domingo, outubro 12, 2025

ESQUECIMENTO E HISTÓRIA

ESQUECIMENTO E HISTÓRIA DO BRASIL PROF. Severino Biu Vicente da Silva Aposentado da UFPE, presidente do IHO, membro da CHEILA-Brasil, sócio correspondente do IHAGGO, Sócio do IHAGP Sonhamos sim, e não poucas vezes os esquecemos. Alguns desses esquecimentos ocorrem de maneira tão profunda que há os que procurem um especialista para os ouvir. Esses confessionários mais recentes, esse modo de ouvir sem interferência, parece desinibir o dito inconsciente, essa parte do ser que guarda o que se deseja esquecido, mas que se busca, posteriormente, como um possível caminho para a ‘cura’ de desajuste causado pelo esquecimento. É que esquecer parece ser proveitoso naquele instante da tensão que provocou o incidente doloroso, aos poucos ele se mostra danoso por condutas que poderiam ser evitadas caso fossem refletidas e agregadas ao cotidiano. Esses pensamentos são de um leigo que, vez por outra manuseou manuais de área que não é a sua, mas dessas áreas são muitas as lições que completam as observações históricas, como nos esclarece Michel de Foucault e outros grandes historiográficos da segunda metade do século XX. Todas as vezes que, em um botequim, conversa com jornalistas ou colóquio de historiadores, se fala ou se reflete sobre o Brasil, é costumeiro dizer que os brasileiros não cultivamos a nossa memória e que a sua falta é que nos faz retornar aos erros e nos evita a tomar atitudes que possam modificar o quadro, ou quadrado, em que se pôs a sociedade brasileira. Há algumas coisas verosímeis nessa afirmação, mas também nos apresenta um argumento de desalento próprio daqueles que já esquecem que são parte da humanidade, mais especificamente, da sua pequena aldeia. Não é à toa que escutamos brasileiros que não se escutam dizerem: os brasileiros não têm memória; os brasileiros são dessa ou daquela forma. Falam e agem como se fossem marcianos, venusianos. Assim se expressam, pois foi assim que lhes ensinaram nas escolas, no tempo em que a escola era para os poucos da ‘elite’, dos endinheirados, descendentes de escravocratas e continuadores de seus hábitos. Aprenderam dessa forma e, quando escreveram os livros didáticos a serem utilizados nas escolas, retiraram da história o povo, não lhes permitindo terem acesso às informações que aprofundariam a personalidade do povo brasileiro que, a partir desses manuais, parece não existir na realidade. As escolas organizadas por essa ‘elite’ brasileira que não acredita no Brasil, pois se recusa a aceitar não o sonho, mas a realidade que ela existe e foi criada na destruição da memória. Talvez seja essa uma das razões que, à medida que os que eles marginalizaram começam a romper os limites por eles criados, chegando às salas de aulas, eles passaram a diminuir a importância e os salários dos professores. Assim assistimos a eles e seus prepostos, criarem leis que levam ao corte de investimentos sociais – que eles e seus apaniguados chamam de gastos, e ficam a repetir nas imprensa – escrita, falada e visual, o estribilho inferna de “corte de gastos”. Como nos ensina o grande brasileiro Darcy Ribeiro, esse é o projeto deles: não permitir que novas gerações tomem consciência do esquecimentos a que foram submetidos; o projeto é evitar que os pobres, gerados pela sua ânsia descomunal de lucro tenham acesso ao saber, ao conhecimento de seus passado. Estas algumas razões por serem contra os CIEPES e criam enormes dificuldades para o estabelecimento de escola de regime total, o que daria aos professores a oportunidade de criar laços pedagógicos mais permanentes com aqueles que lhes são confiados. E então haveria a possibilidade de realizar o que é o sonho de Paulo Freire, professor perseguido pelas elites, o cultivo da consciência de sua humanidade, de sua participação e responsabilidade na construção da sociedade livre da mentira e do esquecimento. Para terminar essa conversa que já está longa, quero lembrar que, quando fui sequestrado em 1973, juntamente com o professor José Nivaldo Junior, escutei de um dos meus guardiões: por que é que a gente tem que prender tantos professores de história? A imagem negra de Maria, a Senhora Aparecida, apareceu aos pobres no período em que portugueses estavam dando início ao processo de esquecimento do Brasil profundo. Professor Severino Biu Vicente da Silva, no bairro dos Bultrins, Olinda, no dia de Nossa Senhora Aparecida.

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