sábado, janeiro 03, 2009

Festas de Ano Novo

Pois se hoje é quase o quarto dia do ano, sei que neste momento está começando o Coco de Umbigada no Bairro de Guadalupe, aqui em Olinda. Nesta noite, um motivo especial: um ato de desagravo contra a violência sofrida por Beth de Oxum, no mês passado.

O Coco é uma dança tradicional das camadas pobres do Nordeste do Brasil, uma dança mestiça, nascida, como a maior parte das danças culturais, nos rituais do trabalho. Interessante é que esta dança veio a nascer no meio do trabalho escravo, mas também tem ligações com ex-escravos que viviam nos quilombos. Já é tempo de sabermos que os negros aquilombados não eram escravos, eram livres, embora esses negros livres tivessem escravos entre eles. Mas isso são as contradições na História em sua confecção. Mas a dança do Coco era perseguida pelas polícias, que estão a serviço de alguém ou de alguns, por sua origem, por não fazer parte do cânone oficial da civilização. Agora que já estamos nos aceitando como povo mestiço, o Coco vem sendo reconhecido como parte de nossa formação. Afinal não somos apenas descendentes da Europa cristã (católica ou protestante), e os negros não foram criados por Deus ou Oxalá apenas para servir de trabalhador sem direito a recriar o mundo enquanto dança e canta. Axé!!! Aleluia !!!

Bem, um dos assuntos que a imprensa quis colocar na ordem do dia, mas os nossos políticos evitaram falar, foi o aniversário da Revolução Cubana. Fez cinqüenta anos que se deu por terminada a fase de Cuba ser a zona de meretrício de parte da sociedade estadunidense. Não sei bem as razões que fizeram políticos que foram apoiados, protegidos, financiados pelo governo de Fidel Castro, ficarem em silêncio. Deve ter sido a influência dos fogos de artifícios! Talvez lembraram-se de que Fulgêncio Batista tomou o avião no momento dos fogos de artifícios. Mas parece estranho que os jornalistas não conseguiram, ao menos aqui na “província de Pernambuco”, fazerem políticos dizerem algumas palavras sobre Cuba. Ora, o que aconteceu na noite de 31 de dezembro de 1958 e 1º de janeiro de 1959 foi de uma transcendência que ultrapassou os limites físicos da geografia e os limites do tempo, da imaginação, dos desejos. A América Latina mudou com a Revolução Cubana; a política estadunidense mudou com a Revolução Cubana; a política internacional mudou com a Revolução Cubana. É por isso que ficamos sem entender a razão de tantas celebrações a respeito de 1968 e 1989 e tão poucas menções a 1959. Será que é que em 1968 e 1989 ocorreram eventos europeus, algo em um mundo civilizado, e em 1959 ocorreu alguma coisa sem importância, pois essa ocorrência foi na América Latina? Ou será que tudo se refere à necessidade de não estragar o vinho de champagne – para os ricos, revolucionários, contra revolucionários, ex-revolucionários, – ou o bom espumante nacional não francês? Seja o que for, é necessário entender que o ocorreu na Ilha foi mais importante do que a contratação de Ronaldo para jogar no Corintians, time do Grande Guia. Pois é, quase sempre algumas convicções são tão belas quanto a explosão de fogos em noites de festas. Recentemente ocorreu um festival que unia Cuba e Pernambuco que pretendeu mostrar o quanto esses povos possuem tradições comuns. Beth de Oxum este em Cuba ensinando o Coco de Umbigada. Até se diz que somos PERNANCUBANOS.

O Ano de 2009 tem início com o Estado de Israel celebrando a Guerra de 1967; a África continua com seus ditadores gordos e seu povo famélico de alimentos e, como parece haver objetivos maiores, os meios de comunicação – rádio, jornais e televisões – com o apoio das muitas secretarias de turismos e culturas, já começam a anunciar que todos nós gostamos de carnaval e que ele se confunde com a nossa cultura e nós com ele.

Vamos consumir, vamos nos consumir, vamos consumir as bolsas enquanto as bolsas nos consomem.

Feliz ano novo!

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