quinta-feira, fevereiro 12, 2009

A Noite para os Tambores Silenciosos

Bem antes que o Duarte Coelho mandasse vir os primeiros negros da África para trabalhar em Olinda, já era comum o culto de reverência e lembrança dos mortos, dos que construíram o povo, tanto os povos africanos quanto os povos europeus que, juntamente com os indígenas desta terra, ainda formam o povo brasileiro. A reverência e a lembrança dos que morreram é comum em todos os grupos humanos, e é um dos instrumentos culturais garantidores da unidade de cada grupo.

Em Olinda, como em outras cidades brasileiras, no tempo da escravidão, a sociedade dividia-se em irmandades, ora de acordo com a cor da pele, ora de acordo com a atividade produtiva. Assim, sempre encontramos uma Irmandade dos Homens Pretos, nas cidades mais antigas. Quase sempre elas ficavam fora da cidade, do centro urbano. Em Olinda foi construída a Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos em 1621. Quase cem anos depois, em 1715, foi fundada a Irmandade de Nossa Senhora dos Homens Pretos de Olinda. Para lá iam negros, escravos e livres, para receber benefícios espirituais que lhes eram dados pelos padres, na missa, nos sacramentos do batismo, na comunhão. Mas quando eles se encontravam na Igreja, na parte interna para o culto religioso, ou na parte externa para festas profanas, muitos segredos e muitas histórias eram sussurradas, ditas em sigilo, e esses segredos transmitiam outros valores religiosos e davam outros confortos.

A Irmandade também garantia vantagens materiais, como o atendimento na velhice, e uma boa morte e enterro cristão. Além disso, também havia a possibilidade de se comprar a liberdade. Muitos escravos de ganho, aqueles que vendiam mercadorias nas ruas para os seus senhores, punham em comum suas economias e elas eram usadas para a compra de Cartas de Alforrias. Talvez alguns dos que contribuíram jamais se tornaram livres. Mas a sua vida foi parte da liberdade de outros.

Com o fim da escravidão pareceu que a irmandade não mais tinha sentido e muitos abandonaram os caminhos que levam até a Igreja do Rosário dos Homens Pretos. Mas a ela muitos negros dedicaram suas horas e, mesmo sussurrando, cultuavam os antepassados, os mortos, os eguns protetores. Quando hoje os Tambores silenciam ou rufam é uma saudação a todos os eguns, a todos os que viveram os sofrimentos do trabalho escravo, mas apontaram para a liberdade. A Noite para os Tambores Silenciosos, que ocorre no Pátio da Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos, é a celebração e a homenagem a todos os antepassados, a quem se pede proteção para manter cada nação unida e forte.

A Noite para os Tambores Silenciosos, ocorre na segunda feira, dia 16 de fevereiro,
a partir das 19 horas.

Um comentário:

Anônimo disse...

Professor Biu!!
Eu me chamo Edson Júnior
Eu pensava que a Noites dos Tambores Silenciosos acontecia no Pátio do Terço não?
O senhor poderia me indicar livros que falem sobre a manifestação!!
Eu fui aluno do senhor na cadeira da História da Cultura no primeiro período da Federal do curso de Turismo no primeiro semestre do ano passado!!
Eu estudo também no CEFET Gestão de Turismo e meu projeto de conclusão do curso é sobre o Pátio do Terço
meu email é juniortur.esef@gmail.com
Um abraço