domingo, novembro 15, 2009

Viva a República!

Nesta semana de comemoração cívica do aniversário da República do Brasil, podemos chegar ao entendimento de que ela não é uma data muito importante, afinal, o Brasil pode não ter se tornado ainda um res publica. Assistimos constantemente um grupo de pessoas apropriar-se de coisas e instituições públicas como se coisas suas fossem. Ademais, a legislação que tem sido criada, apesar de um discurso de garantias universais de direitos, quase sempre beneficia alguns, os mesmos de sempre, os que sempre se apropriaram das coisas do Estado Brasileiro.

Todos nós sabemos que ao longo do século XIX, proprietários de terras criaram o Estado Brasileiro, as suas leis básicas: a Constituição de 1824, o Ato Adicional de 1834, a Lei de Terras de 1850, as Leis que controlaram o fim do trabalho escravo no Brasil. A República começou com um golpe, governos violentos e o retorno das oligarquias que governavam antes e estão até hoje no poder. Aqui em Pernambuco, os primeiros presidentes do Estado haviam sido conselheiros do Império, como ocorreu em quase todos os recantos. O início da República foi uma repressão terrível sobre as iniciativas populares, desde Canudos, Contestado, Congaço, Revolta da Vacina, Revolta do Vintém, Revolta da Chibata. Era a criação da Nação, era o povo se mostrando e sendo recusado pelos setores de dominação. Contudo foi sendo formada a alma da nação, a sua cultura, como coisa pública, nas ruas. Dessa época é que vem a explosão da alegria dos carnavais, no Sul (Rio de Janeiro), no Norte (Recife); com o Samba, o Frevo, a Dança da Capoeira (em todo o Brasil), as diversas danças dos Bois, as Cambindas, as Negas Malucas, os Caboclos, os Caboclinhos, Cavalo Marinho, que são as novas tradições republicanas que superam, ocupam os espaços das tradições portuguesas e africanas.

As grandes tradições do povo brasileiro são criadas na República, e não na Colônia ou no Império, embora tenham bebido daquelas. As festas do século XIX, essas que se orgulham de tanta antiguidade, deveriam verificar a quem interessava os reis de Congo, delegados do Estado e da Igreja. Talvez interessasse aos mesmos que, no carnaval do Recife, tentam impor reis e rainhas e roupas do guarda-roupa da aristocracia francesa aos caboclos de lança nascidos da criatividade republicana dos cortadores de cana. Eles preferem cultivar essas antiguidades, e eles ficam em camarotes distante do povo, divertindo-se com a diversão do povo e não com o povo brasileiro. Algo parecido com a famosa frase bragantina de 7 de abril de 1831.

Os festejos em torno da República são pequenos e quase inexistentes, como observou Karine Morgana, uma das minhas sobrinhas, o que me forçou a fazer essa reflexão. Talvez porque o povo, sub-repticiamente, esteja sempre recriando a República, tomando para si o que alguns bacharéis teimam em guardar para seus parentes, é que eles não gostam de discutir essa idéia: o Estado Brasileiro, diz a Nação Brasileira, é um Res Publica, uma coisa que é de todos e não pode continuar na mão de alguns, herdeiros e continuadores dos impérios bragantinos, embora eles se apresentem em trajes burgueses.

Viva a República!

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