terça-feira, outubro 21, 2008

Manoel Lopes de Sousa: um primo de primeira

Neste final de semana estive na cidade de Aracaju, realizei uma série de palestra em torno do tema IDENTIDADES E RELIGIOSIDADES BRASILEIRAS, na Faculdade São Luiz de França. Foi um público seleto e interessado, aberto à novidades e a novas maneiras de enfocar temas melindrosos. Esses temas trazem receios, pois falam de nós mesmo, do que queremos ser, do que não desejamos ser,mas, contra alguns de nossos desejos, somos.

Nesse tempo recebi a notícias da morte de Manoel Lopes de Sousa, um primo em segundo grau, que acompanhou grande parte de minha vida. Sei que ele nasceu em um sítio do hoje município de Buenos Aires. Mamãe contou-me, sem muita certeza, que Manoel chegou para morar conosco quando eu era recém nascido. Nessa época nossa família morava em lugar chamado Lobo, hoje Caramuru. Houve um tempo que era parte de Paudalho, mas, depois ficou no município de Carpina. Mas, devo dizer que Manoel nasceu em 1934, indo morar conosco aos 16 anos. Foi ajudar meu pai que se fazia comerciante enquanto a família crescia. Manoel Lopes, como sempre o chamamos, tornou-se como um filho para meu pai. Quando papai resolveu sair da beira do Rio Capibaribe para vir morar no Recife, Manoel Lopes veio na frente, construiu a casa, montou o comércio na Rua Nova Descoberta, a mesma casa onde cresci a partir dos cinco anos e onde aprendi a gostar do Santa Cruz Futebol Clube, vendo Manoel Lopes gritar de alegria a cada gol de Faustino, de Lanzoninho, ou das defesas de Aníbal. Tempos de quando o futebol ainda não havia se tornado o espetáculo com paixões tão doentias como as atuais, nesse tempo de poucos ideais e objetivos maiores. Era o tempo em que sabíamos que os jogadores gostavam do clube e nos faziam gostar do clube. Saudosismo conservador, talvez.

Depois de um tempo auxiliando ainda papai em seu comércio, não consigo lembrar quando, Manoel Lopes estabeleceu-se na mesma rua como comerciante. Passou algum tempo e, como estudara, estava apto para fazer um concurso público, sendo enviado para trabalhar em Palmares. Lá conheceu Amara, casou e tiveram Carlos, um filho que lhe fez feliz. A cidade de Palmares ficou parte de nossa família, pois José Vicente – Doutor -, meu irmão, lá foi refugiar-se, após tomar conhecimento de que fora reprovado mais uma vez, evitando a raiva imediata de meu papai. Palmares, por outro lado, converteu Manoel Lopes em um homem religioso, freqüentador da Igreja, amigo de Dom Acácio, o primeiro bispo da diocese, criada em 1962. Um dia ficamos sabendo que Manoel Lopes havia sido ordenado Diácono casado, um homem reconhecido pela sua comunidade religiosa. O sorriso que Manoel Lopes sempre carregou, do qual sempre me lembro, ficou mais radiante. E Manoel sofreu muito com uma doença que acompanhou, ainda acompanha a sua querida Amara. Mas o sorriso nunca abandonou o seu rosto, como às vezes acontece comigo, que ainda não aprendi a jogar todas as mágoas para fora de mim.

Ao se aposentar, Manoel veio para mais perto, foi morar em Piedade, onde logo se envolveu com a comunidade e exerceu o seu apostolado junto aos seus irmãos de fé.
Vi Manoel Lopes pela última vez foi no sepultamento de meu irmão José Vicente – Doutor – e dividiu comigo a tarefa de recomendar o corpo que se ia, e acalmar as almas dos que ficamos. Conversamos, rimos, como sempre acontece quando a família se encontra. Soube que eu estava com um programa na Rádio Universitária, e passou a participar telefonando e me animando, como ele sempre fizera conosco, seus primos, quando morávamos na mesma casa, e nos ajudava a fazer os deveres de casa, que nos eram indicados por nossos professores. Zefinha, minha irmã mais velha, foi muito beneficiada pelas habilidades de Manoel em realizar tarefas para ela.

Faz pouco tempo Manoel Lopes preparou uma festa e convidou a família para um dia de alegria. Não fui, pois estava ministrando um curso na cidade de Goiana. Hoje, mamãe disse que foi como um despedida.

Homem confiante na vida, mas teimoso como velho, nesta semana andou fazendo esforço físico além do permitido para quem teve um enfarto. Pois bem, esta foi a última traquinice de Manoel Lopes de Sousa, o meu primo que, sem ser padre, esteve perto do altar da eucaristia, realizando desejos de seus pais, tios e primos. Um quase padre, mas com certeza, um homem de bem, uma pessoa que se tornou melhor a cada dia de sua vida.

2 comentários:

Val disse...

Pai, adorei o texto. não sabia nada da história de manoel lopes, e aprendi mais um pouco da sua
beijo

Anônimo disse...

conheço bem Esse Homem pois E meu tio que estar nos fazendos muita falta vc pode ver algumas fotos de em seu orkut seguei o profile
http://www.orkut.com.br/Main#Profile.aspx?uid=17752873540101764372
ass Alberes