terça-feira, dezembro 01, 2009

Ordem do Mérito Cultural, IDH, IML e um pacto pela vida

Estive recentemente degustando, uma vez mais, as maravilhas do conforto que a modernidade é capaz de oferecer. Neste mundo de divisões de classes, embora há quem diga que as classes não mais existam e por isso não há mais conflitos entre elas, nem todos podem usufruir diariamente aquelas bondades que a técnica vem produzindo ao longo dos séculos. Claro que essas separações entre os que têm acesso às benesses e os que a vêem longinquamente não foram criadas nos tempos de hoje, mas já se pode perceber a sua existência em épocas tão antigas quanto a formação das primeiras dinastias egípcias. E nosso tempo essas situações podem ser percebidas de maneira mais ampliada, mas é que somos cada vez mais exagerados. Assim alguns curtem o exagero do consumo e não o entendem como tal, outros, contudo, quase nenhum acesso ao consumo, mas também consideram esse não acesso como normal, algo dado, natural, vontade divina ou pagamento de alguma dívida de vidas passadas e não lembradas. Aliás, as explicações religiosas estão se tornando tanta que já se pode dizer que há um excesso de oferta, embora a demanda por esse produto pareça ser infinitamente elástica.

No retorno encontrei-me com a realidade dura da Zona da Mata Norte de Pernambuco, que pode ser semelhante, neste aspecto que vou mencionar e em muito outros, às demais regiões desse estado nordestinado, como escreveu um poeta da região. Chegava de acompanhar o Maracatu Estrela de Ouro de Aliança na recepção da comenda da Ordem do Mérito Cultural deste ano de 2009. A República, através de seu Ministério da Cultura reconhecia como meritória a existência e as ações desenvolvidas pelo Maracatu fundado em 1966 pelo Mestre Batista, ali, perto da atualmente falida Usina Aliança.

Algumas horas após a nossa chegada, um dos filhos do Mestre Batista morreu, ali perto do local onde foi fundado o Maracatu e hoje funciona o Ponto de Cultura Estrela de Ouro e o Ponto de Leitura. Tudo normal pois a vida tem esse negócio de morrer, mas essa morte me pos diante do fato de que se uma pessoa morrer fora de um hospital na Zona da Mata, o corpo deve ser removido para o Instituto Médico Legal do Recife. Em toda a região não há um serviço desse para os cidadãos da região. São mais de 14 municípios, além os da Região Metropolitana do Recife. Isso quer dizer que é grande a angústia da família, além da perda do ente familiar. Pouco serviço para os vivos enquanto vivos, como demonstra o Índice de Desenvolvimento Humano da região, e os mortos também não o recebem, aumentando a angústia dos vivos. Mas enquanto vivo não se tem médico, depois de morto não se tem perícia. Daí os mortos viajarem desde as cidades onde morreram até o Recife, depois retornam para serem “plantados” como ouvi de amigo do defunto.

Mas aí a gente se pergunta: será que não daria para criar um IML para aquela região, promover uma assistência maior aos sofrimentos dos que perderam um ente? Não se, mas talvez isso possa vir a ser parte de um programa governamental que já existe, um certo “Pacto pela Vida”. No mínimo diminuiriam as despesas das famílias ou suas dependência para com as politicagens locais. Auxiliaria a modernizar algumas relações sociais. Quem sabe uma ação dessa um venha a receber, do povo, alguma comenda?

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