quinta-feira, maio 14, 2009

Diplomacia e racismo

A diplomacia é uma atividade desenvolvida de maneira silenciosa, de maneira que muitas vezes só sabemos seus resultados algum tempo depois Contudo, nesses tempos de multimeios, de caminhos diferentes para acessar informações, vez por outra sabemos das negociações diplomáticas ainda em andamento. É assim que sabemos sobre a possibilidade de o um brasileiro vir a assumir posto de maior direção na UNESCO, uma agência da Nações Unidas para a Educação, a Cultura e a Ciência. Este é um cargo de grande importância, tanto pelo grande orçamento que ele envolve (e esta é a razão maior para muitos) é um espaço que, se ocupado, permitirá aos educadores e agentes culturais fazerem pressão para que o país venha a investir um pouco mais nessas áreas fundamentais para a vivência plena da cidadania.

As possibilidades de o Brasil vir a assumir a direção da UNESCO aumentaram desde que a França e os Estados Unidos retiraram o apoio que estavam dando ao representante do Egito, por este ter feito declarações racistas, ameaçado queimar livros escritos em hebraico nas bibliotecas de Cairo, e coisas semelhantes. Deixaram de apoiar o candidato do Egito para apoiar um candidato brasileiro que é funcionário da UNESCO. Ora, assim parece certo que o Brasil venha a presidir a UNESCO. Contudo, o Itamaraty está amarrado a um acordo que leva o Brasil a apoiar um candidato dos países árabes, mesmo contra um brasileiro; mesmo que o candidato do outro país seja um racista declarado, mesmo que o governo atual tenha criado uma Secretaria Especial para a Igualdade Racial. Até o dia 30 de maio o Brasil terá que se definir entre apoiar a si mesmo para assumir a direção da UNESCO ou apoiar um racista.

Por falar em racismo, vi ontem, dia 13 de maio, pela televisão, o presidente da Secretaria para Igualdade Racial acusar um funcionário do Congresso por sua condição de negro que, segundo ele – o presidente, infelizmente, apresenta-se contra a criação de cotas raciais no Brasil. O comportamento do presidente da Secretaria de Igualdade Racial é uma demonstração do que poderá vir a ser a igualdade pretendida por ele. É um perigo esse caminho de construção de um estado segregado por conta de uma “dívida histórica”, que não está sendo cobrada aos portugueses, aos ingleses, aos holandeses e a todos os que acumularam capital com o comércio de escravos entre os séculos XV e XIX, inclusive os sobas africanos que aprisonavam e vendiam os africanos como animais para os comerciantes europeus. Toda essa "dívida histórica" deve ser cobrada apenas ao Brasil!! A Secretaria Especial para a Igualdade Raqcial está fazendo um esforço enorme para entrar nas universidades,mas pouco esforço para garantir a escola básica (fundamental e média) para os negros pobres das favelas, das “comunidades”, dos bolsões de pobreza. Há pouco esforço para que se construa infra-estrutura de esgoto, serviço de água, iluminação das ruas, etc, que beneficie os negros, índios, mestiços, todos pobres e brasileiros. Sim, todos eles são brasileiros e este país e suas leis devem ser feitas para todos os barsileiros, não apenas para alguns, como nós estamos vendo no gueto chamado Congresso Nacional, com tratamento diferenciado para alguns cidadãos.

Continuo a entender que se medidas forem tomadas para atender os brasileiros, e não apenas parte deles, o Brasil melhoraria, e não correria o risco de chocar ovos de serpentes.

As boas intenções de se pagar “dívidas históricas” podem pavimentar o caminho de mais um gueto: além do gueto da miséria cultural e educacional, teremos os guetos que separarão os brasileiros por raças, pela cor da pele, pelo cabelo, pelo nariz, pelo lábio, pelo formato da cabeça. Exatamente como faziam os nazistas. Nazismo não é questão de pele, é questão de mentalidade, de crença em superioridades e moralidades a-históricas.

Enquanto isso, esperemos, mas não estaticamente, a decisão do Itamaraty e o Congresso Nacional.

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