sexta-feira, novembro 28, 2008

Casa da Memória do Cabo de Santo Agsotinho

Viagens são sempre instrutivas, elas oferecem aos olhos e ouvidos novas paisagens, novos sons, oportunidades de enriquecimento da sensibilidade. Ontem, dia 28 deste novembro ensolarado fui ao Cabo de Santo Agostinho para conhecer dois apaixonados pela cultura local e, por isso, universal. Antonino Junior e Ivan Marinho, um nascido na cidade, outro lá chegado treze anos passados. Cativantes as conversas em torno da preocupação em “salvar a memória do que já foi feito no Cabo” e que corre o risco de ser esquecido. Esses dois estão angustiados, mais Antonino que Ivan, com a possibilidade de que o passado venha a ser tornado totalmente passado, uma vez que os senhores que detêm o poder político têm dificuldade de entender que é necessário conservar vivo o passado para que o presente e o futuro tenham algum sentido. Em nossa conversa algumas vezes apareceram expressões como “o povo não se interessa pela história”, ninguém mais se lembra quem foi fulono ou quem foi beltrano, e eles não “sabem o quanto o Cabo de Santo Agostinho é importante na história de Pernambuco”. Mas, porque o povo estaria interessado em conhecer e amar a história dos senhores dos engenhos do morgado do Cabo, as história que o põe como simples moldura dos acontecimentos passadfos? A população do Cabo de Santo Agostinho, como a de qualquer outra cidade, só tem interesse por aquilo que é seu, pela sua história.


Antonino imaginou a Casa da Memória. Para isso ele vem guardando documentos, fotos, objetos que fazem parte do cotidiano e dos momentos em que o cotidiano tornou-se excepcional. Assim vi fotografias de muitos aspectos da vida dos cabenses do século XX, uma visão larga das modificações sofridas pela cidade, e pedaços de uma produção cultural/teatral rica. É interessante verificar como havia, e ainda há uma boa atividade no município, embora, me parece não com as pessoas e os mesmos objetivos. A Casa da Memória será de grande ajuda para entender a dinâmica das mudanças sociais ocorridas naquela região nos últimos sessenta anos, desde que foi atingida pela dinâmica das industrializações, desde as usinas até o presente.

Penso que a Casa da Memória pode vir a auxiliar o município e os atores sociais entenderem o processo que se instalou na região desde os anos cinqüenta, quando a modernidade da metade do século XX chegou ali, com estradas novas, substituindo o trem, com usinas modernas torturando as canas e canavieiros, e os sindicatos querendo novas maneiras de relações humanas e de trabalho. Nesse período começam a crescer novos espaços sociais e, a Casa da Memória auxiliará a entender que não devem ser guardadas apenas as memórias dos barões e dos moradores da cidades, mas que também há uma memória a ser conhecida, ou reconhecida, a memória dos novos bairros, dos novos espaços sociais e as novas possibilidades de criação cultural.

A conversa nos levou a conhecer o Teatro Barreto Junior, e lá conversamos sobre possíveis atividades que deverão ser implementadas pela Casa da Memória. Tudo dependerá do afinco dos seus idealizadores em criar condições para que os cabenses, os cidadãos comuns e aqueles cidadãos que foram eleitos pra cargos de comando na urbe, venham a compreender a importância de não esquecer de se lembrar. Claro que tudo isso tem que envolver os sistemas escolares que atuam no município e a re-invenção da história do Cabo de Santo Agostinho, uma história que entenda ser mais importante um canavieiro, um funileiro que vive e cria diariamente a Cidade que possíveis heróis nascidos na Espanha que casualmente estavam em uma nau quase cinco séculos passados.

Vamos acompanhar a construção da Casa da Memória na rememoração do Cabo de Santo Agsotinho

3 comentários:

Tássia Brandão disse...

Querido Prof, é mt bom que um importante historiador pernambucano, como o senhor, tenha conhecido o projeto da Casa da memória cabense! Como o senhor sabe, sou cabense, e tenho a honra de conviver e conhecer Antonino, e de ajudá-lo na concepção da Casa da Memória, não só como estudande de história mais também como uma cidadã! Posteriormente lhe envio um artgo meu publicado num importante jornal da cidade sobre o papel da memória na vida dos cidadãos e como ela está relegada no Cabo de Santo Agostinho. Abraços!

Anônimo disse...

Olá Biu
Muito bom perceber que a história está em todos os lugares e não apenas em Recife, nos usineiros, nos letrados, nos grandes comerciantes.
A região sul do Estado deve ser estudada como parte do Estado e não apenas como curiosidade. Escrever, estudar, perceber a participação das pessoas e ajudar as pessoas a assimilarem suas ações como sendo históricas é a parte mais difícil do Projeto Casa da Memória.
Depois de tantos anos de história do açúcar, dos senhores, das senzalas vistas da casa-grande, é importante ligar o fio que nos torna, cabenses, recifenses, pernambucanos.
Grande abraço.

André Raboni disse...

Curiosamente, neste mesmo novembro ensolarado, o prefeito do Cabo (o ex-deputado estadual), Lula Cabral, e mais um grupo de vereadores e assessores do município realizaram viagem demasiado custosa aos cofres públicos a um luxuoso hotel em Salvador, Bahia.

A história foi denunciada pelo Diário de Pernambuco, e os (ir)responsáveis estão tendo que responder pelos gastos ao Ministério Público (que instaurou procedimento investigativo) e ao Tribunal de Contas do Estado.

O promotor de Justiça do MPPE, Roberto Brayner, disse o seguinte à reportagem do DP: "“Um dos vereadores (Ricardinho - PPS) disse na reportagem do Diario que não sabe quem pagou. É sinal de que ele é que não foi. Se as investigações apontarem que houve fraude, os envolvidos terão que devolver o dinheiro para os cofres públicos e podem responder ainda por improbidade administrativa.”

Complementando, o Promotor afirmou que "“Caso fique comprovado crime de peculato (desvio de recurso público em favor de terceiro ou para proveito próprio), a pena pode ser de dois a doze anos de reclusão, além da aplicação de uma multa que pode chegar a três vezes mais do que o valor desviado.”

Enquanto isso, sabemos que as verbas para preservação da memória histórica é encolhida.

A sociedade está de olho. Temos que cobrar lisura com o erário público. Não podemos mais fechar os olhos para os desgovernos de nossos governantes.

Que a sociedade cabense esteja atenta.

Caso queiram mais informações e visualização de fotos da farra realizada pelos represenbtantes do povo cabense, copiem e colem no navegador o seguinte link:

http://acertodecontas.blog.br/politica/farra-baiana-passa-por-investigacao/

Um abraço a tod@s!

PS: Prof. Biu, este é um excelente espaço para discussões. É conversando que a gente se entende. É trocando informações e conhecimentos que a gente cresce.