terça-feira, fevereiro 26, 2008

na Fronteira contra o ridículo sem fronteiras

Estive em Sergipe neste final de semana, um momento para encontrar pessoas conhecidas quando estive em Estância, mas a oportunidade de encontrar professores e estudantes de várias instituições de ensino superior, como a Universidade Federal de Sergipe, a Universidade Tiradentes, tudo sob o patrocínio da Faculdade São Luiz de França. O núcleo de pós-graduação promoveu o Primeiro Encontro de Professores de História, e fui convidado para discutir questões relativas à pesquisa no campo de História das Religiões e, ministrar um mini-curso que recebeu o simpático e quase enigmático título de Conversas sobre três Nordestes.

O encontro com Sergipe começou ao sair de minha casa, quando o correio entregou-me um livro, enviado desde Estância, que conta das passagens de Jorge Amado naquela cidade na década de 1930. Bem escrito por Rui Nascimento, um bom contador de “causos” , que nos deixa ficar sabendo de um pedaço mais desconhecido da vida do escritor criador de personagens que se tornaram emblemáticos, pois nos auxiliam a ver como o Brasil é. Talvez, como é o Brasil vivido e inventado por Jorge Amado. Assim, quando cheguei à Aracajú já estava tão sergipano quando pernambucano, ou seja sentia-me em casa, ao ponto de sorrir bem mais do que tenho sorrido recentemente nas ruas de Olinda e Recife.

Os riso ficam difíceis especialmente quando temos vereadores com vocação para exterminadores do futuro, pois que se dedicam a querer destruir a história vivida pela cidade do Recife. Pouco versado na história da cidade que diz querer defender, limitado homem que se diz público, pretende mudar nome de ruas como muda as suas meias: apenas pelo seu desejo pessoal. Um dia, creio, esses “homens públicos” irão deixar de pensar apenas nos jardins dos seus protetores e cuidarão que cada rua de uma cidade é um pedaço de uma história coletiva, de uma sociedade.

Nomes de ruas têm sentido e não tem sentido ficar modificando-os apenas para agradar a “tios”, “tias”, “avôs” ou qualquer outro tipo de “parente”. Em determinado momento, a cidade nomeou uma rua, uma praça com o objetivo de cultivar uma memória, um marco da sua formação. Aceita a nomeação, os que vivem na rua tomam para si e para as suas vidas aquele nome. Ele servirá para dizer o passado da cidade e o presente dos habitantes da rua ou da praça. Para modificar a nomeação que foi duplamente aceita, não basta a vontade de uma cabeça cheia de empáfia e vazia de respeito ao povo. Sorri um pouco hoje quando soube que, após a discussão posta por instituições e cidadãos através do Diário de Pernambuco, a Câmara dos vereadores resolveu adiar a sua decisão. É nossa convicção que, informados agora por entidades, historiadores e moradores, os vereadores e, mesmo as comissões por onde tramitou silenciosamente o projeto, pensarão que: uma rua como a Rua das Fronteiras, que lembra o herói Henrique Dias, a Rua das Fronteiras, na qual está uma igreja que recebeu marcas da força ditatorial; a Rua das Fronteiras onde viveu A Voz dos que não tinham Voz, essa rua não será transformada em rua do zerinho.

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