segunda-feira, dezembro 08, 2008

como tratar sábios e não sábios

Os jornais, com freqüência cada vez maior, trazem notícias de que professores sentem-se violentados em salas de aulas; informam que jovens estudantes vão à salas de aulas portando consigo, além dos cadernos e canetas – algumas vezes em lugar delas -, canivetes, facas, revolveres. Vez por outra aparecem notícias que professores foram agredidos fisicamente em sala de aula, algumas vezes no trajeto casa – escola – casa.

Mas, parece, a maior parte das agressões sofridas pelos professores é de ordem moral e psicológica: atos de insubordinação, recusa histérica em seguir as orientações recebidas, desrespeito explícito como sentar-se de costas ao professor, gritos lembrando que ele é professor apenas em sala de aula, etc. Situações como essas têm levado um razoável número de professores a serem afastados das salas de aulas por conselhos médicos, como maneira de curarem depressões geradas pelos constantes e repetidos atos de desrespeito. Professores, não poucos, sofrem de baixa estima. Professores vivem o drama de serem agentes de um processo civilizador, mal pagos pelo Estado e por ele abandonados, como ele faz com a parte pobre da população, que não se sente parte real da sociedade, recebendo como migalhas aquilo que lhe é de direito.

Essas reflexos me vieram neste final de semana, em um curso de especialização lato sensu, promovido pela Secretaria de Educação do Estado de Pernambuco, a professores da rede de ensino estadual. Conversávamos sobre os efeitos do processo de mundialização, que atualmente estamos vivendo, tem sobre nossos costumes, nossas raízes, nossas tradições, nossa identidade. Nessa conversa, um dos professores participantes lembrou que em sua comunidade de origem, Conceição das Creoulas, no município de Salgueiro, há o costume de as crianças saudarem os mais velhos pedindo que eles as abençoem. O professor nos ensinava que esse costume, um costume de raiz, fortalece o sentimento de respeito aos mais velhos, àqueles que guardam a tradição, protegem e transmitem as tradições da comunidade. E fazem essa atividade, que é uma atividade de ensino, pela palavra, pelo exemplo, pela participação nas danças, nas conversas, etc. Os mais velhos são os professores e são respeitados.

Em nossa sociedade em que o tempo de velhice é mais comum para muitos, uma sociedade que fez multiplicar o acervo de conhecimentos produzidos e somados dos muitos grupos, uma sociedade que, por conta da enormidade de conhecimentos produzidos, vê-se obrigada a cultivar a especialização, e nem sempre os detentores do conhecimento são os mais velhos; ou melhor, os mais velhos, etáriamente, não conseguem acompanhar todas as produções culturais. Assim, o papel de cuidador da tradição, de transmissor dos saberes, agora é o professor. E então, o respeito aos mais velhos, um respeito que se lhe deve duplamente, pela idade e pela sabedoria, também devia vir para os professores. E não se quer que se peça a bênção aos professores, mas que se lhe respeite o trabalho, a dignidade, etc. que se deve a ele não apenas por ser professor, mas por ser um ser humano. As palavras do professor a esse respeito me tocaram profundamente pois sei que ele sempre fez assim com os seus professores e, ao menos por essa razão, é merecedor do mesmo tratamento.
E dos professores deve-se pedir que tenha conhecimento e cultivem a sabedoria. A sabedoria dos mais velhos, ou ao menos a sabedoria dos mais jovens, em ouvir os que os mais velhos e os mais jovens têm a dizer. É que assim agem os mais velhos,os velhos que são sábios, não aqueles que são apenas idosos. Assim como há professores que são sábios, e aqueles que são apenas professores. Entretanto, sábios ou não, velhos e professores merecem respeito.

Gostei muito de aquele professor me lembrar que eu devo respeitar os mais velhos que eu, ainda que eles não sejam sábios.

2 comentários:

Anônimo disse...

Quando era pequeno, estudava pela manhã e no pátio da escola particular onde eu e meu irmão estudavamos, ficavamos perfilados, enquanto as bandeiras de Pernambuco e do Brasil eram asteadas. Cantavamos os hinos, da república, nacional e da bandeira.Entravamos na sala de aula, ficavamos sentados, em silencio, até o professor entrar na sala. Quando o professor adentrava a sala, todos se levantavam e davam bom dia para o professor ou professora. Isso foi durante a década de 70, que muitos cabeças de bagre consideram como "época das trevas", mas onde as pessoas tinham educação, já que era preciso haver uma ideologia para se viver numa ditadura. Essa "ZONA" que esperimentamos hoje é fruto de 24 anos de democracia, onde tudo é permitido, onde todos se sentem no direito de fazer o que bem entendem, já que é "proibido proibir". Cabelos brancos não me impressionam, já que os canalhas também envelhecem, mas a falta de educação do alunado nos dias de hoje vem do berço, já que seus pais também são mal educados e cresceram vendo XUXA na tv durante 5 horas por dia.

Anônimo disse...

Pois é Ernani, entretanto, a gente não deve desesperar da democracia. Vai ser difícil reencontrar o equilíbrio, mas vamos continuar a inventar o jeito de ser mais pessoa, não por medo dos ditadores, mas por adesão à liberdade e ao respeito