segunda-feira, janeiro 14, 2008

José Vicente da Silva Neto, o meu irmão Doutor

No dia de ontem, 13 de janeiro, nossa família sepultou o corpo de José Vicente da Silva Neto, meu irmão de 60 anos, a quem eu chamava de Doutor. Esse apelido, pelo que eu ouvi dos familiares mais velhos, foi decorrência do fato de meu pai ter comprado uma roupa tipo passeio formal, quando Zezinho ainda muito menino. Os moradores disseram que ele ficou parecido com um “doutor”, e aí lhe coube esse apelido ao longo da vida. Naquela época ainda morávamos no Eixo Grande, na propriedade Boa Esperança, que papai havia comprado às margens do rio Capibaribe, em Carpina. Uma terra de 40 hecatares que quase matou meu pai de trabalho, ao ponto de sua urina se tornar sangue. Por isso viemos para o Recife, Casa Amarela, no lugar que hoje é o bairro Nova Descoberta. Isso foi em 1955. Foi em Nova Descoberta que Doutor cresceu estudou com “seu João Batista”, depois no Colégio Bandeirante, no Colégio Técnico Professor Agamenon Magalhães. Mas não fez curso universitário.

Doutor ajudava muito na mercearia que papai possuía. Mas também sempre foi um grande farrista. Como papai nunca estabeleceu mesada, tudo dependia do nosso discernimento, na hora de “fazer um pinto” no final do dia. Papai sempre fazia vista grossa, mesmo sabendo que parte do apurado do dia, ficava com os filhos que ajudavam na venda. Hoje isso não seria possível, pois esse trabalho poderia ser visto como exploração infantil e não uma parte do processo educacional e aprendizagem da responsabilidade que cada um deve assumir na família. Vez por outra Doutor exagerava no “pinto”, mas não só ele. Às vezes nós brigávamos, mas sempre havia reconciliação voluntária, ou assistida pelos olhares e atitudes de papai e mamãe.

No seu tempo de serviço militar Doutor entrou na Marinha de Guerra: ganhou o mundo, conheceu países diversos, cruzou a Linha do Equador várias vezes. A cada viagem trazia presentes para cada um dos irmãos e para os seus amigos de farra mais próximos. Graças às suas viagens, aprendi a gostar de bons uísques produzidos e engarrafados na Escócia. Em casa tínhamos os mais modernos toca-fitas, brinquedos modernos para o caçula Jorge Cláudio e muitas outras coisas. Saindo da Marinha de Guerra, Doutor embarcou na marinha mercante brasileira, até a sua aposentadoria.

Nas idas e vindas, conheceu Terezinha Nascimento, uma professora que trabalhava com Zefinha, minha irmã professora da Fundação Guararapes, e deu casamento e nele nasceram Alexsander e Tatiana Nascimento. Tatiana é jornalista premiada nacionalmente, mas trabalhando em jornal pernambucano; Sander está em São Paulo, já casado e dando continuidade à profissão no campo de publicidade.

Ontem, no sepultamento de Doutor, a sua mãe comprovou o que já sabia: o seu filho, aquele que passou parte de sua aposentadoria cuidando dos interesses da família, ajudando Dona Maria com a tesouraria da Paróquia de Nossa Senhora de Lourdes de Nova Descoberta, que se vestiu de Papai Noel para alegrar as missas dos enfermos, na mesma paróquia, ela pode comprovar como foi bonita e cheia de glórias a vida de seu filho José Vicente da Silva Neto, meu irmão.

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