segunda-feira, novembro 03, 2008

Rituais de fé católica - novidade da tradição no Recife

Ao ler interesaante matéria publicada no Diário de Pernambuco, neste domingo, deixei-me levar por um desejo de expresar meus pensamentos a respeito.

Estava bem mais certo o historiador inglês Arnold Toynbee que alguns outros, ao indicar que, no século XXI, as pessoas estariam mais agrupadas em ninchos étnico-cultural-religiosos e neles encontrariam suas identidades. Levantava-se, o historiador das civilizações, contra a tendência que afirmava o fim das religiões.

O que temos visto nessa primeira década do milênio é um reavivamento de um ardor religioso que pode ser visto, também como um novo surgir fundamental, tal como ocorreu na segunda década do século XX, nos Estados Unidos da América do Norte, que gerou o fundamentalismo moderno que se impôs nos anos Bush. Esses reavivamentos são encontrados em diversos momentos da história do homem, e não apenas do homem ocidental. Há um permanente entusiasmo dos homens diante do enigma ou mistério, especialmente do mistério, pois toda a religião é misteriosa, quer dizer, vai além do enigmático. Enígmas são resolvidos racionalmente. Além dos mistérios, as religiões vivem de ritos que celebram o misterioso e esses ritos e rituais giram em torno de arquétipos, de experiências comuns e mais profundas dos seres humanos.

Vez por outra, nos surpreendemos com o retorno de alguns rituais, típicos dos cristãos, mais especificamente dos cristãos católicos, pois o catolicismo, mais que a racionalidade pós renascentista, expõe a sua fé de maneira mais simbólica, menos abstrata. Um dos mais antigos rituais católicos é a adoração do Santíssimo Sacramento. Quando, nos dias de hoje, nesse ritual se canta versos escrito por Tomaz de Aquino, versos escritos no século XIII, percebemmos como há certas permanências. Nos anos posteriores á Reforma ocorreu um re-acender espiritual em torno do sacramento da Eucaristia, uma afirmação da doutrina que estava sendo contestada por Lutero e pelos demais reformadores. Interesaante que há um livro que estuda esse fenômeno na Europa do século XVII intitulado A RELIGIÃO DOS POBRES.

No início do século XX, o papa Pio X promoveu um forte movimento em torno da Eucaristia e da comunhão diária, inclusive estimulando os católicos a se aproximarem da ceia sagrada logo após a criança atingir a chamada idade da razão. Em todo o mundo católico foram organizadas as “cruzadas eucarísticas” que mantinham adolescentes católicos quase diariamente nas igrejas em busca de comunhão. Outras associações pias, como o Apostolado da Oração, as Filhas de Maria, Vicentinos, para citar algumas, colocavam a visitação ao Santíssimo Sacramento como momento especial de suas vivências religiosas. Os padres sacramentinos, cujo nome já indica qual o seu carisma, promoviam adoração permanente ao Santíssimo na Matriz da Boa Vista, e nisso havia uma relação com as associações pias e as paróquias.

Não é novidade a presença de cristãos católicos prostrados diante o ostensório. Essa foi sempre uma prática que distinguia os católicos dos demais cristãos do mundo ocidental. Também não pode ser surpresa que, em momento quando aparece a publicação do declínio numérico dos católicos, que haja uma retomada dos símbolos mais explícitos e tradicionais do catolicismo. Talvez seja uma reação ao catolicismo bem mais iluminista, que foi decorrente da aplicação dos decretos do recente Concílio. Estará ocorrendo um re-avivamento dessa tradição cristológica dentro do catolicismo? Se for isso, não há que se estranhar muito. A hiostória é dialética, não acontece de maneira linear.

As religiões vivem da fé, e ela não é racional. Nunca foi. Os religiosos continuarão a viver as suas crenças; cabe aos estudiosos procurarem entender as razões que levam a esses constantes momentos de re-avivemento, e não julgar se esses crentes estão certos ou errados por não serem tão racionais quanto os que não praticam mais esses rituais.

4 comentários:

Anônimo disse...

excelente matéria! Valendo lembrar que os racionais religiosos são os líderes ( padres, pastores...) e todos aqueles ligados estreitamente a eles em um aproveitamento da fé daqueles que nem se quer ao menos questionam

Alexandre L'Omi L'Odò disse...

Concordo com o último parágrafo. Realmente não é papel do pesquisador questionar a fé, mas também acho que é importante ter lucidez nas opiniões que se pode expressar nos textos e textos... e textos que a academia e outros vem escrevendo na história.
grande abraço professo, e quando tiver um tempinho, dê uma olhada no meu blog: alexandrelomilodo.blogspot.com

axé oooo

Alexandre l'omi L'Odò.

Alexandre L'Omi L'Odò disse...

Concordo com o último parágrafo. Realmente não é papel do pesquisador questionar a fé, mas também acho que é importante ter lucidez nas opiniões que se pode expressar nos textos e textos... e textos que a academia e outros vem escrevendo na história.
grande abraço professo, e quando tiver um tempinho, dê uma olhada no meu blog: alexandrelomilodo.blogspot.com

axé oooo

Alexandre l'omi L'Odò.

Anônimo disse...

"Além dos mistérios, as religiões vivem de ritos que celebram o misterioso e esses ritos e rituais giram em torno de arquétipos, de experiências comuns e mais profundas dos seres humanos."

acho que é a primeira vez, nesses meses de leitura do seu blog, que me deparo com a demonstração da sua consciência em relação à natureza profunda da psique. Acho extremamente necessária a divulgação dessas teorias da "nova" psicologia do inconsciente e a compreensão acadêmica da importância de suas possibilidades para um estudo mais completo do homem, das culturas em geral e da própria História. Parabéns