sexta-feira, junho 22, 2007

"se eu não puder vir eu vou morrer" Manuel Correia de Andrade

No início do dia pensei escrever algo sobre as escolas públicas, sobre sobrecarregadas com tarefas que deveriam ter sido realizadas pelos pais, com outras que deveriam ser assumidas por postos de saúde, etc. Então eu soube do falecimento do professor Manuel Correia de Andrade, com quem tive a alegria de fazer amizade, após um convite que me fez para participar de um seminário internacional, que ele estava organizando na Fundação Jooaquim Nabuco. Nunca havia falado com ele, apenas conhecia Joaquim Correia, seu filho e meu colega de trabalho.
Fiquei com aquela alegria indescritível de estar conversando com um homem que eu só conhecia nas capas de livros. Trocar idéias com Manuel Correia foi uma alegria. Depois em várias oportunidades nos encontramos. Um vez, enquanto comprava um livro, ele entrou na livraria e eu fui pedir o seu autógrafo e ganhei o livro. Depois, quando assumiu a Cátedra Gilberto Freyre, no CFCH, passamos a nos ver mais amiúde e trocávamos palavras nos elevadores, corredores. Cada dia mais admirava aquele homem que, estando aposenatdo, recusava-se a ficar em casa de pijamas. Preferia trabalhar, e continuava a escrever, a promover simpósios, incentivar a que se fizesse ciência para continuar a fazer o Nordeste. A sua paixão.
Surpreendeu-me várias vezes. Uma vez perguntou como ia meu trabalho com o Ponto de Cultura Estrela de Ouro em Aliança; outro dia falou-me do que eu estava realizando no Instituto Histórico de Olinda. Eu ficava maravilhado com a manutenção de sua curiosidade sobre o mundo, como continuava atento. Nada parecia abalá-lo. O falecimento dos filhos ele superava no processo de criação, de escrita. Semanalmente estava com uma nova lição na página de opinião do Jornal do Commércio.
Na terça feira, dia 20, comentei com meus alunos a alegria que eu estava rendo com o lançamento de meu livro, mas disse que era uma alegria maior porque, no mesmo ato, o professor Manuel Correia estava lançando o seu mais novo livro. Muita vitalidade, muita vida.
Mas ele não apareceu naquela manhã. Alguns estranharam. Perguntei por ele e não tive resposta. Na manhã de hoje eu compreendi porque o Mestre não compareceu ao evento. Estava saindo de cena, ao seu modo.
A professora Eliane, de sociologia, disse que uma vez o ouviu dizer: eu tenho que vir aqui, se não puder vir eu vou morrer.
No dia 21 de junho Manuel Correia de Andrade não pode ir ao CFCH. à Cátedra Gilberto Freyre, no dia seguinte ele morreu. Ee gostava mesmo de escolas.

Um comentário:

Péricles Peri disse...

Caro professor Severino,

Parabéns pelo blog! Gostaria de conversar com você a respeito do programa "Que história é essa", veiculado pela Rádio Universitária AM.

Trabalho na Revista de História da Biblioteca Nacional e acho importante divulgar o trabalho.

Um abraço,

Lorenzo Aldé
jornalista
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