quarta-feira, agosto 13, 2008

Medalha de Bronze, fibra de aço.

Todos nós estamos assistindo, ou ao menos acompanhando os resultados, os jogos olímpicos, este ano realizado em Pequim, na China. Enquanto algumas nações, duas delas asiáticas, disputam em número de medalhas de ouro, a delegação brasileira tem que estar alegre na conquista de três medalhas de bronze. Nada há de errado nisso e, na verdade, isto está muito correto e coerente com a situação vivida aqui em nosso país. Conquista de medalhas não é uma ação isolada, de um atleta. Uma medalha é resultado de um trabalho coletivo. É assim como nas famílias. As exceções são surpresas, não podemos as aceitar como normais.

É coletivamente que as coisas acontecem.

Todos nós sabemos que as notas conseguidas por uma criança, um jovem, na escola, é resultante de vários fatores. Assim, uma nota boa é resultado da alimentação da criança, mas não só; é resultado do estímulo que recebe da família para que estude, mas não só; é resultado de ter um espaço em casa para estudar, mas não só; é resultado do silêncio que a casa oferece a ele quando for estudar, mas não só; é resultado da tranqüilidade de seu pai no emprego, mas não; é resultado de uma assistência médica decente, mas não só; é resultado do esforço do professor para ensinar, mas não só; é resultado das condições agradáveis da sala de aula, mas não só; é resultado da existência de uma biblioteca na escola, mas não só; é resultado de ele ter boas expectativas de emprego, mas não só. É esse conjunto e muito mais que pode garantir um bom aprendizado e bons resultados. Não é um esforço de última hora que garante o aprendizado. Esforço de última hora garante recuperação, mas não garante aprendizado. O aprendizado de uma ciência, de uma atividade exige tempo e disciplina, esforço, perseverança.

Se houvesse uma disputa para ver quem esvaziava primeiro uma aeronave, os viajantes brasileiros ganhariam medalha do mais reles metal. Na verdade, se gasta mais tempo saindo de um avião no Brasil do que sair dos estádios onde estão sendo realizados os jogos olímpicos. Nós não estamos aprendendo disciplina e, se não há disciplina, não há organização, e também não se cria sentimento de cooperação.

Um país que muda a metodologia das pesquisas para enganar os seus sócios, não pode pensar em ser medalha de ouro, exceto no campeonato das desculpas, das mediocridades, do bacharelismo, das chincanas jurídicas. Pode até ganhar eleições, mas será ganho um envergonhado e de duração tênue.

Que bom que ganhamos a primeira medalha por conta do esforço de uma família pobre, negra, periférica, feminina. Exatamente o oposto de quem, em passes mágicos, torna-se milionário, sócios de multinacionais de telefonia enquanto busca outras cidadanias porque seus pais querem garantir o futuro de seus filhos.

A primeira medalha ganha pelo Brasil pôs à nu a mentira sobre investimentos em educação. Se bem que são tão poucos os que acreditam nessas mentiras ditas e reditas, como lembrou o ministro das relações exteriores, lamentavelmente falando sobre outro tema.

A medalhista Ketleyn Quadro teve que vender seus pertences pessoais para poder estudar, comprar o quimono. Não é a primeira vez que assistimos isso. É verdade que muitos já esqueceram o João do Pulo; o Joaquim Cruz, aquele que corria descalço no solo das cidades satélites de Brasília. E são tantos os que lutam contra as decisões que procuram destruir o gosto do povo por si mesmo!!!

Outro dia o presidente da República recebeu um menino do Coquem bairro do Recife, que disse que jamais havia dormido em uma cama.

Educação, saúde, trabalho, respeito. Esse conjunto dará medalhas no futuro. Mas para isso é necessário que as pessoas que estão no poder se disciplinem e parem de fabricar resultados duvidosos para enganar a população.

Um comentário:

André Maranhão Santos disse...

Muitos fazem vistas grossas quanto à relevância do esporte. Um atleta antes de ser um dos melhores, pode se tornar um ser humano munido de valores imprescindíveis a qualquer cidadão; como respeito, determinação, regras e profissionalismo. O esporte é sim, um indicativo da organização social de cada país.

PS: A mãe de Yane Marques, atleta de Afogados da Ingazeira e medalhista do Pan Rio 2007 no Pentatlo, vendeu muitos doces e fez até empréstimos para a filha participar e conquistar uma medalha inédita para o Brasil...