domingo, maio 24, 2009

O Boi da Macuca e o cheiro do povo

Este final de semana foi no Agreste Meridional, hospedado em Garanhuns e trabalhando em Correntes, indo pela manhã e retornando à tarde. O local de trabalho a casa localizada na Fazenda Macuca, conversando sobre o Ponto de Cultura Boi da Macuca. O Boi da Macuca nasceu da imaginação de Zé, o Zé da Macuca, geólogo que abandonou uma carreira vitoriosa no grupo João Santos para ocupar o espaço geográfico herdado de seu pai, e foi aprender a cuidar da terra e do gado, mas descobriu a existência de um boi mítico que está presente na imaginação das pessoas, como estão, o dos seus trabalhos, mas que, com o crescimento da bacia leiteira, ou mesmo com a criação de gado para o corte, faz diminuir a população de cidades como Correntes, Palmerina, entre outras.

Estive como ouvinte de debates sobre ações que devem ser realizadas para tornar o Ponto da Macuca mais evolvido com a comunidade, para além dos divertimentos, das celebrações que ali são realizadas: desfile de carros de boi, instrumento de trabalho fundamental naquela região por conta das estradas, carros de boi embelezados por seus proprietários, que desfilam para eles mesmos, perdidos na área rural. E o reencontro com as tradições musicais locais, tão forte que fez o Boi da Macuca ganhar o carnaval de Olinda, ir até a Alemanha e ser a vitória daquela região na derrota na copa da França. Ouvi de concertos de música renascentista no meio do silêncio dos espaços da fazenda e de um certo festival que, segundo alguns, era uma “estaca de madeira”. E conheci João, o “padre” apaixonado por uma “tequinha”. E os mistérios da Macuca, e tudo isso por conta da interação promovida pelo Pontão de Cultura Canavial.

Enquanto trabalhava chegou um senhor Eraldo que, ao ouvir meu nome e a minha voz se emocionou ao reconhecer um professor de sua juventude, ele hoje formado em filosofia, encontrando quem apontou o caminho da universidade. Tarde alegre, compartilhada com minhas companheiras de viagem, Lilica e Fátima Menezes, enriquecida pela companhia dos participantes da Sociedade dos Artistas de Garanhuns, proponentes do Ponto de Cultura Boi da Macuca, gente ligada a literatura, à música, á arte plástica. Ao final da tarde, cervejas, boa cachaça, alegria dos muitos participantes do Boi da Macuca que vieram conversar conosco e nos ajudar a entender o lugar. Vi coisas que pensei nunca mais veria: refrigeradores Philips, geladeiras SOCIC funcionando. Essas geladeiras acompanharam a minha infância e juventude na mercearia de meu pai. Elas sumiram de meus olhos à medida que fui virando professor, mais ou menos à mesma época em que Eraldo ouvia as minhas aulas.

Mas a mais gostosa risada foi dada em um curral com bezerros: ali estava entronizado no lugar onde sempre quis estar, o rosto risonho de quem dizia preferir o cheiro de bosta de cavalo que o cheiro do povo.

O Boi da Macuca tem o cheiro do povo

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