quinta-feira, julho 17, 2008

Um salário mínimo para os professores, mas não o professor mínimo

Neste cipoal de notícias que se acumulam sobre a gente, notícias as mais diversas, inclusive essa informação de que o vizinho chegou bêbado e, generosamente, resolveu dividir conosco o seu prazer de ouvir música, ontem soubemos que o presidente da República estabeleceu um piso salarial pra os professores brasileiros.

Esse tem sido um longo percurso: reconhecer que os professores, especialmente os que realizam o trabalho mais básico, não podem continuar tão desconsiderados nesta sociedade capitalista. Evidentemente não foi definido um salário como o que os senadores pretendiam dar a alguns dos seus amigos R$ 9.900.00. Também seria querer muito, como costuma dizer quem se contenta com um pouco mais do que já conseguiu. Quando fiz uma pequena assessoria a uma prefeitura do Agreste pernambucano, conversei com uma professora que se recusava fazer uma capacitação, pois, se não o fizesse seria posta para fora da sala de aula e passaria a fazer a varrição de rua. Ela disse que era o que desejava, pois se caso isso ocorresse ela dobraria o seu salário. Passam seis anos desse acontecimento.

A valorização do professor deve caminhar paralela a mudanças e melhorias nos espaços das escolas. Espaços físicos: bibliotecas, salas de aula, limpeza dos sanitários, salas para professores, salas específicas para atividades conjuntas, auditórios, teatros, espaços para prática de esportes, etc.; e também os espaços mentais dos diretores, supervisores, funcionários administrativos, professores, secretários de educação e alunos. É que essa melhoria salarial, que deve ser posta em prática até o final de 2009, seja um passo na direção de uma melhoria nos demais aspectos da vida profissional, mas principalmente no que concerne ao professor ter uma melhor percepção de si mesmo e de seu trabalho, de sua função social, de seu papel histórico na construção de um mundo melhor, mais justo, mis digno para a vida de pessoas humanas plenas.

As melhorias devem ocorrer em todos os níveis de ensino, de tal maneira que nossas escolas possam ser, de verdade, um espaço de experiência, reflexão, aprendizado e treinamento que capacitem os que vivem e passam por elas para viver no século XXI.

Mas uma das melhores coisas que pode acontecer nas escolas é que elas sejam realmente democratas, abertas para todos. Precisamos parar com concessões aos sobreviventes das aristocracias, castas e igrejinhas. A manutenção de certos comportamentos serviçais que se tem por certas "tradições, pessoas e situações aristocráticas" impedem e dificultam o trabalho que os educadores devem fazer.

Nenhum comentário: