacionadas entre as duas potências, atualmente governada por dois velhos com ego desmensurado. E, no entanto, outras guerras genocidas estão acontecendo em territórios africano e asiático, e delas não se tem notícia por não envolverem diretamente parte dos herdeiros dos colonizadores que, sem vergonha, matam povos desde o século XVI, ou mesmo antes. Também não são mencionados as mortes dos pobres, especialmente os pretos, que vivem e são assassinados nas periferias das belas cidades das Américas. O tema é vasto.
Genocídios sempre ocorreram ao longo da história dos homo sapiens, e estão escritos em prosa e verso, na Bíblia, na Odisseia, nas Canções de Gesta medievais, nos mitos repetidos nas escolas, como foram ditos e repetidos ao redor das fogueiras, e agora nos noticiários e novelas televisíveis, e são vistos e contados como fonte de descanso da faina diária dos trabalhadores.
A América, nome dado a partir de Américo Vespúcio, como a conhecemos hoje, é resultado de múltiplos genocídios, escondidos em palavras como “colonização”, “processo civilizacional” e outros assemelhados. Somos, os atuais americanos, resultado desses genocídios. Nossos ancestrais indígenas, que nos ensinaram a viver com o que a natureza oferece, foram mortos nas terras onde nasceram, cresceram, criaram seus filhos. Mas sua morte foi mais que consequência de suas vidas, foi resultante da ganância, da busca de poderio, do prazer de matar.
A celebração desse prazer pode ser encontrado nas cartas do governador Men de Sá, após a matança dos tupinambá que ele promoveu no litoral do que chamamos, hoje, de Bahia, Espírito Santo. A vitória sobre a Confederação dos Tamoios (os mais antigos) que foi auxiliada pelos jesuítas e, assim, preservar o colégio que haviam fundado em São Paulo do Piratininga. O governador tomou medidas para que os colonos não escravizassem os indígenas que haviam sido catequizados, mas outros poderiam sê-lo, se apresados em ‘guerra justa”. Pouco sabemos desse caminho “civilizatório”, uma vez que a história é escrita na escolha dos documentos, e os professores ensinam o que lhes foi ensinado nos currículos oficiais das universidades. Após a Constituição de 1988 podemos perceber uma mudança em alguns currículos, mas levará tempo para a sociedade aceitar esse pedaço de sua origem. Uma dificuldade que se fortalece pelo hábito de falar sobre os antepassados indígenas como distantes de nossa vida real, e esse é a maneira que usamos para nos referir ao translado violento de parte da população africana nos séculos XVI a XIX, bem como as chacinas ocorridas na repressão aos cabanos (PE) à Cabanagem (PA), à Balaiada (MA), , no Arraial do Bom Jesus (BA), Quebra Quilos (PB e PE) e alguns outros que são mencionados de passagem nos livros didáticos e poucas vezes chegam à sala de aula.
O mais recente método utilizado para manter a população ignorando o seu passado e sua relação com a história dos homens, é a constante mudança curricular que, em nome da “formação de uma mentalidade crítica”, evita que tal aconteça. Temos uma geração que não se sabe Brasil, deseja ser algo para além do Oceano, na busca de um ‘retorno às fontes’ (europeias ou africanas), não para compreender como elas nos formaram, mas para tornarem-se o que aqueles são. E, então temos o genocídio cultural. O esforço para destruir as tradições brasileiras, assim como fizeram os primeiros jesu[itas com a redução do indígena. E isto acontece no ato de impedir que os comuns contem suas histórias, criem seus mitos, mas impõem ortodoxias que os afastam das tradições brasileiras, essas que foram criadas ao longo do XIX, e procuram negar o que poderia unir para a formação de uma nação. Esse processo não ocorre apenas nas redes televisivas, mas podem ser vistas bem próximas de nós.
Nesse processo temos a defesa da identidade de um grupo que, muitas vezes, se torna maior que a busca da identidade da nação; perde-se a ideia da nação em favor de um grupo determinado, seja étnico, cultural, religioso. Para que tal divisão ocorra é necessário que sejam esquecidos os acontecimentos, os fatos, as derrotas e vitórias vividas na formação da nação brasileira. Não apenas uma revisão da história, mas se aproxima da recriação. Faz-se um genocídio cultural, o assassinato dos que viveram e construíram as tradições que moldaram, ainda moldam, a nação brasílica antes desse nosso tempo. Não se quer Maracangalha, e também não se aceita Brasília, preferem o que existe para além do Atlântico. Continua o apagamento das nações indígenas, cujas vão sendo demarcadas, e cada demarcação eles perdem mais um pedaço de terra, assim como perdem seus descendentes mestiços e são vistos como “negros da terra”, como diziam os documentos gerados pelos colonizadores europeus vindos de Portugal no século XVI, mas também os que foram tangidos pela fome que a Revolução Industrial e o capitalismo fabril geraram na Europa, enquanto os acumuladores viviam a “belle epoque”. Alguns mataram a fome, de alimentos e terra, outros foram se tornando aqui o que eram ali, mas os dois grupos vieram com suas culturas e fecharam-se às influências locais. E promoveram alguns genocídios, enquanto os que organizavam o Império, fingiam estar com os olhos fechados.
Será que resistiremos com a nossa cultura brasileira, a esses genocídios?
Ouro Preto, Olinda, Véspera de Santo Antônio de 2026.
terça-feira, abril 01, 2025
O QUE PENSAR NO DIA 1º DE ABRIL DE 2025
O QUE PENSAR NO DIA 1ºDEABRIL DE 2025.
Severino Vicente da Silva – Biu Vicente.
Faz 61 anos do golpe de estado, frustrado pelo suicídio de Getúlio Vargas; depois ocorreu a tentativa de evitar o governo de Juscelino Kubstchek, graças à ação do militar do “livrinho”, o Marechal Henrique Teixeira Lott, o mesmo que se candidatou para enfrentar Jânio Quadros, o professor meio louco que sozinho pretendia salvar o Brasil. Após ter derrotado o Marechal democrata o Com apoio das “forças ocultas” Jânio foi descartado pelas mesmas. Mas o descarte teve que ser completado com o impedimento do vice-presidente João Goulart, contudo o golpe ficou pela metade e criaram o Parlamentarismo de ocasião. Mas eles não desistiam.
Faz 61 anos que o vigário da comunidade católica de Hollywood transferiu para o Brasil a sua pastoral em defesa da família, do Deus dos proprietários contra o comunismo, era uma cruzada que pôs parte do Brasil a rezar o Rosário e promover passeatas para a recitação do Rosário em Praça pública e salvar o país do comunismo. Essa preparação dos espíritos dos pobres de espírito e de dinheiro, não ocorreu isolada, ao lado dela esteve o financiamento de candidatos capazes de vender ou dar o Brasil, destruindo patrimônio nacional deixado por Getúlio Vargas, esteve a constante ameaça de uma invasão do território brasileiro, caso achassem necessário. Conta-se anedota na qual Lincoln Gordon, embaixador americano, ao ver uma placa “o Brasil é nosso”, teria dito sarcasticamente: “querendo nos roubar ladrãozinho?”
61 anos, após chamar o General Castelo Branco “cagão”, o general Mourão Filho, pôs as tropas que comandava a marchar para pôr fim ao governo que tolerava, o governo de João Goulart que cometia o “erro” de ser nacionalista, imaginar fazer uma Reforma Agrária, tornar brasileira a universidade brasileira, fortalecer a indústria nacional. Há 61 anos, setores conservadores reagiram contra as liberdades dos brasileiros e golpearam as possibilidades de um Brasil autônomo e livre, fortalecendo a tendência colonialista dos Estados Unidos da América do Norte. Começava um tempo, como disse uma vez o embaixador brasileiro em Washington e chanceler, o general Juraci Magalhães: “o que é bom para os Estados Unidos é bom para o Brasil”.
Era o tempo da Guerra Fria, do marcatismo e do processo e exclusão de Cuba da Organização dos Estados Americanos – OEA, o tempo de golpes de estado contra as democracias, financiadas pela Central de Inteligência Americana – CIA. Fortal
Oeceu-se a ideia e prática para que que os assumissem os valores da sociedade americana, esforço realizado através de ações como o Corpo de Paz, a USAID, o que foi feito como a colaboração das igrejas cristãs – católica e protestantes – que passaram a olhar esta parte do mundo como território de Missão. A Guerra dos Deuses foi vivida mais intensa: um grupo buscava a libertação, outro visava os benefícios materiais. Ambos serviram a Baal.
A conquista da América Latina era a conquista dos corações e mentes: a produção cinematográfica pretendia seduzir a juventude com os filmes e cultivo dos astros que serviam de modelos de estilo de vida; bolsas de estudos eram ofertadas a universitários que, ao voltar, tornaram-se os organizadores do sistema de pós-graduação, enquanto eram esquecidos os anos iniciais da vida escolar: foi sendo organizada uma casta intelectual coincidente com as tradicionais famílias que sempre dominaram as terras e os governos brasileiros. Os operários tiveram seus salários congelados e diminuídos seus direitos, aqueles que foram conquistados no tempo de Getúlio Vargas.
Mas nem todas os religiosos sucumbiram ao canto da sereia, nem todos os jovens aceitaram a escravidão que o possível sucesso prometia, e desde o início houve a resistência que crescia nas intuições dominadas pelo nacionalismo falso, pelo entreguismo fácil. Ficaram com o seu povo nas organizações sociais, na luta pela recuperação e expansão dos direitos sociais e, por isso foram perseguidos pelos “Donos do Poder” e sofreram prisão, exclusão social; outros jovens radicalizaram e formaram grupos de resistência armada, nas cidades e nos muitos sertões e grotões. Foram presos, alguns mortos onde eram encontrados, outros levados a unidades escondidas nos quartéis do exércitos, onde eram seviciados, torturados, alguns mortos e seus corpo desaparecidos, no mar ou incineradores armados em sítios distantes. Os ditadores militares causaram a destruição de cérebros que seriam úteis ao povo brasileiros, destruíram uma geração corajosa e cheia de vida,esperança e confiança no seu povo. Os que fizeram o movimento golpista de 1964, criaram uma ditadura, destruíram um Brasil que estava sendo construído,para que os seus mentores da Escola Superior de Guerra de Washington, mantivesse o seu envergonhado império, pois envergonharam uma geração de jovens estadunidenses. As ordens para matar a juventude brasileira, emanada por um ditador marcou o processo de vitória do povo sobre as forças da morte. Mas eles se agarraram ao poder com uma “abertura gradual e segura”, o que permitiu que hoje tenhamos novos fascistas rondando e querendo impor nova ditadura, utilizando uma massa que segue o primeiro boi de berrar à sua frente, pois perderam a capacidade de discernimento.
Hoje, 61 anos depois daquele momento que inaugurou “página infeliz da nossa história” , devemos continuar a luta pela liberdade do povo brasileiro. Essa nossa homenagem àqueles que pavimentaram com suor, sangue e lágrimas, o caminho de um país livre de altivo.
Ouro Preto, Olinda, 1º de abril de 2025.
segunda-feira, março 24, 2025
GUERRA ENTRE A QUARESMA E O CARNAVAL
GUERRA ENTRE A QUARESMA E O CARNAVAL
Prof. Severino Vicente da Silva – Biu Vicente.
Os cristãos, de maneira geral, estão viver os dias finais da Quaresma, para eles um tempo de penitência, reflexão e preparação para viver um tempo de compromisso de mudar de vida, aceitar jogar fora o “coração de pedra” insensível à dor e ao sofrimento dos demais filhos de Deus, seus irmãos. E os cristãos e não cristãos perceberam que esse tempo de Quaresma tem sido marcado pela continuidade de algumas guerras terríveis, de forma que algumas já são vistas como guerra de extermínio de nações e povos. Após sete décadas desde o fim da dita II Guerra mundial, a paz dos cemitérios para ser encerrada.
No período de aparente paz, uma paz interna para os povos europeus, parece que apenas os livros didáticos encontram pequeno espaço para dizer que houve guerra na África, guerras dos povos africanos contra os europeus que desejavam continuar a manutenção de sua aparente riqueza com o processo de exploração dos povos africanos e asiáticos. Embora tenham perdido as guerras no Vietnã (povo que venceu os franceses e, em seguida, os estadunidenses), os franceses perderam Argélia, após uma das guerras mais doentias da humanidade, e outras colonias que promoveram a sua riqueza, especialmente durante a Revolução Industrial; os belgas, que assassinaram milhares de congoleses entre o final do século XIX e início do XX, perderam sua colônia, mas conseguiram muita riqueza, guarda pela Suíça, que não tinha colonias, entretanto protegia de tal foram a riqueza conseguida violenta e covarde pelos seus irmãos europeus que estes os protegeram de todas as guerras. E então, não podiam faltar a participação dos mais civilizados, ingleses e alemães, os primeiros, no auge de seu império e os segundos, embora chegassem atrasados com o seu império, marcaram sua presença, não apenas na África, mas puseram sua “civilização” no sul do Brasil, com o apoio do simpático imperador Pedro II.
Por seu turno, os estadunidenses, que jamais cultivaram amizade mas sempre criaram interesses, enquanto usavam a escravidão de povos africanos, promoviam o genocídio indígenas, mais especialmente após a Guerra Civil para pôr fim à escravidão e manter o processo de negação à humanidade dos seus novos cidadãos. Mas não podemos esquecer a contribuição dos povos da península Ibérica, os primeiros europeus a invadir os continentes africano, asiático e americano.
No ano de 1559, Peter Bruegel pintou famoso quadro representando a Batalha entre a Quaresma e o Carnaval, em uma ápoca de mudança das liberdades – libertinagens? - medievais para a sisudez do Tempo Moderno, que coincide, cuidem bem, com o tempo de ‘acumulação do capital’ necessário para construir o mundo que descrevemos acima. Esse Tempo Moderno de expansão da civilização europeia sobre os demais grupos humanos que habitavam e habitam a terra, provocou muitos debates, por igrejas e universidades, sobre a humanidade, as relações entre os povos, o direito à guerra, os direitos humanos nos estados que estavam em formação; nesse Tempo Moderno foi estabelecido novos modos de convivência entre pessoas e nações, contudo, a sua origem sanguinária parece ter impedido que a Quaresma fosse sequenciada pela Páscoa, pela “nova vida” que se esperava, as questões humanas continuaram sendo resolvidas pelo tradicional método da guerra pela apropriação da riqueza, o que impede a possibilidade de distribuição das riquezas produzidas por todos. Foi assim que aconteceu a I Guerra Mundial, e na sequência, a formação do fascismo e seu pior corolário, o nazismo; o mesmo ocorreu quando os europeus uniram-se para vencer o nazifascismo na II Guerra Mundial, mas preferiram derrotar a sua recente criação, a Organização das Nações Unidas em benefício do Pacto de Varsóvia e da Organização do Tratado Atlântico Norte. E fez a Paz do Cemitério na Europa enquanto povos secularmente subjugados lutavam por suas liberdades. Venceram a Europa, mas já eram ‘europeus’.
Talvez o que temos aprendido é que, se a Quaresma não venceu o Carnaval, o que temos hoje é o carnaval de sangue, como bem mostra o ator Peter O’Toole, em cena do famoso filme Lawrence da Arábia, que nos conta a saga da destruição da tradição de povos persas e árabes, divididos para seguir os procedimentos da civilização europeia, sedente de sangue e petróleo.
Severino Vicente da Silva, Biu Vicente,
Ouro Preto/Bultrins, Olinda 24 de março de 2025B
quarta-feira, março 05, 2025
AS CINZAS DE UM CARNAVAL
As Cinzas de um carnaval
Prof. Sverino Vicente da Silva – Biu Vicente
Mais um carnaval vivido e, eles nos indicam o quanto já vivemos, o quanto passamos com eles o tempo em suas diversas etapas. Cada carnaval tem suas canções e, os que se deleitam nos movimentos dos corpos e das partituras, as reconhece. Contudo há algumas canções que permanecem e enfrentam os carnavais. Jovens do vigésimo quinto ano do século XXI, cantam animadamente as canções seculares, vestem-se de jardineiras em uma época de muito cimento e poucas flores nos jardins públicos. Alguns carnavais sempre revivem com o Abre Alas da primeira maestrina que fez esta, que se pode chamar de primeira canção de carnaval, à pedido do Bola Preta, que continua a ocupar espaço no centro do Rio de Janeiro, agora tomado pelas escolas de samba, uma criação paralela às escolas nas quais eles, foliões pobres e pretos não tinham acesso. Enquanto isso, no Recife aristocrata e conservador, que permitia o cortejo da corte do maracatu, perseguia os capoeiras que, acompanhando as bandas musicais da polícia, esconderam o corpo guerreiro para surgisse o corpo bailarino, protetor das mulheres que iam brincar na rua, formando blocos. Esses blocos permanecem e, a cada ano, comemora-se o centenário de algum deles. E os mais jovens os seguem, quase sempre sem perceber a história de rebeldia e negociação social que cada um viveu para nascer. Já não existem fisicamente os centenários fundadores, eles são esses rapazes e moças que, nas estreitas ruas da Olinda gestadas antes do século XX, os continuadores da tradição e fundadores dos novos blocos e clubes. O mesmo ocorre no Recife do frevo e do maracatu, na Goiana dos Caboclinhos, em Nazaré da Mata com a Festa dos Caboclos tornada Maracatu de Baque Solto, desde o final do século XIX. Aliás, nunca é demais lembrar que, no século XIX floresceu Pernambuco, antes do Brasil, pois, como disse Saint Hilaire, “havia um país chamado Brasil, mas não havia brasileiros”. Nas cinzas do dia 5 de março, padece mais um carnaval que nunca morrerá enquanto Pernambuco houver.
Durante o carnaval os que estão se tornando brasileiros, receberam mais um dado, uma realização, uma vitória. A decadente sociedade estadunidense colocou o mais cobiçado troféu de sua indústria de cinema nas mãos de profissionais que atuam na periferia do centro financeiro do atual império, atualmente dirigido por uma pessoa que julga ser uma potência do século XIX e que, embevecido pela teoria do “fim da História, não leu a Decadência do Ocidente.
Walter Salles, Fernanda Torres, Selton Melo e toda a equipe, fizeram o relato de Marcelo Paiva ser uma avenida para indicar que o centro cultural está mudando de endereço. O percurso ainda é longo, mas a história que é construída no cotidiano das pessoas, é mais notada, se a vermos como parte de um processo. Durante o carnaval, na madrugada do primeiro dia houve mais uma razão para “perder” a razão. Soubemos ganhar o título sem chorar pelo que foi “perdido”, e isto é muito importante para a nossa formação. Por outro lado, pudemos verificar que há, habitantes do Brasil que jamais deixaram de glorificar a terra da qual foram expulsos, e também parece que nunca amarão quem os recebeu de braços abertos, ainda que sacrificando parte da população indígena; esses nascidos no Brasil, mas com alma de europeu do final do século XIX, lamentaram a vitória do povo brasileiro que ganhou seu primeiro Oscar. É que no encontro carnavalesco, também há os palhaços, trágicos como os da ópera italiana.
O carnaval apresenta um modelo de sociedade, um modo de ver o mundo e viver com os demais seres, humanos ou não, mas sempre alegres. Enquanto anunciava-se esse novo mundo, os filhos do “admirável mundo novo” organizavam-se para a guerra, com soberbos humilhando outros, estes com menos poder e, para seu sofrimento, descobrir que o grande aliado aparece como grande inimigo. Estados Unidos da Amárica do Norte, Rússia demonstram desprezo e, os traídos – Ucrania, Alemanha, França, Reino Unido – descobrem-se pobres e impotentes como os povos que “civilizaram”.
Esta Quarta-Feira de Cinzas aponta para o que somos.
Ouro Preto, Olinda, 05 de março de 2025.
Prof. Severino Vicente da Silva – Biu Vicente.
Membro do Instituto Histórico de Olinda; membro Honorário do Instituto Antropológico, Geográfico e Histórico Pernambucano.
domingo, fevereiro 09, 2025
AINDA O INÍCIO DO SÉCULO XX
AINDA O INÍCIO DO SÉCULO XX
Prof. Severino Vicente da Silva – Biu Vicente
Quase segunda quinzena deste fevereiro e então já começamos a ter maior clareza do que pretende o “homem amarelo” que governa os EUA desde 20 de janeiro. Temos assistido a realização de algumas de suas promessas de campanha, tais como expulsar imigrantes ilegais do país que governa. Ainda bem que ele veio depois do seu pai, um imigrante ilegal que chegou na “terra da liberdade” na época do vale tudo em Nova York, quando gangs disputavam o poder.i Sorte do Trump pai é que ele chegou quando os ânimos estavam mais calmos, já no início do século XX. Nesta semana, dia 7 de fevereiro, o Brasil recebeu o segundo pacote de ilegais brasileiros que estavam nas terras de Trump, o segundo avião desse tempo. Antes já haviam mandado outros aviões com brasileiros que não alcançaram muito sucesso na terra do Tio Sam. Tio Sam, como sabemos, é um velho senhor que convocava jovens para lutar na guerra de 1914, e nas guerras subsequentes, com dedo em riste, vestido com a bandeira do vermelha e branca, dos EUA, gritando “eu preciso de você”. Deve ter sido uma experiência interessante para ele que, nessa sua intervenção nos interesses europeus, pois começaram a se entender como salvadores do mundo, uma vez que os livros de história começaram a dizer que os estadunidenses começaram venceram a guerra, colocando em segundo plano as muitas batalhas entre os exércitos capitalistas europeus. É notório que os Estados Unidos da América do Norte não tinham, a princípio, interesse em sair do ninho que criaram, destruindo nações indígenas e os bisões, tomando terras do Méxicoii e viver de fazer intervenções militares nos países da América Central que trataram sempre como uma extensão sua, a ponto de criarem um país com terras colombianas, o Panamá. Para as regiões onde não enviaram soldados armados, cuidaram de enviar bíblias, mostrando-se tementes a Deus, que sempre confundiram com a cédula de dólar.
Na guerra de 1939, os estadunidenses já estavam mais à vontade em fazer guerra fora de casa, embora viessem a entrar na luta apenas depois da destruição de sua força naval ancorada no Pacífico Sul, pelos japoneses, estes haviam sentido o gosto de possuir colônias, após as experiências no Leste da Rússia e na Coreia, além de excursões sobre a China. O Japão havia vivido isolado desde o século XVII, observando o comportamento dos europeus e dedicando-se a guerras intestinas. Mas ambas nações esbarraram com a Revolução Industrial, iniciada na Europa. O capitalismo industrial carecia de fornecimento de matérias prima para as máquinas, e foi a busca de terras que levou à fomração dos impérios europeus, subjugando os continentes africano, asiático, enquanto o Tio Sam apoderava-se dos governos e compravam governantes nas América Central e do Sul. Após a Guerra, em 1945, o velho Tio Sam descobriu que tinha novo inimigo que vinha crescendo desde 1917. para enfrentá-lo, entre as muitas invecionices, duas ideias tomaram corpo: uma remodelação do capitalismo com o aprofundamento do Estado do Bem Estar Nacional, voltando-se um pouco para a carência dos não ricos, posto em prática Franklin Delano Roosevelt após a crise sistêmica de 1929; e a procura de “traidores”, os estadunidenses que queriam o Estado do Bem Estar Social aplicado ao seu país: foi o empo de “caça a bruxas”, um esporte religioso praticado no século XVII, pelos ingleses e outros europeus, temerosos do poder das mulheresiii. Na década de 1950, o Senador Joseph Mcharty foi grande campeão dessa cruzada contra as ideias inovadoras.iv Na mesma época a população negra dos USA começa a campanha pelos Direitos de cidadãos que a Constituição lhes garantia mas a sociedade de Brancos Anglo Saxões e Protestante (WASP) os negavam. A divisão política entre os EUA e a URSS, geroua Guerra Fria e nos dizia que os demais povos estavam condenados a seguir um outro modelo, enquanto as potência, sobrepujando a Organização das Nações Unidas, criada por eles. E esses modelos de sociedade politica entraram em crise à medida nas décadas de 1970 e seguintes, com uma juventude embalada pelos sonho, desejo e práticas que levassem a um nova forma de organização sociopolítica, na qual os direitos fundamentais: comida, moradia, saúde, educação se tornassem usufruto de todos. Na virada do século e na transição geracional esses sonhos foram sendo substituídos por “antigas lições”, doutrinas que eram ensinadas nos quartéisv e que tinham, têm, como objetivo o enriquecimento de alguns que se apoderam do fruto do trabalho dos demais, como acontecia antes. Era o fim desse “antes” que uma geração punha em dúvida e desejava superar. Entretanto, no século XXI, os sonhos não são a realização “dos homens e de cada homem” como expressou o papa Paulo VI.vi ´século XXI deseja a “inteligência artificial”, que um cientista brasileiro diz “não ser inteligência nem artificial”.vii
Neste século estamos assistindo e experimentando práticas que costumávamos ler nos livros de história, assistimos o retorno, ou a emergência vigorosa dos racismos, dos nacionalismos, das intolerâncias e, muitos entendem que basta a criação de leis para dominar o ódio à humanidade, que é o fundamento de todas essas ações. Dom Hélder Câmara nos falava de uma Espiral de Violência, ainda na segunda parte do século XX.
São muitos os que acham que a educação escolar seja capaz de barrar essa maré de ódio, mas eles esquecem que o fenômeno dos sistemas escolares são tão recentes quanto a Revolução Industrialviii. Foram as práticas diárias que formaram as gerações anteriores ao método científico de ensino, através de canções, danças, provérbios, conversas informais.ix A qualidade da música que oferecida, não apenas às ‘massas ignorantes’, e que são acompanhadas de versos de baixa qualidade, de linguagem tosca, diversões voltadas apenas para a satisfação dos sentidos na linha inferior à cintura. E é esse método difuso, auxiliado pelas tecnologias, que tem sido o real educador das gerações recentes e, que levam também alguns das gerações anteriores que preferem a escravidão do medo ao risco da liberdade. Nesse mote ocorreram as escolhas eleitorais de muitos países europeus e das Américas. Bolsonaro, Millei e Trump são modelos desse novo tempo que não mais se anuncia, mas que se está vivendo, um tempo de imposição, de censura, morte física e tentativa de assassinato da vida espiritual, não desses citados, mas penso na Nicarágua e outros que, decididamene se preocupa com os outros, desde que os outros seja de sua família. É um modelo de sociedade que nos remete, se não formos muito rigorosos, à metade do século passado, mas que pode ser visto como a vitória do fascismo, aquele que é fruto dos miseráveis e da classe média criados pela guerra 1914-1919. Aquele período foi um tempo de escolhas, e muitos escolheram um mundo mais amigável, enquanto outros escolhiam o melhor momento para realizar o pior dos seus sonhos. Hoje desejam um mundo que seja assim dividido: “nós e o resto do mundo” como está dito em Choque de Civilizações, publicado em 1996, por Samuel Huntington. E Trumam deseja dar forma física à essa separação, no que tem sido seguido pelo seu seguidor argentino, aquele que se aconselha com o seu cachorro. Mas isso não é surpresa quando vemos que há um ditador que conversa com pássaro, que ele diz ser seu antecessor.
Talvez estejamos atravessando uma baixa maré, um recuo das ondas civilizatórias, e os profundos movimentos da história são de longa duração. Espero que seja um movimento de duração média, que esses acontecimentos sejam o que sãox, pois como vimos, cada geração tem seu tempo, sua maneira de organizar-se, embora não consiga se livrar daquilo que é construído pelas gerações anteriores e que forma o conteúdo do tempo e da sociedade que não apenas de um grupo geracional.
Severino Vicente da Silva, Biu Vicente.
Ouro Preto, em Olinda do Salvador do mundo, em 09 de fevereiro de 2025, celebração de Nossa Senhora da Assunção.
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