sexta-feira, fevereiro 02, 2007

Chico Science

Assim se passaram dez anos, desde que vi estampada, nos rostos de meus filhos, uma tristeza pela morte de Chico Science. Eu pouco havia ouvido falar de Chico, mas estava sendo conquistado pelo seu modo de ver o Recife e Pernambuco de uma maneira positiva. Àquela época o astral de Pernambuco estava em baixa. Estava sendo realizada uma campanha para fazer subir o astral da cidade e, depois do Estado. Viam-se poucos elogios à cidade que se deteriorava a olhos vistos. Era a Recífiles e se dizia Recifede. Estava em processo um abandono sistemático dos antigos espaços do Recife. Começávamos o trajeto para ficar mais próximo do modelo de Miami.
Os mangues que haviam sido, ainda hoje o são, fonte de vida, de alimento para muitos, estavam - continuam sendo - soterrados pela incúria dos govenantes e ganância capitalista imobiliária. Naquele mundo em que alguns, como eu, quase resignando-se aos galos e galinhas da madrugada que cresciam nos escombros do pós-ditadura, gritavam - nóis sofre mais nóis goza. Demoramos a entender o que fazia aquele jovem que misturava a indignação, com o rock, com o maracatu, com o pastoril, com a lama e com o otimismo.
Os mais velhos, arautos da conservação cultural logo disseram que aquilo nada tinha de pernambucano, pois não estava dentro da tradição, da pernambucanidade; a geração do meio, a minha, percebeu lentamente a queda da ficha. Chico Science inventava novas maneiras de ver o Recife e Pernambuco: sem nostalgias das tradições e sem as desilusões pós-modernas. Era a alegria, que cantava a seu modo, anuciando, sem medo, que é bonito ser feliz, apesar das misérias.
Chico tinha a ciência de que não vale a pena chorar quando se tem tanta vida para viver e criar.

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