segunda-feira, julho 21, 2008

Festival de Inverno de Garanhuns



Três dias com sentimento de férias, assim estive em Garanhuns, cidade pólo do Agreste Meridional pernambucano que, nos últimos dezoito anos vem utilizando o clima físico para movimentar o clima cultural de Pernambuco. Foram os dias iniciais do Festival de Inverno, edição 2008.

Creio que em apenas três ocasiões fui à Garanhuns nesse período, embora tenha estado na cidade várias vezes. Uma das primeiras, no tempo em que a antiga Fundação de Ensino Superior de Pernambuco - FESP estava a fazer o esforço necessário para vir a ser a Universidade de Pernambuco. Participei, como docente, de vários cursos de que tinham o objetivo melhorar a titulação dos docentes da Faculdade de Formação de Professores do campus avançado de Garanhuns, assim como o de Petrolina. Daquele período tenho gratas recordações, pois fiz amigos que ainda hoje atuam no magistério da UPE, alguns agora em Nazaré da Mata. Lembro também dos conhecimentos e amizades que tenho desde quando assessorei a Faculdade de Administração – FAGA; participei de reuniões no Rotary quando das celebrações do quinto centenário dos descobrimentos portugueses. Outras vezes de minha visita na cidade esteve ligada à ação pastoral com os jovens da diocese e no contato com os Redentoristas, na pessoa de Padre Gabriel, que havia sido meu professor de Teologia Moral. E ainda, por conta das aulas, Garanhuns foi meu ponto de apoio nas pesquisas que fiz na comunidade dos Fulni-ô de Águas Belas, bem nas minhas idas a Caetés. Desses contatos tenho agradáveis recordações, dos que estudaram comigo, já então professores, e dos que conheci por minha freqüência na cidade. Referência especial ao Hotel Maville.

Em entrevista Diário de Pernambuco, Afonso Oliveira, produtor cultural responsável pela Casa dos Pontos de Cultura, lamenta que, nesse largo espaço de quase duas décadas, o FIG ainda não tenha revelado grupos culturais locais. Tais palavras coincidem com as que escutei de alguns moradores da cidade. Parece que o Festival de Inverno de Garanhuns tem uma vocação maior para atrair turistas temporários que promover a cultura local. Na verdade, a maior parte do público se desloca para o Agreste Meridional para encontrar-se com alguns artistas-cantores de projeção nacional, ligados ao mundo do divertimento.

Há, no FIG, um espaço muito bom para a aproximação da arte musical erudita na direção de um público que não tem acesso a esse tipo de refinamento cultural. Mas como ele ocorre eventualmente, não tem sido o suficiente para atrair o homem e a mulher cotidianos da região. Aliás, os moradores da cidade continuam em sua faina diária, o que não lhe permite usufruir os bens culturais que estão postos para a degustação.

Nas tardes da sexta e do sábado tive o prazer de, na Catedral, ouvir belas peças, e apreciar um maravilhoso espetáculo – musical e visual – de música do Renascimento Cultural europeu: uma maravilhosa aula de cultura renascentista. Ao início das noites daqueles mesmos dias duas peças teatrais discutiram as relações dos homens com a natureza e com os seus semelhantes; a Árvore (grupo Duas Companhias, de Pernambuco) e o Quebra-Quilos (grupo Alafim, da Paraíba). Durante o dia foi o “bater pernas” em busca das exposições de pintura, de fotografia, Livrarias, etc. Foram dias de férias e estudo e de observar pessoas em busca de oficinas diversas.

Mas a cultura local, só pude mesmo ver e ouvir, enquanto comia um prato feito na área comercial., com a chegada de um grupo de Reisado que tocou três músicas, tomou uma cachaça e continuou a espalhar música no almoço dos comerciários.

Talvez, para que a cidade de Garanhuns venha tornar-se um ponto de turismo permanente, seja necessário fazer uma pesquisa mais acurada das criatividades culturais locais – artesanato, danças, grupos de teatro, etc. Mas isso só ocorrerá quando e se a população local tornar-se mais que simples espectadora e servidora daqueles que buscam, no clima da região, sentir-se um pouco mais europeu, ou vão à cidade uma vez por ano para ter contato, gratuito, com músicos e bandas. O Festival de Inverno de Garanhuns deve caminhar na direção de ser mais que um evento feito para ser consumido e não degustado.

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