sexta-feira, janeiro 23, 2009

Uma contínua luta pelos direitos sociais

Neste dia 20 de janeiro, quando se festejavam santos católicos, vindo da Europa e entidades originárias da África, tomava posse como presidente dos Estados Unidos da América um afro-americano mestiço. 41 anos antes, outro afro-americano foi assassinado por ter sonhado que poderia haver um mundo no qual os seres humanos cuidassem mais daquilo que os aproxima do que as coisas que os separa. Em um período geracional, assumindo a existência do racismo em sua sociedade e se comprometendo a vencê-lo, os estadunidenses mostraram que é possível fazer o que parecia ser impossível. Na América Latina tivemos algo semelhante, quando o Brasil elegeu um antigo metalúrgico para o cargo de presidente da República. Vimos que é possível promover mudanças, embora nem sempre consigamos todas as mudanças que desejamos no curto espaço de tempo. Mas as conquistas podem ser maiores se maiores forem os sonhos, os compromissos.

Um dos comentários que ouvi na televisão dizia sobre o não deslumbramento das filhas do Obama nos espaços do poder. Em verdade elas já viviam nesse espaço, pois seus pais são pessoas que se cultivaram e que a sociedade permitiu que se cultivassem. Não que não tivessem tido problemas de aceitação no mundo dos poderosos onde seus pais foram se infiltrando pelo trabalho, pelo talento, pelos méritos que foram conquistando. Os Obama forjaram-se para o poder e o foram exercendo á medida que ascenderam socialmente, resultado de seus esforços e das mudanças que ocorreram na sociedade americana desde que nasceram na segunda metade do século XX. Daí a presença de Mahomed ali, a constante lembrança de Marthin Luter King, Malcon X e muitos outros. As filhas de Obama são filhas de uma sociedade em mudança, são filhas de um senador da República, já conviviam com os espaços do poder e ele lhes já lhe familiar.

O que assistimos na posse de Obama foi a posse de um passado de lutas pelos direitos humanos e sociais. Daí decorre o compromisso com a mudança da qual fizera parte, já como beneficário, mas também como cidadão atuante em sua comunidade. Essas podem ser razões que levam Obama a enfrentar o lobby, ao estabelecer que os seus auxiliares se comprometem a não viverem nos corredores do Congresso após a sua saída do governo, ao estabelecer limites de salários para sua equipe. Ele poderá até vir a se beneficiar com o exercício da presidência, e terá benefícios sim, pois o cargo exige certas proteções aos seus ocupantes, mas, parece, isso não será buscado, nem se fará o escândalo de mandar buscar lençóis no Egito.

O deslumbramento de alguns de nossos políticos, oriundos das camadas pobres, é decorrente da ausência de mudanças sociais amplas; as pequenas mudanças que ocorreram nos últimos cinqüenta anos foram as permitidas – e aqui no sentido de concessão – pelos donos do poder, atingindo alguns poucos, e esses poucos parece sentir-se eternos tributários desse “favor”. As mudanças não atingem a maior parte da sociedade que não se sente sujeito partícipe do processo social. São chamados a participarem como consumidores, semelhantes a bichinhos de estimação em apartamentos. Ainda temos que continuar a nossa luta profunda pela aquisição dos Direitos Humanos, pois ainda os vemos como concessões que são dadas por algumas famílias que se revezam nesse brutal esforço de não permitir aos brasileiros a mínimas condições de vida decente. Se ainda temos um José Ribamar Sir Ney, ex-presidente da Arena, ex-presidente do PDS, ex-presidente do Brasil, conselheiro do atual presidente do Brasil, brigando no senado para manter a “sabiduria” dos grilheiros, isso demonstra que ainda temos muito que lutar para, verdadeiramente mudar a nossa história.

Um comentário:

Anônimo disse...

Gostei muito da matéria "Uma contínua luta pelos direitos sociais" e confesso, também, estar muito otimista em relação ao novo presidente americano. O que nos fascina nele é a naturalidade, a simplicidade e a segurança que demonstra ter para exercer o cargo que escolheu. Ele consegue ser convincente, sem ser arrogante; ser
uma estrela, sem demonstrar orgulho; ser um sábio, na sua humildade.
Seria bom que todos se mirassem no exemplo do novo líder que, de fato, lida com a fama e o poder com tanta naturalidade, pois tem a consciência de que tudo é efêmero e que ele está apenas cumprindo uma missão.
Muito importante, principalmente para os afros-descendentes, observar que não é mais tempo de se cultivar mágoas, complexos, por um passado que já não faz sentido. Foi lindo ouvir o presidente dizer que anos atrás o seu avô nem podia ser recebido em muitos restaurantes americanos e, agora, ele estava ali como líder da maior potência mundial. O bom é dizer isso sem rancor, sem mágoas. Dizer isso com a felicidade pelo tanto que a humanidade já cresceu e evoluiu. Obama demonstra em seus gestos e palavras que é muito bem resolvido, muito seguro do seu papel neste mundo. O fato de ser mestiço é tão irrelevante, assim como é natural uns terem olhos azuis, outros, castanhos ou pretos; uns serem mais altos, outros mais baixos; uns serem mais magros que outros, enfim, cada ser é diferente, quer seja pela anatomia ou psicologia, pois cada um traz consigo princípios e étnicos e éticos, culturais e religiosos. O importante é que cada um de nós se assuma como é, e, mais que isso, goste de ser como é, cultive e se orgulhe da sua identidade. Só pode ser amado e admirado quem, primeiro, se ama e se admira, sem ser arrogante e nem gabola.
Obama é exemplo de um homem bem resolvido consigo mesmo e, por isso, pode governar o mundo.
Confesso que desde a primeira vez que o vi e ouvi sua fala, fiquei fascinada!
Dodora