quarta-feira, outubro 29, 2008

Feriados cívicos e feriados religiosos

Esta semana que termina o mês de outubro nos apresenta oportunidades múltiplas para comentários. Comentário comum poderia ser sobre as eleições que tivemos neste mês, quando foram eleitos prefeitos e vereadores para as cidades brasileiras, mas com os políticos profissionais voltados para a sucessão do atual presidente, podemos abandonar essa idéia. Não fosse a crise econômica, inicialmente vista, como uma pequena marola, pelos atuais assentados nos tronos do planalto central do país, poderíamos dizer que se comentaria o início do fim do governo atual. Mas não teremos ainda, para a maioria, um governo de “pato manco”. Mas esse é um assunto por demais evidente.

Outro assunto poderia ser a eleição do próximo presidente dos Estados Unidos da América do Norte, que tem sido apresentado como um acontecimento histórico por poder ser visto como uma encruzilhada: duvida-se que os WASP (brancos, anglos, saxões e protestantes) já estejam preparados para ter um governante Negro (no Brasil seria mestiço), Asiático (em parte), Africano (em parte) Muçulmano (na origem), mas Protestante ao longo da vida. BAAMP seria a sigla em inglês. Vamos deixar esse assunto para outros mais interessados e mais capazes de entender as urnas americanas antes de elas serem aberta.

Mas o mês de outubro, além de ter, no México, o dia da Raça que é o 12 de outubro, que lembra o dia da invasão Européia neste continente, tem o dia da criança. Entre nós essa data veio a ter dois significados: um, o dia da Criança, e o outro, o dia dedicado a Nossa Senhora Aparecida, que foi declarada padroeira do Brasil, e, que por conta disso veio a ser um feriado religioso. Mas, com o advento da dita revolução de 1964, deixou de ser feriado obrigatório para todos os brasileiros. Isso ocorreu no governo de Castello Branco, que quase acabou com os feriados, pois havia feriados em excesso, o que prejudicava a produção industrial que se queria. Outro feriado de outubro foi o dedicado aos professores, além daquele dedicado aos funcionários públicos. Também teve um dedicado aos comerciários. Se todos fossem parados, imaginem o prejuízo que a indústria e o comércio teriam!

Cada sociedade elege seus feriados, seus dias de comemoração, de lembrança e respeito ao que foi feito pelos antepassados e que fazem parte de sua história.

A formação do Brasil foi marcada pela experiência católica, que sempre foi uma experiência que se manifesta festivamente, sempre em alegria. E como a construção do Brasil esteve trançada com a experiência católica, as datas que celebram a formação do Brasil sempre estiveram acompanhadas dos símbolos católicos. Depois da instituição da República, começamos a rever os nossos símbolos e como adequarmo-nos à nova realidade política e cultural. Thales de Azevedo chega a nos ensinar que, com a República, se fez uma religião civil. Os heróis nacionais passaram a substituir os santos e, as passeatas do dia 7 de setembro, substituíram outras procissões e outras passeatas.

O Brasil vem a prendendo a ser menos católico, tanto em número de pessoas, quanto em número de feriados. Mas como os católicos são maioria da sociedade, aos demais grupos fica a impressão que ele, o grupo católico, parece ser o único e privilegiado. Na verdade os muitos grupos religiosos estão cada vez mais atuantes na sociedade;

Vejamos que se hoje o dia 12 de outubro é feriado, foi um decisão tomada por quem estava na presidência da República, no caso, João Batista de Figueiredo. Não é mais um feriado porque é religioso, não foi uma decisão religiosa, mas uma decisão política em utilizar um elemento religioso apreensível por uma grande parte da população. Interessante é que o ditador definiu aquela data como feriado cívico após um período de sofrimento para alguns católicos e de crescimento das igrejas protestantes. Parece ter sido um prêmio de consolação. Mas, como se sabe, os religiosos não utilizam muito a razão, pois a razão religiosa é um razão emocional. Talvez por isso tenha ocorrido um famoso chute na santa, em um programa de televisão. E isso foi em relação ao feriado do dia 12 de outubro, que os católicos aproveitam para celebrar a Aparecida. Em um país laico, sem uma religião oficial, realmente não tem sentido um feriado religioso. Todos os feriados devem ser voltados para a glória do Estado, para fortalecer a idéia da Nação.

Assim, é interessante notar que aos poucos vamos agregando novos dias que podem se tornar feriados. É o caso do dia 31 de outubro, hoje já feriado em algumas cidades, como a do Cabo de Santo Agostinho, em Pernambuco. Esse feriado foi criado no Cabo de Santo Agostinho para celebrar o Dia da Reforma Luterana, lembrando o dia em que Martinho Lutero teria colocado as suas teses na Igreja de Wintemberg, Alemanha, e que deu início ao movimento de Reforma Religiosa, ou Protestante.

Bem, agora já temos o dia da Reforma Protestante no Cabo de Santo Agostinho, no Rio de Janeiro e em Brasília. E isso é resultado de uma sociedade que cultiva o pluralismo religioso. Daqui a pouco tempo vai ficar difícil, para as Igrejas protestantes reclamarem dos feriados católicos e judaicos, exceto se quisermos fazer crescer o nível de hipocrisia social.

2 comentários:

Anônimo disse...

Um texto muito criativo e a propósito desta semana (e mês) cheia de datas significativas. Gostaria apenas de acrescentar o Dia de São Judas Tadeu, se não me falaha a memória foi 27 de outubro (a confirmar), pois só fiquei sabendo quando ouvi no rádio.
São Judas Tadeu é o Santo das causas impossíveis e a torcida do Flamengo o tem como "padroeiro".
Também pudera, eles querem ser campeões com um timeco daqueles.

Ah! ah! ah!

Valeu professor. Vamos torcer agora para o Barak Obama e apelar para que ele não receba o "espírito WASP", já que é na verdade afro-americano e não Yanke.

Israel Ozanam disse...

Muito interessantes as questões que foram abordadas no texto, pode-se até relacioná-las. É curioso observar como se relacionam a pressão social e as iniciativas na política institucional no que concerne desde às eleições presidenciais nos EUA – com as expectativas por parte dos diferentes setores da sociedade –, até aos feriados cívicos ou religiosos que se adaptam a novas demandas de determinados grupos sociais. Isso até lembra uma democracia. Por outro lado, porém, tal relação não parece muito clara no que diz respeito à política econômica. Aí o cidadão comum, que fica em casa feliz no dia do comerciário e em outras datas dispersas no calendário, pouco consegue ou sabe como intervir, a partir do seu dia-a-dia na economia real, nos desdobramentos desse mundo paralelo dos títulos podres e dos recursos públicos abundantes. Eu nem sabia que os fundos públicos eram tão grandes até estourar essa crise.