domingo, abril 20, 2008

Das raízes à rosa do caboclo

Tenho observado certas manias que se perpetuam, em novas maneiras, como camaleões. Entre essas está aquela que costumava dizer que tudo que é tecnologicamente bom, moralmente bom, além de engordar, vem de fora. Carros, bebidas, roupas, músicas, sapatos, isqueiros, tudo, tudo, tudo de bom vinha de fora. O produto nacional brasileiro era intrínseca e essencialmente ruim Afinal foi isso que nos ensinaram os manuais de história do século XIX e XX, a literatura que nos ofereceram, nos pondo um terrível complexo de inferioridade, tanto no parte da população mais pobre, quanto e principalmente na chamada “elite” de café-com-leite-açucarada”, sempre envergonhada de não ser italiana, alemã, francesa, inglesa, holandesa ou qualquer coisa que tenha tido sua origem na Europa que criou a civilização judaico-cristã,com conhecimento criados na África, na Ásia.

Pois bem, esse complexo de inferioridade, essa impossibilidade de aceitar que no Brasil há um povo capaz de criar belezas está assumindo outras características. Nesses tempo atuais, tudo que de bom tem sido gerado pela população pobre, pelas ditas camadas populares, começa a ser apresentado com sendo africana. Estamos trocando seis por cinco mais um.. Ou será sete menos um?

E vamos cultivar raízes. Mas as plantas não possuem apenas raízes e nem mesmo são apenas raízes. As raízes precisam ser preservadas para que as árvores possam crescer saudáveis, mas não se deve pensar raízes sem árvores. As raízes seguram as árvores nos solo, do solo tiram nutrientes, mas as árvores não se alimentam apenas pelas raízes. O ambiente acima do solo. além do solo, faz parte da construção da árvore, que se compõe de tronco exposto aos ventos, às chuvas, aos animais. Assim a árvore recebe influência de um meio que ultrapassa os limites das raízes, embora sem elas árvores não existam.

Ah! Sim, temos raízes nas áfricas, mas não crescemos nas áfricas e, fora delas somos resultados de ventos, de elementos que se juntaram, alimentaram, alimentam e recebem alimento das raízes. Raízes que são provenientes das áfricas, das europas e, vejam só, ate mesmo das raízes culturais dos povos que ocuparam fisicamente e espiritualmente os espaços onde raízes transplantadas foram fincadas. E foram fincadas nas terras e nas mentes, e nas almas dos que aqui já estavam.

Origens! Coisa bela e perigosa. Bela porque nos diz que temos um principio, e perigosa quando pensamos que somos a origem. Raízes, quando elas são tratadas sem considerar sua relação com o solo, os galhos, as flores, folhas e frutos que dela vêem e as mantêm, as raízes morrem. Belo sabermos, estudarmos, orgulharmos de todas as nossas origens. Porém, é tempo , também, de nos alegrarmos com as árvores que cresceram dessas raízes, com as folhagens das árvores, com os frutos que colhemos delas. Ao saboreá-los entramos em contato ´ntimo com as raízes.

As rosas que colho no meu jardim e coloco em um jarro e perfuma a minha sala só é possível com o cuidado que tenho com as raízes. Mas se ponho as raízes na minha sala, se as tiro do solo onde cresceram para admirá-la, mato a roseira na adoração da raiz.

Um comentário:

Monick de França disse...

Bom saber que estamos colhendo frutos,pois já foram tantos os espinhos...
Talvez esse fosse um bom tema para se debater em sala de aula!

Abraços,Monick de França.