domingo, outubro 26, 2008

Magos e magias capitalistas

Recentemente li sobre a popularidade que Paulo Coelho tem na Europa e, aqui no Brasil ele é pouco lido. O texto pareceu-me uma crítica pelo fato de os brasileiros não serem tão encantado com as escrituras do Mago enquanto os civilizados europeus encantam-se com o que ele escreve. Li alguns livros do Mago e, não mais desejei nem reler o que havia lido nem tentar novas leituras. O Diário de um Mago, Brida e As Valquírias, foram o os lidos. Nem orgulho nem vergonha por os ter manuseado, nem de ter posto algumas horas de minha vida para saber o que tem de tão excepcional este escritor que encanta a educada Europa. Como alguns amigos meus, gostei mais de “Meu Pé de laranja lima”, embora não haja como negar o mérito de Paulo Coelho em se apoderar das tradições dos povos que viveram na Europa antes do cristianismo, e lhes dar novas roupagens. Não há surpresa em os descendentes dos gauleses e vikings ficarem encantados com as histórias que os transportam às suas culturas ancestrais. As tradições mais remotas dos suevos, dos alamos, dos gauleses, anglos e saxões, as religiões das fadas e gnomos, tudo é parte do encanto da Europa antes da Europa. Essas histórias, essas lendas estão no substrato mais profundo dos sentimentos daqueles povos; e, como negar, eles são trazidos de maneira simples e não conflituosa por quem tem facilidades para narrar contos das Mil e uma noites ou as sagas dos europeus, mantidas vivas até à época em que se iniciou o processo civilizador estudado por Norbert Elias. Tudo já estava arrumado nas estantes das bibliotecas e nos recônditos das mentes. Os europeus se encontram nessas histórias e se encantam com esse estrangeiro que “nos conhece tão bem”. O mesmo acontece com esses filmes que tratam dos mitos e lendas européias não gregas, de pequenos feiticeiros.

Por outro lado, pode ser que os brasileiros não leiam as obras de Paulo Coelho, com a mesma volúpia dos escandinavos, por não terem tido acesso, há mais tempo, ao domínio do código da leitura, esse código que é básico para a sobrevivência no mundo moderno, exatamente o mundo que destruiu o mundo de Brida. Esse mundo moderno que acaba de se desnudar por conta da “marola” que veio dos Estados Unidos da América, essa marola financeira. De repente, quando o sistema financeiro estadunidense faz furos por todos os lados, e se descobre que era muito dinheiro “futuro”, e quando começaram a ruir as grandes empresas tomadoras e concessionárias de empréstimo disseram que não havia dinheiro, e então se percebeu que alguns ricos iam ficar pobres: eis que aparecem fortunas que eram guardadas pelos governos. Esses dinheiros passaram a ser garantia de que aquelas pessoas que não passavam necessidades não iriam jamais ter essa dolorosa experiência que eles impõem a um terço da humanidade. De repente saíram das cavernas dos bancos centrais de muitos países, como em um passe de magia, um movimento de alguma varinha mágica, zilhões de dinheiro, de todas as marcas e idiomas. Inclusive em português do Brasil, com o objetivo de evitar “marolas” em nosso forte sistema bancário, dependente do petróleo e dos dólares do exterior, pois aqui rico já é quem passa de R$20.000.00 anuais.

Aliás, um pedaço do Recife foi vendido a uma construtora que cresceu muito nesses últimos 8 anos, e naquele pedaço serão construídos mais edifícios, conforme projeto mostrado em alguma página do Diário de Pernambuco deste domingo. Antigamente, essas construções eram ditas “arranha-céus”, mas tudo agora é Torre. Negócios realizados em leilão um pouco antes e anunciados alguns dias após a proclamação dos resultados da eleição (sub judice) do novo prefeito da cidade. Algum dia saberemos o que irá ocorrer com as famílias que serão postas a correr da imediações. Pode ser que, com a saida daqueles pobres, comecem a aparecer programas de saneamento básico na região e outros investimentos que, no momento, só ocorrem no entorno, bem próximo onde serão levanrtadas novas "torres" de luxo.

Nos anos da ditadura, escrevi u verso que dizia: Recife, minha ilha de água doce, está ficando amargo de te ver hoje. Daqui uns poucos anos, alguém que venha de Boa Viagem dirá, mas ou menos assim: Recife, está ficando difícil te ver!

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