domingo, agosto 24, 2008

Uma tarde excepcional

Foi um final de semana cheio de surpresas, iniciado com a visita que fiz a Ponte dos Carvalhos, um dos distritos da cidade do Cabo de Santo Agostinho. Para mim, Ponte dos Carvalhos foi, ao longo do tempo, um lugar de passagem, quando íamos, em pic-nic à Praia de Gaibú, um recanto que sempre estava na perspectiva dos moradores da Zona Norte do Recife, entre eles, nós moradores de Nova Descoberta. Não foram poucas as vezes que a Cruzada Eucarística da Paróquia organizou excursões para as praias do litoral sul. As preferidas foram sempre Gaibú e São José da Coroa Grande. Foi durante essas viagens que conheci Ponte dos Carvalhos.

Ponte dos Carvalhos foi, também, a paróquia que teve o padre Geraldo Leite como vigário. Geraldo Leite era sinônimo de inovação, na música, na liturgia, na maneira de comunicação com o povo de sua igreja. Moderno, não chegava a ser o oposto do vigário mais famoso do Cabo de Santo Agostinho, o padre Antonio Melo, homem de intenções interessantes, mas confuso na sua teologia e sociologia – sócio-teologia. Uma de suas confusões foi permitir, talvez promover, a derrubada da Igreja da Irmandade de Nossa Senhora dos Homens Pretos do Cabo. Mas essa é outra história. Voltemos a Ponte dos Carvalhos e a Geraldo Leite, que construiu um moderno templo, com belo afresco de um Jesus que se confundia com os pescadores. Pois bem, aquela bela pintura foi criminosamente modificada por ordem de um desses novos padres, pouco dados aos gostos da leitura e da apreciação artística.

Mas fui a Ponte de Carvalhos e, pela primeira, passeei nas suas ruas. Fui a convite de Daniel Xavier para assistir uma conferência que dava início, naquela localidade, da Semana Estadual do Deficiente. Daniel está sempre à escuta do nosso programa QUE HISTÓRIA É ESSA, na Rádio Universitária 820amm no ar sempre às 9 horas da manhã na quarta feira. Pode ser acionado em www.tvu.ufpe.br/am.htm.
Atraído pelo convite, terminei em uma mesa com a obrigação de dizer algumas idéias ao lado da psicóloga e professora Roze, uma especialista em educação para pessoas com necessidades especiais; e também ao lado do velho colega Manuel Aguiar. A conferência ocorreu no CENTRO CULTURAL MESTRE DIÈ, local onde funcionam várias atividades ligadas á comunidade. Nos anos passados aquele prédio servia para o Mercado da Farinha, abandonado, foi adotado pela PLAN, uma organização de origem alemã que trabalha para promoção e proteção dos direitos das crianças e dos adolescentes. Realiza hoje cerca de 50 projetos no Brasil nas áreas de Direitos, Saúde, Educação, Participação Comunitária e Segurança Alimentar e Nutricional. (http://www.plan.org.br/). O espaço é composto por um belo auditório, uma biblioteca, lugares para reuniões e jogos. No auditório viera alunos de duas escolas estaduais, com seus professores e muitas pessoas com necessidades especiais.


Entre essas estava Inês, uma menina que tem dotes especiais para a pintura e possui um grande senso de humor e alegria. Os momentos artísticos ficaram a cargo de rapazes e moças, portadoras da síndrome de dowm, chegados de Boa Viagem, que dançaram xaxado, xote. Foi uma tarde movimentada e com pessoas vivendo plenamente a sua vida, ultrapassando os limites, como dona Helena, a mãe de Inês.

Quanto ao Mestre Dié, não há retratos dele no prédio, mas todos sabem que ele foi dono de um Bumba Meu Boi, grande animador do carnaval de Ponte dos Carvalhos. Maria, que foi a mestre cerimônia da tarde, me fez prometer que eu voltarei a Ponte de Carvalhos para conversar com a família desse ilustre negro, o Mestre Dié.









Devo agradecer a Daniel Xavier, que me convidou sem informar que é um cadeirante, e que pediu que eu levasse livros para ele ler.



Esse povo não quer pena ou piedade, quer seus direitos respeitados.

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