segunda-feira, janeiro 19, 2009

A formatura de Wanessa

Wanessa é uma jovem que conheci assim, meio por acaso, quando visitei a Faculdade de Formação de Professores de Nazaré da Mata procurando entusiasmar estudantes do curso de História para o projeto do Ponto de Cultura que assessoro na cidade de Aliança. Tivemos uma boa adesão, mais de estudantes iniciaram conosco essa caminhada. Wanessa Kariny estudava geografia, como a sua irmã Bárbara Gonçalces e, ao lado de Susana, Tamar Thalez, Dhiogo Rezende, Ivaldo Junior, Rafael Bastos, Ruth Lemos, Bruna Pires, estudantes de História, nos auxiliaram em um projeto pedagógico livre, criado com todas as mãos, inclusive com as mãos e as idéias das crianças, dos jovens, das mulheres de Chã de Camará. Com o mínimo apoio, mas com entusiasmo, esses jovens, a cada sábado saíam de suas casas (moravam no Recife e em Olinda) e percorriam 70 quilômetros para criar aulas de alfabetização, sessão de leituras para as crianças, atividades de recreação, debates em cine-clube, etc. Evidentemente, à medida que se formavam cada um foi buscar e criar os caminhos de suas vidas. Todos estão formados e a maioria em sala de aula, agora como professores. Wanessa, que já está em sala de aula, formou-se hoje, e vim com muita alegria para a sessão solene de sua formatura. Ela e Bárbara continuam a atender as crianças da Chã de Camará, utilizando a Biblioteca Mestre Batista para sessões de leitura e sessões de criatividade.

Estar em Nazaré da Mata para testemunhar o juramento de Wanessa, com ela outros trezentos jovens, de que se dedicará ao magistério foi reconforto para mim, que este ano completo quarenta anos do meu juramento. As palavras do diretor da FFPNM lembraram as dificuldades que envolvem a profissão, quase sempre vista como sacerdócio, nem sempre bem remunerado. Isso não é de hoje, pois Cícero, famoso político romano já advertia que a “muitos é orgulho saber aquilo enquanto é vergonhoso ensinar”. Não havia paga para os primeiros pedagogos e professores. Ainda recentemente, um político sociólogo que foi professor, menosprezou aqueles que ensinam e, o mais recente presidente uma vez disse que poderia ser mais proveitoso pagar a quem corta cana que a quem ensina. Entretanto, como conhecimentos devem ser ensinados e vividos para serem aprendidos, não há como, em nossa sociedade dispensar professores, exceto se se deseje ficar permanentemente no atraso, correndo para chegar mais próximos daquelas sociedades que garantem tratamento mais digno e apoiador do trabalho dos seus professores. Mas é reconfortante verificar que, apesar desses hábitos negativos, sempre vemos pessoas, como Wanessa, decidirem pelo magistério. Vi com alegria a aluna laureada no curso de matemática receber sua láurea sem a vestimenta que a comissão de festa exigiu, (custa caro! Deixa-se de comprar livros mas não se deixa de vender a formatura a uma dessas empresas) uma adesão aos modelos das escolas anglo-americanas em detrimento da tradição mais coimbrã de nossa universidade. A melhor aluna do curso de matemática não teve a verba necessária para alugar a toga e participar dos festejos. Nesse ato, como no esforço de muitos que ali estavam togados para receber anéis e diplomas, está, talvez, um indicativo de que classes sociais vêem os que se dedicam ao magistério.

Parabéns a Wanessa, a Tâmisa e a todos os que decidiram a se tornarem professores, inclusive os que, não cursando licenciatura, a princípio, investem a sua existência na tarefa, que deve ser encarada profissionalmente (responsabilidade, honestidade, moralidade, bons salários, condições dignas no ambiente de de trabalho, etc).

O bom é que Wanessa continua no nosso projeto no Ponto de Cultura Estrela de Ouro de Aliança, juntamente com Amélia, outra licenciada na FFPNM. Tomara que neste ano recebamos mais voluntários da Faculdade que é um dos campi da UPE.

Um comentário:

Anônimo disse...

Obrigada!
Meu Professor, Orientador... e mais que tudo grande amigo!

Agradeço por tudo! Não só pela ilustre presença no meu juramento para com a minha profissão, mas principalmente por todos os momentos em que me incentivou, me ensinou e me fez enxergar quão linda é a nossa profissão e o compromisso que devemos dedica-la, sempre.

Profª Wanessa Kariny G. Santos.