quarta-feira, julho 09, 2008

As algemas do ministro

Julguei que passaria mais tempo sem retornar a escrever neste espaço de conversas comigo e com os que me acompanham. Contudo, acontecimentos me forçaram a escrever. Esse negócio, esses negócios que envolvem o banqueiro Daniel Dantas, um nome que vimos acompanhando nos noticiários político, econômico e policial por mais de uma década, deixam-me furioso. Especialmente quando assisto, no noticiário, o presidente do Supremo Tribunal Federal reclamando da maneira que foi preso o banqueiro, instantes após ter visto uma afirmação do banqueiro, que tentara corromper um policial para não se preso, uma vez que temia a primeira instância da justiça, pois, dizia ele, no STF seria mais fácil. O Presidente do STF estava chateado porque o banqueiro, que vez por outra, tem seu nome associado a alguma ação delituosa e anti-republicana, foi algemado. Diz ele que isso é um abuso. Talvez, penso eu, porque machuque o corte do paletó ou suje a camisa.

Ora, Nunca vi, nem esse nem outros ministros, reclamando o uso de algemas nos bairros pobres deste país. Eu fui algemado durante a ditadura militar e levado, em sigilo de justiça, para onde ainda não sei. Esse presidente do STF acha que apenas os pobres, pretos, analfabetos, assalariados que não podem pagar R$ 6000.00 por uma garrafa de vinho devem ser algemados. É capaz de ele vir a criar uma lei que proíba os ladrões, que vez por outra, encontram-se com ele em lugares em que os trabalhadores assalariados jamais puseram os pés depois de terminada a construção, sejam presos.

As palavras desse ministro confirmam que a maioria do povo brasileiro não faz parte do Brasil. Ou seja, do Brasil frequentado pelo ministro e seus amigos. Como diz o poeta "o brazil não conhece o Brasil".

Coisas como essas que vimos no noticiário de ontem é que explicam porque mais de duas centenas de recém-nascidos morrem em um hospital em seis meses; afirmações, como as que fez o ministro do STF, explicam porque as escolas públicas estão sempre carentes de bibliotecas, área de lazer, telefones, pinturas, tetaro, carteiras, etc.; frases como a do ministro, saindo lépido e fagueiro na acusação aos policiais que sabem da inexistência de leis que proíbam o uso de algemas para ricos, explicam porque um banco que recebe córneas para transplante fecha por falta de verba, enquanto banqueiros como Dantas mantém seu banco funcionando e o banqueiro Cacciolla pode fugir do país; especulações como as explicitadas pelo Presidente do Supremo Tribunal Federal explicam porque não há condução decente para os trabalhadores irem ao trabalho diário e seus filhos irem à escolas; sentenças como a desse juiz explicam porque não parques publicos nas cidades brasileiras.

Ah! Quanto benefício pode trazer esse deslize do pressidente do STF, depois que um corruptor disse que era mais fácil ele se sair bem nos tribunais superiores. Ambos, o delinqüente e o juiz sabem o que disseram. Nós ficamos pagando impostos para garantir que os juízes defendam aqueles que não pagam impostos. Isso nos dá a impressão de que alguém paga alguma coisa a alguém.

Estou indignado. Desejo que as pessoas voltem a cultivar alguma indignação.

Por outro lado sei que nestes tempos de tudo ser relativo é meio deselegante ficar indignado. Uma pessoa educada, politicamente correta, não deve expor seus pensamentos sobre as autoridades, não deve dizer que acha essas coisas que banqueiros e políticos fazem estão erradas. Afinal, nada vai mudar, pensam os indigentes de indignação, e os indignados podem vir a ser prejudicados, pois nunca se sabe as voltas que mundo dá. Esse negócio de ser politicamente correto é que faz o juiz sair em defesa de pessoas que já não sabem beber água. Apenas os que têm um "salariozinho", como bem disse o presidente, esses que só podem beber cachaça brasileria de baixa qualidade, que jamais bebem uisque ou usam paletós tão finos, aqui e no exterior, é que devem ser algemados.

Roupa e dinheiro lavados promovem assistência judiciária gratuita das Associações de Magistrados. Quem é preso com roupa muito usada e machucada deve ser algemado.

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