domingo, março 11, 2007

Relatório de Yvone Costa Carvalho

O texto a seguir foi escrito por Yvone Costa Carvalho, as suas observaçõesn e comentários a partir da excursão que a turma eletiva de Visões do Nordeste, do curso de graduação em Históra, realizou no início do mês de fevereiro. Como estão observando estou colocando a apreciação dos meus alunos para que sejam apreciadas.


1 – APRESENTAÇÃO

Este relatório tem como objetivo descrever e analisar a atividade feita em excursão no trajeto Recife – Tracunhaém – Nazaré da Mata – Buenos Aires – Aliança – Goiana – Recife, saindo do litoral e visitando algumas cidades da Zona da Mata pernambucana.
O trabalho se apresenta dividido em duas partes. A primeira delas é subdividida em outras cinco, correspondentes às cidades visitadas no percurso. A segunda parte é composta por breves considerações finais acerca de nossa atividade.




2 – TRAJETO

Recife – Tracunhaém – Nazaré da Mata – Buenos Aires – Aliança – Goiana
Em nosso percurso, pudemos visitar alguns municípios da Zona da Mata pernambucana e, assim, entrar em contato com mais elementos para compor nosso estudo sobre o Nordeste.
Antes de começar a falar especificamente acerca do que foi possível constatar em nossas visitas às cidades citadas, gostaria de falar muito brevemente sobre algumas características da Zona da Mata.
Por sabermos que a Zona da Mata estende-se do estado do Rio Grande o Norte ao sul do estado da Bahia, quando falar em Zona da Mata, estarei me referindo apenas à parte que cabe ao Estado de Pernambuco.
Predominantemente o clima é tropical úmido, com chuvas mais freqüentes na época do inverno. O solo da área é fértil e a vegetação natural é a Mata Atlântica. No entanto, da vegetação natural restaram apenas alguns pontos situados entre a vastidão de lavouras de cana-de-açúcar, cultivadas desde o período colonial.


A) TRACUNHAÉM

Tracunhaém é um município com cerca de 12 mil habitantes. Fica a 72 km de distância de Recife, possui uma área de 141,67 km² e encontra-se a 120 metros de altitude.
A principal atividade econômica do município é a cerâmica artesanal. Os numerosos ateliês de barro mostram-se por todo o centro da cidade e movimentam a pequena economia do município.
Dentre os vários artistas que a cidade vem revelando, destacam-se o mestre Nuca e Zezinho de Tracunhaém. Ambos iniciaram seus trabalhos em casa, com a família e são conhecidos e prestigiados não só no país inteiro, como em alguns países ao redor do mundo. Apesar dos dois trabalharem com o mesmo material e utilizarem algumas características técnicas em comum, os trabalhos em si são bastante diferentes.
Zezinho de Tracunhaém trabalha com a mulher, Maria, até hoje e é conhecido por produzir peças sacras. Sua peça mais famosa é o São Francisco com pássaros nos ombros e em uma das mãos. Uma peculiaridade de seu trabalho é a produção de peças inteiriças.
Mestre Nuca também trabalha com sua esposa, também Maria, e filhos. Em contrapartida, suas peças mais conhecidas são leões que lembram os tradicionais leões de porcelana portuguesa do período colonial.
Os dois mestres queimam suas peças em fornos de lenha e não aplicam esmalte nem fazem uso de tintas artificiais em suas peças. O acabamento das peças é feito com terracota. Para alcançar uma tonalidade mais viva e brilhante nas obras, Zezinho aplica tintura de café torrado com açúcar.
Em nossa rápida visita pude conhecer o Centro de Produção Artesanal da cidade. Esse Centro é uma cooperativa entre cerca de trinta artesãos e serve como ponto de produção e comércio das peças, além de servir como um local propício à permuta de técnicas. Foi possível perceber que a maioria dos ceramistas utiliza o forno de lenha para queimar suas peças e não fazem uso de esmalte, nem tintas artificiais.


B) NAZARÉ DA MATA

Nazaré da Mata é um município com cerca de 30 mil habitantes. Fica a 75 km de distância de Recife, possui uma área de 141,3 km² e encontra-se a 89 metros acima do nível do mar.
Sua principal atividade econômica é a produção de cana-de-açúcar. No entanto, destaca-se o crescente turismo em torno dos famosos maracatus da cidade. Durante o carnaval a cidade proporciona o encontro de 50 grupos de maracatu que, além de incentivar o turismo e a produção cultural, aquece a economia local.
Nazaré da Mata tem o mais antigo maracatu rural do estado, o Cambinda Brasileira. Esse grupo foi fundado em 1918 no Engenho do Cumbe. Sua sede permanece no local até hoje e é aberto a visitações.
Em nossa passagem por Nazaré da Mata pudemos visitar o antigo matadouro da cidade. Era comum que os matadouros fossem localizados longe do núcleo urbano, fora da cidade, portanto. Com o crescimento do município, o matadouro hoje se encontra no meio do centro urbano de Nazaré. Após passar um período desativado, o matadouro hoje funciona como o Museu do Maracatu. No espaço existem alguns estandartes de agremiações carnavalescas, trajes de maracatu e alguns informes sobre os maracatus da cidade.


C) BUENOS AIRES

Buenos Aires é um município com cerca de 11 mil habitantes. Fica a 79 km de distância de Recife, possui uma área de 87,469 km² e tem 149 metros de altitude.
Era parte do planejado visitar uma igreja do pequeno município de Buenos Aires, no entanto, a mesma encontrava-se fechada. Em razão disto, seguimos a viagem sem mais delongas.
Antes de sair da cidade, no entanto, fomos conhecer o atelier de Di Arte, uma espécie de antiquário no centro da cidade. Há uma quantidade apreciável de variedade de utensílios e móveis no lugar. Alguns em bom estado de conservação e uso, outros deixando bem a desejar nesses aspectos. Pôr historiadores num antiquário é como soltar crianças em parques. Todos ficam curiosos e em busca de algo nunca visto, ou na tentativa de manusear um instrumento antigo e entender seu funcionamento. É um convite a escrever a história de cada um daqueles objetos (inclusive os que passaram por um processo de envelhecimento para serem vendidos como relíquias do século XVIII).



D) ALIANÇA

Aliança é um município com cerca de 37 mil habitantes. Fica a 72,9 km de distância de Recife, possui uma área de 266,46 km² e encontra-se a 123 metros de altitude.
Atualmente a cidade ganhou destaque por se sediar o Ponto de Cultura Maracatu Estrela de Ouro. O nome vem de um dos mais conhecidos maracatus de baque solto da região. O Maracatu Estrela de Ouro foi criado há mais de 30 anos – oficialmente fundado em 1996 – pelo mestre Batista e hoje é presidido por seu filho, José Lourenço. O Maracatu conta com os versos do mestre Zé Duda e Luiz Caboclo, ambos integrantes do ponto de cultura.
Em 1930 foi construída a casa que hoje funciona como sede do Maracatu Estrela de Ouro, no sítio Chã de Camará, que serve de referência para os folguedos e onde pudemos nos deleitar com uma apresentação de coco feita exclusivamente para nós.




E) GOIANA

Goiana é um município com cerca de 74 mil habitantes. Fica a 65 km da capital, possui uma área de 492,2 km² e encontra-se a apenas 13 metros acima do nível do mar.
A cidade é um importante centro industrial da Zona da Mata Pernambucana, produzindo cana-de-açúcar, mandioca, fumo, cimento, açúcar, cal, casos de algodão, móveis e artefatos de fibra de coco.
A cidade de Goiana originou-se de um dos mais antigos núcleos de colonização da região e foi, por diversas vezes, sede da capitania.
Fomos a Goiana para visitar o engenho Uruaé. O engenho em si não funciona mais, no entanto, a plantação de cana-de-açúcar persiste, sendo sua produção vendida e exportada. O engenho foi incluso em nosso percurso por se tratar de um dos poucos engenhos (teoricamente do século XVII) que mantém a estrutura de Casa Grande, Senzala e Capela (todos abertos a visitação pela bagatela de R$7,00 por pessoa).
O engenho, hoje, funciona como uma espécie de “museu vivo”. A nossa recepção foi feita pela dona da propriedade, pertencente à sétima geração da família Rego Barros.
Atravessando os cômodos da Casa grande, é possível perceber um pouco do cotidiano de uma família patriarcal do final do século XIX – latente pela divisão e arrumação dos cômodos. Além de móveis antigos e louças expostas, a proprietária incluiu “no pacote” os funcionários da casa “fantasiados” de lacaios e mucamas para dar um tom mais dramático ao nosso tour.
Apesar de ser interessantíssimo visitar uma casa que preserva grande parte dos móveis, louças e rendas do século XIX, é inevitável não fazer uma crítica às intervenções feitas na arquitetura da casa para que esta não pudesse ser tombada como patrimônio pelo IPHAN. Dentre as intervenções – para não dizer depredações – a proprietária mudou toda a sacada das janelas da frente do casarão, destruiu a passarela que ligava a capela à Casa Grande (a passarela era utilizada para que a família do senhor de engenho pudesse chegar à capela sem precisar se misturar às demais pessoas que vinham assistir à missa) e construiu uma suntuosa piscina em frente a Casa Grande.
De fato, ter um patrimônio tombado pelo IPHAN significa lidar com entraves burocráticos que, segundo o IPHAN, garantirão a preservação do patrimônio, em detrimento à autonomia do proprietário sobre seu imóvel. No Engenho Uruaé, no entanto, o dilema foi resolvido da seguinte forma: modificou-se o suficiente para que o IPHAN não mais considerasse o imóvel um patrimônio histórico, e preservou-se o restante.

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