terça-feira, outubro 31, 2006

Depois da eleição

Passaram-se dois dias desde que foram fechadas as urnas e ficamos sabendo que Eduardo Campos é o novo governador de Pernambuco e Luiz Inácio Lula da Silva continuará sendo presidente do Brasil pelos próximos quatro anos. Este acontecimento aparentemente comum tem significados maiores para quem viveu outras épocas quando nada podíamos fazer para influenciar na escolha de quem seriam os nossos governantes. Só pude votar para governador do meu estado após os meus trinta anos e o mesmo para presidente. Alguns iluminados definiam o meu futuro e o futuro de todos. Lutávamos contra isso.
Quando Collor de Mello ganhou de Lula em sua primeira tentativa de ser presidente, muitos choravam. Eu não votei naquela oportunidade, estava viajando. Mas ouvi muito lamento. Quando da segunda derrota de Lula, estava morando no Rio de Janeiro e assisti pessoas pedindo "pelo amor de Deus" que não se deixasse FHC ganhar a eleição. FHC ganhou e derrotou Lula mais um vez com o instituto da re-eleição. Finalmente Lula foi eleito quando concorreu pela quarta vez e todos fomos para a rua comemorar as grandes mudanças que viriam. e vieram: O governo que esperávamos começou com hábitos tristes e deslumbrados pelo poder. algum dia vamos saber das pequenas concessões à vaidade que permitiram, mais tarde as grandes. Já sabemos, e estamos pagando, o preço da adesão de José Alencar. Foi-nos dito por Jefferson e confirmado pelo assessor de jornalismo da presidência - Kotcho; Assistimos uma sucessão de coisas inexplicáves, desde Ribeirão Preto até o Ministério da Fazenda. Ninguém foi punido, e tudo está sendo investigado "na valsa", como se dizia durante a República Velha.
Os operários que passaram a governar o país, muito rapidamente se acostumaram com as benesses do poder e se recusaram a pedir sacrifícios para a mudança. Todos mudamos, ficamos imunes às críticas e ameaçamos quando não concordam conosco. Fomos crescendo na ditadura dos militadres e estamos envelhecendo em outra ditadura, a que nos permite dizer que estamos a favor, a que nos pede que não olhemos para os "pequenos furtos" porque os outros já roubaram antes; uma ditadura que nos faz sofrer mais, pois nos deixa sem vontade de mudar, porque, como nos ameaçaram, será pior de não for re-eleito aquele que tudo pode deixar fazer.
Entretanto, estou contente que pudemos votar e, na medida do possível, debater as possibilidades. Sei que ainda vamos continuar dando esmolas para o povo mais pobre - não interessa que eles deixem de ser pobres, interessa que eles continuem pobres. Vamos continuar sem perceber que os sistemas de transportes coletivos, usado pelos mais pobres, está em crise porque os mais pobres estão indo para o trabalho a pé por não terem dinheiro para comprar as passagens; vamos continuar vendo crianças indo para a escola por causa da comida, uma vez que os salários dos seus pais não são suficientes para garantir a sua alimentação; vamos continuar vendo que todos fazem de conta que não veêm - na verdade uma grande parte não vê porque não tem olhos para além dos narizes e umbigos - mas sei que um dia os que veêm vão se ver de novo.

Nenhum comentário: