quarta-feira, janeiro 07, 2009

Os Sertões do São Francisco, a Progresso e a ANTT

Ao final de cada ano somos, de certa maneira, bombardeados com informações sobre o transporte de passageiros que estão indo para as suas férias nas diversas regiões do Brasil. Vez por outra somos informados da existência de um inominável caos nos transportes aéreos. Essa é uma preocupação tão grande que, em determinadas circunstâncias, o próprio presidente da República intervém, chegando a substituir o ministro da defesa.Uma verdadeira comoção pública, ver aquelas famílias, acompanhadas de suas malas cheias de presentes, ou simplesmente de roupas recentemente compradas para a viagem de férias em alguma praia brasileira, mas que bem pode ter sido programada para algum ponto no hemisfério norte do planeta. Pois bem, quando acontece esse sufoco para quem pode pagar uma viagem de avião, alugar quarto de hotel, com mais de duas estrelas, nós vemos como o nosso Estado se preocupa com esses cidadãos. Então ficamos orgulhosos pelas iniciativas que eles tomam, e quase não notamos que são as mesmas que tomaram no ano anterior. E existe até uma Agência Nacional Viação Aérea para exigir que os horários sejam cumpridos. Até mesmo se pensou em colocar, em cada aeroporto um Tribunal de Pequenas Causas! Isso é que providência para garantir o direito dos viajantes aéreos.

O mesmo se diga a respeito do cuidado com os carros nas rodovias do Brasil. A cada ano a Polícia Rodoviária se mobiliza para educar os ineducáveis motoristas que saem com suas famílias, especialmente as da capital paulista, em direção das praias, ou dos cariocas que se “mandam”, a alta velocidade, para a Região dos Lagos. Pelo menos é isso que vemos, a cada ano, no noticiário. Férias, Viagens, Rodovias lotadas de carros lotados e a polícia tentando educar os ineducáveis senhores proprietários de automóveis que não entenderam ainda a razão de terem construído essas máquinas. Os herdeiros de Henry Ford, no Brasil, julgam que o que compram nas concessionárias é o direito de passar por cima de quem não pode comprar um carro, ou um carro mais potente. Isso deve estar relacionado com o número de cavalos-força ou a força do cavalo. Bem, mas, de alguma maneira o Estado está lá, protegendo e ensinando que faixa de acostamento não é faixa de rolamento, que velocidade máxima não significa velocidade obrigatória, etc.

Mas o que acontece nas estações rodoviárias? Será que lá encontramos o Estado, será que encontramos nas rodoviárias algum sinal da Agência Nacional de Transportes Terrestres? Bom, aí parece que é exigir demais daqueles que gerenciam o Brasil, querer que eles também se preocupem com essas pessoas que não construíram patrimônio para comprar um automóvel! Por que fazem questão de viajar para regiões que não têm aeroporto? Ocorre que saindo do Recife, se alguém quiser viajar até o sertão do São Francisco, há a possibilidade de uma viagem aérea, especialmente se se vai até Petrolina. Mas o que ocorre para quem deseja ir até Itacuruba, Floresta, Ibimirim, Jatobá e outras cidades? Para esses está reservado o monopólio da empresa ou Expresso Progresso. Deve ser por isso que o progresso demora tanto a chegar à região. Poucos ônibus, pouco conforto, muito atraso. São tantos os atrasos que as pessoas não entendem que um ônibus que deveria sair da Terminal Rodoviário Antonio Farias às 22 horas, se ele sair às 22:o5 já está atrasado. E não se pode reclamar, pois a reclamação é feita à empresa que diz que irá tomar providências. A impressão que se tem é que eles tomam a providência de sair com mais atraso. Foi o que ocorreu com o ônibus que deveria sair do Recife às 22 horas do dia 5 de janeiro, mas só saiu às 23 horas. Isso depois que foram feitas cinco ligações reclamando. Em uma das vezes, o funcionário disse que “estava se fazendo possível para oferecer o maior conforto aos passageiros”. O ônibus que saiu do Recife teve que ser trocado por outro em Caruaru, noventa minutos depois. E a quem reclamar se não há um guichê da ANTT no Terminal Rodoviário?

Claro que as sessenta pessoas esperaram em silêncio a chegada dos ônibus! Todos estavam convictos que não adianta reclamar. Uma das passageiras, que pertence ao quadro de funcionários do Estado, disse que já telefonara muitas vezes para a empresa, uma vez que ela faz a viagem a cada semana. Também já ouvi isso de vários professores que, procuram trazer alguma colaboração à região. Mas os da região ficam acuados. Eles são pobres, não podem brigar com os ricos – esses possuem seus próprios automóveis e não utilizam os ônibus -. Afinal os ricos sempre viram prefeitos e quem pode viver sem essas famílias que governam a região por centúrias, quase? Essas famílias poderosas, das quais lemos nos jornais, vemos nas televisões seus sobrenomes, bem que poderiam, seja como moradores do local, seja como detentores dos votos locais, seja como possuidores das terras, fazer algo para melhorar a condição de transporte dos que precisam utilizar a Empresa Progresso. Isso pode ser feito de maneira democrática, acionando os mecanismos legais, mas pode ser realizado da forma tradicional, aquela da beira da piscina, ou do cochicho na próxima viagem de avião com o governador. Ela vai dizer ao Secretário de Turismo: “Há que se melhorar o serviço de transporte de passageiros para o Sertão para que as pessoas se interessem em 'ver Pernambuco'”.

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