sábado, abril 21, 2007

Erickson Luna e Francisco Espinhara: poetas e amigos

No final dos anos sessenta a gente vivia em muitas viagens e conhecia pessoas que depois passaria tempo sem as ver. Alguns grupos de amigos que estudavam juntos, e outros que eu conheci quando já ensina. As lembranças, em alguns casos, são névoas. Depois, para acontecimentos mais recentes, envolvendo as mesmas pessoas, as névoas se dissipam e aparecem imagens mais nítidas.
Uma dessas imagens que trago, ainda antes dos meus vinte anos, é a de Erickson Luna. O vi primeiro como uma pessoa que desejava estudar e fazer o curso de direito. Alguns dias depois de meu casamento recebi a visita de um grupo, nele estava Erickson e Godóia. Eles se gostavam muito. Foi uma noite interessante naquele apartamento que eu alugara para vivier meu casamento. Depois, Erickson e Godóia viveram juntos. Depois separaram-se de tanto amar.
Erickson caminhou para a poesia, para a transgressão, para o mundo alternativo. Foi expondo-se poeta. Uma vez quase voltava para a vida normal, quiz retomar o curso de direito. Conversamos a respeito. Resistiu. Continou o seu caminho alternativo e sempre nos encontrávamos para trocar idéias e eu ouvir suas poesias. Fátima Marinho gravou uma golope do poeta e compositor Erickson Luna.
Nesse período conheci Francisco Espinhara. O poeta também era professor no Colégio e Curso 2001. Ensinava Literatura oficial e fazia literatura alternativa. Erickson e Espinhara dividiram noites e tragos e, em não poucas ocasiões eu tinha o copo na mão, com eles em um bar ou em uma calçcada.
Espinhara vivia no fio da navalha, Erickson parecia ser a própria navalha. Espinhara pareceu acalmar-se um pouco e foi para a fronteira norte do Brasil. Professor no Amapá, voltou para um rio onde ele se entendia melhor.
Durante algum tempo frenquentei o Espaço Passárgada aos sabados de manhã para recital e as primeiras cervejas. Lá, Espinhara e Erickson que me apresentaram Malunguinho. Assim, esses meus amigos me permitiam tocar um pouco no seu mundo, mesmo sabendo que eu jamais teria a coragem de assumir os caminhos que escolheram. ´Cada um a sua modo era maldito, alternativo. Mesmo quando se tornou diretor de uma escola na Várzea, Espinhara continuava a pensar alternativamente, como pude perceber nas vezes que nos encontramos no CFCH e conversávamos sobre a experiência de ser educador e administrador de escolas.
Nos bares próximos ao CFCH Erickson dava aulas a meus alunos e, alguns deles se surpreendiam com a minha familiaridade com esse mundo maravilhoso, alternativo e dasafiador. Não era fácil trazer estudantes para a aula enquanto eles tinha a conversa e a filosofia e a vida atraente de Luna. Uma vez conversamos sobre esses "alunos" em comum que tivemos.
Este ano de 2007 marcou o fim das trajetórias de Erickson e Espinhara. No espaço de noventa dias a marginália recifense perdeu dois de seus maiores poetas, boêmios, amantes da cidade e das dores dos seus habitantes.
Quero manter em mim um pouco da coragem e altivez desses grandes amigos e crentes na possibilidade de outra literatura e outra liberdade.

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