segunda-feira, julho 28, 2008

VANILDO DE POMBOS, poeta do forró


"Nessa sua maldade irás envelhecer, sem conseguir vencer minha simplicidade, quem fraqueja é covarde, a inveja é do cão, quem nasce para ser forte trás o dote na mão. Pode falar de mim que não estou nem aí".

Vitô e Darcy eram dois jovens quando se conheceram no Paraná, embora houvessem passado
a maior parte de suas vidas no mesmo município de Vitória de Santo Antão. Apaixonaram-se, casaram-se e tiveram muitos filhos, a maior parte deles nascido em Pernambuco, no mesmo município de Vitória de Santo Antão, para onde regressaram fugindo da exploração. Mas agora o lugar já era parte do município de Pombos, criado em 1964. O primogênito, Vanildo, nasceu paranaense em 1960. Ainda no Paraná ouvia seu pai tocando e fazendo festa na sala da casa, recebendo os colegas que trabalhavam na mesma roça. Em Pernambuco, o menino fugia do roçado para brincar de cantor, cantando para capins e flores silvestres. Depois quis aprender tocar sanfona, no instrumento de seu Vitô, que proibia, pois não queria que seu menino ficasse enganado com essas coisas de poesia e cantoria. Dona Darcy deixava o menino tocar escondido do pai.

Embora fosse amante da natureza, não era da sua natureza o trabalho de agricultor. Vanildo veio para o Recife, dormiu nas ruas, depois protegeu-se sob o teto do futuro Centro de Criatividade Cultural, aprendeu a fazer música enquanto guardava os instrumentos dos artistas. Plantou-se na porta da Rádio Jornal do Comércio para falar com o “Coroné Caruá”. Um dia foi atendido, cantou e conseguiu uma pontinha em um comercial. Seus primeiros dinheiros foram usados para comprar presentes para a família que se encantou com um televisor preto branco, portátil à base de pilha. Ainda hoje está guardado. Depois foi fazendo crescer o sonho de um disco.

Criador de sua vida, Vanildo foi para o sertão e manteve um programa de rádio. Voltou para o Agreste, criou o personagem GEREBA, inspirado em seu primeiro padrinho artístico, o “Coroné Caruá” e manteve um programa radiofônico em Vitória de Santo Antonio. Como cantor e compositor passou a ser Vanildo de Pombos, deixando claro seu carinho pelo lugar de seus avós, seus pais e seu.

O sonho de Vanildo de Pombos o levou à ao Rio de Janeiro, São Paulo, França, Bélgica, Alemanha, Portugal, e Nova Iorque (Festival Lincoln Center -2003). Lá visitou e cantou no Central Park, no monumento dedicado a John Lennon, com quem se identificava na luta da causa pela paz e no desenvolvimento de uma espiritualidade universal.

Essa espiritualidade parece que o auxiliava a prever certos acontecimentos de sua vida. Uma vez ele sonhou com uma equipe da Tv Globo indo atrás de seu carro. Isso aconteceu quando ele cantou os intervalos dos jogos da copa que teve o pernambucano Rivaldo como destaque.

Vanildo de Pombos com Genilval Lacerda, Terezinha do Acordeon, Santana, e Dominguinhos. Neste ano foi homenageado no São João de Gravatá. Preocupado com a violência crescente em nossas cidades, Vanildo de Pombos estava preparando um festival para promover a paz no Agreste. No sábado, dia 26 de julho, Vanildo de Pombos foi assassinado quando saia de sua casa, em companhia de Cláudia e Maria Clara sua esposa e filha. Correu para longe de seus familiares para protegê-los.

Neste domingo, mais de dez mil pessoas acompanharam o poeta de Dona Darcy, seu Vitô para sua última morada, na sua cidade.

Vanildo de Pombos gravou quatro discos e compôs mais de trezentas músicas. Eu conheci, estive em sua casa com sua família e ele também esteve na minha casa. Estamos trabalhando na construção de sua biografia, a biografia de um poeta do forró.

segunda-feira, julho 21, 2008

Aqueles Del-Rei não podem receber o baraço

Outro dia, entrevistando o professor Luiz Carlos Marques Luz, ele mencionou haver recebido a orientação de ler jornais para ser um historiador. É que os historiadores buscam a pesquisa histórica a partir de algum problema que o seu tempo vive. Pois bem. Recentemente estamos recebendo aulas de direito na imprensa, notadamente nos telejornais. Aulas dos diversos ramos do direito: penal, civil, criminal, constitucional e outros. Embora não se possa definir com exatidão o momento inicial das aulas, podemos sugerir o caso do assassinato de uma criança por seus pais (pai e madrasta) e o caso da ação da Polícia Federal em torno nas atividades de um banqueiro que, nas últimas décadas, tem aparecido em noticiário policial.

Neste último caso chama atenção a rapidez de concessão de habeas corpus e libertação do banqueiro, entre outras razões, por conta da utilização de algemas no aprisionamento daquele cidadão e de seus parentes e associados mais próximos. Ficamos sabendo que a presidência do Supremo Tribunal Federal atende 24 horas por dia, mesmo em tempo de recesso, para garantir que o banqueiro não ficasse aprisionado e que a lei fosse cumprida. Esse cumprimento da lei promoveu farpas entre o presidente do STF e o Ministro da Justiça, por conta da difícil interpretação da mesma lei: a polícia pode ou não pode utilizar algemas foi o centro da questão. Esqueceu-se a questão de milhões de reais (que parecem ter procedência pouco esclarecida) envolvidos, a tentativa de suborno aos policiais, questões de corrupção, malversação de dinheiro público, e outras coisinhas menores. A utilização das algemas em certos presos incomodou de tal modo a ordem pública que, surpreendentemente, o presidente da República promoveu uma reunião entre o presidente do STF e o Ministro da Justiça. Uma foto saída nos jornais mostra o presidente sério como um pai que impõe um carão aos filhos e estes, sorridentes, diziam ao pai que está tudo em ordem. A ordem veio com o afastamento dos delegados desse caso. Pouco se pode dizer além disso, e as revistas e jornais já não falam mais desse assunto. Lembra a peça Farsa dos Almocreves do poeta Gil Vicente: “cedo não haverá vilão. Todos del-rei, todos del-rei.

Lendo Os Excluídos do Reino, escrito por Geraldo Pieroni, que no segundo capítulo trata das Ordenações Afonsinas, Manuelinas e Filipinas, encontrei um pouco a razão do horror que fez perder o sono o presidente do STF. Nas Ordenações Filipinas (feitas por ordem de Dom Felipe II e continuadas e postas em vigor após a Revolução de 1640 por Dom João IV), o livro V trata do Direito Penal. Ali está dito que certas pessoas, os nobres, aqueles de são del-rei, os fidalgos, estão isentas de certas penas. É que a legislação do Antigo Regime, aquele que teria acabado com a Revolução Francesa de 1789 e as seguintes, é uma legislação garantidora da desigualdade social; daí o desejo de enobrecimento que se verifica na sociedade portuguesa daqueles séculos e que foi herdado pelas “zelites” brasileiras. O Título CXXXVIII, do Livro V das Ordenações Filipinas define as “pessoas que são escusas de haver pena vil”, relacionando as profissões e títulos dos nobres que “devem ser relevados de haver pena de açoute, ou degredo com baraço e pregão, por razão de privilégios ou linhagem”. Não vou transcrever a lista, pois hoje ela está quase resumida à posse e apresentação de diploma de título superior. Talvez seja essa uma das razões para a proliferação de faculdades dos mais diversos cursos técnicos transformados em cursos superiores. No dizer de Gil Vicente:Cedo não haverá vilão." É claro que essa “qualidade” , na prática, é proibida para um povo analfabetizado pela política de ausência de escolas.

Entretanto, se o diploma formação superior é uma garantia de privilégios, imagine se o portador do diploma seja, também, portador de bilhões de reais! E se a mesma pessoa for parente do Barão de Jeremoabo, aquele que incentivou a nação brasileira para a destruição do Arraial de Canudos, no final do século XIX, penso que, então deve ser entendida como normal a aplicação das Ordenações Afonsinas.

A humilhação pública sempre foi reservada às pessoas comuns, imprimindo nelas o estigma da vergonha. O procedimento judiciário para os nobres foi portanto suavizado pela legislação que lhes reservava certos privilégios. (PIERONI, Geraldo. Os Excluídos do Reino. Brasília: Editora da UNB, 2006. 2ª edição. P 47)

O uso de baraço, que significa corda e hoje pode ser entendido como sinônimo de algemas, está proibido para a atual nobreza brasileira, é o que nos ensinam esses recentes acontecimentos e posturas de nossas autoridades, elas próprias geradoras de sua nobreza. Um antigo líder sindical costumava nos alertar contra as artimanhas das elites ou Zelite.

Festival de Inverno de Garanhuns



Três dias com sentimento de férias, assim estive em Garanhuns, cidade pólo do Agreste Meridional pernambucano que, nos últimos dezoito anos vem utilizando o clima físico para movimentar o clima cultural de Pernambuco. Foram os dias iniciais do Festival de Inverno, edição 2008.

Creio que em apenas três ocasiões fui à Garanhuns nesse período, embora tenha estado na cidade várias vezes. Uma das primeiras, no tempo em que a antiga Fundação de Ensino Superior de Pernambuco - FESP estava a fazer o esforço necessário para vir a ser a Universidade de Pernambuco. Participei, como docente, de vários cursos de que tinham o objetivo melhorar a titulação dos docentes da Faculdade de Formação de Professores do campus avançado de Garanhuns, assim como o de Petrolina. Daquele período tenho gratas recordações, pois fiz amigos que ainda hoje atuam no magistério da UPE, alguns agora em Nazaré da Mata. Lembro também dos conhecimentos e amizades que tenho desde quando assessorei a Faculdade de Administração – FAGA; participei de reuniões no Rotary quando das celebrações do quinto centenário dos descobrimentos portugueses. Outras vezes de minha visita na cidade esteve ligada à ação pastoral com os jovens da diocese e no contato com os Redentoristas, na pessoa de Padre Gabriel, que havia sido meu professor de Teologia Moral. E ainda, por conta das aulas, Garanhuns foi meu ponto de apoio nas pesquisas que fiz na comunidade dos Fulni-ô de Águas Belas, bem nas minhas idas a Caetés. Desses contatos tenho agradáveis recordações, dos que estudaram comigo, já então professores, e dos que conheci por minha freqüência na cidade. Referência especial ao Hotel Maville.

Em entrevista Diário de Pernambuco, Afonso Oliveira, produtor cultural responsável pela Casa dos Pontos de Cultura, lamenta que, nesse largo espaço de quase duas décadas, o FIG ainda não tenha revelado grupos culturais locais. Tais palavras coincidem com as que escutei de alguns moradores da cidade. Parece que o Festival de Inverno de Garanhuns tem uma vocação maior para atrair turistas temporários que promover a cultura local. Na verdade, a maior parte do público se desloca para o Agreste Meridional para encontrar-se com alguns artistas-cantores de projeção nacional, ligados ao mundo do divertimento.

Há, no FIG, um espaço muito bom para a aproximação da arte musical erudita na direção de um público que não tem acesso a esse tipo de refinamento cultural. Mas como ele ocorre eventualmente, não tem sido o suficiente para atrair o homem e a mulher cotidianos da região. Aliás, os moradores da cidade continuam em sua faina diária, o que não lhe permite usufruir os bens culturais que estão postos para a degustação.

Nas tardes da sexta e do sábado tive o prazer de, na Catedral, ouvir belas peças, e apreciar um maravilhoso espetáculo – musical e visual – de música do Renascimento Cultural europeu: uma maravilhosa aula de cultura renascentista. Ao início das noites daqueles mesmos dias duas peças teatrais discutiram as relações dos homens com a natureza e com os seus semelhantes; a Árvore (grupo Duas Companhias, de Pernambuco) e o Quebra-Quilos (grupo Alafim, da Paraíba). Durante o dia foi o “bater pernas” em busca das exposições de pintura, de fotografia, Livrarias, etc. Foram dias de férias e estudo e de observar pessoas em busca de oficinas diversas.

Mas a cultura local, só pude mesmo ver e ouvir, enquanto comia um prato feito na área comercial., com a chegada de um grupo de Reisado que tocou três músicas, tomou uma cachaça e continuou a espalhar música no almoço dos comerciários.

Talvez, para que a cidade de Garanhuns venha tornar-se um ponto de turismo permanente, seja necessário fazer uma pesquisa mais acurada das criatividades culturais locais – artesanato, danças, grupos de teatro, etc. Mas isso só ocorrerá quando e se a população local tornar-se mais que simples espectadora e servidora daqueles que buscam, no clima da região, sentir-se um pouco mais europeu, ou vão à cidade uma vez por ano para ter contato, gratuito, com músicos e bandas. O Festival de Inverno de Garanhuns deve caminhar na direção de ser mais que um evento feito para ser consumido e não degustado.

quinta-feira, julho 17, 2008

Um salário mínimo para os professores, mas não o professor mínimo

Neste cipoal de notícias que se acumulam sobre a gente, notícias as mais diversas, inclusive essa informação de que o vizinho chegou bêbado e, generosamente, resolveu dividir conosco o seu prazer de ouvir música, ontem soubemos que o presidente da República estabeleceu um piso salarial pra os professores brasileiros.

Esse tem sido um longo percurso: reconhecer que os professores, especialmente os que realizam o trabalho mais básico, não podem continuar tão desconsiderados nesta sociedade capitalista. Evidentemente não foi definido um salário como o que os senadores pretendiam dar a alguns dos seus amigos R$ 9.900.00. Também seria querer muito, como costuma dizer quem se contenta com um pouco mais do que já conseguiu. Quando fiz uma pequena assessoria a uma prefeitura do Agreste pernambucano, conversei com uma professora que se recusava fazer uma capacitação, pois, se não o fizesse seria posta para fora da sala de aula e passaria a fazer a varrição de rua. Ela disse que era o que desejava, pois se caso isso ocorresse ela dobraria o seu salário. Passam seis anos desse acontecimento.

A valorização do professor deve caminhar paralela a mudanças e melhorias nos espaços das escolas. Espaços físicos: bibliotecas, salas de aula, limpeza dos sanitários, salas para professores, salas específicas para atividades conjuntas, auditórios, teatros, espaços para prática de esportes, etc.; e também os espaços mentais dos diretores, supervisores, funcionários administrativos, professores, secretários de educação e alunos. É que essa melhoria salarial, que deve ser posta em prática até o final de 2009, seja um passo na direção de uma melhoria nos demais aspectos da vida profissional, mas principalmente no que concerne ao professor ter uma melhor percepção de si mesmo e de seu trabalho, de sua função social, de seu papel histórico na construção de um mundo melhor, mais justo, mis digno para a vida de pessoas humanas plenas.

As melhorias devem ocorrer em todos os níveis de ensino, de tal maneira que nossas escolas possam ser, de verdade, um espaço de experiência, reflexão, aprendizado e treinamento que capacitem os que vivem e passam por elas para viver no século XXI.

Mas uma das melhores coisas que pode acontecer nas escolas é que elas sejam realmente democratas, abertas para todos. Precisamos parar com concessões aos sobreviventes das aristocracias, castas e igrejinhas. A manutenção de certos comportamentos serviçais que se tem por certas "tradições, pessoas e situações aristocráticas" impedem e dificultam o trabalho que os educadores devem fazer.

terça-feira, julho 15, 2008

Os ciganos, nossa carteira de inquietação

Recentemente o governo italiano tornou público o seu interesse em identificar todos os ciganos que entram na Itália. Diz que o objetivo é garantir que eles recebam assistência social, tenham acesso à educação, etc. Essa disposição do governo italiano vem quando ocorre um seguido coro de lamentação sobre a crescente presença, na Itália, desse grupo humano que tem como pátria o mundo. Pelo fato de não estarem organizados em um estado, poucos sabem que as experiências nazistas para depuração da humanidade e grantir o domínio da “raça ariana” começaram com massacre dos ciganos. Essa busca de soluções para problemas que indicam controle do estado sobre os indivíduos deve sempre gerar preocupações. Quase sempre os grupos que estão fora dos espaços do poder sofrem as conseqüências dessas boas intenções. Evidente é que os que estão no poder também sofrem as conseqüências, mas não as negativas.

O processo de globalização permanente ao qual estamos submetidos, influenciando nele e dele sendo influenciado, exige de nós um comportamento mais atento sobre o que ocorre ao nosso redor. A cada momento recebemos milhares de informações e não nos permitem tempo para absorvê-las. Esse sistema informativo nos coloca para correr atrás de objetivos que não nasceram de nossas ansiedades mais íntimas, ao mesmo tempo em que somos forçados a assumir objetivos gerados em salas de “criação” de alguma agência ou escritório de assessoria a alguma empresa. Assim é que ficamos assistindo os nossos governantes buscando alianças para ganhar tempo de televisão na próxima campanha política, enquanto deveriam estar discutindo o que fazer para melhorar as vidas dos moradores das ruas, quer possuam teto ou não. Tudo parece tão normal, tão natural, que nem discutimos a ausência de espaço nas delegacias que atende os “criminosos comuns” enquanto prisioneiros na agência centro da Polícia Federal recebem comida enviada por seus familiares, entregues por advogados bem vestidos e bem nutridos. Apenas somos informados e não somos chamados – e não nos chamamos – para discutir o que se passa e o que significa isso. É natural, sempre foi assim, nos dizem.

Ora, não é natural, nem sempre foi assim e devemos agir para que não continue sendo assim.

Tudo é hoje um espetáculo, nos dizem. Mas, o que significa que algo é um espetáculo, e o que siginifica fazer parte de um espetáculo é o que precisamos saber. Mas esse saber não pode ser apenas racional, ele deve ser vital em todos os pedaços do nosso ser. Quando o saber é só racional ou é só emocional ele pode se tornar reacionário.

Em um espetáculo há vários agentes: idealizador (es), diretor (es), produtor (es), artista (s), maquiador (es), iluminador (es), público, etc. Precisamos saber qual a função que estamos exercendo nesse espetáculo de nossas vidas. Esse foi o tema de um filme, já não tão recente, sobre a vida de um homem que, sem saber esteve sempre sobre os holofotes e fazia parte de uma telenovela. A sua vida era um novela, mas ele não era o diretor. Entretanto tudo dava certo para ele. E tudo começou dar errado quando ele começou a se inquietar e querer ser o seu diretor. Há sempre a possibilidade de inquietação. Não ficar quietos.

Fomos ao cinema, vimos o filme, o achamos interessante e continuamos a nossa parte, continuamos a ser Truman. Ou ciganos, candidatos a receber uma identidade para que o estado possa controlar melhor a nossa existência. Aliás, vem aí uma nova Carteira de Identidade que, já se diz, há de nos garantir melhor proteção.

Na sociedade espetacularizada, só devemos nos mexer, não nos inquietarmos.

quarta-feira, julho 09, 2008

As algemas do ministro

Julguei que passaria mais tempo sem retornar a escrever neste espaço de conversas comigo e com os que me acompanham. Contudo, acontecimentos me forçaram a escrever. Esse negócio, esses negócios que envolvem o banqueiro Daniel Dantas, um nome que vimos acompanhando nos noticiários político, econômico e policial por mais de uma década, deixam-me furioso. Especialmente quando assisto, no noticiário, o presidente do Supremo Tribunal Federal reclamando da maneira que foi preso o banqueiro, instantes após ter visto uma afirmação do banqueiro, que tentara corromper um policial para não se preso, uma vez que temia a primeira instância da justiça, pois, dizia ele, no STF seria mais fácil. O Presidente do STF estava chateado porque o banqueiro, que vez por outra, tem seu nome associado a alguma ação delituosa e anti-republicana, foi algemado. Diz ele que isso é um abuso. Talvez, penso eu, porque machuque o corte do paletó ou suje a camisa.

Ora, Nunca vi, nem esse nem outros ministros, reclamando o uso de algemas nos bairros pobres deste país. Eu fui algemado durante a ditadura militar e levado, em sigilo de justiça, para onde ainda não sei. Esse presidente do STF acha que apenas os pobres, pretos, analfabetos, assalariados que não podem pagar R$ 6000.00 por uma garrafa de vinho devem ser algemados. É capaz de ele vir a criar uma lei que proíba os ladrões, que vez por outra, encontram-se com ele em lugares em que os trabalhadores assalariados jamais puseram os pés depois de terminada a construção, sejam presos.

As palavras desse ministro confirmam que a maioria do povo brasileiro não faz parte do Brasil. Ou seja, do Brasil frequentado pelo ministro e seus amigos. Como diz o poeta "o brazil não conhece o Brasil".

Coisas como essas que vimos no noticiário de ontem é que explicam porque mais de duas centenas de recém-nascidos morrem em um hospital em seis meses; afirmações, como as que fez o ministro do STF, explicam porque as escolas públicas estão sempre carentes de bibliotecas, área de lazer, telefones, pinturas, tetaro, carteiras, etc.; frases como a do ministro, saindo lépido e fagueiro na acusação aos policiais que sabem da inexistência de leis que proíbam o uso de algemas para ricos, explicam porque um banco que recebe córneas para transplante fecha por falta de verba, enquanto banqueiros como Dantas mantém seu banco funcionando e o banqueiro Cacciolla pode fugir do país; especulações como as explicitadas pelo Presidente do Supremo Tribunal Federal explicam porque não há condução decente para os trabalhadores irem ao trabalho diário e seus filhos irem à escolas; sentenças como a desse juiz explicam porque não parques publicos nas cidades brasileiras.

Ah! Quanto benefício pode trazer esse deslize do pressidente do STF, depois que um corruptor disse que era mais fácil ele se sair bem nos tribunais superiores. Ambos, o delinqüente e o juiz sabem o que disseram. Nós ficamos pagando impostos para garantir que os juízes defendam aqueles que não pagam impostos. Isso nos dá a impressão de que alguém paga alguma coisa a alguém.

Estou indignado. Desejo que as pessoas voltem a cultivar alguma indignação.

Por outro lado sei que nestes tempos de tudo ser relativo é meio deselegante ficar indignado. Uma pessoa educada, politicamente correta, não deve expor seus pensamentos sobre as autoridades, não deve dizer que acha essas coisas que banqueiros e políticos fazem estão erradas. Afinal, nada vai mudar, pensam os indigentes de indignação, e os indignados podem vir a ser prejudicados, pois nunca se sabe as voltas que mundo dá. Esse negócio de ser politicamente correto é que faz o juiz sair em defesa de pessoas que já não sabem beber água. Apenas os que têm um "salariozinho", como bem disse o presidente, esses que só podem beber cachaça brasileria de baixa qualidade, que jamais bebem uisque ou usam paletós tão finos, aqui e no exterior, é que devem ser algemados.

Roupa e dinheiro lavados promovem assistência judiciária gratuita das Associações de Magistrados. Quem é preso com roupa muito usada e machucada deve ser algemado.

segunda-feira, julho 07, 2008

Coisas de final de semana



É uma manhã clara em Brasília e, enquanto espero o momento de embarcar de volta para o Recife, penso um pouco no que ocorreu nesses últimos dias.


Na sexta feira estive no espaço da Menina Mulher, uma entidade que oferece assistências a adolescentes em situação de risco social; e lá conversamos um pouco sobre a relação entre as danças brasileiras de ascendências africanas e as religiões, especialmente certas orientações do cristianismo pentecostal que vê a presença do diabo em qualquer movimento. Essa demonização do mundo, esse esforço de dominar e controlar pelo uso do medo, é uma recorrência na maior parte das religiões, especialmente essas que se organizaram em igrejas. Essa busca da localização do mal na ação dos outros seres, parece-me, é fruto da vaidade que acompanha certos grupos humanos desde épocas remotas, a vaidade de achar-se proprietários da verdade, donos das divindades. Em nossa sociedade, tem crescido o número de pessoas que vive mais preocupada com a situação que poderá existir após a morte, enquanto se esquece das condições de exclusão, sofrimento, que tem sido a marcada existência de tantos jovens. Provoca dor quando se encontra com jovens tão certos de “verdades” que lhes foram repetidas tantas vezes, que fecham as portas de suas mentes para qualquer outra palavra que não seja a palavra de pessoas que se autodenominam representantes diretos de um deus, um deus que escolhe alguns para a salvação e alguns para a danação. Pessoas que pregam e vivem deuses excluidores semeiam sociedades excludentes. Como o Brasil tem sido uma sociedade excludente desde a sua formação inicial como Estado, ele é um bom lugar para esses pregadores de divindades excluidoras. Mas o bom daquela manhã e daquela tarde foi poder debater com meninas-mulheres e promover o confronto de idéias. Afinal, abrir caminhos de liberdade é permitir que as pessoas sejam informadas e se formem conversando.



Já o sábado foi de debate com estudantes de História do Brasil, na cidade de Goiana. Uma manhã também produtiva pelo animado debate. Gosto muito de conversar com professores que atuam no interior, espaços distantes das capitais. Lá descubro essas pessoas que, em situações bem mais difíceis, conseguem abrir suas mentes e seus corações para o conhecimento. Nem sempre esses professores tiveram acesso a bibliotecas e leram muitos livros, (Esse é um problema crônico em nossa sociedade excluidora: como se estuda sem acesso a livros nesse país!) mas estão desejosos de saber e trabalhar em sala de aulas. É interessante como sempre há professores e pessoas interessadas em serem professoras nos interiores do Brasil e recebendo salários de fazer vergonha a escravos; ao mesmo tempo, ainda que prefeituras ofereçam salários de R$ 7.000.00, não se consegue médicos brasileiros para atendimento aos brasileiros que não vivem nos grandes centros urbanos. Deve haver algum engano na pedagogia e nos objetivos do ensino médico.


Na noite do sábado já me encontrei em Brasília para acompanhar o Coco Popular de Aliança em sua apresentação no projeto RioPernambuco.com, que ocorreu no Espaço Cultural da Caixa Econômica, ao lado de Afonjá. Se foi bom ver homens e jovens da Mata Norte de Pernambuco afirmando-se como sujeitos de suas vidas para além da exclusão social dos canaviais, mais gratificante foi com eles visitar os espaços sociais e de representação política do país na manhã do domingo.





Na noite, juntamente com a apresentação do Maracatu Estrela de Ouro de Aliança, cantando e tocando ao lado e com Jorge Mautner, fizemos o lançamento do livro Maracatu Estrela de Ouro de Aliança: a saga de uma tradição, no mesmo espaço cultural, com o auditório lotado e com o público dançando em frente ao teatro ao final do espetáculo. O mesmo acontecera na véspera com Biu do Coco e Mestre Duda liderando uma ciranda.


Foi um excelente final e início de semana.






sexta-feira, julho 04, 2008

Anúncios de vida

Chegando em casa, após ter-se apresentado em um solo de dança - Pequenas Subversões - por ela criado e gerado, a minha filha Ana Valéria comunicou-me que exames laboratoriais confirmavam que ela está vivendo a quarta semana de gravidez. A sua primeira gravidez e o meu segundo neto, que pode vir a ser a minha primeira neta. Pois então tenho a família crescendo, mantendo a continuidade, confiando no futuro.

Cada gravidez é sempre uma aposta na bondade da vida, é uma mostra de confiança que a humanidade encontrará saídas para os impasses que ela cria. A geração de um ser é uma doação. Um corpo passa a dividir-se para dar início a um novo corpo, assim como duas almas, que vivem em corpos diferentes, dividiram tempo, dedicação, entrega para promover a chegada de nova alma. Concebidos em alegria física e espiritual, novos habitantes da terra chegam alegres para alegrar e construir novos caminhos com, nos, e ao lado de outros caminhos. A alegria é a marca da vida, ainda que ela venha com dores, sangue, apreensão. Mas o que caracteriza a vida é sempre alegria. Quando não há alegria, sempre nos perguntamos afirmando se “isso é vida”. Nesta manhã de julho fico alegre com as dores e os risos que virão em janeiro.

A vida parece ter término. Mas é uma aparência de fim. Todos que já vivemos com alguém que já morreu sabemos que ele se mantém vivo e conversando conosco quase todos os dias. Caminhamos com os nossos mortos, pois eles nos mantêm vivos. Assim foi com dona Ruth Cardoso que, embora morta na semana passada, vai viver muitos anos porque sua vida foi fértil nos mais amplos e mais peculiares sentidos dessa palavra.

Interessante como nós a chamamos sempre de “dona Ruth”, assim como nos referimos a senhora que respeitamos e amamos. A reconhecemos senhora.

Pois bem, dona Ruth Cardoso, a professora de antropologia que pôs um fim na falsa ajuda da Legião Brasileira de Assistência, que assistia mais aos não necessitados de assistência e criou programas como o Universidade Solidária e o Bolsa Escola. De início o Universidade Solidária parecia ser uma reedição do Projeto Rondon, uma iniciativa ocorrida nos anos da ditadura militar, pois era também voltado para universitários. Entretanto tinha uma prática mais envolvida e comprometida com mudanças, não apenas nos estudantes, mas nas comunidades que eram atingidas pelo programa. Essas iniciativas mostraram uma acadêmica conhecedora das realidades brasileiras e disposta a indicar um caminho que nos livrasse desse peditório que as elites brasileiras criaram para continuar no poder.

As ações de Dona Ruth Cardoso sempre me lembraram os ensinamentos que escutei de Dom Hélder Câmara, ainda no tempo em que desconfiava dela por desconhecê-la. (ah! mas eu nunca a conheci, jamais nos olhos se viram, mas conheci o resultado de suas iniciativas, especialmente em Belém do São Francisco). Dom Hélder, o criador da Operação Esperança, dizia algo assim:devemos sempre evitar dar coisas, conhecimentos prontos, é melhor indicar os instrumentos para que sejam utilizados, assim as pessoas ganham autonomia e podem se tornar sujeitos de sua vida.

Dona Ruth Cardoso, como Dom Hélder Câmara, era contrária à prática da simples esmola, esse gesto quase inconsciente de colcoar a mão no bolso para dar o que não se precisa. Essa esmola é fortalecimento de situações de escravidão, de servidão. Gera dependência. A verdadeira ajuda é aquela que permite a vida se construir autonomamente, como um homem e uma mulher que entregam partes de seus corpos para que outro corpo, outro ser nasça, cresça e seja.

Aqueles que produzem a vida não morrem.

terça-feira, julho 01, 2008

uma pergunta: a internet emburrece

Li o texto abaixo em meu programa QUE HISTÓRIA É ESSA, na rádio Universitária 820AM, no dia 25 de junho. O texto foi-me enviado peloprofessor Edson Hely, que leciona no Colégio de Aplicação da UFPE. Creio que todos devemos tomar conhecimento dos limites que essa ferramenta, a internet possui. Aliás, todas as ferramentas são limitadas. Sabemos que um martelo não é bompara cortar carne ou madeira.



GILBERTO DIMENSTEIN Internet emburrece?

As redes facilitaram o acesso à informação, mas também facilitaram a apropriação de reflexões dos outros

IMAGINE 687 MIL UNIVERSITÁRIOS ou recém-formados disputando 2.500 vagas de estágio e de programas de trainee. Isso equivale a aproximadamente 2.800 candidatos por vaga. Só para dar uma medida de comparação: é uma proporção 25 vezes maior do que a dos vestibulares das mais disputadas faculdades brasileiras.O que você acha que ocorreu com tanta gente disputando tão poucos empregos? Pergunte a algumas das 57 empresas, entre as quais a Microsoft, a Natura, a Unilever, a Braskem e o ABN-Amro, que participaram da seleção. Não ocorreu o óbvio. Responsável pela aplicação dos testes em 2007, a psicóloga Sofia Esteves constatou que algumas das empresas não preencheram vagas ou tiveram de se contentar com a repescagem, obrigadas a diminuir o nível de exigência. "Há uma distância crescente entre o perfil desejado pelas empresas e a qualidade dos universitários", afirma. Além das óbvias questões educacionais, relembradas na semana passada, com a divulgação de um índice de qualidade do ensino (Ideb), a psicóloga levanta mais uma hipótese: excesso de internet. Seria essa mais uma das retrógradas reações típicas de quem tem fobia tecnológica?
Sofia conta que alguns exames foram abrandados ou até eliminados. Numa prova de língua portuguesa, apenas um entre 1.800 candidatos foi aprovado. Decidiu-se então abolir esse requisito -o candidato passou a ser eliminado apenas quando comete, na redação, um erro do tipo escrever experiência com "ç". Na seleção, porém, a dificuldade tem sido menos a de escrever segundo as normas gramaticais (o que já é grave) do que a de expor criativamente uma idéia -um critério relevante porque as empresas querem funcionários capazes de enfrentar desafios com autonomia. E aí, na visão da psicóloga, entraria a ação nociva da internet.
É verdade que as redes digitais facilitaram, como nunca, o acesso a qualquer tipo de informação, mas também é fato que facilitaram a apropriação de reflexões dos outros. É sabido que muitos alunos, na hora de fazer as lições, montam uma colagem de textos encontrados na internet. "Estão perdendo o hábito de ler um livro inteiro e fazer um resumo." Pula-se velozmente de galho em galho digital, numa interatividade hiperativa. A hipótese é que, por isso, sairia prejudicada a busca de profundidade.
A combinação de excesso de informação com hiperatividade foi um dos fatores que motivaram Mark Bauerlein, professor da Universidade Emory, em Atlanta (EUA), a escrever um livro intitulado "A Mais Burra das Gerações: Como a Era Digital Está Emburrecendo os Jovens Americanos e Ameaçando Nosso Futuro". Burrice seria, na sua visão, 52% dos adolescentes americanos terem respondido em uma prova que a Alemanha foi aliada dos Estados Unidos na Segunda Guerra Mundial. Sua tese central é a de que as tecnologias digitais permitiram que os jovens passassem ainda mais horas do dia trocando informações com seus pares, mas, ao mesmo tempo, diminuiu o tempo de intermediação dos adultos nos processos de aprendizado. Diante daquela avalanche de dados em tempo real, ficaria então mais difícil para os jovens aprender a selecionar e expor o que é relevante no conhecimento tudo isso acaba prejudicando a liderança e a capacidade de trabalhar em grupo.
A avalanche digital não teria maiores problemas se o jovem não fosse obrigado a buscar um emprego que exigisse criatividade e autonomia para solucionar desafios o que requer necessariamente a capacidade de síntese e a habilidade de selecionar uma informação relevante. Justamente uma das razões, entre várias, para que aqueles 687 mil universitários brasileiros não conseguissem preencher 2.500 vagas.
PS- Como trabalho simultaneamente com comunicação e educação, tenho observado que, embora adore a abundância de informação, reverencie a possibilidade de escolhas e aprecie ainda mais a possibilidade de interagir, coisas que vieram mesmo para ficar (e é bom que fiquem), o jovem se sente confuso e demanda cada vez mais a intermediação de gente em quem possa confiar para ajudar na seleção das informações. Ele vê com desconfiança os meios de comunicação tradicionais como a escola, por suspeitar que eles não conseguem traduzir o que é relevante para sua vida. Por esse ângulo, nós é que somos emburrecidos. Tanto a escola como o jornal do futuro vão estar assentados na solução desse desafio ou vão ficar estacionados no passado. gdimen@uol.com.br

segunda-feira, junho 30, 2008

poesias e danças do mês de junho

O período junino parece ser adequado para a reflexão sobre alguns comportamentos culturais de nossas populações. Aproveitei parte da semana central dessa festividade para visitar algumas localidades de nosso Estado, um pouco com o objetivo de verificar como anda o cultivo das tradições juninas. Parece ser ponto comum dizer que essas tradições estão mais vivas no Brasil mais antigo, o Brasil do Nordeste, o Brasil que se formou desde as primeiras migrações européias para essa terra. Festejos populares relacionados com a colheita, a celebração da natureza. Esses festejos mesclam tradições de origens luso-medievais, indígenas e algumas africanas. E todas ligadas ao à terra, à sociedades agrícolas pré-modernas. Mas a maneira de festejar que temos nos dias de hoje vem sendo criada no século XX, como nos atestam danças como xote, xaxado, xamego, baião, todas ligadas ao nome de Luiz Gonzaga, cantor nordestino que ganhou o Brasil a partir do bairro de São Cristóvão, Rio de Janeiro. Também outros, como Jackson do Pandeiro, com seus cocos, emboladas têm contribuído para a criação, recriação e manutenção de um Nordeste idílico. Esse é o Nordeste que tem sido aproveitado por algumas cidades para atrair turistas em busca do idílico Nordeste e dos encontros etílicos.
As danças, os ritmos, os vestuários modificam-se com o tempo e com as mudanças sociais. O Nordeste idealizado nas músicas e ritmos popularizados pela sanfona de Gonzagão não pode deixar de sofrer mudanças, tendo ele várias vezes anunciado sua despedida quando diminuía a demanda por suas apresentações e sua música. No final de sua vida ocorreu um “revival” que permanece até hoje em alguns lugares, cidades que se organizam para a recepção de turistas em busca de um Brasil que já não mais existe. Simultaneamente, ocorre a miscigenação, a hibridização, a mistura de ritmos novos, criando novos mercados musicais. O mundo do espetáculo chegando ao mundo do Forró. Bandas profissionais unem ritmos de diversas partes do país – Pará, Pernambuco, Ceará, Bahia – e estabelecem-se em quase todas as praças, tocando melodias simples, frases soltas, simplórias, com atrativos sensuais e sexuais. Ganham audiências cada vez maiores porque não temem utilizar os apelos ao que Bakhtin analisa como os espaços inferiores do corpo, tão expostos no mundo de Rabelais e tão reprimidos no mundo de Calvino e da rainha Vitória.
Em rápida passagem por algumas cidades pude verificar que, se no Recife triunfou o Forró tradicional, dito de Pé de Serra, com Sanfona Triangulo e Zabumba, em cidades das regiões Metropolitana, Mata Norte e Mata Sul, ocorreu o domínio das chamadas bandas de Forró Estilizado, como mulheres semi-despidas experimentando os limites das possibilidades de flexibilidade dos corpos, com cantores cantando as desgraças da vida amorosa sendo aclamados pelo público. Devemos pensar por que tais ocorrências.
Alguns podem dizer que é uma questão de educação, e pode ser verdadeiro dependendo da elasticidade que esteja sendo dado a esse conceito; outros poderão dizer que por conta do poder dos meios de comunicação – rádio e televisão - que parecem recusar espaço para artistas que não cedem espaço poesias deficitárias de beleza e imaginação. Pode ser que esteja ocorrendo uma retro-alimentação cultural. Talvez, como a sociedade deixe tão pouco para que o indivíduo pense sobre si e sua vida, só lhe resta pensar e buscar satisfazer-se com os prazeres das partes inferiores.
Tenho, temos, que pensar mais sobre essas ocorrências.

segunda-feira, junho 23, 2008

A batalha da Chã de Camará

Neste período da festa da colheita do milho, momento em que tradições geradas no Brasilo mais antigo, dessas tradições que, criadas ainda no período de dominação portuguesa, se renovam na criatividade das novas gerações dos tempos performáticvos e espetaculares, também é momento de refletir a expansão menos vista, a expansão da consciência de si e para si que ocorrem em pequenos setores sociais. Da mesma maneira que as tradições populares juninas são renovadas, as esperança dos mais pobres também se faz nova, distante dos que pretendem colocar a história nos limites dos seus projetos, relutando a compreender que a vida iniciada é vida que se recusa a ser preada.

Nesses tempos em que todas as movimentações de protesto ou de apoio às autoridades e suas políticas, surpreendeu-me o telefonema de um morador da Chã do Camará, no sábado 7 de junho, dizendo que não fosse, como faço cada sábado, no Ponto de Cultura do Maracatu Estrela de Ouro de Aliança. A pessoa pediu que também avisasse às universitárias que, a cada sábado conversam e fazem artesanatos com as mulheres da vizinhança, brincam com as crianças e auxiliam na compreensão dos trabalhos escolares. Se tentássemos ir não conseguiríamos chegar à Chã de Camará. A PE 62 estava interditada desde a véspera. Nada mais disse.
Cumpri as orientações e fui ler os jornais. Em um deles estava escrito que a comunidade de Chã de Camará, havia interditado a referida rodovia depois que uma caminhonete, dessas que são compradas com cifras próximas a cem mil reais, passando a grande velocidade, atropelou, matou, uma senhora octogenária da vizinhança, não parou para dar assistência. Essa atitude de um desses guardadores de dinheiro e passam a vida tratando gente como gado, promoveu a ação das mulheres da comunidade. Só depois é que os homens da comunidade assumiram. "quando fomos dormir, de noite, os homens ficaram tomando conta."

A morte daquela mulher não incomodou o assassino motorizado e não molestaria a ninguém, pois a morte dos pobres a ninguém incomoda. Mas quando as mulheres carregaram toras de coqueiro, conseguiram pneus e obstruíram o trânsito na rodovia que faz a ligação entre muitas cidades, e os ônibus foram obrigados a parar e as kombis foram obrigadas a parar próximo ao trevo de Upatininga muitos foram incomodados. Vieram as autoridades para forçar as mulheres desobstruir a rodovia. Elas disseram que só sairiam quando fossem postos controladores de velocidade – as lombadas - para evitar novas mortes. Promessas foram feitas que, se elas desobstruíssem a rodovia eles iriam construir as lombadas. Disseram que elas estavam importunando a vida de muitas pessoas. As pessoas que foram obrigadas a abandonarem os carros e andarem a pé diziam que o que elas estavam fazendo não traria de volta a vida da mulher atropelada. Elas disseram que pretendiam evitar que outras caminhonetes tirassem outras vidas. A rodovia ficou interditada por mais de vinte e quatro horas. Não havia nenhum desses movimentos especializados em invadir espaços públicos. Foi um movimento espontâneo da comunidade que está crescendo e sentindo-se atemorizada por motoristas de automóveis que, a grande velocidade, ameaçam de morte os seres humanos que não possuem automóveis.

Quando fui a Chã de Camará, neste sábado, vi que as lombadas estavam postas. Conversei com a pessoa que me telefonara. Descobri que a notícia saiu no jornal porque a comunidade telefonara para os jornal; as rádio de Aliança, Goiana e Nazaré da Mata informaram sobre a ocorrência porque a comunidade telefonara para as rádios alertando à população para o que estava ocorrendo e que evitassem passar por aquele caminho enquanto não fosse construídas as lombadas requeridas pela população local. Interessante é que, tendo sido construídas as lombadas, a comunidade telefonou para as emissoras de rádio agradecendo o serviço que elas prestaram. Aquela pessoa que contou-me todas essas ocorrências ainda está estudando para terminar a escola fundamental, tem cerca de vinte e três anos e seu filho mais velho está com sete anos. Ela disse “se a gente não estiver organizado e fizer o que é necessário para a gente, a gente nunca vai ter nada porque eles só se preocupam com eles”. Disse essas palavras sorrindo a alegria de uma vitória inimaginável, por ela e pelas outras mulheres, poucos anos atrás. Uma cidadã se afirma quando age na produção de seu futuro e o futuro de sua comunidade.

e eu feliz com a vitória das mulheres na Batalha do Trevo da chã de Camará.

Em tempo: Sábado, dia 28 de junho, tem festa de São Pedro no Ponto de Cultura Estela de Ouro Estrela de Ouro. Chã de Camará, quilômetro 7 da rodovia PE62. Início às 19 horas.

terça-feira, junho 17, 2008

Um humanista é capaz de ver além da simples aritmética

Estou colocando estas palavras escritas pelo jornalista Hélio Fernandes para que não sejam esquecidos, mas lembrados, acontecimentos que já vivemos. Hoje, pessoas que lutaram para destruir o povo brasileiro estão juntas de outros que estão se construindo ao tempo que põem em segundo ou terceiro plano a criação permanente do Brasil. Crescer economicamente é crescer economicamente, criar escolas apenas com o objetivo de garantir funcionamento de indústrias não é humanismo, e maquinismo. Fazer simplesmente crescer a BVF e a Bolsa Família não fazer crescer a consciência das pessoas. Como disse, algum tempo passado um poeta “a gente não quer só comida”

“Na ditadura, processava jornalistas na polícia, mandava dar surras em homens como Oliveira Bastos, era o dono de tudo. Hoje é o "queridinho" da mídia.
Pouco antes da explosão da maldição do AI-5, já se sabia que o regime endurecera. Desde 1965/66 (1964 só vale pela tomada do Poder, quase sem objetivo ditatorial) se travava dura luta entre os que queriam mais ditadura e um grupo sensato, que achava que o regime autoritário não deveria nem poderia durar muito. Por mais surpreendente que possa parecer, Costa e Silva tentava conter os mais exaltados.
Um civil e um militar estavam entre os que consideravam que as coisas estavam muito "doces e suportáveis". Eram o major Passarinho e o ministro da Fazenda, Delfim Netto. No momento, só este me interessa.
Hoje tido e havido como "democrata", leiam e relembrem a ameaça de Delfim contra jornais e jornalistas, genérico, sem explicitação. (Isso em 1967, 1968 e seguintes).
Textual: "O governo vai processar os jornais que vêm alarmando o País com boatos infundados sobre aumento do dólar".
E a seguir: "Não podemos tolerar esses abusos, tomaremos medidas enérgicas para acabar com esses boatos, recorreremos até a processo policial". Não falou em processo judicial ou jornalístico. E está aí, prestigiado, depois de 3 vezes ministro da ditadura. Um autêntico democrata. » (Tribuna da Imprensa, RJ, 16 de julho 2008)

Precisamos de técnicos, mas será bem mais interessante se eles forem humanistas de verdade, comprometidos com valores maiores que os de suas contas bancárias.

segunda-feira, junho 16, 2008

Um mestrado e um livro



Estive fora nos últimos dias. Primeiro foi uma viagem há muito desejada, um retorno a um lugar do passado que sempre esteve presente e, simultaneamente criando novos laços. Caxias do Sul, na serra gaúcha estava com temperatura em média de 8 graus. Dessa vez para assistir a defesa da dissertação de mestrado de minha filha caçula, Tamisa, a respeito dos festivais de ciranda que ocorreram nos anos sessenta do século passado. Ela fez uma análise do impacto provocado, por aqueles festivais, em um brinquedo popular que alcançou os espaços sociais da capital pernambucana.


A viagem foi um permanente deslocamento, pois saí na madrugada da quinta feira e retornei na tarde do sábado. À noite foi a festa do lançamento do nosso livro mais recente MARACATU ESTRELA DE OURO DE ALIANÇA: A SAGA DE UMA TRADIÇÃO, que ocorreu no sábado, na livraria cultura.


Foi muito interessante ver um caboclo de lança passeando por entre as estantes da livraria. No auditório tivemos o Terno tocando para acompanhar os versos do Mestre Zé Duda; a palavra do produtor cultural e um dos idealizadores da Trilogia da Mata, Afonso Oliveira; as palavras do Mestre Luiz Caboclo, o organizador das coreografias apresentadas pelo Maracatu Estrela de Ouro de Aliança e, também o presidente do Ponto de Cultura Estrela de Ouro. Também eu disse algumas palavras sobre o significado do livro, uma pequena exposição do processo de pesquisa, escrita do livro. O auditório esteve com quase todos os assentos ocupados e isso nos fez feliz a todos. Foi um final e um início de semana muito bom.

As pessoas podem adquirir o livro na Livraria Cultura, na livraria do Centro de Filosofia e Ciências Humanas da UFPE, ou na minha sala, no 11º andar do CFCH, ao preço R$15.00.

domingo, junho 08, 2008

Regras limitam vocações autoritárias

Vivemos nesse mundo sempre ligados a regras. Em um outro mundo, em uma outra vida não sabemos quais regras lá existem. É certo que as religiões que procuram organizar a vida nesta existência têm indicado regras que procuram garantir uma boa vida na outra vida. Ou seja, as sociedades sempre estabeleceram regras de convivência, regras para garantir a sua existência e a convivência dos seus membros. Houve um tempo em que os que estavam no poder faziam, eles próprios, as leis. Às vezes diziam que eram deuses, outras vezes diziam que o faziam em nome de alguma divindade. Mas era comum que esses que estavam no poder utilizassem os gumes das espadas, para garantir que a vontade das divindades fosse obedecida. Quase sempre as divindades concordavam com a vontade dos governantes. Assim é em alguns lugares ainda hoje. Tem gente que conversa diretamente com alguma divindade e ela o orienta no que fazer. Tem gente que acredita e “faz tudo que o Senhor Rei mandar”. Os escravos que cuidavam das caldeiras dos engenhos sabiam muito bem porque as crianças brincavam de “boca de forno”. Também era assim, diz o livro das Crônicas, no tempo de Nabucodonosor que mandou três jovens para a fornalha. Aqueles jovens tiveram mais sorte que Lourenço no Império Romano, bem como os hereges e bruxas nos impérios dos cristãos do medievo e da Idade Moderna. Conta-se que os anjos não permitiram as chamas tocarem em Misael e seus colegas. Mas eles foram levados à fornalha por não desejarem cumprir as ordens emanadas da vontade do rei.

Uma das características de nossa incompleta democracia é que, entre uma fogueira e outra, os grupos sociais foram quebrando as razões dos poderes absolutos dos governantes que utilizavam o nome das divindades para impor suas vontades. Desde o século XVII que as sociedades ocidentais passaram a estabelecer limites à volúpia dos poderosos. Foram sendo estabelecidas constituições, parlamentos, leis escritas que garantissem o mínimo de segurança contra a vaidade e egocentrismos dos que estão no poder, agora não mais pela vontade das divindades, mas pela vontade expressa da população daquele país. Sempre é possível melhorar essa maneira de convivência, mas também sempre é possível piorá-la.

Começa a ser discutida, no Brasil, uma maneira de se aplicar a quem pretende governar um município, estado ou o país, o mesmo que se exige de um cidadão comum para que ele assuma um cargo público: mesmo que ele tenha sido aprovado em concurso público, ele precisa não ter processos contra ele. Se assim fosse feito, alguns estados teriam outros governadores e os parlamentos estariam com outra conformação, uma vez que cerca de trinta por cento de deputados estão encrencados na justiça e não podem ser julgados por serem deputados. Serão julgados quando morrerem e não puderem ser eleitos.Até lá, alguns criminosos continuarão a criar as leis que controlam gente honesta,

Uma das prática mais nojentas da nossa política era que os que estavam em cargos executivos utilizavam aquela posição para beneficiar algumas setores em troca de votos. Para evitar isso, foi estabelecido que, em período eleitoral, as verbas não podem ser liberadas. Não resolve todo o problema, mas inibe a prática se algum desonesto estiver no poder. Pos bem, tem gente que acha que está acima da lei e das tentações que sofrem os seres comuns. Assim pensavam os reis absolutistas e os ditadores fascistas. Outros poderiam errar, ceder às tentações, não eles.Sabemos que cada um de nós tem uma tendência de nos acharmos perfeitos, impossibilitados de errar. Uma das coisas boas da democracia é que a lei é feita para ser cumprida por todos, inclusive eu, você.

Entretanto, hoje no país, tem alguém que acha que as leis estão erradas e ele está certo, completamente certo e sem possibilidade de errar. Ele acredita nisso, o que é até compreensível; preocupante é que tem gente que acha isso mesmo. Bem, esse candidato a excelso filho do Excelso, disse a seguinte frase esta semana: A eleição nesse país, ao invés de consagrar a democracia, faz quem governa ficar sem governar porque o falso moralismo parte do pressuposto de que assinar contrato com um prefeito é beneficiar o prefeito. É o lado podre da hipocrisia brasileira. (Prsidente Luiz Inácio da Silva, 4/6/2008)

Talvez a nova encarnação do divino tenha razão, mas podemos perguntar: sabendo da existência da lei por que os contratos não podem ser assinados antes do período que a lei proíbe; também devemos lembrar que não se governa apenas em período eleitoral, mas todo o período de governo. Mas, o que mais me intrigou nesta revelação da verdade é a definição de “o lado podre da hipocrisia brasileira”. Essa frase revela que há um lado podre e um lado bom da hipocrisia. Imagino quando será nos dada a revelação de qual é o lado bom da hipocrisia brasileira. Deve ser a praticada pelos santos que foram proclamados inocentes por todas as Comissões Parlamentares ( ou Para Lamentares) de Inquéritos.

Tomara que o retorno do ensino da filosofia no ensino Fundamental e Médio auxilie a nossa sociedade a voltar a pensar. Todos estamos esperando que os filósofos comentem esse ensinamento do presidente. Filósofos pensam sem permissão. Correm os riscos das labaredas, mas é o preço de ser.
Como diz Millor: livre pensar é só pensar.

quarta-feira, junho 04, 2008

Malunguinhos de Catucá e Caboclos da Chã de Camará




  1. O transcorrer dos dias nos trazem muitas surpresas, inclusive porque cada dia é uma surpresa, nunca o havíamos vivido. Cada dia é uma maravilha de novidades escondida no que nos parece cotidiano. Ontem, tive um encontro interessante. Sílvio, que trabalha como ascensorista aqui no CFCH, apresentou-me uma senhora que estava procurando o professor Severino Vicente, pois ela queria comprar o livro Estela de Ouro de Aliança. Este fato já foi uma alegria enorme. Levei-a até a minha sala e entreguei-lhe o livro. A alegria cresceu quando a vi juntar cédulas de um e dois reais para completar os quinze reais. Disse-lhe que já era suficiente quando ela chegou aos doze. Mas ela fez questão de alcançar a cifra de quinze reais. Perguntei por que ela queria o livro e ela disse que gostava do que eu escrevia e iria dar o livro como presente para alguém, depois de lê-lo. Todos que somos autores sabemos a alegria que isso nos causa e a responsabilidade.

    Por conta dessa responsabilidade, hoje voltei a ler LIBERDADE, o excelente livro de Marcus Carvalho sobre o Recife do século XIX. A leitura, releitura, desse livro é indispensável para a escrita do meu próximo livro, também uma imposição do Maracatu Estrela de Ouro, sobre os caboclinhos de Goiana. Além de nos mostrar como era o cotidiano do Recife, Marcus nos envereda no mundo criativo do Brasil. Não estou falando do Brasil criativo, mas da criação do Brasil. Ela comenta como a Jurema Sagrada, culto dos nossos ancestrais indígenas assimilou a luta dos escravos no seu panteão. Mas não na sua forma africana, MALUNGO, que significa companheiro, mas na forma brasileira MALUNGUINHO, como a nos dizer que houve não uma aceitação do africano, mas uma criação nova. Ver transcrever o que diz um dos maiores historiadores vivos deste Pernambuco.


Todavia, o emprego da forma diminutiva do termo “malungo” – Malunguinho é o nome do chefe – é um indício de um processo de transformação cultural bastante dinâmico. Há muito notou Sérgio Buarque de Holanda, que o “inho” é um traço característico do falar rural brasileiro. Malungo, portanto, é um termo banto, mas malunguinho é uma derivação plenamente brasileira crioula. (...) esse abrasileiramento é uma expressão própria da reconstrução da nova identidade americana representada pelo quilombo, onde todos são eram apenas malungos, mas malunguinhos.

Da mesma forma que encontro o Caboclo Malunguinho no Centro Nossa Se nhora da Conceição na Chã de Camará, o encontro nas tribos de Caboclinhos.

Que bom que Dona Maria veio comprar o livro Estrela de Ouro de Aliança – a saga de uma tradição. Ela me lembrou que sou malunguinho, como ela também o é, Por isso, penso, ela gosta do meu livro: é a história dela, de malunguinhos como ela, não africanos, mas brasileiros.


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CARVALHO, Marcus J. M. Liberdade, rotinas e rupturas do escravismo . Recife, 1822-1850. Recife: Editora Universitária UFPE, 1998.

SILVA, Severino Vicente da. Maracatu Estrela de Ouro de Aliança, a saga de uma tradição. Recife: Editora Associação Reviva, 2008.

sábado, maio 31, 2008

Emoções comuns e surpreeendentes da semana

Semana cheia de emoções esta que está a terminar.

Algumas foram simples e cartársica, como a classificação do Sport Club do Recife para a final de um dos campeonatos pebolísticos que ocorrem no país. Os barulhos nos acompanharão por algum tempo e, todos esperamos, valha ao futebol pernambucano o título nacional.

Outra emoção, quase surpreendente, foi nos dada pelos deputados do Rio de Janeiro que, por decreto, anularam uma prisão determinada pela justiça. O beneficiado é um dos deputados daquele Estado da Federação, acusado de participação em quadrilha que assaltava assaltantes e assaltados na Cidade Maravilhosa e adjacências. Digo “quase surpreendente” pois está ficando difícil surpreender-se com ações como essas, uma vez que os parlamentos estão quase completados por sujeitos processados em diversas instâncias judiciais, por motivos diversos. Um exemplo de significância maior nos é dado pela Câmara Federal que pôs na presidência do Conselho de Ética um deputado com mais de quatro processos em andamento. Creio que emoções nos aguardam quando soubermos, algum dia, os motivos que levaram os deputados fluminenses a agir tão rápidamente na defesa do colega. Claro que estou a referir-me ao coleguismo parlamentar e não ao da infração legal.

Esse acontecimento mostra que o Brasil é um país com duas constituições: uma para os ricos, possuidoress de poder econômico, título universitário, mandato parlamentar e assemelhados. Estes não podem ser presos e, se forem, devem ter prisão especial e não podem ser constrangidos com a presença de algemas ou algo que denuncie ao público o ato falho dessas autoridades. A outra constituição é aplicada ao brasileiro comum, que não tem título universitário, é pobre e não possui mandato parlamentar ou assemelhado, e paga impostos. Estamos vendo que o Brasil ainda está na primeira metade do século XVIII. O Iluminismo e as revoluções democrático-burguesas estão para serem completados.

Outra emoção, louvada por todos que já vivem as belezas trazidas pelo Iluminismo e pelas revoluções burguesas foi a decisão do Supremo que determinou a constitucionalidade das pesquisas com células-tronco. Esta decisão, dizem que nos aproxima dos países de “primeiro mundo”. Também nos aproxima daquele mundo a declaração de agências de investimento. Já somos BBB+, o que nos torna confiável para os nossos primos ricos do hemisfério norte. Lá, onde os ideais iluministas são vividos em sua maior parte, os ricos são presos, os deputados não possuem legislação especial que os prive dos julgamentos da justiça quanto a crimes comuns; também lá o saneamento público, a educação pública de boa qualidade é acessível à quase toda a população, então chamada de cidadão e não apenas consumidores, como se costuma dizer nos países de iluminismo mitigado. Vamos avançar na pesquisa das células-tronco, no combate ao mosquito da dengue, à tuberculose, à lepra, á diarréia, à desnutrição, e outras doenças de pobre.

Outra emoção que vivi foi participar como assistente da posse da professora Socorro Ferraz Barbosa na diretoria do Centro de Filosofia e Ciências Humanas. O protocolo foi interessante e ilustrativo, apresentando as raízes coimbrãs de nossa UFPE. Belos discursos e ampla participação de todos os segmentos do CFCH.

Hoje à noite estarei em uma rua de Nazaré da Mata, em frente à Associação das Mulheres de Nazaré da Mata - AMUNAN -, entidade que comemora vinte anos de trabalho de conscientização contra a violência sofrida pelas mulheres da região da Mata Norte, mas que também luta contra o complexo de “vitimização” que aliena e escraviza os seres humanos. Hoje à noite estará sendo posto á venda o disco compacto – Cd – do Maracatu Coração Nazareno, um Maracatu de Baque Solto formado apenas por mulheres. O disco foi gravado no Estúdio Mestre Duda, do Maracatu Estrela de Ouro de Aliança. Vai ser uma festa. Quem quiser comprar o disco, pode escrever para mim, ou me procurar em minha sala no 11º andar do CFCH, na cidade universitária. O mesmo vale para o disco de Biu do Coco e para o meu livro MARACATU ESTRELA DE OURO, A SAGA DE UMA TRADIÇÃO.

segunda-feira, maio 26, 2008

contador de histórias

É do saber de todos que acompanham este blog que estou participando, como um dito assessor pedagógico, do Ponto de Cultura Estrela de Ouro de Aliança. Os pontos de cultura existem em todo o país, sendo um programa do Ministério da Cultura. Tal programa se propõe a animar os lugares e as pessoas que sempre produziram cultura neste imenso país, mas jamais contaram com apoios oficiais. Esses lugares, para onde convergiam os mais pobres com o objetivo de buscarem diversão e, um pouco sem saber, manterem as tradições de seus avós. Ora, à medida que o programa avançava, apareceram problemas que seus idealizadores não imaginaram. Como era um programa em que o governo federal estava colocando dinheiro, muita gente começou a inventar ponto de cultura. Esse foi um deles. Outro problema é que a cultura que os pontos de cultura sempre cultivaram, era uma cultura dos iletrados, mas para poder participar dos incentivos ofertados pelo governo federal, era necessário preencher uma porção de questionários, fazer planilhas de custos, etc. Apenas os pontos de cultura que por sorte encontraram alguma assessoria puderam logo entrar no programa governamental. Esses são alguns problemas de ordem prática que podem e vêm sendo resolvidos. Mas há outros problemas.

A cultura brasileira é formada por diversas matrizes culturais, étnicas e religiosas.

Uma matriz juntou dinheiro, religiosidade, poder de armas e passou a comandar outras matrizes. Essa matriz é dominantemente européia e, embora mestiça nas suas origens, tem sido classificada como branca e predominantemente católica. Mas nem todos os brancos são católicos, nem todos os brancos são ricos. Há brancos pobres, há brancos menos brancos por seus antepassados terem se relacionado sexualmente com índios e ou com negros, além de terem se relacionados com os já mestiços, pois esses se fizeram desde as primeiras décadas da ocupação e colonização portuguesa. Há brancos praticantes das diferentes Umbandas, dos diferentes Espiritismos, há brancos ateus (se bem que esses são poucos encontrados entre os mais pobres, indiferente da sua pigmentação).

Além dos brancos há os negros. E nós sabemos que nem todos os negros são pobres, embora entre os pobres haja muitos negros e mestiços de negros, uma vez que não dá para pensar que, os homens e as mulheres negras tenham, no passado e no presente, escolhido preferencialmente outro negro ou negra para dar alegrar a sua vida sexual Alguns há que são ricos, e não de fortuna recente. Também pode ser dito que eles ficaram um pouco branco, pois à medida que foram enriquecendo, as gerações foram mantendo relações com brancos, estes talvez em processo de empobrecimento. E há negros que estão saindo da pobreza e vivendo na classe média. Também há negros que são católicos, negros que são Reformados (batistas, luteranos, anglicanos, presbiterianos) Evangélicos (Assembléia de Deus, Brasil para Cristo, Deus é Amor, Evangelho Quadrangular, etc.). Já tem negros vivendo na religiosidade Mórmon e há muitos seguidores da Igreja Universal do Reino de Deus. E podemos encontrar negros entre as Testemunhas de Jeová. Ou seja, nem todos os negros – pobres ou ricos – são cultuadores dos Orixás.

O primeiro grupo que viveu no Brasil, quase sempre deixado para o fim, é nativo, o índio. Ele poderia ser classificado de amarelo, embora sua cor seja variável, tanto hoje quanto no passado. Esse grupo foi totalmente alijado do projeto social que formou o Brasil. Mas ele está presente e, há os que vivem nas florestas, sob a supervisão (proteção, talvez) tanto do governo qaunto de missionários católicos ou protestantes em entre esses, há os de diversos matizes. Mas além desses que vivem distante (fisicamente) do mundo dos “brancos” (parece que para os índios quem não é índio é brancos, não importa a matiz que colore a epiderme), tem os que vivem em contato mais direto com o mundo da cultura civilizada. Esses estão enculturados e formaram o que se chamou até pouco tempo de caboclo. Mas esses têm sua religião que é dupla, eles são cristãos e mantém as crenças que cultivam desde antes dos portugueses virem com os seus deuses e os negros escravizados também viessem com suas fés. Grande parte desses caboclos está ligada à Jurema, aos deuses das suas matas, e dividem as suas matas com os deuses que vieram das savanas e das florestas africanas.

Eu não sei, mas deve haver ponto de cultura nas regiões de colonização polonesa, alemã, italiana, japonesa. São tantos os pontos de cultura não oficiais!!!!

Mas tudo isso é para dizer minha inquietação sobre a Ação Griô, a dos contadores de histórias. Da África vieram os contadores, embora aqui o que não falte é contador de história, da história do seu lugar. Em um país de analfabeto as histórias são contadas, não são escritas. E o que é mais interessante é que quando se conta uma história se passa uma cultura. Fico pensando a razão de uma metodologia africana, se eu sei que com a metodologia vem o conjunto da cultura. Fico pensando como seria interessante utilizar as metodologias aqui foram criadas, porque assim as a gente – eu e a nossa gente – veria que um povo que surgiu em luta de quinhentos anos já tem alguma coisa para ensinar.

Outro dia fiquei encantado com um escocês que estava encantado com o jeito de viver e ensinar cultura nos canaviais. Tinha de tudo, tinha de todos. Todos os santos, todos os anjos, todos os deuses, os deuses protetores, os que aconselham, os que curam, os que limpam as estradas, os que fecham os caminhos. Havia um acolhimento sem exclusão, sem imposição. Sentiu-se em casa.

Em tempo: programas governamentais não devem promover qualquer religião, pois o Estado é Laico.

sexta-feira, maio 23, 2008

Os Caminhos de Goiana

Os Caminhos de Goiana[1]

Severino Vicente da Silva[2]



Os pés, essas extremidades que suportam nossos corpos em movimentos e sempre estão dispostos a levar-nos pelas ruas, ladeiras, calçadas que formam a cidade onde nós vivemos; esses pés que nem sempre lembramos deles, exceto quando nos dizem cansados, eles estão intimamente conectados ao nosso cérebro. Os caminhos que eles percorrem não o fazem por seu próprio discernimento, mas porque são impulsionados por vontades e desejos definidos nas sinapses elétricas que ocorrem no interior de nossa cabeça. E nosso cérebro carece de informações que lhe são dadas pelas outras partes do corpo. Olhos, mãos, pele, narizes, orelhas, pelos, todos esses são receptores de informações e as enviam ao cérebro. Assim, quando os pés tocam as calçadas, as informações guardadas em partes de nosso cérebro nos lembram que elas foram ali colocadas por gerações anteriores. Rapidamente somos levados a pensar que o espaço onde nos locomovemos são espaços criados por outros que não nós. Mas enquanto andamos nesses espaços, deixamos, por nosso trabalho, modificações que serão percebidas por outros.

Nas ruas de Goiana há espaços que existiam muito antes de nossa geração. Na nossa coluna de hoje, vou transcrever algumas linhas do historiador e embaixador Evaldo Cabral de Mello. Elas tratam do passado que talvez muitos “esqueceram” porque se lembram de outros eventos. As lembranças que temos de nossas vidas são repletas de esquecimentos, também. Leiamos algumas lembranças que já esquecemos:

No século XVIII, a mata norte já adquirira a fisionomia própria que lhe dava uma relativa diversificação econômica, baseada na pesca, na farinha, no fumo, na cal, nos cocos, utilizados na manufatura de cordagem, no sal, indispensável à salga da carne e ao tratamento dos couros do sertão, na lenha de mangue, cujo tanino constituía matéria prima dos curtumes recifenses. Em toda a costa entre Olinda e a foz do Goiana, habitava uma população livre cuja densidade surpreendia os viajantes, especialmente em Itamaracá, parte mais populosa da província, com exceção do Recife e cercanias. Quadro oposto aguardava a quem jornadeasse pela marinha do sul, que permanecia o quintal da economia canavieira, uma franja ininterrupta de sítios de coqueiros e manguezais(...)

No livro A outra independência, Evaldo Cabral de Mello continua se reportando às estreitas relações da mata norte com o Agreste e Sertão. Goiana, segundo núcleo citadino da província, combinava a facilidade das comunicações flúvio-marítima para o Recife com a condição de porta do sertão, o que lhe permitia competir vantajosamente com as capitais das províncias vizinhas. Bom Jardim e Limoeiro serviam de entreposto para o algodão e os couros procedentes daquelas áreas e para os produtos que a demandavam. Rumo à feira de Goiana, as boiadas desciam desde o Piauí para o abastecimento do Recife e da mata.

Essas palavras as coloco aqui para que, andando no nosso antigo porto flúvio-marítimo, comecemos a repensar sobre essa tal obrigatoriedade de sermos região de monopólio da cana. Uma das razões da grandeza passada de Goiana foi a sua diversidade econômica, utilizando os espaços geográficos que foram sendo criados. Foi essa importância econômica que permitiu a Goiana influenciar os destinos de Pernambuco na Convenção de Beberibe, de outubro de 1821. Seria interessante que nossos professores de história se dedicassem um pouco mais a estudar os acontecimento do século XVIII e XIX em Goiana.

[1] Escrito especialmente para A PROVÍNCIA, Goiana, 5 de maio de 2008.
[2] PHd em História do Brasil pela UFPE, Professor adjunto do Departamento de História da UFPE, Assessor do Ponto de Cultura Estrela de Ouro de Aliança.

segunda-feira, maio 19, 2008

Usina Cultural e mais duas crias

Usina Cultural Estrela de Ouro apresenta duas novas "crias"

Produzidos em estúdio na zona rural da Mata Norte pernambucana, dois álbuns serão lançados até o final do mês. O primeiro evento festivo está marcado para quinta-feira, 22 de maio, e conta com presença de Célio Turino, secretário de programas e projetos culturais do MinC.

Graças ao recém-instalado Estúdio Multimídia Zé Duda, dois grupos de cultura popular puderam produzir integralmente seus álbuns de estréia. Arrochando na umbigada, do Coco Popular de Aliança e A rosa do maracatu, do Maracatu Leão Nazareno são mais recentes produtos fonográficos da Usina Cultural Estrela de Ouro, o mais recente projeto do Ponto de Cultura Estrela de Ouro.

Para comemorar o lançamento, os grupos promoverão shows com entrada franca, nos dias 22 (quinta-feira) e 31 de maio (sexta-feira). Os CDs estarão à venda ao preço de R$ 15 durante os shows e pelos telefones da produção. Em breve, estarão nas lojas especializadas. O projeto tem a Produção de Afonso Oliveira, e conta com o patrocínio do Fundo Pernambucano de Incentivo à Cultura – Funcultura / Fundarpe / Governo do Estado e do Ministério da Cultura – Minc, através do programa Cultura Viva.

Arrochando na umbigada será lançado na próxima quinta (22), às 20h, no terreiro do sítio Chá de Camará (sede do Ponto de Cultura), zona rural do município de Aliança (a 75 km do Recife). A festa conta com show gratuito do Coco Popular de Aliança, mais participação do Caboclinho 7 Flexas de Goiana e do Maracatu Leão Nazareno. Outros convidados especiais do evento são o secretário de programas e projetos culturais do MinC, Célio Turino, e do poeta e jornalista TT Catalão.

Por sua vez, o álbum A rosa do maracatu, do Maracatu Coração Nazareno é uma parceria do Ponto de Cultura Estrela de Ouro com o projeto A rosa do Maracatu, de Valéria Vicente. A festa de lançamento será na sexta-feira, dia 31 de maio, na cidade de Nazaré da Mata, a 65 km do Recife. A festa será na Sede da Associação das Mulheres de Nazaré da Mata - Amunam, situada na Praça do Estudante de Nazaré. Desta vez, é o Coco Popular de Aliança quem será recebido como convidado especial. Também confirmaram presença os mestres Zé Duda e Luiz Caboclo (Maracatu Estrela de Ouro), João Paulo (Maracatu Leão Misterioso) e o Caboclinho 7 Flexas de Goiana.

O registro da produção musical contemporânea da Zona da Mata Norte de Pernambuco através dos próprios protagonistas é um dos objetivos do projeto Usina Cultural Estrela de Ouro, cujo último lançamento foi o CD do grupo Caboclinho 7 Flexas. O projeto realizado pelo Ponto de Cultura Estrela de Ouro pretende estruturar esse centro cultural situado na área rural do município de Aliança, de forma a transformar em produtos culturais os saberes impressos na vida dos habitantes da região. Para tanto, além do Estúdio Multimídia Mestre Zé Duda (assim batizado para homenagear o líder do Maracatu Estrela de Ouro), o local conta com biblioteca, escritório de projetos, salas de aula e telecentro.

"O que se faz aqui difere das inúmeras usinas de cana-de-açúcar da região porque sua matéria prima é a cultura popular; os produtos são CDs, livros, DVDs, aulas-espetáculo, oficinas de criação e organização de turnês e festivais", explica o produtor cultural Afonso Oliveira.

COCO POPULAR DE ALIANÇA –Quem foi ao Festival Canavial 2007 viu um grupo de coco arrepiar e fazer o povo dançar até sol nascer. O Coco Popular de Aliança é assim: contagia na primeira música com a força do coquista Severino José de França, mais conhecido como Mestre Biu do Coco. Há dez anos ele está à frente do grupo, que já mostrou sua música no Rio de Janeiro, São Paulo e até na França. Com direção musical de Climério Oliveira, o CD de estréia promete levar o Coco Popular para outros universos da música criando possibilidades de intercâmbios. Na época de gravação, o Poeta TT Catalão, radicado em Brasília e que vem ao lançamento do CD, escreveu uma poesia a Mestre Biu. Leia um trecho:

sem ceder, chega ao CD, pela força
da sua sina, ele e suas meninas,
desencarna desencana desenrama
sol facão palha bagaço palma da mão
e canta: na terra de tantos bius
esse é um na diferença da arte
pra mais de mil

MARACATU CORAÇÃO NAZARENO – Atualmente contando com 52 integrantes, o Maracatu Coração Nazareno é o único grupo brasileiro de maracatu de baque solto exclusivamente formado por mulheres. Lideradas pela Mestra Gil, o grupo é mantido pela Associação das Mulheres de Nazaré da Mata (Amunam). É através desta expressão cultural que as mulheres do município de Nazaré da Mata possibilitam a formação de agentes culturais, e garantem a continuidade desse folguedo popular para novas gerações. Através de oficinas de artes, as adolescentes, jovens e mulheres da Amunam confeccionam toda a indumentária e adornos necessários para o desfile do maracatu. No pregar das lantejoulas, as mulheres discutem os motes a serem cantados nas apresentações. As principais temáticas são loas que levam a refletir sobre cidadania, gênero e violência. O Maracatu Coração Nazareno é umas das formas mais eficazes encontradas pela Amunam para levar a delicadeza, a leveza, feminilidade e a força da mulher a um ambiente formado prioritariamente por homens.

Também estarão a venda dos livros:

MARACATU RURAL: o espetáculo como espaço social. autoria de Valéria Vicente

JOÃO, MANOEL, MACIEL SALUSTIANO: Três gerações de artistas populares recriando os folguedos de Pernambuco. Autoria de Mariana Mesquita do Nascimento

MARACATU ESTRELA DE OURO DE ALIANÇA: A saga de uma tradição. Autoria de Severino Vicente da Silva

sexta-feira, maio 16, 2008

Pensamentos soltos

Fiquei parte da manhã pensando se devia por neste espaço alguma reflexão sobre o que ouvi ontem e confirmou-se. mas como esse é um espaço que criei para pensar em voz alta, terminei por colocar aqui, como sempre, o que vai na minha mente.

Os bancos lucraram, nos seis anos do governo Luiz Inácio da Silva, mais que nos oito anos do governo de Fernando Henrique Cardoso. Considerando que se dizia que FHC era capacho da banca internacional, o que dizer do operário que chegou ao poder? A Carta aos Brasileiros, aquela em que Lula garantiu aos banqueiros internacionais que seguiria a política de FHC, já definia o que seria o governo de quem é capaz de demitir um ministro da educação por telefone.

Qualuqer dia desses ocorrerá com os bancos no Brasil o que só ocorria com os bancos das praças: terminam por excesso de fundos.

Outra notícia é que 75 % da riqueza produzida no Brasil está em poder de 10% da população. Mais ainda: os mais pobres pagam mais impostos que os mais ricos. Mais ainda: a concentração de renda no Brasil, hoje, é maior do que a concentração de riqueza durante a ditadura dos militares e mesmo no período anterior. Mais ainda: a concentração de renda aumentou nos últimos cinco anos. Tudo isso é informação que está nos jornais do dia. Mas, como dizia música famosa de Caetano Veloso: “quem lê tanta notícia?” que se importa com isso? Afinal, parece que vão fechar a delegacia da justiça de trabalho na cidade de Floresta, sertão de Pernambuco, porque não há reclamações trabalhistas na região. Esse é um país de patrões conscienciosos e de um povo que não reclama das condições de trabalho.

Em compensação tem bolsa família que aumenta o consumo. Esse pessoal deveria voltar a ler o que Rosa de Luxemburgo disse sobre socialismo de consumo, analisando a situação dos cristãos descrita nos Atos dos Apóstolos.

quarta-feira, maio 14, 2008

Desigualdades ministeriais

O Ministro da (des)Igualdade Racial, Edson Santos, está correto quando diz que a abolição da escravatura é uma obra incompleta, o que todos os leitores de Joaquim Nabuco sabem, pois ele disse essa verdade há muito tempo. Acerta o ministro quando repete o que dizem aqueles que sabem. Era o ministro quando afirma que os “negros brasileiros que, retirados de sua terra natal, sem possibilidade de retorno, depararam-se com uma nação construída com o seu trabalho, mas que não os aceita”. São muitos os erros dessa frase, publicada no “em questão” de 13 de maio de 2008.

Um deles é dizer que os os “negros brasileiros foram retirados de sua terra natal” Os brasileiros negros não foram tirados de sua terra natal, eles estão em sua terra natal; africanos é que foram tirados de sua terra natal e trazidos pelos portugueses para esta terra que se tornou Brasil.

Outro erro é dizer que os africanos que aqui chegaram “depararam-se com uma nação construída com o seu trabalho”. Como aqui chegaram e já encontraram uma nação construída com o seu trabalho? Trabalharam na construção dessa nação antes de chegar, os africanos? Já havia uma nação construída? Julgava, eu e muitos brasileiros, que o Brasil foi construído com o trabalho de quem aqui estava e do trabalho de quem para aqui veio. Além do mais, o Brasil como nação é resultado desses encontros, nem sempre felizes nas suas relações; e o Brasil, enquanto Estado é, de 1815.

Falácias como essas, ditas por quem autoridade no Brasil, são irresponsavelmente ditas, perigosamente ditas criam confusão entre os brasileiros. Elas mostram que essas autoridades não comungam com a história do povo brasileiro, parecem querer fazer uma outra nação, negando as demais partes, os demais grupos sociais e culturais que fizeram, que fazem e continuam fazendo a Nação brasileira.

Nação não é uma coisa que se encontra, caro ministro, nação é algo que constrói, ou se destrói para outra construir. Foi assim que a nação lusitana se viu diminuída em sua geografia e sua população quando um grupo de portugueses desse lado do oceano não se viu mais português e foi assumindo ser nação brasileira. Uma nação imperfeita em muitos aspectos, mas que os brasileiros queremos aperfeiçoa-la, não excluindo, como se fez no passado e, lamentavelmente se faz ainda hoje; mas a queremos esta nação cada vez mais inclusiva, mais brasileira. Talvez menos portuguesa, talvez menos africana, talvez menos tupi, mas sempre mais brasileira, sem negar que todos temos essas origens matrizes: tupi, lusa, africanas.

terça-feira, maio 13, 2008

O Treze de Maio -1888 -2008

Desde criança fui ensinado a celebrar a data Treze de Maio. Na Igreja, era a celebração da aparição de Nossa Senhora, em Fátima, a três crianças camponesas, em Portugal. No quarto onde dormia com meus irmãos havia um quadro com as crianças olhando para aquela Senhora e ela olhando carinhosamente para elas. Na escola, o Treze de Maio era para festejar o fim da escravidão no Brasil, a edição da Lei Áurea. Ainda nos dias de hoje celebro as duas referências, pois ambas são parte de minha herança e de minhas escolhas.

O Treze de Maio mais social, o fim da escravidão no Brasil, vim a compreender, depois dos dezesseis anos de idade, que faz parte da minha família. Meus bisavôs paternos eram escravos. Viviam em algum engenho da região que os geógrafos dizem ser a Mata Norte desde os anos quarenta do século passado. Aquela foi uma região em que a cana de açúcar dividia os espaços com outras culturas, o que favoreceu o estabelecimento de sítios, e de uma economia que recebia moradores nos engenhos. Foi essa a saga de minha família. Começou como escrava e depois moradora de engenho.

Meu avô paterno, José Vicente, casou com uma mulher que era mestiça, índia e branco, conforme posso notar em seu rosto que ficou para mim em fotografia, o rosto de Maria Florinda. Assim meu pai, João Vicente, nasceu fenotipicamente branco. Cresceu como menino de engenho, não o da varanda, mas o que trabalhava no eito. O tempo, a inteligência, a sagacidade o fizeram sair da enxada e ir para o balcão de comércio e o trouxe para a capital com a família, formada com Maria Ferreira, de ascendência mestiça de índia com branco. Seus filhos nasceram resumindo toda essa tradição biológica que se juntou à tradição cristã. Mas a tradição cultural cristã européia não abandonou a tradição dos chás, das ervas, das “crendices” de quem veio das matas e das senzalas. Assim, com essa história, celebro a alegria que meus antepassados viveram ao saberem-se livres. Os limites iniciais dessa liberdade não puderam ser mantidos, como atesta a trajetória de seu José Vicente, seus filhos e netos. Celebro, no Treze de Maio, as festas que ocorreram nos engenhos da Mata Norte e nos engenhos da Mata Sul, em uma delas estavam meus bisavós; celebro as festas que ocorreram na cidade do Recife e nas demais cidades litorâneas. Por mais limitada que possa ter sido o que foi conquistado em maio de 1888, ele foi a continuação de um início, talvez mais longínquo. Não posso negar a alegria de meus antepassados, ainda que pequena que me possa parecer. Pequena para mim, que já nasci com horizontes mais largos que eles, mas foram os seus horizontes diminutos, os seus pequenos passos iniciais no imenso sonho da liberdade, as bases de minhas correrias livres e do futuro que, a partir deles, continuam auxiliando a criar para os seus descendentes e os descendentes dos seus colegas de senzala. Celebrar o Treze de Maio é celebrar a alegria de meus bisavós que já tiveram seus filhos livres. Mas sei que devo continuar a luta para que a nossa liberdade seja mais plena, embora eu saiba, como aprendi com o filho da Senhora de Fátima, a liberdade é bem maior do que eu e minha geração possamos construir.

Ainda estamos no alvorecer da humanidade, mas ela é construída aos poucos. E sua construção não é uma questão de grupos, seja de que forem. Nenhum homem é livre sozinho, nem um grupo encontra a liberdade se não constrói com todos os homens e mulheres. E todos os homens e mulheres são tão coloridos que é uma loucura escravizar a liberdade são para uma cor de pele. Esse erro levou meus antepassados ao cativeiro. Não quero mais cativeiros, que todas as paredes caiam, não quero paredes transparentes, pois o vidro é transparente, mas exclui, não deixa o vento passar.

segunda-feira, maio 12, 2008

Ciclones e céu estrelado

A semana passou com a velocidade de sempre, embora o conjunto de atividades realizadas nos dê a impressão que o tempo seja ser cada vez mais escasso. Nesse diapasão da vida moderna, do acúmulo de conhecimento de fatos, não dos fatos, pois esses sempre existiram, embora o ignorássemos, quase não conseguimos entender os acontecimentos. Enquanto um vendaval destruía vidas na antiga Birmânia, um ciclone atingia estados do sul do Brasil, um outro tipo de catástrofe atingiu professores e escolas formadoras de professores. Um concurso para selecionar novos docentes, talvez feito com maior rigor, com uma exigência grande para um exíguo período de tempo a ser utilizado para resposta, demonstrou que uma enormidade de candidatos não ultrapassou o ponto de corte na prova de língua portuguesa. Um clamor. De um lado grupos reclamando do pouco tempo para responder às questões, gente dizendo que as provas foram organizadas com o objetivo de desmoralizar a “classe” dos professores, que a imprensa se levantou contra a “classe” dos professores; de outro lado os organizadores demonstrando que se faltava professores nas escolas é porque não havia profissionais capacitados para assumir as funções de magistério. Assim continuará, o Estado de Pernambuco – que paga os salários mais baixos do país aos desavisados que pretendem ser professores - contratando estudantes por contrato temporário. Como desenvolver uma política pedagógica com professores que são substituídos a cada dois anos, é algo que só os responsáveis pela pedagogia e a didática no Estado de Pernambuco sabem. Este é o grande segredo!!!!!

Notamos que ficaram em silêncio profundo, as instituições que concederam diplomação e licença de ensino a quem não ultrapassa o ponto de corte – 6.0 – na prova de língua portuguesa. Há um grande silêncio em torno dessa questão. Em quase todos os cursos de graduação – ou todos – a nota mínima para a aprovação é 5.0. Exigir que alguém, para ensinar seja o candidato capaz de, em prova de valoração de 0 a 10, saiba 60%, é um absurdo, uma vez que as faculdades só exigem 50%.

Neste final semana estive na Chã de Camará, situada em Aliança, para o lançamento do livro Maracatu Estrela de Ouro de Aliança: a saga de uma tradição. Foi uma festa surpreendente. Não tivemos energia elétrica das 17 às 21 horas, o que nos deu a oportunidade de socializar à luz da lua e dos brilhos das estrelas embelezadoras da noite. Afinal as estrelas deviam estar presentes na festa da Estrela de Ouro.

A maioria dos presentes era gente do canavial, moradores dos povoados, caboclos e caboclas. Mas havia pessoas de Goiana, Condado, Nazaré da Mata, Tracunhaém. Recife, Olinda. Cada caboclo de lança, cada baiana, cada dama de paço, cada músico, o bandeirista, o rei a rainha, cada componente do Maracatu recebeu um exemplar o livro. Receberam em letras o que seus pais e eles mesmos escrevem com suor e transformam em alegria. Alegria deles próprios quando dançam e alegria espetacular para os têm o privilégio de vê-los dançar. Maior privilégio tive eu de com eles escrever a sua história e por à disposição deles e toda a sociedade, este livro. Isto feito no terreiro, no mesmo terreiro em que o Mestere Batista criou o Maracatu Estrela de Ouro. Mais ainda, lá estavam presentes pessoas que participaram da criação.

Sob a proteção das estrelas e na presença do Mestre Batista, e também com a presença de Rafael Aimberê, meu neto, dos meus filhos, genros e nora, tive uma das mais belas noites de minha vida, brincando em terreiro de homens livres, a liberdade da dança. Assim foi até às duas da madrugada, quando um orvalho com jeito de chuva fina nos mandou descansar.

quarta-feira, maio 07, 2008

Auxlío funeral e a liga dos deputados

Nos anos cinqüenta do século passado, um dos mais interessantes capítulos da história do Brasil teve início com a criação de uma sociedade, no engenho Galiléia, ali, em Vitória de Santo Antão, PE, com o objetivo de garantir um enterro cristão aos tão explorados trabalhadores rurais. A situação era tão brava que havia um caixão de fundo falso que, após colocar o corpo na cova, era reaproveitado para o próximo morto. Dessa sociedade se formou a Liga Camponesa do Engenho Galiléia que, com a assistência judicial do Deputado Estadual Francisco Julião, garantiu a primeira desapropriação de terras, no governo de Cid Sampaio.

Essa situação de penúria da população levou o INPS – INSS - , órgãos de nomes e objetivos de assistência social, estabeleceram o auxílio funerário. Parece que o governo federal acabou com esse benefício para a população. A distribuição de caixões e auxílio às família enlutadas tem garantido eleições contínuas ao Sr. Newton Carneiro, atual prefeito de Jaboatão dos Guararapes. A miséria do povo é sempre resultado da riqueza do “não povo”.

Essa discussão minha é causada pela morte de um deputado federal, ocorrida recentemente. Parece que os ganhos de suas excelências não são suficientes para que, com o seu falecimento a família possa garantir um funeral decente. Assim é o que pensa o Chinalagia (nome muito próximo), presidente da Câmara dos Deputados, pois ele estabeleceu, a partir de agora, uma verba de auxílio funerário para os deputados federais, algo em torno de R$ 16.000.00. Assim, chinaglia zomba da canalha.

Essas verbas estabelecidas para garantir apoios, ganhar risos, só são criadas, talvez, porque o orçamento da Câmara Federal, das Assembléias Legislativas e Câmaras Municipais, esteja sobrepensado. Sabemos que o exemplo canalha do Chinaglia irá frutificar nos espaços dos 'representantes” do povo. Vamos ver o que dizem os deputados federais por Pernambuco, veremos se eles assumiram mais este escárnio contra o povo.

No mais, meus pêsames à família do deputado morto recentemente que, embora tenha sido a suave inspiração do chinaglia, não recebeu os benefícios dessa lei altruística e cheia de “sentimento cristão”. Mas, atenção, essa repetição da história, é capaz de esses deputados, sob a liderança do petista chinaglia, derem início a uma nova Liga, não camponesa ou campesina, mas safadina, a liga dos safados , daqueles que se safaram dos sofrimetnos causados ao bolso pela morte de um ente querido. Pode haver uma revolução ítalo-brasileira em curso.

segunda-feira, maio 05, 2008

Lançamento do MARACATU ESTRELA DE OURO DE ALIANÇA: A SAGA DE UMA TRADIÇÃO

Aproximando-se o final do século XX fui me aproximando do Maracatu Estrela de Ouro, da cidade de Aliança, que dista 83 quilômetros, ao norte do Recife, na Zona da Mata Norte, a chamada Mata Úmida, que difere historicamente da Mata Seca, que fica ao sul do Recife. Essa minha aproximação foi, como se costuma dizer: um caminhar para as fontes, para as raízes. Então encontrei mestres da cultura do meu povo, de brincadeiras das infâncias de meus pais e também da minha. Redescobri, estou redescobrindo o que sou e como fui sendo feito, animal cultural.

O Maracatu Estrela de Ouro me pôs desafios. Respondi um ajudando ao auxiliar organizar o Ponto de Cultura, o que me deu a oportunidade de escrever Festa de Caboclo: um livro que pretende indicar as origens do maracatu de baque solto na palavra de quem o fez e o faz e, ao mesmo tempo ser uma introdução interpretativa dessa nossa bela tradição cultural.

Agora , de pois de ter vendido mais de mil exemplares de Festa de Caboclo, o Maracatu Estrela de Ouro de Aliança e a Edição REVIVA, publica a concretização de um outro pedido do povo da Chã de Camará – esse é o nome do sítio onde foi fundado o Maracatu Estrela de Ouro. Contar como nasceu e cresce o mais importante maracatu da Zona da Mata Norte. Zé Lourenço, presidente do Maracatu Estrela de Ouro pediu que fosse contada a vida de Severino Batista, o Mestre Batista, fundador do Estrela de Ouro. Assim nasceu o livro que conta não apenas a vida do mais importante mestre da cultura popular da Mata Norte, mas a história do Município de Aliança, a saga dos maracatuzeiros desde o avô de Mestre Batista, ainda no final do século XIX. Esse livro conta que a diversidade econômica da Mata Norte permitiu a criação dos brinquedos populares que marcam a história de Pernambuco; este livro conta essa história dizendo os nomes dos artistas que plantam mandioca e fazem farinha, plantam a cana e nem sempre podem comprar açúcar, mas adocicam nossa história no movimento de suas - nossas - danças.

Neste sábado – 10 de maio, vamos fazer a entrega oficial do meu mais recente livro MARACATU ESTRELA DE OURO DE ALIANÇA: A SAGA DE UMA TRADIÇÃO, no terreiro da sede do maracatu Estrela de Ouro, no Sítio Chã de Camará, na zona rural do município de Aliança, na margem da rodovia PE – 62. Vai ter desfile do Maracatu Estrela de Ouro de Aliança, apresentação do Cavalo Marinho Mestre Batista e o Coco Popular de Aliança. A gente começa às 19 horas, mas pode chegar mais cedo.

Todos estão convidados a participar, dançando, amando, comprando o livro e querendo bem.

sexta-feira, maio 02, 2008

Um seminário sobre Dom Hélder

Recebi convite para participar, com uma pequena conferência, no Seminário Nacional O Século de Dom Hélder: Cristianismo e Construção da Cidadania no Brasil, ontem e hoje, que tem o Patrocínio da CNBB NE2, do Instituto Dom Hélder Câmara, da Universidade Católica de Pernambuco e da Arquidiocese de Olinda e Recife. Fiquei satisfeito pela lembrança do Comitê organizador, na pessoa do Prof. Dr. Luiz Carlos Marques, que me dá a oportunidade de apresentar um resumo de minha tese doutoral Entre o Tibre e o Capibaribe, sobre os limites da igreja progressista na Arquidiocese de Olinda e Recife. publicada (600 exemplares) recentemente pela Editora da UFPE e a Editora REVIVA, com o apoio da Pós-Graduação em História do Departamento de História da UFPE, a obra praticamente encontra-se esgotada, em menos de um ano, apesar de sua pequena divulgação.

Oportuníssimo esse Seminário sobre Dom Hélder Câmara que, embora de morte recente, já é um desconhecido para muitos jovens da geração mais recente. Melhor talvez fosse dizer desconhecida dessas novas gerações, vez que a ânsia por novidades, tantas vezes supérfluas, não permite que se guarde a memória de todos. Em verdade, já o Quoelet nos lembra que adolescentes famosos em seu tempo são desconhecidos para a geração que lhe segue. A vida de Dom Hélder, após os seus primeiros vinte anos confunde-se com o projeto e a história da Igreja Católica no Brasil. Em um primeiro momento sua participação foi de coadjuvante, depois, esteve na liderança do processo. Poucos brasileiros, clérigos ou não clérigos, influenciaram os destinos de parte da humanidade como o fez o ex-arcebispo de Olinda e Recife.

Pelo que lemos na programação, podemos verificar que, não poucos intelectuais que ali estarão presentes, mantiveram algum contato com os trabalhos do Dom, dele recebendo, diretamente ou indiretamente, os eflúvios de seus entusiasmos, sempre jovens, ainda quando avançado em idade. É esse o caso Dom Antonio Muniz Fernandes, OCarm., Arcebispo de Maceió, Dom Genival Saraiva de França, foram alunos do Instituto de Teologia do Recife, obra pensada e posta em prática por Dom Hélder, colegiadamente com os demais bispos do Nordeste. Aqueles que viveram com Dom Hélder os anos de seu apostolado em Olinda e Recife, estarão presentes nesse evento tão importante para todos nós.o evento ocorrerá nos dias 12 a 15 de maio, aberto ao público. Aqueles que quiserem participar com apresentação de trabalhos, ou quiserem uma diplomação de sua presença, devem verificar http//www.unicap.br/domhelder.

Hoje li, com muita alegria o blog de Geraldo Pereira, quem admiro à distância, a elegância de seu estilo.